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 O Audio Analógico está mesmo na moda.

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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyTer Jun 07 2022, 15:54

José Miguel escreveu:
... na maioria das vezes que as conversas chegam ao gosto, fico com a sensação que para quem aposta (aposta como Pascal) nessa nossa faceta, aposta como se ela fosse desligada de tudo, uma entidade supra qualquer coisa...(...) - o Paulo fala de conhecimento, mas parece apostar no gosto.

Eu utiliso o termo "gosto" como o "goût" em françês que representa a atração em relação a qualquer coisa ou alguém!... não vejo como me desembaraçar dessa "atração" e portanto sou budista. Imagino que deve ser ainda mais dificil para os outros mas o Ocar Wilde jà explicou como resistir à tentação...  Wink

Para mim o gosto, e tomo a definição francesa, é a atração inconsciente e involuntaria em relação a algo e alguém e não vejo como o conhecimento pode eliminar essa pulsão, mas pode fazê-la evoluir! Reconheço sém problema que os maiores vinhos franceses não véem da região que eu prefiro... mas tenho mais prazer a beber os meus vinhos favoritos (eles mesmos grandes vinhos é certo) do que muitos dos grandes vinhos reputados! Se é uma contradição então ela é assumida e posso mesmo explicar porquê...


... imagino que compreenda bem que camisas de 100 e 20 euros não são semelhantes, mas o exemplo é facilmente transponível para áudio.

Da mesma maneira que dois carros, azeitonas, relogios, peixe, amplificadores, discos, aspiradores, vinhos, sofàs ou copos de preço diferente não são obrigatoriamente semelhantes... mas eu não me interesso a tudo, somente a poucas coisas e a roupa não faz parte! Mas, reconheço que em cada produto existe uma noção de qualidade intrinseca bem evidentemente... e uma questão de gosto associada, bem evidentemente também!...

... Nunca conheci ninguém que não reconheça a qualidade das calças de ganga Levi's, ou seja, umas calças de 150 euros não são iguais às de 50 euros.

Um grande amigo meu "fashion victim" fez-me descobrir hà uns anos atràs as calças de ganga japonesa feitas com "verdadeira ganga" à moda antiga e de repente a Levi's tornou-se para mim uma marca tão banal quanto a Diesel ou Gustin. Continuo a comprar jeans de uma marca que não farei a publicidade e que custam 30€ e que adoro o corte e porte... mas sei que existém as calças em ganga japonesa a mais de 600€ e que são de bem mais alta qualidade (pudera visto o preço)  Laughing

Saber isto não fará toda a gente comprar o mesmo, mas fará mais gente compreender a estrutura de preços e o que se pode entender por qualidade. Eventualmente, poderá fazer com que mais pessoas respeitem e gostem.

Pelo que venho de dizer não creio e sou um bom representante disso, como muitas pessoas em relação ao audio neste forum. Respeitar é reconheçer as particularidades e qualidade de qualquer coisa ora que gostar é a tentação de possuir nmho. Respeito muito a Tannoy e a Accuphase e portanto nunca terei um produto destas duas marcas e ném gosto da sonoridade de cada e ainda menos juntas. Saber, conheçer ou compreender, não conduz directamente a gostar mas ajuda a fazer evoluir o gosto é certo...

A democratização das coisas, roupa ou áudio, copos de vinho ou vinho mesmo, faz-se muito à custa de preço, pois os ordenados não dispararam, pelo contrário, há perda de poder de compra nestes dias que correm. ...

Tens razão no que diz respeito aos produtos que englobam matérias primas nobres e ou metodos de produção tradicionais... é menos verdade nos produtos tecnologicos, sobretudo quando a produção pode ser automatisada como hoje em dia! Aliàs, um relogio a dez euros pode cer tão certo quanto um a 1000€... sém que a qualidade do relogio a 1000€ possa ser criticada. È um vasto problema...

Eu escolhi um Lenco e fez parte dessa minha escolha as estórias à volta do Lenco - nunca o escondi. Por outro lado, dado o que fui experimentando, escolhi seguir com o Lenco e nessa segunda escolha já participou algo mais do que o gosto, desde logo pelo facto do meu gosto ter evoluído (mudado, se quiser) ao longo dos tempos...

Penso que é o caso da maioria das pessoas aqui!... o gosto evolui com as experiências e o conhecimento e deixa de ser o parâmetro primeiro e exclusivo da escolha, continuando a ser importante. Ele passa do primeiro plano ao segundo, mas està sempre presente e é o que apregoo hà muito...

E isto pode ser mesmo um parâmetro inconsciente... explicando a dificuldade para algumas pessoas de explicar as razões da escolha e fechando-se no "porque gosto mais"
 Exclamation

... O gosto é de tal forma o argumento, que chega a ser complicado explicar o conceito de "valor acrescentado" ou "qualidade"... tem dificuldades o Paulo, imagine alguém como eu a tentar explicar... eu tento, como deixo bem claro aqui...

Penso que esta frase resume bem a tua cruzada em relação ao gosto mas opor a noção de "gosto" e de "qualidade" sob a forma de antonimos é esqueçer que tanto os cristãos quanto os muçulmanos são crentes... sou eu o inimigo pois ateu  Razz

Mais a sério, dizer que "gostamos" de algo não quer dizer que não haja uma reflexão ném um caminho associados! E dizer que um produto é de qualidade e defender o seu valor acrescentado não quer dizer que isso crie o desejo ném o "gosto" pelo produto! Reconheço a qualidade, valor acrescentado e mesmo a base ideologica que permite aos relogios mecanicos de continuar a existir, e mesmo o simbolo associado ao objecto... mas é um objecto que não me interessa e para o qual o meu gosto e sensibilidade afasta-me. A relação de causa a efeito entre o gosto e a qualidade não me pareçe ser uma evidência, pelo menos por aqui no AAP
 scratch
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyTer Jun 07 2022, 17:22

Paulo, eu não tenho uma cruzada contra o gosto (nem aplicado ao áudio nem aplicado às pedras da calçada...), no máximo poderá acusar-me de tentar compreender os fenómenos que desencadeiam o gosto. Wink

A definição de "goût" em Francês ou de "gosto" em Português não é diferente, cobre coisas como um dos nossos cinco sentidos até fruição estética. Como se afirma Budista muitas vezes, deixo esta pergunta para reflexão: como pode separar teoria, prática e estética no Budismo?

Como bem sabe, os princípio Budistas estão interligados e a ideia de prazer puro (estética) apenas é possível depois de investigar e aceitar princípios que nos definem e definem o universo (teoria), depois de conduzir a vida por um caminho onde se encontrará em boa medida e encontrará o outro (prática).

Por que é que um católico não considera "belo" o mesmo que um budista ou um muçulmano? Por que é que um Europeu não considera "belo" o mesmo que um Asiático? Por que é que um Português não considera "belo" o mesmo que um Awá?


Em momento algum eu coloquei gosto como antónimo de qualidade ou valor acrescentado, nem sei como foi capaz de ler isso nas minhas palavras. Eu disse que a indústria áudio me parece presa numa armadilha criada por ela mesma, a da afirmação da primazia do gosto como justificação para a escolha. Isto é de tal forma que é cada vez mais complicado explicar devidamente o conceito de qualidade aplicado a uma peça de áudio sem terminar a referir o gosto - lá está, para gerar a abertura e possível adesão.

A minha tese, se a quiser ler como ela é (tese, não mais do que isso), diz apenas isto: para a indústria evoluir no campo das vendas e alargar em termos de captação de público/consumidores, permitiu que toda a avaliação de produto tenha por base o gosto individual, sendo que este é auto-justificativo; a indústria áudio necessitou de voltar a ser democratizada e apetecível para muitos, vivemos uma fase onde o subjectivismo (diferente de subjectividade, esta é uma característica do indivíduo e é da nossa natureza, o subjectivismo parte do derrubar da fundamentação para afirmar possibilidades mais ou menos válidas) tem ganho imensa força, o caminho tornou-se apetecível para ser percorrido (e tem resultados).

Atenção que eu não considero este problema como exclusivo do áudio e referi o mercado de roupa por isso mesmo. As marcas de grande consumo e preços baixos têm máquinas de marketing muito bem oleadas e não andam a brincar, não precisam de grandes desfiles e eventos, mas não deixam de utilizar as novas ferramentas para se fazerem relevantes e apetecíveis com elevado nível de atracção - mesmo ao jeito do gosto. Este problema do subjectivismo também está na base de crenças infundadas e fácil adesão a teorias conspirativas ou alternativas. Eu observo sem separar muito, pois há um elemento em comum - o Homem.

Aplicado estas ideias ao áudio: hoje quem quer uma peça barata e que promete bons desempenhos, já sabe onde procurar... marcas como a Topping ou a S.M.S.L. tornaram-se aceitáveis e até desejáveis por várias razões, não foi por terem melhores desempenhos ou apresentarem produtos mais bonitinhos, nós (consumidores) também mudamos com o que vamos vendo e interiorizando (muito marketing pela internet fora) - não é a coisa que muda, é o meu olhar sobre a coisa. Wink


Faz umas semanas eu disse-lhe que preferia ver o seu site com mais conteúdo, mas não disse que deveriam ser fichas técnicas. O Paulo sabe comunicar o que faz e sabe comunicar melhor ainda o caminho que pretende abrir para quem o quiser acompanhar. Tem uma micro marca, como pode gerar interesse?
No princípio era o verbo... Smile


A escola do gosto como a apresento aqui e já apresentei em outros tópicos faz-se notar um pouco por todo o lado e aqui também a senti desenvolver. Frases como "compre o que goste", "os seus ouvidos é que são os juízes", "eu escuto com os meus ouvidos", etc. são frases que eu compreendo e respeito, contudo serão o melhor conteúdo e crença para quem se inicia ou quer evoluir? Serão esses os bons conselhos?
Isto passa-se aqui e por essa internet fora... eu questiono a altura da fasquia da exigência em tudo, o áudio é reflexo da evolução da sociedade e do Homem e nunca o contrário. Wink

Faz tempo que se acusa o pensamento crítico de estar em queda, as utopias de desnecessárias pelo excesso, a tentativa de análise macro de distante dos problemas reais, ... com que valores ficamos?

A crença no eu (único e irrepetível) é importante; a crença no Homem como uma "ilha" é o caminho para o desastre.

O "goût" ou o gosto, seja onde for e para quem for, é fruto e não raiz.
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyQua Jun 08 2022, 12:38

José Miguel escreveu:
... Eu disse que a indústria áudio me parece presa numa armadilha criada por ela mesma, a da afirmação da primazia do gosto como justificação para a escolha. Isto é de tal forma que é cada vez mais complicado explicar devidamente o conceito de qualidade aplicado a uma peça de áudio sem terminar a referir o gosto - lá está, para gerar a abertura e possível adesão. ...

A industria de audio não criou esse paradigma pois ele existe desde o inicio em filigrana... foi a incapacidade das instituições a criar um método de avaliação universal que criou essa situação e abriu a porta ao subjectivismo. Aqui em França diz-se que as duas prensas menos objectivas e mais manipuladoras do consumidor são a de audio e a automovel... portanto os carros são um bem de consumo quase universal e não de nicho como o audio, portanto ninguém sabe explicar devidamente e sém subjectivismo o que é um "bom carro", ném sequer um dos meus conhecidos que é mecanico!...

Suponho que escolheste o teu carro, como a maioria das pessoas, pelo preço, estética e marca... o audio é comprado na maioria dos casos pelas mesmas razões e mesmo por muitos audiofilos. Escutar um aparelho sém conheçer as nossas percepções sensoriais que se afinam com uma base de experiências suficientemente vasta para que a comparação possa apareçer como um elemento credivel conduz a escolher um sistema, um carro ou um vinho sobre a base do gosto e é valido para mim, para ti e para os outros...

Aquele que pensa que em cruzando os pontos de vista de uns e dos outros ou fazendo confiança às medidas ou a outros elementos està a fazer a boa escolha é o seu direito mas que não espere um valor de universalidade, pois não é. Um aparelho de audio, um carro, um t-shirt ou uma garrafa de vinho... escolhem-se em provando ou em arriscando a escolha. Como tu dizes o audio é um mercado como os outros, então bem escolher é uma questão de conhecimento, de experiência e evidentemente de gosto... jà escolher aquele que é bom para nòs é uma pura questão de gosto, que a coisa te agrade ou não  Wink

Nos meus maus dias digo aos amigos: Hà aqueles que se esforçam para gostar dos bons sistemas e aqueles que adoram os maus...

Acabo dizendo que nmho um bom aparelho de audio é aquele cujos defeitos não são perceptiveis por uma orelha experimentada. Quando não hà nada a criticar por extensão é bom... serve a quê umas medidas fantasticas se não são audiveis comparativamente? dvil

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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyQua Jun 08 2022, 15:28

Se um mecânico não sabe dizer da qualidade de um carro, troque de mecânico. dvil

Eu já tive vários carros, todos comprados com compreensão do que eram e podiam fazer. Passei de um Golf II para um Range Rover por diversão, depois para um Smart, pois precisava de fazer quilómetros e a gasolina estava a subir constantemente. De um e de outro sei dizer coisas para lá dessas características subjectivas que o Paulo quer colocar no centro da conversa - não me parece um bom exemplo. Wink

Deixei de rolar nos montes e areais, mas passei a andar mais tempo de carro e a gastar menos. Perdi, apesar das pancadas, robustez no interior, qualidade de construção e até conforto, mas ganhei melhor capacidade de estacionar em cidade, perdi a possibilidade de ir ao mecânico que era meu vizinho e muito estimo, mas poupei em consumíveis e afins.

Os carros têm características que são quantificáveis, este fim-de-semana fizemos um passeio com mais de 700km e sei bem que o motor do nosso carro, apesar da idade, não anda a gastar mais do que esperado. Isto nos novos é possível de testar, assim como é possível testar outros elementos do carro... a estética, marca e preço contam? Claro que contam, mas só cai na marca e estética, sem avaliar objectivamente outros elementos, quem quer - ainda há marcas que fidelizam e geram paixões (globalmente falando).


Tudo isto que digo não invalida o facto da industria automóvel ter imensos defeitos e criar os seus mitos, vejamos a actual disponibilidade para a indústria seguir as baterias de lítio sem problemas de as vender como solução estável ou apresentar soluções híbridas pouco claras. Muitos seguem e muitos tecem elogios.


O que é curioso nestas conversas é a apresentação das medidas como o caminho oposto à tentativa de compreensão dos mecanismos do gosto. Paulo, as medidas podem ser úteis, mas não são a resposta para tudo e não nos dizem tudo. O que podem dizer e fazer é: quando compreendidas, pelo menos as que são relevantes, podem participar da evolução da indústria (e participam) e do gosto individual e/ou colectivo.

Sabe muito mais de história do áudio que eu, as tendências em áudio existem e fazem a sua escola junto dos consumidores. Analisar isto não nos atira para o campo das medidas, mas as medidas são usadas para criar a tal assinatura - medidas que se compreendem. Isto também é falar de gosto, quer seja consciente ou inconsciente, cabe a cada um querer ou não explorar.


"jà escolher aquele que é bom para nòs é uma pura questão de gosto, que a coisa te agrade ou não"

Paulo, essa frase não é nem verdadeira nem válida, espero que compreenda isso, pois o resto da sua resposta contém em si a negação dessa frase. Wink

Observe bem como se chega à componente estética no Budismo (para ficar por princípios de que gosta e segue, pois o Budismo não é diferente de muitas correntes filosóficas mais antigas) e depois pense se essa sua frase faz algum sentido. Eu não tenho nada contra o gosto e a simples afirmação que vai fazendo para mim é inexplicável. Eu tento compreender os fenómenos ligados ao Homem e o gosto, os mecanismos do gosto e a sua evolução fazem parte. Wink


O áudio estar na moda e cada vez mais pessoas gostarem de áudio (em formato estéreo para ficar por aqui) não são coisas desligadas, assim como não é desligado o facto de surgirem propostas que reúnem mais gosto do que outras ou a atracção por propostas ditas vintage. O momento em que se aplica o gosto é muito mais rico do que parece.


Ah! Eu compreendo o que diz sobre o paradigma estar sempre presente, eu refiro-me a ele na actualidade pela crescente presença como justificação - hoje já não são apenas as revistas e círculos de amigos ou lojas a passar informação. Haverá sempre uma tampa para cada panela, ou seja, cada proposta de mercado poderá tocar uma faixa de consumidores, o que me parece exagerado é o apelo ao gosto dessa forma vazia.


Como já disse aqui: eu quero ver outro tipo de Valores por este nosso mundo fora, não quero esses intimamente ligados ao vazio. (e pode mesmo ver nisto um princípio de utopia, pois sei que o planeta gira numa direcção). Smile

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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyQua Jun 08 2022, 21:28

José Miguel escreveu:
...Como já disse aqui: eu quero ver outro tipo de Valores por este nosso mundo fora, não quero esses intimamente ligados ao vazio. (e pode mesmo ver nisto um princípio de utopia, pois sei que o planeta gira numa direcção). Smile

Começo pelo fim pois começamos de novo a andar às voltas. Evidentemente que hà parâmetros quantifiaveis e objectivos nos carros como no audio... em qualquer produto mesmo! Conheçer o consumo, a potência, o tamanho, o peso, a cor, a autonomia e etc é valido para um carro ou um aparelho de audio... estes elementos falam muito sobre a sua qualidade final? Não!... são factores a ter em consideração mas incompletos. Para um teso o consumo e a fiabilidade é importante, para um rico muito menos...

Eu jà tive muitos carros e restaurei mesmo dois de coleção... conheço um pouco a mecanica e sei mesmo desmontar um motor e mudar as placas de travão, portanto digo sempre que não conheço nada em carros e que seria incapaz de ajudar alguém numa compra. Não é modestia é sinceridade...

Também sou incapaz de aconselhar as melhores vàlvulas ou condensadores e etc para fazer tweeks num aparelho, portanto é a minha profissão!... também não é modestia, eu sei o que é bom para mim e sei que não serà obrigatoriamente a mesma coisa para outro...

Portanto sei qual é a base sobre a qual apoia a qualidade de um carro, vinho ou sistema... mas são coisas que se sentém na estrada, no copo ou na sala e não na internet. O vazio que tu falas são as palavras que trocamos e não as coisas ou os valores... o mundo existe mesmo para os ermitas! Sei que estamos em oposição mas o mundo é feito disso mesmo e ainda bem. Pela tua frase tu gostarias que o mundo partilhe os teus valores e eu ao contrario detestaria isso...

Voltando ao audio lembro-te de te ter dito vàrias vezes que o Lenco é um mau gira e que o resultado das tuas (vossas) comparações com o Rega conduziu à victoria do gosto, açeito evidentemente! Portanto, tenho a certeza que na tua cabeça foi a victoria do pragmatismo e do conhecimento. Lembro-te a minha frase dos maus dias: Hà aqueles que se esforçam para gostar dos bons sistemas e aqueles que adoram os maus... pensa nisto quando escutares o teu proximo vinil dvil  

No dia que tiveres a mesma experiência que eu tenho e que tenhas visitado centenas de sistemas de pessoas diferentes, ou bebido vinhos de todo o lado e de todos os preços, ou restaurantes do michelin... vais te dar conta que o motor disto tudo é o gosto e que a noção de qualidade é "muito" relativa. Como diz um amigo meu: Aquele que nunca conduziu um Trabant e um Ferrari não sabe o que é o mundo do automovel... a mesma coisa pode ser dita no audio, na comida, no vinho e de certeza nos aspiradores... Laughing

PS: Compreendo por tudo o que dizes e argumentas que o teu desporto favorito é a ginastica neuronal... eu sou mais adepto da ginastica sensorial! Temos em comum o lado excessivo Wink

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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptySáb Jun 11 2022, 12:21

TD124 escreveu:


(...)
Pela tua frase tu gostarias que o mundo partilhe os teus valores e eu ao contrario detestaria isso...

(...)

Paulo, vou aproveitar que estamos aqui a falar quase sozinhos e alongarei mais um pouco. Smile

Confesso, e já lhe questionei várias vezes, que não compreendo onde vai buscar esse tipo de ideias. Por vezes pergunto-me se compreende o que escrevo... desde os primeiros dias que escrevo no fórum que escrevo as mesmas coisas sobre o que penso do Homem, da sua natureza, das nossas qualidades e naturais limitações. Somos únicos e irrepetíveis, se quiser, isso é a nossa maior qualidade e o nosso maior fardo - pois limita o acesso a coisas como a verdade. Cada um de nós tem a sua mundividência, tem a sua forma de pensar e sentir o que o rodeia, o que eu não necessito, por isto ser uma crença profunda, é de repetir de forma paternalista a cada intervenção.

Coisa bem diferente é tratar o gosto como se fosse a nossa maior faculdade, a que mais nos define. Eu já disse que, pela forma que entendo o Homem, o gosto não é a primeira das faculdades, pergunto de forma directa: o Paulo pensa que é?

Não me fiz entender com as observações sobre os princípios/filosofia Budista, posso deixar um outro exemplo que vai ao encontro do seu gosto e por isso creio que compreenderá: Bach é um compositor que está num nível onde estão poucos (entenda nível de reconhecimento e genialidade combinada), contudo ele tem um trajecto muito interessante para esta conversa - família de músicos muito bons, altamente instruído no que toca ao passado de grandes compositores e obras, estudioso, trabalhador, etc.

Cada uma destas facetas por si só não valem de muito, mas todas combinadas é alguma coisa, foi alguma coisa.

Vejamos outra faceta de Bach: a sua obra não foi imediatamente acolhida, para algumas das suas obras serem bem recebidas foi necessário esperar décadas ou séculos; Bach, altamente instruído, estudioso, perspicaz, trabalhador, ... decide compor cantatas (a partir do segundo ano) de acordo com hinos que seriam familiares à maior parte das pessoas; a fórmula resultou, o gosto das pessoas foi tocado, não de forma inocente, de forma trabalhada/pensada, pela familiaridade.

Eu também sei meter um pé na enciclopédia, não gosto muito, mas sei trabalhar nesse sentido. Este exemplo, espero, poderá iluminar o que vou escrevendo sobre o gosto e a forma como ele se vai desenvolvendo. A faculdade de gostar é fundamental no Homem, é por ela que aderimos a muita coisa, até princípios científicos válidos ou inválidos.

O Paulo não se poupa a dizer que eu sou um teórico sem experiências, não conheço apenas o nosso sistema e vou tendo oportunidades de escutar sistemas de referência, mas estou longe de ser alguém que se dá ao troca-troca por estes dias. Foi aplicando o pouco conhecimento que tenho que decidi (para não mudar a frase para o plural, pois não decidi sozinho) fazer evoluir o Lenco, expliquei o que ouvi e sei bem que tive de escolher entre dois equipamentos defeituosos - se pensa tão bem do Rega, aí tem uma bela ferramenta para trabalhar, pois o P3 está longe de optimizado (ouvi com vários níveis de evolução, cabos internos e externos, mates, apoios, ... o nosso apenas com Funk Firm Achromat, apoios diferentes, outras células... depois foi desmanchado, vendemos tudo e ficamos com o braço). Como nunca disse que escolheria pelas medidas ou perfeccionismo, pelo contrário, sempre disse que decidiria com informação e gosto, compreenda que não há contradição entre os dois planos, há complementaridade.

Pela minha curta experiência, mas sem desligar as minhas outras faculdades, digo-lhe o mesmo que disse sobre o mecânico: se não sabe dizer o que é melhor ou pior para a construção e melhoria de um amplificador (para seguir o seu exemplo), algo está errado.

Pela nossa conversa espero que compreenda que não estou a insinuar que é mau no que faz (como não disse do mecânico), apenas está a falhar a compreensão do que é e como funciona o gosto, permitindo-se a uma posição que fecha mais do que abre. Smile


Espero mesmo que o exemplo ligeiro com Bach ilumine esta conversa, por todas as palavras que trocamos ao longo dos anos, creio mesmo que sabe dizer o que é melhor ou pior para um bom número de pessoas... sabe comunicar - escutar e falar -, sabe da história do áudio e tem sensibilidade para observar o meio e as pessoas que passam por si. Wink  (não é elogio da boca para fora, não quero nada dvil )

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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyDom Jun 12 2022, 13:33

José Miguel escreveu:
... Eu já disse que, pela forma que entendo o Homem, o gosto não é a primeira das faculdades, pergunto de forma directa: o Paulo pensa que é?

Também não penso que seja a primeira das suas faculdades... mas numa sociedade de consumo aonde hoje é possivel de calcular com precisão o acolho que um novo telefone (ou qualquer outro produto) vai receber, pareçe-me evidente que o gosto é uma faculdade muito bem ancorada, conhecida e desenvolvida no mundo ocidental. Qualquer faceta do gosto é perfeitamente analisada pelo marketing e todos os produtos que existém téem como função de respeitar ou de criar "o ou um" gosto... qualquer moda em roupa, café ou mesmo as ideologias urbanas (hipster, street, altermundialismo, bio...) são extensões do gosto nmho. Pode pareçer redutor de limitar o homém a uma pulsão mas o gosto educa-se e pode ser mais do que uma reação reptiliana...

... Como nunca disse que escolheria pelas medidas ou perfeccionismo, pelo contrário, sempre disse que decidiria com informação e gosto, compreenda que não há contradição entre os dois planos, há complementaridade.

Jà tinha dito respostas atràs que a boa escolha faz-se com o conhecimento, a experiência e o gosto... neste ponto estamos de acordo. Cada um de nòs todos pode aplicar estas regras e apesar disso não criar consenso pois o que é bom para nòs não é necessariamente para os outros. Acreditei durante muitos anos que uma das caracteristicas da qualidade era de ser "universal"... hoje acredito menos pois a dictadura da singularidade que nos impomos a nòs mesmos leva-nos a fazer escolhas que desviam da universalidade em direção do relativo e este ultimo é baseado no gosto. Dez pessoas podem considerar e com razão que um sistema é bom sém ter vontade de o possuir... a qualidade não chega! Tu mesmo dizes que o teu café agrada aos teus amigos mas não ao ponto de seguir essa preparação, para eles é o "teu café e da Luciana"... os exemplos assim na vida são multiplos e a razão por detràs é sempre a mesma, o gosto  Wink

... Espero mesmo que o exemplo ligeiro com Bach ilumine esta conversa, por todas as palavras que trocamos ao longo dos anos, creio mesmo que sabe dizer o que é melhor ou pior para um bom número de pessoas...

Penso que o exemplo de Bach apague ainda mais a conversa nmho... posso utilisar como contra exemplo o Mozart que era quase o oposto de Bach e cujo génio é similar com um reconhecimento bem mais rapido e universal pois a musica do Mozart "agrada" mais do que a do Bach. Uma bela frase do Harnoncourt diz que o Bach fez musica e o Mozart criou musica... uma alusão ao método reflectivo do primeiro e à espontaneidade do segundo. Algo de similar poderia ser dito para o Monk e o Miles ou o Jazz e a Pop. Eu prefiro escutar Bach pois a minha sensibilidade (aka gosto) acomoda-se melhor da sua musica... então Bach é melhor para mim, Mozart pode ser melhor para outra pessoa, não hà problema pois nenhum deles é mau compositor Laughing

Volto a dizer... eu sei o que é bom para mim e nos dominios que conheço sei separar o trigo do joio (qualidade)... mas sou incapaz de saber o que é melhor para os outros. Posso fazer proposições qualitativas como qualquer outra pessoa mas é mais uma lotaria do que uma certeza. A qualidade não chega e estou persuadido que no audio o gosto é um motor de evolução ou compra mais potente do que o conhecimento, globalmente e comercialmente falando é claro, hà sempre excepções Wink

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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptySáb Jun 25 2022, 11:15

TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
... Eu já disse que, pela forma que entendo o Homem, o gosto não é a primeira das faculdades, pergunto de forma directa: o Paulo pensa que é?

Também não penso que seja a primeira das suas faculdades... mas numa sociedade de consumo aonde hoje é possivel de calcular com precisão o acolho que um novo telefone (ou qualquer outro produto) vai receber, pareçe-me evidente que o gosto é uma faculdade muito bem ancorada, conhecida e desenvolvida no mundo ocidental. Qualquer faceta do gosto é perfeitamente analisada pelo marketing e todos os produtos que existém téem como função de respeitar ou de criar "o ou um" gosto... qualquer moda em roupa, café ou mesmo as ideologias urbanas (hipster, street, altermundialismo, bio...) são extensões do gosto nmho. Pode pareçer redutor de limitar o homém a uma pulsão mas o gosto educa-se e pode ser mais do que uma reação reptiliana...

(...)

Volto a dizer... eu sei o que é bom para mim e nos dominios que conheço sei separar o trigo do joio (qualidade)... mas sou incapaz de saber o que é melhor para os outros. Posso fazer proposições qualitativas como qualquer outra pessoa mas é mais uma lotaria do que uma certeza. A qualidade não chega e estou persuadido que no audio o gosto é um motor de evolução ou compra mais potente do que o conhecimento, globalmente e comercialmente falando é claro, hà sempre excepções Wink [/color]

Faz alguns dias que não vinha aqui, mas não recebi a notificação da sua resposta... Rolling Eyes

Paulo, eu cortei a mensagem para não ficar demasiado grande, mas não deixei de a ler com atenção. Vejo no seu primeiro parágrafo uma perspectiva de crença quase científica nos métodos e conhecimentos do marketing mas depois afirma que o exemplo de Bach "apaga" a conversa, não entendo.

Bach é o exemplo que quer extrair do seu primeiro parágrafo, pois ele percebeu muito bem o que tinha de fazer para a sua Música ser bem recebida - pense bem nisto, talvez a conversa se ilumine.

O marketing percebe o gosto pois estuda e respeita áreas de investigação da Psicologia e Sociologia, não vem para a rua gritar que o gosto é individual e tal e tal... o comportamento de manada também se verifica nesta crença generalizada que o gosto decide, mesmo que decida igual ao vizinho. Wink


É uma longa conversa, eu sei, mas se aceita a premissa do marketing, aconselho a rever as conclusões - não estou a sugerir a racionalização de toda a vida e experiência, desde logo eu sou pouco racional em muitos momentos, apenas estou a sugerir a ponderação de um outro horizonte. Smile
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyDom Jun 26 2022, 12:55

José Miguel escreveu:
... Paulo, eu cortei a mensagem para não ficar demasiado grande, mas não deixei de a ler com atenção. Vejo no seu primeiro parágrafo uma perspectiva de crença quase científica nos métodos e conhecimentos do marketing  mas depois afirma que o exemplo de Bach "apaga" a conversa, não entendo.

Em relação a tudo na vida podemos ter uma reação ponderada, reflectida e quase ciêntifica... também podemos ter uma reação espontânea, facil e quase reptiliana ou mesmo juntar as duas. Considero a escolha pelo "gosto" como algo de espontâneo e fàcil mas não deixo de ver nesse "gosto" uma argumentação suficientemente forte para que ninguém possa a contradizer arbitrariamente. Em contrapartida se a noção de "gosto" é assimilada à noção de "qualidade" então jà serà necessario nmho argumentar diferentemente...

José Miguel escreveu:
... Bach é o exemplo que quer extrair do seu primeiro parágrafo, pois ele percebeu muito bem o que tinha de fazer para a sua Música ser bem recebida - pense bem nisto, talvez a conversa se ilumine.

Não sei até que ponto a arte de Bach é tão reflectida quanto isso mas pouco importa, vamos açeitar. Não vejo em quê a reflexão artistica do Bach para valorisar a sua musica é um argumento contra o "gosto". O Mozart que não fez nenhum esforço intelectual em relação à sua musica e seguiu sempre o seu "gosto" (criação espontanea) obteve um reconhecimento mais rapido e universal da sua musica do que o Bach. Sejamos claros, não quero ném tento provar que o conhecimento e a reflexão sejam valores sém interesse... tento mostrar que o "gosto" é um valor tão respeitavel quanto outro. Não me incomoda ném faz comichão quando uma pessoa me diz que escolheu isto ou aquilo porque gostou do que viu e escutou, também não me incomoda quando argumenta diferentemente Wink  

José Miguel escreveu:
... O marketing percebe o gosto pois estuda e respeita áreas de investigação da Psicologia e Sociologia, não vem para a rua gritar que o gosto é individual e tal e tal... o comportamento de manada também se verifica nesta crença generalizada que o gosto decide, mesmo que decida igual ao vizinho. Wink

Que os gosto possa ser analisado, compreendido, manipulado e mesmo ser previsivel estou complétamente de acordo. Tudo pode ser analisado à postiori e a Historia é um bom exemplo disso... eu gosto do momento zero que é o momento da escolha, da decisão. Ele pode ser ponderado antes ou depois ou mesmo nunca pouco me importa... é nesse instante zero que considero que o "gosto" se torna importante ou mesmo fundamental. Que o "gosto" decida igual ao vizinho ou diferentemente é-me sém interesse e mesmo a proporção do "gosto" na escolha pouco me importa. O que me interessa é que ele està sempre presente como uma pulsão...

José Miguel escreveu:
... É uma longa conversa, eu sei, mas se aceita a premissa do marketing, aconselho a rever as conclusões - não estou a sugerir a racionalização de toda a vida e experiência, desde logo eu sou pouco racional em muitos momentos, apenas estou a sugerir a ponderação de um outro horizonte. Smile

José, os horizontes jà estão abertos o que não seria o caso se estivessemos de acordo! Como tu tenho os meus momentos de racionalidade e os de espontaneidade tentando deixà-los num movimento de naturalidade. Tento não racionalisar as minhas pulsões ném o contrario, isto dà-me o sentimento de ainda estar em vida Wink
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptySeg Jun 27 2022, 10:35

TD124 escreveu:

(...)
José, os horizontes jà estão abertos o que não seria o caso se estivessemos de acordo! Como tu tenho os meus momentos de racionalidade e os de espontaneidade tentando deixà-los num movimento de naturalidade. Tento não racionalisar as minhas pulsões ném o contrario, isto dà-me o sentimento de ainda estar em vida Wink

E assim chego à conclusão que a conversa, por mais longa que seja, não chegará além do ponto onde já está.

Paulo, aceitar que o marketing pode estudar os mecanismos do gosto e não perceber o que eu disse sobre Bach (retirado de estudos sobre o Músico) não o faz ter horizontes largos, pelo contrário. Não se trata de concordar comigo, trata-se de alinhar os pensamentos. Wink O primeiro ano de cantatas não foi bem recebido, a partir do segundo Bach segue a estratégia de as aproximar a hinos familiares... como já disse em baixo. Isto não faz dele pior Músico, faz dele alguém que compreendeu a Música e o público.
Quanto a Mozart... pai Músico que abandona a carreira para se dedicar à instrução do filho altamente capaz e precoce, seguiu alguns passos do pai até em Salzburgo, frequentou a Academia de Bolonha por um ano... Mozart foi precoce, mas altamente instruído e perspicaz - perspicaz como o seu pai!?!
Deixo a questão para quem quiser estudar mais estas questões.

Esse ponto zero a que se refere é tão utópico como todos os pensamentos de outras pessoas que já apelidou de utópicos - eles não existem, são desejáveis do ponto de vista intelectual para elaborar o que se espera vir a encontrar (pois é, todos somos tiramos na esfera do pensamento).

A insistência em colar gosto e qualidade (que tenta por sua vez colar a medidas e questões técnicas) é sua, não é minha. Eu não tenho problemas com medidas e questões técnicas, desde logo por compreender que elas participam das escolhas por gosto. O que isto significa?
Precisamente o que o Paulo aceita, as marcas pelas suas estratégias de marketing (marketing não é publicidade, é muito mais) tentam compreender como é possível captar o gosto imediato das pessoas, em experiências breves de loja e afins.

Aceito como sempre aceitei que se possa gostar de coisas a medir mal, coisas a medir assim-assim ou a medir bem, tanto me faz, a mim interessa-me o que sempre me interessou, que as pessoas tenham consciência da escolha. Lembro que já partilhei várias vezes, e foi até motivo de longa conversa com o Ricardo onga-ku no passado, que me enamorei brevemente por colunas mono-via, lá no passado longínquo... Smile a coerência com que elas reproduzem a Música dentro das suas limitações é boa de sentir. Naqueles dias de enamoramento eu ignorava as limitações, até que as ouvi (as mesmas colunas) ao lado de outras... hoje continuo a gostar das colunas, mas não da mesma forma, compreendo um pouquinho melhor o que elas fazem.

As marcas, pelas suas estratégias de marketing (que não se deve confundir com publicidade) compreendem, como o Paulo aceita, os mecanismos do gosto e desenvolvem os produtos de acordo com o que pretendem atingir: umas colunas para vender numa grande superfície (hipermercado ou Fnac desta vida) podem ser pensadas para impressionar em curtas experiências.

O que me deixa de pé atrás com esta conversa toda do gosto?

Pessoas experientes, por motivos que desconheço (auto-protecção? auto-preservação?, elevação?, ...), cada vez mais se permitem a fechar todas as conversas e observações no gosto e deixam pessoas com menos experiência (como eu) sem referências.

A experiência é o melhor e mais completo caminho, mas a maioria das pessoas não tem a possibilidade de experimentar tudo o que pretende comprar... ou não tem a possibilidade de experimentar com as ferramentas (outras experiências) necessárias.

Fórum vem de um termo usado na antiguidade para designar o local onde se debatiam assuntos relaccionados com a sociedade, onde uns e outros partilhavam experiências com vista à elevação do colectivo. Eu não pretendo direccionar o gosto das pessoas - ao contrário do que o Paulo pensa -, eu apenas tento partilhar de forma simples que fechar conversas com "é o gosto" não levará a grandes resultados.

Horizontes abertos. Wink
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptySeg Jun 27 2022, 13:13

José Miguel escreveu:
... a mim interessa-me o que sempre me interessou, que as pessoas tenham consciência da escolha
...
Pessoas experientes, por motivos que desconheço (auto-protecção? auto-preservação?, elevação?, ...), cada vez mais se permitem a fechar todas as conversas e observações no gosto e deixam pessoas com menos experiência (como eu) sem referências.
...
Horizontes abertos. Wink

Actualmente aqui ao lado tenho uma conversa muito interessante nmho com o amigo "rjbv17" sobre os leitores de Cd de primeira geração... é evidente que o "gosto" toma um lugar preponderante na conversa mas sém impedir que a discussão seja constructiva, interessante e mesmo educadora para alguns. O argumento do "gosto" não impede de prosseguir a conversa e mesmo perguntar: Gosta disso porquê?... o que vai, ou pode, abrir a conversa para outros horizontes. Aliàs, o "gosto" não é algo de monolitico ném fechado e quotidianamente escuto em conversas do dia a dia frases como Bom gosto, Mau gosto, Gosto seguro, Gosto pertinente... isto mostra que não hà um arquetipo do "gosto" mas que ele toma diferentes formas e evolui em permanência, podemos então abordà-lo sém obrigatoriamente fechar a conversa mas, criticar o "gosto" sim fecha tudo pois toca ao intimo, ao pessoal. No audio o que chamamos "gosto" é na realidade a nossa "sensibilidade"... por razões culturais, sociais ou pessoais hà pessoas que estão mais à vontade para aprofundar essas conversas e estender-se, hà que respeitar isso nmho...

No que diz respeito à tua frase em negrito que sei ser importante para ti... diria que visto do meu lado ela pareçe-me uma evidência mas, também tém subjacentemente uma ideia que é uma faca de dois gumes. Para mim, a noção de "consciência da escolha" significa que esta foi feita tendo em consideração os limites de experiência e de conhecimento da pessoa... trata-se então de uma escolha "pessoalmente valida" sém ser obrigatoriamente "universalmente valida" o que a pode tornar relativa e aproximar-nos de novo do "gosto", dou um exemplo: Nesta conversa tu jà me disseste estar "consciente" que a decisão entre o Lenco e o Rega foi uma escolha entre dois aparelhos deficientes, posso então considerar isso como uma "escolha consciente"!!!...

Também posso considerar como absurdo uma escolha entre dois aparelhos deficientes e ainda mais absurdo de amputar um para meter uma perna de pau ao outro. Posso me dizer que nesse caso a "consciência da escolha" seria de buscar, no mesmo orçamento, um aparelho que seria a diagonal de fuga e que aparecesse como melhor do que os outros dois... mas isto seria "pura razão" e meteria de lado a noção de "gosto" que implica subjacentemente sentimentos como o prazer, a excitação e a alteridade. Voçês decidiram de fazer evoluir um aparelho do qual "gostam" em vez de buscar um melhor do qual possivelmente "não gostariam"... é uma decisão respeitavel e mesmo consciente mas, é uma boa ou a melhor decisão?...

Este exemplo que dou em relação a voçês pareçe-me ser valido para a maioria das escolhas que se passam por aqui no AAP e incluo as minhas... qualquer decisão reflectida que é feita dentro dos limites pessoais de conhecimento e experiência é uma "escolha consciente", mesmo se não o pareçe ser para outros. Podemos sempre nos questionar se as pessoas buscam suficientemente a informação e as experiências afim de amelhorar o seu conhecimento mas, isto é algo do dominio pessoal e por natureza cada um é dono da sua vida...

Abrir os horizontes é partilhar e aprender com essa partilha, fazemos isso quotidianamente aqui no forum e é o que estamos a fazer neste cara a cara. Não sei quais são as "referências" que buscas ou pretendes encontrar aqui no forum mas sincéramente espero que não encontres nenhuma. Para mim, as unicas "referências" que mereçem de ser nomeadas assim são as que resultam do entrechocar entre a teoria e a pratica... o resto, e é primordial, são "bases" que vão servir e ajudar nos momentos de analise e escolha. Tudo na vida pode ser uma lição se não estivermos focados em elementos prédefinidos, mesmo o "gosto" dos outros nos ensina algo sobre eles e sobre nòs... não é tão fechado quanto isso a menos de esperar que as conversas sejam sistematicamente baseadas numa reflexão condicionada. Talvez como dizes na tua primeira frase esta conversa não và mais longe do que isto, pouco importa pois é o caminho que é interessante por vezes e não a destinação. Não creio que o "gosto" feche as discussões mas talvez possa impedir às conversas de avançar no sentido que tu "gostas" e isto mereçe reflexão Wink

PS: Estamos num topico que se chama O Audio Analógico está mesmo na moda ... então em nada estamos off-topic e quém sabe, talvez apareça uma faisca de explicação que explique o desrazoavel fenomeno do analogico estar na moda Laughing

rjbv17 e Fernando Salvado gostam desta mensagem

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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptySeg Jun 27 2022, 18:56

TD124 escreveu:

(...)
Também posso considerar como absurdo uma escolha entre dois aparelhos deficientes e ainda mais absurdo de amputar um para meter uma perna de pau ao outro. Posso me dizer que nesse caso a "consciência da escolha" seria de buscar, no mesmo orçamento, um aparelho que seria a diagonal de fuga e que aparecesse como melhor do que os outros dois... mas isto seria "pura razão" e meteria de lado a noção de "gosto" que implica subjacentemente sentimentos como o prazer, a excitação e a alteridade. Voçês decidiram de fazer evoluir um aparelho do qual "gostam" em vez de buscar um melhor do qual possivelmente "não gostariam"... é uma decisão respeitavel e mesmo consciente mas, é uma boa ou a melhor decisão?...
(...)

Tendo em vista o título do tópico, eu não me sinto a fugir ao tema. Quando vejo notícias que anunciam um gira-discos do Ikea em parceria com os Swedish House Mafia, penso que o dito áudio analógico está na moda e há técnicas para cavalgar essa onda - estamos a falar de cavalgar a onda do gosto colectivo.

Não parto do princípio que falha a razoabilidade neste ou em outros movimentos, já aqui o disse que conheço quem tenha embarcado na moda e hoje leve estas coisas mais a sério do que eu... eu não levo muito aos meus olhos, mas aos olhos de quem leva menos eu até pareço ter dedicação. É assim, as coisas são o que nelas colocamos.

Chegado aqui, esperando honestamente que fique muito claro o terreno onde caminho, não consigo deixar passar esse parágrafo que deixei citado (a título de resumo).

Vamos exercitar a Lógica?

Um sujeito (eu) afirmou ter escolhido entre dois equipamentos defeituosos.
Esse mesmo sujeito escolheu um dos equipamentos e do outro tirou uma parte para fazer evoluir o escolhido.
O orçamento gasto nesta caminhada não chega a 400 euros (excluindo a célula).
(estas são as premissas, vamos à conclusão)
O sujeito deveria ter comprado um aparelho novo, melhor, sem os defeitos encontrados nos dois equipamentos dos quais partiu.

O Paulo até me fez sorrir... não imagino que gira-discos seja esse, mas estou aberto a dicas. Wink
(nos jogos de absurdo não haveria escolha, nunca conheci um equipamento sem falhas e já ouvi alguns que valem mais do que a casa em que estou...)

Já disse que não me sinto na necessidade de estar constantemente a lembrar conceitos e crenças que repito vezes sem conta, imagino sempre que quem lê compreende o tal terreno onde caminho. Obviamente que as experiências de cada um encerram um limite para o conhecimento do sujeito, assim como participam do que chamamos de gosto (delimitando e limitando) - até aqui nada de novo. Eu aceito estas premissas de uma ponta à outra, não as uso para certas conclusões e esqueço-as para outras.

Quando alguém me pergunta por opinião eu dou, mas não sem tentar acompanhar a pessoa numa caminhada - curta ou longa, dependerá da pessoa em causa e não de mim. Aderir a uma moda, escolher isto ou aquilo, gostar de preto, branco ou qualquer cor entre essas duas, para mim tudo é válido. Validar a opção de outrem parte da compreensão dos nossos limites, contudo isso não significa que não se possa tentar compreender como se chegou a tal escolha.

Eu preferi o Lenco e expliquei, não cheguei ao tópico e disse: gostei mais.

A minha percepção do comportamento do equipamento é errada?

Não sei, tentei experimentar e "acertar" (desde logo por não conseguir andar a pagar mudanças e mais mudanças), mas dei espaço para que outras pessoas entrassem em conversa e conseguissem dizer algo.

Caso tivesse dito apenas "gostei mais", a conversa fechava - respeitando todas as premissas sobre gosto, fechava.

Não percebo nada de electrónica, mas não esqueci alguns ensinamentos teóricos que ajudam na vida prática (não dou por perdidas as horas de leitura sobre temas absurdos como teorias de conhecimento ou estática). Wink


Eu não tenho uma resposta para o áudio dito analógico ter chegado ao ponto de estar na moda, mas hoje é mais simples perceber algumas razões para ele estar na moda - apelo sensorial, emocional, de partilha, de inclusão, ... tudo o que o Paulo também já abordou. A máquina de marketing ainda não parou de divulgar, ainda haverá terreno fértil (insistentemente fala-se do regresso dos CDs... vem aí algo). Para alguém estar na moda e seguir com a onda há códigos a respeitar? Aqui já creio ser bem mais complicado falar, os códigos a respeitar parecem simples e muito ligados à posse sem mais, como forma de acesso a um "clube".

Arrisco dizer isto: quem leva o áudio um nadinha a sério está fora de moda.

O muito bom (seja o que for, vinho, roupa, equipamentos, ...) só é moda se for reconhecido pelos pares, caso contrário não é. O que não é reconhecido pode ser exclusivo (a palavra permite um belo jogo...) e não inclusivo.

Como já aqui disse:
1. Não quero nem nunca desejei orientar o gosto ou outra faculdade das pessoas (acredito no que escrevo, o limite das minhas crenças é a afirmação da individualidade aberta às individualidades);
2. Preocupo-me com alguns valores que a sociedade dita ocidental vai elevando (já aqui disse que a adesão acrítica a algo é um exemplo de consequência e não a causa);
3. Vejo no subjectivismo um potencial de desvio (o subjectivismo é contrário à subjectividade potencial de cada um, pois é acrítico);
4. As respostas de fuga fecham em vez de abrir (conversa requer dois em constante dar e receber);
5. A ilusão do mundo sem limites (avanços tecnológicos, por exemplo) está a criar a ideia do "eu" sem limites.

Em momento nenhum belisquei a subjectividade, a singularidade, a unicidade, ... a alteridade não diz apenas que somos todos diferentes, diz também que nos vamos tocando uns aos outros no ser que somos e por isso devemos estar abertos à diferença. Wink

Deixo a notícia sobre o gira-discos Ikea: https://aniqlo.com/br/ikea-e-swedish-house-mafia-colaboram-em-plataforma-giratoria-robusta-para-nova-colecao-de-outono/
Assim o tópico não se perde mesmo. Smile
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyTer Jun 28 2022, 09:10

José Miguel escreveu:
... Um sujeito (eu) afirmou ter escolhido entre dois equipamentos defeituosos.
Esse mesmo sujeito escolheu um dos equipamentos e do outro tirou uma parte para fazer evoluir o escolhido.
O orçamento gasto nesta caminhada não chega a 400 euros (excluindo a célula).
(estas são as premissas, vamos à conclusão)
O sujeito deveria ter comprado um aparelho novo, melhor, sem os defeitos encontrados nos dois equipamentos dos quais partiu.

O Paulo até me fez sorrir... não imagino que gira-discos seja esse, mas estou aberto a dicas. Wink
(nos jogos de absurdo não haveria escolha, nunca conheci um equipamento sem falhas e já ouvi alguns que valem mais do que a casa em que estou...)...

Na fasquia inferior aos 400€ e partindo dos preços por aqui giras como o Revolver, Systemdeck, TD160, SL 1100, SL 1200, Linn Basik, Ariston RD11 e etc pareçem-me ser perfeitos challengers...

Não é porque não hà aparelhos perfeitos que eles são todos iguais! A hierarquia existe em todas as fasquias de preços...

José Miguel escreveu:
... Eu preferi o Lenco e expliquei, não cheguei ao tópico e disse: gostei mais.

A minha percepção do comportamento do equipamento é errada?...

Para ti não, para outra pessoa talvez, para mim sim e jà te disse no passado! Como vês, a noção de qualidade percepcionada é relativa...

José Miguel escreveu:
... Caso tivesse dito apenas "gostei mais", a conversa fechava - respeitando todas as premissas sobre gosto, fechava...

Como eu disse existe sempre uma abertura que é: Gostou mais porquê?...

José Miguel escreveu:
... Arrisco dizer isto: quem leva o áudio um nadinha a sério está fora de moda.

O muito bom (seja o que for, vinho, roupa, equipamentos, ...) só é moda se for reconhecido pelos pares, caso contrário não é. O que não é reconhecido pode ser exclusivo (a palavra permite um belo jogo...) e não inclusivo...

Aqui em França a exclusividade està na moda de mesmo que levar tudo a sério, roupa, chà, comida, decoração, ecologia, desporto, carro eléctrico, trotinete, portamovel, disco vinil e etc. Evidentemente que o que digo é valido para algumas classes socio economicas pois para outras as preocupações são muito mais terrenas Wink

PS: Que feio esse gira da Ikea... bom, pessoalmente acho tudo feio na Ikea fora os preços Laughing
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptySáb Jul 02 2022, 15:04

A "moda" do analogico ou o "retorno", "regresso" como se queira chamar pareçe se enquadrar num movimento sociologico (ou de reflexão não sei) mais largo que ultrapassa a musica e engloba a desmaterialisação de uma série de outros elementos como a informação, os livros, as fotos, e outros lazeres...

Num jornal economico que leio de tempos a outros apareçeu-me um artigo que relata uma opinião pessoal que me pareçe ser um bom exemplo do que digo, deixo o titulo e sub titulo:

E se voltar ao básico fosse o futuro da imprensa de revistas como o disco de vinil?

OPINIÃO. Pensar na impressão de revistas como uma prensa de vinil 33 rpm... Ou a apologia da "imprensa de objetos". Por Albin Serviant, CEO da I/O Media.


E de encontrar quase no fim este paragrafo:

(...) Concrétamente, e se repensarmos a prensa de revistas como se cria um vinil onde a música é armazenada espacialmente e não digitalmente, dando ao disco uma subtileza que as outras mídias não têm? E se fizéssemos revistas para cultivar a leitura longa, como o vinil que gira devagar? E se imprimissemos revistas como prensamos o vinil cujos sulcos fazem vibrar de emoção a cabeça de leitura? E se desenhássemos revistas como os coffee table books em couro de vinil que embelezam as salas de estar? (...)

Confesso que quando leio coisas assim fico perplexo e mesmo pouco à vontade. Vejo de um lado a crise intelectual criada por uma ciência que vai mais depressa do que a nossa capacidade a integrà-la no nosso quotidiano, nos nossos hàbitos... vejo também a ignorância e a impotência de muitos jornalistas em relação aos fenomenos de mutação social criados pela tecnologia... isto faz apareçer uma vontade de abrandar ou de andar para tràs o que me apareçe como um suicidio intelectual nmho...

Ver no disco vinil a solução para um mercado da edição musical em crise, ou no livro em papel a solução para a escassez de leitura ou ainda nas revistas papel a solução para um afastamento do publico em relação à informação pareçe-me algo facil ou uma idiossincrasia. Compreendo que os objectos sejam simbolos e como diz o José Miguel as coisas são o que nelas metemos, cada um enche o seu saco como quer...

Pessoalmente tornei-me audiofilo pelo gosto da musica assim que da vontade, ainda hoje viva, de a escutar nas melhores condições possiveis. Ver no disco vinil uma forma de supra sumo da reprodução musical é algo que é falso e entender isso pela via de artigos generalistas e da boca de pessoas ou jornalistas influentes torna-se manipulação das massas, é perigoso nmho. Isto leva-me a pensar que a audiofilia também està a atravessar uma grave crise identitaria. Talvez jà não seja a qualidade da reprodução a nossa busca mas outra coisa. Jà faz muitos anos que leio e releio Pessoa ou Kafka num Kindle sém ter a impressão que nenhuma letra ou palavra tenha sido cortada ou seja diferente da do papel o que me permite de saborear sém limitação a obra... digo a mesma coisa do digital, sobretudo quando é musica complexa mas, hoje pareçe apareçer um novo paradigma. Jà não estamos a falar de moda mas de uma certa forma de dictadura do pensar e do estar e isso é inquiétante nmho...

Deixo o artigo completo: https://www.latribune.fr/opinions/tribunes/et-si-revenir-aux-fondamentaux-etait-l-avenir-de-la-presse-magazine-a-l-instar-du-disque-vinyle-921285.html

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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyDom Jul 10 2022, 14:16

TD124 escreveu:

(...)
Confesso que quando leio coisas assim fico perplexo e mesmo pouco à vontade. Vejo de um lado a crise intelectual criada por uma ciência que vai mais depressa do que a nossa capacidade a integrà-la no nosso quotidiano, nos nossos hàbitos... vejo também a ignorância e a impotência de muitos jornalistas em relação aos fenomenos de mutação social criados pela tecnologia... isto faz apareçer uma vontade de abrandar ou de andar para tràs o que me apareçe como um suicidio intelectual nmho...
(...)

Correndo o risco de ser acusado de não escrever sobre áudio, antes de tretas... sabe Paulo, leio nesse seu parágrafo algo que está para lá do áudio, mas como tantas vezes insisto, estando para lá toca o áudio como toca as nossas escolhas mais pequenas de supermercado. dvil

A crise intelectual está onde?
Será mesmo provocada pelo rápido avanço da ciência?
Estaremos assim tão limitados na capacidade de integrá-la no quotidiano?
Os jornalistas estão impotentes em relação às mudanças, ou cavalgam as ondas como fazem os surfistas cansados ao sair do mar (forma mais fácil de sair)?

Eu levanto estas questões e propositadamente deixo a parte final do seu parágrafo para mais tarde, eu concordo que o problema existe e já aqui o coloquei, mas não o vejo tal e qual como o Paulo.

Cada um de nós fez o seu caminho, no meu e desde 2004 que fui alertado para a necessidade de aproximar uma disciplina (desnecessária pelo que vou lendo...) como a Filosofia dos laboratórios e salas de estudo de ciências ditas duras. Pensar os avanços da ciência é algo que se faz, mas como já escreveram, haverá lugares para falar disso e não é aqui. Vamos falar de crise intelectual?
Ela está na cabeça de cada um!!!

Neste mesmo tópico eu já brinquei com o "grande" avanço que representa a Neuralink, nunca obtive resposta... deixei a ligação com o áudio, pois se a experiência passar a ser toda interior (no nosso cérebro), a fidelidade deverá estar assegurada... ou não! e novos chips serão desenvolvidos e voltaremos a estas brincadeiras de saber onde está a medida do correcto. Ao mesmo tempo, isto levanta questões profundas no domínio da Ética, da Epistemologia, ... há debates a acontecer. Depois logo se escolhe o que mais se gosta ou mediante outro parâmetro.

A integração de novas tecnologias no nosso quotidiano acontece a bom ritmo, de tal forma que numa sala de aula o meu telefone era o pior (testei em cinco salas de aula!). O que acontece, mais uma vez, é: o que se faz com os avanços que chegam até nós?
Podemos ter chips potentes enfiados no cérebro, se permitirmos que um algoritmo "controle" as nossas pesquisas pela oferta de sugestões, seremos como o cão que corre atrás da calda.
Travar os avanços da tecnologia é impossível, resta-nos tentar compreender.

Os jornalistas, também aqui já abordamos a questão, querem vender artigos, muitos são pagos se o artigo sair... hoje falar de vinil é fácil, está na moda, é a onda que os trará até à praia em segurança. Quando leio, como já li e partilhei por aqui, que menos de 100 euros chega para ter o "som do vinil em casa", fico a pensar se estaremos a brincar ou vender ilusões... mas sinto o mesmo quando leio muita coisa que se escreve por aqui em relação ao avanço da técnica e ciência quando se fala de áudio e do que "realmente" interessa - educa-se pela troca de ideias, certo?

O Paulo acusa-me atirar balas ao gosto, mas leve o seu discurso a sério e verá que está do mesmo lado que eu. Wink Ambos temos uma visão das coisas e aparentemente concordamos que algo está mal, apenas falamos com palavras diferentes.

Nós poderemos estar perante suicídio intelectual, mas não geral. Em todas as décadas, em todos os séculos, em todos os milénios, ... pode estudar gerações ou civilizações, sempre houve quem comandasse e quem seguisse. Sempre houve maiorias e minorias. Sempre se provocou mudanças a partir de minorias e quem as operou foram as maiorias.

O suicídio intelectual está na cabeça de cada um, a ciência continuará a avançar, haverá sempre debate sobre os avanços da ciências. Quem acompanha? Quem quer! Quem pode!
Eu gostava que muitos quisessem, mas acima de tudo, gostaria que os que podem tivessem mais responsabilidade e não transformassem tudo em subjectivismo.

Posto isto, eu vejo no artigo uma coisa importante: nós precisamos mesmo de abrandar para digerir certas coisas, não sei se o Paulo lê bem ou mal Pessoa num kindle, sei que conheço pouca gente que leia bem Pessoa. Wink
Ler não é só somar letras, seja em papel ou num ecrã.

Anda tudo ligado, não vejo a necessidade de termos objectos para abrandar, mas as crianças antes de caminhar sozinhas são agarradas pelas mãos...
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyDom Jul 10 2022, 15:31

José Miguel escreveu:
... Neste mesmo tópico eu já brinquei com o "grande" avanço que representa a Neuralink, nunca obtive resposta... deixei a ligação com o áudio, pois se a experiência passar a ser toda interior (no nosso cérebro), a fidelidade deverá estar assegurada... ou não! e novos chips serão desenvolvidos e voltaremos a estas brincadeiras de saber onde está a medida do correcto. Ao mesmo tempo, isto levanta questões profundas no domínio da Ética, da Epistemologia, ... há debates a acontecer. Depois logo se escolhe o que mais se gosta ou mediante outro parâmetro...

Considero-me como uma pessoa politizada e portanto considero-me como incompetente para julgar os aspectos éticos ou sociologicos criados pela ciência aos quais a nossa sociedade se confronta e vai confrontar... serà aos politicos de formar grupos de reflexão e dar respostas com as pessoas mais competentes nesses dominios. A digitalisação da sociedade mudou muitos paradigmas e criou mesmo uma fractura intergeracional na utilisação optimal das ferramentas electronicas. A desmaterialisação do "espaço de lazer" e ao mesmo tempo de inumeros sectores economicos criou um vazio, sém jogo de palavras. Conheço o projecto Neuralink e aqui ele cria grandes discussões éticas, sobretudo nos corpos ciêntificos e medicais o que posso perfeitamente compreender... criar uma interface entre o cérebro e uma maquina pode apareçer como o nascimento de uma hibridação que destroi a imagem biologica classica que temos de nòs mesmos...

A desmaterialisação jà é meio caminho para essa "experiência interior" que representa a Neuralink vista pelos mais sépticos pois como qualquer tecnologia ela é uma faca de dois gumes. Hoje é possivel ter no bolso (telémovel) um computador, um gps, uma televisão, uma radio e etc que amanhã vão estar num relogio e depois de amanhã num chip cerebral que serà o momento culminante da desmaterialisação. Deve este caminho natural para a ciência e aparentemente perigoso para ética ser cortado ou controlado? Não sei...

José Miguel escreveu:
... Posto isto, eu vejo no artigo uma coisa importante: nós precisamos mesmo de abrandar para digerir certas coisas, não sei se o Paulo lê bem ou mal Pessoa num kindle, sei que conheço pouca gente que leia bem Pessoa. Wink
Ler não é só somar letras, seja em papel ou num ecrã...

Confesso que nunca me puz a questão de saber se leio bem ou mal Pessoa, ou qualquer outro escritor... mas pela tua resolução tu dàs a compreender que é algo que fazes bem e conheçes poucos que seja o caso. Ontém num jantar entre amigos havia um casal de idade que tém uma grande galeria de arte do sul da França e em plena conversa animada a senhora disse-me que o problema da intelectualisação da arte é que acabamos por ver nas obras mensagens que o artista nunca quiz dizer!...

Foi uma conversa muito interessante que tive com ela até muito tarde na noite, ainda gosto de aprender Wink
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyDom Jul 10 2022, 19:08

TD124 escreveu:


Considero-me como uma pessoa politizada e portanto considero-me como incompetente para julgar os aspectos éticos ou sociologicos criados pela ciência aos quais a nossa sociedade se confronta e vai confrontar... serà aos politicos de formar grupos de reflexão e dar respostas com as pessoas mais competentes nesses dominios. A digitalisação da sociedade mudou muitos paradigmas e criou mesmo uma fractura intergeracional na utilisação optimal das ferramentas electronicas. A desmaterialisação do "espaço de lazer" e ao mesmo tempo de inumeros sectores economicos criou um vazio, sém jogo de palavras. Conheço o projecto Neuralink e aqui ele cria grandes discussões éticas, sobretudo nos corpos ciêntificos e medicais o que posso perfeitamente compreender... criar uma interface entre o cérebro e uma maquina pode apareçer como o nascimento de uma hibridação que destroi a imagem biologica classica que temos de nòs mesmos...

A desmaterialisação jà é meio caminho para essa "experiência interior" que representa a Neuralink vista pelos mais sépticos pois como qualquer tecnologia ela é uma faca de dois gumes. Hoje é possivel ter no bolso (telémovel) um computador, um gps, uma televisão, uma radio e etc que amanhã vão estar num relogio e depois de amanhã num chip cerebral que serà o momento culminante da desmaterialisação. Deve este caminho natural para a ciência e aparentemente perigoso para ética ser cortado ou controlado? Não sei...

Paulo, já lhe disse isto hoje, mas deixo novamente o desafio: leve a sério o que escreve e depois verifique se não tem mesmo a competência para julgar os aspectos éticos ou sociológicos... levanta as perguntas, inspeccione dentro de si se não tem respostas.

Vou contar-lhe uma coisa gira dos anos de faculdade: tivemos um professor que em todos os exames da sua disciplina (Ontologia) entregava as várias perguntas da matéria dada (normalmente duas ou três) e no final da folha deixava um desafio - ignorem as minhas perguntas, façam uma melhor pergunta sobre a matéria e elaborem a resposta.

Essa é a parte tramada, fazer perguntas pode ser tão difícil como dar respostas.


Não vejo mesmo neste caminho de desmaterialização (na Música ou Literatura, na Arte Gráfica) a passagem para o que a Neuralink representa, pois mesmo sem objectos de suporte, o que experimentamos está fora de nós. A Neuralink promete colocar a Música, por exemplo, directamente no nosso cérebro, como os impulsos que passam pelos nossos ouvidos. Estamos em patamares bem distintos.

Não creio que aqui seja o lugar para aprofundar os debates sobre chips no nosso corpo, mas se o controlo das redes sociais levanta problemas, imagine-se chips que nos poderão controlar movimentos...


Confesso que nunca me puz a questão de saber se leio bem ou mal Pessoa, ou qualquer outro escritor... mas pela tua resolução tu dàs a compreender que é algo que fazes bem e conheçes poucos que seja o caso. Ontém num jantar entre amigos havia um casal de idade que tém uma grande galeria de arte do sul da França e em plena conversa animada a senhora disse-me que o problema da intelectualisação da arte é que acabamos por ver nas obras mensagens que o artista nunca quiz dizer!...

Foi uma conversa muito interessante que tive com ela até muito tarde na noite, ainda gosto de aprender Wink

Existem muitas correntes estéticas e eu conheço a que tenta deixar de fora a intelectualização, colocando mesmo no autor nada mais do que o acto de criação puro - sem mensagens ou intenção além da criação. Para que este corrente seja válida, o autor já a deverá representar. Existem autores assim de quem gosto, dizem criar mais por instinto ou necessidade, nada tenho contra o princípio, pelo contrário, considero-o válido e pertinente (a Arte não tem uma função, tem muitas). Já questionei se no acto de necessidade ou criação puro não está a mensagem que se quer passar e as palavras não alcançam... são conversas animadas (seja nas Artes Plásticas seja na Música).
Por outro lado, existem autores que deixaram obra e mensagem na obra de forma explícita, compreender essa mensagem não é um acto de intelectualizar vazio, é honrar a obra para, caso se aceite, tentar mudar alguma coisa (em nós, no mundo que somos...).

Paulo, eu não sei construir um amplificador, mas dedico muitas horas à leitura e análise de obras escritas. Pessoa tem uma obra muito grande e grande coerência dentro dela - os heterónimos comunicam, completam-se. Quem não percebe isto, tem de voltar a ler. Pessoa não representa essa corrente estética e quem quiser colocar o autor nessa gaveta no fundo está a esvaziar a obra para ela encaixar lá.

Volto à pergunta deixada por si: estamos perante o suicídio intelectual?

E deixo umas palavras de Pessoa, de Poesias Inéditas:
"Às vezes sou o Deus que trago em mim
E então eu sou o Deus e o crente e a prece
E a imagem de marfim
Em que esse deus se esquece.

Às vezes não sou mais do que um ateu
Desse deus meu que eu sou quando me exalto.
Olho em mim todo um céu
E é um mero oco céu alto."

As coisas são o que nelas colocamos. Wink

Mais uma vez, não creio que seja necessário voltar ao passado para melhorar o futuro, de resto isso é impossível. Acredito que há lugar para tudo e para algumas pessoas poderá ser necessário abrandar para melhor avançar. Isto está longe de ser o equivalente a acreditar que é possível travar os avanços tecnológicos. Já recomendei várias vezes o livro A Revolução do Algoritmo Mestre... não se trata de travar nada, é impossível (o grau zero não existe, ou se quiser, é como o presente - já passou), apenas compreender e melhor interagir com os avanços.

Os vários movimentos que se tentam agarrar às necessidades de partilha de imagem nem sempre se agarram aos valores que queremos, imprimir revistas com qualidade de livro de mesa de café não lhe agrada. O conteúdo das revistas preocupa-me mais, como venho revelando faz muito tempo... não me interessa que existam milhares de revistas sem papel, se vejo a qualidade do jornalismo e dos artigos cair, preocupo-me. A facilidade de publicação é uma preocupação? O descontrolo editorial é uma preocupação?
Estas perguntas tocam-me mais, mas há erros com ou sem papel.

As pessoas querem pagar mais para ter um objecto esgotado no mercado de "novo"? Tudo bem...
As pessoas querem pagar por um boneco desmaterializado, um NFT? Tudo bem...

Estes exemplos podem parecer distantes, mas participam do nosso tempo e da forma como a sociedade valoriza. No limite, para mim, está sempre o sujeito, o "Eu". Não quero saber se alguém gosta ou não do que eu gosto, quero apenas tentar compreender se cada sujeito, o "Eu", está consciente dos seus actos (pode procurar a tese do zombie).

O áudio está na moda e ainda bem, caso contrário as marcas morriam, não havia negócio. O que me preocupa e já partilhei é: em que estado de consciência está quem compra.

Compre-se por gosto, compre-se avisado, compre-se bem - nem que seja um Crosley (desde que consciente do que se está a comprar).

O som do vinil, como o Paulo disse (por outras palavras), é o som do vinil, não é "O Som". Wink

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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptySeg Jul 11 2022, 14:12

José Miguel escreveu:
... Não vejo mesmo neste caminho de desmaterialização (na Música ou Literatura, na Arte Gráfica) a passagem para o que a Neuralink representa, pois mesmo sem objectos de suporte, o que experimentamos está fora de nós. A Neuralink promete colocar a Música, por exemplo, directamente no nosso cérebro, como os impulsos que passam pelos nossos ouvidos. Estamos em patamares bem distintos...

Eu não disse, ou não quiz dizer que a Neurolink era o equivalente da desmaterialisação... eu tentei dizer que a Neurolink representa (talvez) a apoteose tecnologica da era que começou com a digitalisação. O homém desde sempre tentou amelhorar os seus sentidos e a interação com o espaço através de maquinas que são como proteses: o telescopio, os binoculos, os amplificadores de ouvido, os tractores, os monta-cargas e camiões... tudo isto existe afim de amelhorar o desempenho humano e pareçe-me evidente que desde que a tecnologia o permita um passo suplementar serà feito que consiste a levar os estimulos ao mais proximo do sitio aonde são analisados e controlados, no cérebro!...

Se a Neurolink é vista como uma protese que pode resolver alguns problemas fisicos como a cegueira, surdidez, Alzheimer, Parkinson e etc, pessoalmente nada tenho contra o produto... mas se ao contrario ele torna-se num método de conexão bio-tecnologico com outras maquinas ao serviço de uma representação social normativa e absolutista então o problema é de outro nivel. Por isso falei de faca de dois gumes...

José Miguel escreveu:
... Paulo, eu não sei construir um amplificador, mas dedico muitas horas à leitura e análise de obras escritas. Pessoa tem uma obra muito grande e grande coerência dentro dela - os heterónimos comunicam, completam-se. Quem não percebe isto, tem de voltar a ler. Pessoa não representa essa corrente estética e quem quiser colocar o autor nessa gaveta no fundo está a esvaziar a obra para ela encaixar lá...

No que dizes na primeira frase em negrito reside um aliçerce das nossas diferenças mutuas e certamente algumas das nossas diferenças entre cada individuo neste espaço. Eu não leio Pessoa, ou qualquer outro poeta, como tu e não sei se essa analise tu a fazes por gosto, necessidade ou habito... ou mesmo as três juntas. Eu não analiso a obra de Pessoa ou a do Picasso... tento simplesmente senti-la e encontrar pontos de revelação! O Pessoa é como o Gainsbourg para mim, reconheço o artista e rejeito o homém, então é de levezinho que nos cruzamos. Que um musico analise outro artista na base da escritura, tecnica e estética musical é normal e que tu por deformação profissional o faças também é normal... eu não tenho razões ném gosto para o fazer. Se cada um de nòs começasse a abordar o audio pelo prisma da deformação profissional haveria topicos à farta e sobre tudo...

No que diz respeito à ultima frase vejo algo de interessante. Justamente porque não analiso Pessoa eu não o meto em nenhuma gaveta que conheço ném o comparo estilisticamente a ninguém. Mas, achei giro o termo de "fazer encaixar" a nossa visão das coisas num modelo pois é o que fazemos todos de uma maneira mais ou menos consciente. Cada pessoa (e não Pessoa) manipula à sua maneira as ideias e conçeitos para que elas encontrem nas teorias ou modelos um lugar credivel, um alibi. Fazemos todos isso com o audio e se calhar com muitas mais coisas, é a arte de "encaixar-se" no mundo...

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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyTer Jul 12 2022, 22:16

Sobre leitura eu deixo o conselho que o Paulo tantas vezes me dá: experimentar, meter mãos-à-obra, aprofundar... não se fique pelas teorias, pela rama. Laughing

Acredita na escuta crítica, acredita no desenvolvimento da escuta de Música e de aparelhos, ler não é diferente. Eu não sei ler esquemas, não sei ler sobre os desenvolvimentos de chips e componentes digitais, mas consigo experimentar ouvir Música. Seria diferente se soubesse!?! Seria sim e nisto estamos de acordo, cada um de nós tem a sua mundividência marcada pelo seu caminho. É bom existir estas diferenças, mudanças, evoluções. Wink


Como o vinil está mesmo na moda...


Descobri por receber a sugestão de leitura deste pequenito artigo:
https://hiconsumption.com/yamaha-design-lab-stepping-out-of-the-slate/

Que venha a próxima criação!!
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyQua Jul 13 2022, 17:19

José Miguel escreveu:
Sobre leitura eu deixo o conselho que o Paulo tantas vezes me dá: experimentar, meter mãos-à-obra, aprofundar... não se fique pelas teorias, pela rama. Laughing ...

T'as fait mouche!!!... admito que esse argumento é imparavel e que devo meter mãos à obra! Serà feito Wink
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptyQua Jul 13 2022, 17:27

José Miguel escreveu:
... Como o vinil está mesmo na moda...


Descobri por receber a sugestão de leitura deste pequenito artigo:
https://hiconsumption.com/yamaha-design-lab-stepping-out-of-the-slate/

Que venha a próxima criação!!

Admito que fiquei sém voz e partilhado entre achar o gadjet genial ou ridiculo scratch

Vou ter que digerir esse pertinente TurnT Laughing

PS: O ruido de fundo faz mesmo vinil ou é apenas uma "skin" do son digital Question
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MensagemAssunto: Re: O Audio Analógico está mesmo na moda.   O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 EmptySex Jul 15 2022, 22:19

TD124 escreveu:


Admito que fiquei sém voz e partilhado entre achar o gadjet genial ou ridiculo scratch

Vou ter que digerir esse pertinente TurnT Laughing

PS: O ruido de fundo faz mesmo vinil ou é apenas uma "skin" do son digital Question

O Paulo está um passo à minha frente, pois eu nem sei o que pensar do produto!!! O Audio Analógico está mesmo na moda. - Página 4 933723

Uma coisa é certa, tem tudo para tocar os que estão divididos entre a conveniência da contemporaneidade e o revivalismo. Smile
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