Os meus cumprimentos.
Corria o ano de 1989. Até então eu só utilizava a Waltham STM 45 dos meus pais e irmãos mais velhos para brincar um bocado com os discos (coisas de puto: meter os "Caminhos de Portugal" do saudoso Mário Gil a 33 ou 78 RPM, ou entreter-me a ouvir aquele single dos The Fools, o "Psyco Chicken").
Em Outubro, Novembro desse ano comecei a prestar mais atenção à música em si. Comecei a ouvir mais vezes certo LP dos Transvision Vamp. Adorava ouvir aquela faixa chamada "Landslide of Love" nums auscultadores Philips que tenho para ali na arrecadação - um dia tenho de os recuperar. Ora foi por aqui que o meu irmão mais velho começou a achar que era altura de ter lá em casa algo decente! Foi assim que, a 21 de Dezembro de 1989 acompanhei o meu pai e o meu irmão até Alhandra, à casa A. Ferreira, Lda., de onde o meu irmão trouxe os elementos X-Series da Pioneer. Lembro-me como se fosse hoje: era quinta-feira e chovia, e aquele habitáculo do Datsun 1200 estava cheio de caixas com o logo da Pioneer.
Do que eu mais gostava ao entrar no quarto do meu irmão, a partir daí, era do cheiro... havia qualquer coisa no cheiro de uma aparelhagem nova naquela altura que mudava por completo o nosso estado de espírito. Parecia que a tecnologia
hi-fi se misturava com o nosso ser, transformava-nos. Ora coisa que o meu irmão fez na altura foi não comprar leitor de CD's. Durante muito tempo critiquei-o por não ter optado por tal, mas o facto é que ele tinha somente uma vasta colecção de vinis e cassetes. O que veio de Alhandra para os Olivais foi:
Amplificador A-445
Equalizador GR-555
Prato PL-443
Leitor/Gravador CT-W500
Sintonizador F-225L
Colunas CS-995
Nos anos '80, inícios de '90, o que a generalidade da malta gostava era de grandes colunas com um bom som de caixa. Aquelas colunas criaram um problema: eram demasiado grandes para o quarto do meu irmão, mas o que é certo é que ele lá as conseguiu encaixar - claro está que é melhor não falarmos em posicionamento correcto de colunas. Não dava! Foi então que me deixei introduzir no mundo do
hi-fi. Eram aquelas luzes mágicas do analisador de espectro do GR-555 (que ainda hoje estão imaculadas e belas!), era o amplificador, era o prato fantástico onde descobri toda a vasta discografia do meu irmão, era o gravador de cassetes que fazia esquecer o já "afanado" gravador do Waltham e das suas AudioMagnetics. Foi no CT-W500 que descobri o que era uma BASF, uma Maxwell, uma TDK de crómio. Ia gravando para mim dos álbuns do meu irmão as músicas de que mais gostava, tendo em conta o meu gosto musical em desenvolvimento da altura. Foi ali que descobri nomes como Stevie Nicks, David Bowie, Bauhaus, Ramones, Tubes, Stevie Nicks, Fleetwood Mac ou Eric Clapton, enfim, tantos e tantos...
Entretanto o mundo lá fora começava a mudar. Com o passar do tempo andava de loja em loja a fascinar-me com as
midis, e em especial com as
minis da Sony - a grande novidade do início dos anos '90: as séries FH e MHC. Ainda pensei em pedir aos meus pais mais uma Sony - andava de olho numa coisa chamada Sony LBT-D309 mas a Pioneer aguentou-se sozinha mais uns anos lá por casa. Comprei carradas de BASF Chrome Super II - o dinheiro não chegava para mais e já era muito bom - e ia gravando o que aparecia, até que também comecei a comprar alguns vinis... Irritava-me o ruído de fundo das cassetes mas também não gostava muito de gravar a música num nível muito alto. Aliás, foi nesta altura que dei conta de um estranho fenómeno: na gravação colocava determinado volume no
deck. Depois, ao verificar o "vuímetro", verificava que o som gravado na BASF CSII tinha um volume inferior. Isto não se passava na primeira gravação, mas depois ao regravar já se verificava, e será um fenómeno para esclarecer junto de vós em outro tópico.
Depois do meu irmão sair de casa a Pioneer ainda se aguentou lá uns anos, até que foi mesmo para casa dele de vez! Foi então que eu caí na asneira de comprar uma Pioneer
midi. Estávamos agora em 1996, as aparelhagens já começavam a não ser o que eram, já começavam a retirar o equalizador gráfico totalmente definido pelo utilizador - entre outros controlos - e a substituí-lo, em força, pelas predefinições do "processador digital de sinal", o aspecto também começava a ser cada vez mais foleiro, e eu em vez de guardar mais um pouco de dinheiro e tentar comprar uma coisa mais razoável, compro uma Pioneer XR-J330 com o prato incuído. Cento e trinta e tal contos mal empregues!!! A aparelhagem até dá um bom som - nada a ver com as X-Series, claro - mas é feia como a morte! Já a antecipar coisinhas que a Pioneer e outras se lembrariam de deitar cá para fora vinte anos mais tarde!!! Foi nela que comecei a ler os meus primeiros CD's, a ler os poucos vinis que tinha e as cassetes... eu não queria falar nisso!!!
Aqui o artista olhava para os manuais do CTW-500 e via uma resposta de frequência em CrO2 de não sei quantos a 16 000Hz. Ora em vez de me guiar pelas orelhas, devorava a secção técnica dos catálogos e guiava-me por aí. Com os meus cento e poucos contos haveria de comprar uma coisa que andasse por ali mais ou menos. Esta Pioneer XR-J330 declarava uma resposta até 15 000 Hz em CrO2 mas, quando os gastei e e gravei a minha primeira cassete, tive vontade de bater com a cabeça na parede! O Freddie Mercury parecia que estava a cantar debaixo de uma manta. Mas, de resto, a nível de emissão de FM e de CD, o som era aceitável.
Veio a revolução digital, as cassetes começavam a ficar obsoletas, comprei o meu PC, em 1999 ligo-me à
net, finalmente a partir de casa, começo-me a entregar gradualmente ao MP3, e as cassetes começavam a ficar a um canto... A um canto nunca ficavam. Havia ainda poucos leitores de MP3 a preços acessíveis para o carro, e era nelas que eu gravava os CD's, o que sacava da
net, e até ficheiros Midi (bem reproduzidos por uma SB AWE64, nada a ver com as Realtek que hoje por aí polulam) para ouvir em viagem. Com isto tenho para ali cassetes que já devem ter uma boa dose de regravações em cima.
Quando o CD-R se vulgarizou pensei ser o fim definitivo da cassete, mas o bichinho não me largava. Epá, eu gosto daquilo, pese os tempos de acesso e a qualidade de som. Vai daí, e como a Pioneer em casa do meu irmão estava já a ser encostada por um 5.1 no qual ele entretanto se tinha metido - God! - eu perguntei-lhe se ele não me vendia o
deck... Ele lá me deu a volta e comprei-lhe - isto aí em 2005, 2006 - não só o
deck, mas a aparelhagem toda já para a minha casa por uns esticados 750 euros. Negócios, enfim, como diria Cervantes, dos quais não me quero recordar. Como bónus já trazia um leitor de CD's Sony CDP-XE500. Os manuais já tinham, entretanto, desaparecido sabe-se lá para onde, e as pobres das CS-995, nas mãos dos meus sobrinhos pareciam que tinham andado na guerra:
woofers rasgados,
middles e
tweeters com o centro metido para dentro e igualmente rasgados, marcas de uso aqui e ali... Como as colunas ainda debitavam um som razoável, vendi-as a um senhor de leste por vinte e cinco euros. Porque o revestimento preto já se estava a descolar, levou-as também já "nuas". Diga-se de passagem, o som ainda era bom, mas eu já não as aguentava ver naquele estado. Passado um tempo, e através de um fórum que já não está activo - o Fórum Hi-Fi - comprei a um senhor umas Wharfedale 70 Anniversary Edition. Aí sim, foi uma excelente compra! Meti-lhes cabo QED comprado na FNAC para não lhes meter o "fio de candeeiro" clássico e têm estado nos últimos anos a enobrecer o sistema.
Com esta conversa da
net, do eBay e do OLX comecei a ver que havia um enorme mercado de segunda mão de artigos de boa qualidade - e, claro, não só - da época de ouro do Hi-Fi. Foi aí que eu também me comecei a deslumbrar com uma paixão que terei de guardar lá mais para diante: a dos
receivers e outro
hi-fi dos anos 70 e inícios de 80 com faces em metal e madeira, com aquelas iluminações lindas, hipnóticas, em âmbar, azul, aqueles quadrantes de frequência maravilhosos... É assunto sobre o qual tenciono também discutir convosco daqui para a frente.
Voltando à grande montra de usados na
net: um dia de Novembro do ano passado estou no OLX e vejo um senhor no Montijo a vender uma carrada de
decks, cada um a cinco euros, "para despachar". Uma foto de má qualidade mostrava de Sony's a Marantz's e outros decks empilhados uns em cima dos outros! Entre eles o que é que eu vejo: um Pioneer também tipo X-Series de 3 cabeças, bem como outro de 3 cabeças da TEAC, o V-1010. Isto tudo a, repito, cinco euros cada um! O anúncio dizia que já tinha vendido alguns, mas os que restavam rodavam pouco, não estavam a 100%, etc... Ligo ao senhor e ele atende: interessavam-me o Pioneer e o TEAC. O Pioneer já estava vendido, mas o TEAC ainda não. Pergunto-lhe em que local ficava do Montijo, agradeço-lhe as informações, e fiquei a pensar no caso. Ir de Alverca, onde resido, ao Montijo à noite só por causa daquilo era coisa que não me seduzia. Mas fui analisar as especificações do TEAC, fui ver o que era, afinal, um
deck de três cabeças - nunca me tinha informado muito bem sobre tal característica - gostei do que li e liguei novamente ao senhor. Ora como o fim-de-semana seguinte ia ser passado no sul, perguntei se ele me aguentava o
deck até Domingo, dia do meu regresso, para eu não ter de andar com ele para cima e para baixo. "Ahh sim aguento. Pode vir domingo!"
E, sexta-feira ao fim do dia, lá passei ao largo do Montijo a caminho da A2 na expectativa de, no regresso, trazer uma grande máquina praticamente de graça!!!
Tinha, nessa quinta e sexta-feiras anteriores, visto tudo o que eram vídeos e documentos na
net sobre o Teac V1010. "Até que enfim" pensei eu "vou ter um
deck de três cabeças". "Epá, a resposta vai até aos 20 000Hz! Bem bom!". Vou de fim-de-semana, apanho um belo sol de Outono em Albufeira e Domingo, depois de almoço, meto-me na A2 por aí acima com o TEAC no pensamento. Chego à área de serviço de Grândola, ligo ao senhor a avisá-lo de que vou a caminho e digo-lhe que vou buscar o TEAC. Resposta: "O TEAC já foi!" Não vim de lá de baixo com um
deck de três cabeças. Vim com uma cabeça que nem sei nem como é que consegui passar na Via Verde!!! Ainda me encontrei com o senhor, na esperança de que ele tivesse por lá - e que não tivesse ficado na fotografia - uma boa surpresa. Mas só tinha os clássicos de duas cabeças e com muitas marcas de uso, sujos. Claro está que não reclamei quase nada - o senhor não me era nada nem tinha qualquer obrigação para comigo. Lamentei talvez não lhe ter pedido o NIB para assegurar logo o negócio. Perguntei quem tinha levado o TEAC, e disse-me que tinha sido um senhor da zona da Moita ou Barreiro. Ainda hoje acredito que, ao saber que o
deck estava como que "reservado", por assim dizer, quem com ele ficou tenha avançado com uma proposta mais alta. O senhor que o estava a vender ainda teve a amabilidade de me oferecer os três que restavam por cinco euros - todos! Era, à mesma, uma soberba oferta, talvez com o intuito de serem recuperados e vendidos, mas encontrava-me de tal modo desiludido que amavelmente a recusei. Agradeci-lhe pelo tempo, ainda lhe comprei umas peças de informática em segunda mão que por lá tinha, e vim para casa com a sensação de fim-de-semana estragado!
Tenho pesquisado muito no OLX, desde então, à procura de um
deck de três cabeças que fosse uma pechincha. Todas as "licitações" começam nos 90, 100 euros, até chegarem 500, 600 ou mais - caso de um ou dois TEAC V-7000 que andam por lá. Chegou a ser quase uma obsessão diária, de tal modo que pensei até em esquecer isto do analógico e focar-me só no digital. Mas o bichinho continuou aqui. Foi também no OLX que eu descobri um leitor de CD's da Pioneer que se adaptava maravilhosamente aos restantes elementos "X-Series": ali para os lados de Vila Franca de Xira um senhor estava a vender um leitor de CD's Pioneer PD-6100 por 30 euros. Fui logo a correr - para não me acontecer o mesmo que com o TEAC - numa noite de quarta-feira buscá-lo e trouxe-o para Alverca. Vinha num aspecto miserável, sujo, com algumas marcas de uso relativamente evidentes, e os CD's a girar têm tendência para produzir um ligeiro chiar - julgo que a gaveta não está 100% firme. Mesmo assim recuperei-o o mais que esteve ao meu alcance, encostei o Sony CDP-XE500 e meti-o à venda no OLX - até hoje! - e o Pioneer tem feito um excelente conjunto com os restantes aparelhos da gama!
Também entretanto adiquiri um NAD 6220 via OLX que uma senhora vendia como avariado ali para os lados do Lumiar por dez euros. Fui buscá-lo.
Deck muito básico mas com um aspecto bastante sóbrio, característico da marca, que eu assim que cheguei a casa liguei para testar. Como a senhora me havia dito antes, não rodava, apesar de ligar. Abri-o, e vi um fusível com um aspecto muito suspeito. Troquei-o com um outro que por lá estava e... milagre! Já funcionava! Foi apenas questão de arranjar um fusível equivalente para o lugar deixado vago pela troca. Troquei depois esse
deck com um rapaz aqui da zona, por um leitor de DVD TEAC - agora sim, tenho um TEAC
- DV3000. Apesar de ter mais dois leitores, gosto deste em especial pelo
design, e é o que agora está na sala.
Tenho adiquirido uma coisitas baratuchas e
low-end no OLX. Comprei por dez euros, por exemplo, à pessoa com quem troquei o NAD pelo TEAC uns elementos Sanyo dos anos '80, que em altura devida partilharei convosco. Mas nunca deixei de procurar pelo "tal"
deck... Até hoje! No Domingo passado, véspera de Natal, decidi fazer mais uma pesquisa pelo OLX: "deck", em TV, Som e Fotografia. Ver o que aparece. Ordenar por preço, do mais baixo para o mais alto, anda... anda... anda... "QUE É ISTO??? Deck de três cabeças em Setúbal, da Sony, por 35 euros?!!!". Mando mensagem, meio sem esperança, já à espera da resposta "já foi". Mas não! A resposta era de que sim, que estava disponível! Não pensei duas vezes: vou a Setúbal buscá-lo! Não me foges desta vez!!!
Era véspera de Natal, o que significa que as pessoas, por muito que metam as coisas à venda no OLX, preferem nesta altura estar com a família. Ficámos de combinar na noite do dia de Natal e, à noite, enviei uma mensagem a confirmar para o dia seguinte, com o secreto receio de tudo poder ir por água abaixo. Mas não. Confirmou-se, e hoje fui expressamente de Alverca a Setúbal buscar essa maravilha. É um Sony TC-KE500S, com as três cabeças da praxe, Dolby HX PRO B, C e S (S é coisa que o TEAC não tinha!) e quase imaculado de aspecto. A razão do preço tão barato? Não abria; tinha uma cassete de Metal presa lá dentro, e foi por isso que o dono anterior o meteu à venda! Não o esteve para reparar! Fui afortunado! Como era de esperar o senhor já tinha uma carrada de mensagens. No entanto consegui-o para mim.
Já de regresso a casa, abri-o. O clássico problema da correia! É questão de comprar correias novas e fica pronto para aguentar outros vinte anos ou mais (no seu interior a data de manufactura é 02/08/1996). Claro que isto envolve já desmontar o "coração" do
deck, pelo que decidirei recorrer a alguém especializado, e este é também mais um motivo pelo qual decidi participar neste espaço. O que fiz já foi rodar a polia respectiva para desprender a cassete que lá estava presa. É uma TDK Metal-XR 90 que perguntei ao anterior dono se queria de volta, mas que muito amavelmente também me cedeu. É um
deck da mesma linha do meu leitor Sony CDP-XE500, pelo que já não me vou dele separar também, por fazerem uma boa combinação.
Uma das coisas que espero futuramente é passar vários vinis que por ali tenho para fita. Há uns valente anos ofereceram-me umas vastas edições na sua maioria brasileiras de lançamentos dos anos '70 e '80, geralmente música pop ligeira internacional, e vou ver faço assim um
backup de analógico para analógico.
É esta a minha introdução e a minha razão da minha re(entrada) neste mundo. Espero aprender muito por estas bandas convosco, ao mesmo tempo que vou alimentando este bichinho da cassete e, quem sabe, talvez um dia, algo mais, quem sabe...