Travel & Listen

José Miguel escreveu:

...1. O Arno é silencioso, permite um silencioso (ou negro... associação ao silêncio) pano de fundo onde cada nota ou "imagem" pode respirar bem;

2. O Arno faz com que a Música reproduzida tenha um "tempo" diferente ou especial.

Uma e outra característica andarão de mãos dadas, o que significa que o Arno será melhor do que os amplificadores residentes nessa característica... ou há alguma outra mão invisível a mexer com a percepção de quem experimenta. ...

mannitheear escreveu:

... The time aspect is very relevant for Arno but time isn't only about the linear tempo! In my perception, it's not the tempo which is different, but the timing which is excellent...

Até agora não me manifestei sobre as diferentes sensações de cada um com o Arno... não queria fazer uma forma de "spoiler" sobre as minhas, que são obrigatoriamente diferentes e menos objectivas que as vossas. Li o conjunto das impressões até agora escritas e paradoxalmente essas duas propriedades anunciadas apareçem como uma constante... sém que pessoalmente eu compreenda a semântica utilisada pois o "silêncio" està relacionado com a "dinamica" ou com a "ausência de ruido"... e a noção de "tempo" pode ser vista no sentido do "ritmo" (transientes) ou "tempo" (fluidez)! È possivel que exista uma "mão invisivel" ou uma "influência directa" que é a leitura das sensações de uns e dos outros que pode criar uma continuidade sensitiva ou pelo menos semântica... o "silêncio" e o "tempo" apareçem como uma constante do Travel & Listen que até agora nunca ninguém tinha apontado em primeiro por aqui, ou pelo menos dessa maneira, é giro

Well, the silence refers to the famous quote of Claude Debussy:

Citação :

La musique est le silence entre les notes.

mannitheear escreveu:

Well, the silence refers to the famous quote of Claude Debussy:

Citação :

La musique est le silence entre les notes.

Very beautiful quote indeed, thx Mr Debussy and you Man for the remind  

Ghost4u escreveu:

...

No primeiro domingo de Outubro, o foco foi explorado pela onírica diversidade dos discos de vinil, associando-se à criação o Rotel RHQ-10.

Belo boneco!

TD124 escreveu:

(...) os comentàrios em contrapartida andam-se a fazer raros

O Arno viaja... mas não deve ser muito falador.

Ele continua a sua tripla jornada, antes do Natal já deve estar por casa e aí sim, terá muito para dizer.

TD124 escreveu:

Mais uma foto do Arno em pousada algures na Alemanha... os comentàrios em contrapartida andam-se a fazer raros

The host doesn't like writing...
But he promised a comment - and perhaps has a little surprise!

mannitheear escreveu:

...The host doesn't like writing...
But he promised a comment - and perhaps has a little surprise!

That's great... we like surprises

Tenho mesmo de abrir esse "ananás" para saber ao que sabe!

José Miguel escreveu:

Tenho mesmo de abrir esse "ananás" para saber ao que sabe!

Sempre disse que o audio é como o vinho... sém abrir a garrafa e provar é impossivel de saber o que vale

Comentario final: As Ecouton LQL-150 não são colunas fàceis... Perguntei-me de novo, o que ouvi e o que posso escrever sobre isso. Vou resumir: ouvi uma musica maravilhosa. Quando penso na melhor maneira de descrever isto, talvez a seguinte afirmação seja a melhor: não me preocupo de dissecar a musica com o Arno afim de depois criticar alguns aspectos. A musica fala-me muito directamente com a sua coerência. A proposito, aconselho de guardar a vàlvula de origem. Tive uma excellente impressão sobre o Arno e jà começo a pensar que vou ter que envià-lo brevemente... LG

TD124 escreveu:

Sempre disse que o audio é como o vinho... sém abrir a garrafa e provar é impossivel de saber o que vale

Nisto estamos plenamente de acordo!


O comentário que se anunciava tímido sempre apareceu e mais uma vez capaz de abrir o apetite.

O Arno continua a sua viagem pelas terras gaulesas... eis o ultimo comentario com o Arno mergulhado num sistema deveras audiofilo acompanhado pelas colunas Mulidine Rhapsodie muito respeitadas e premiadas por este lado:

... confirmo o que lhe disse, desde que que acendi o Arno, mesmo sém esperar pelo aquecimento afim que atinga a temperatura ideal, fiquei pasmado. Um tão pequeno aparelho repleto de tantas qualidades... não é necessario reflectir, ném se questionar sobre o que falta ou hà a mais... basta se sentar e escutar. Este aparelho possui uma grande musicalidade, não estamos na demonstração ném nas potências fenomenais mas tudo està presente, sém mais, ném menos, ele deixa o seu lugar à musica. Afinal, não é este o objectivo desejado?

Olha outro branquinho!

Só tenho que continuar a dar os parabéns pelo brilhante início de vida do Arno. Excelentes reações.

Os Franceses não se contentam com um copito... tinham o tinto e agora o branco.

Ao que parece o resultado é o mesmo, só muda a cor.

José Miguel escreveu:

Os Franceses não se contentam com um copito... tinham o tinto e agora o branco.  ...

Não é exactamente assim e pensava que tinha explicado... o "Vinum" foi imediatamente adoptado pelo meu socio da Aethernal, sendo essa a cor que ele desejava, e finalmente foi o branco que ele tinha que partiu para o Travel & Listen gaulês! Efectivamente que seja branco, tinto ou rosé tudo isto é vinho... mesmo se não tém o mesmo gosto

ricardo.canelas escreveu:

... Só tenho que continuar a dar os parabéns pelo brilhante início de vida do Arno. Excelentes reações.

José Miguel escreveu:

... Ao que parece o resultado é o mesmo, só muda a cor.

Efectivamente o acolho, deveria dizer apreciação, do pequeno Arno ultrapassa o esperado e globalmente todas as pessoas gabam a embalagem, a estética e a musicalidade. No entanto essa maré de elogios não me compensa o grande sentimento de frustração que possuo pois neste Travel & Listen o Arno està completamente fora do alvo... tenho a impressão de ter emprestado um desportivo compacto a amadores de Gran Turismo e como resultado os auditores estão entusiasmados e frustrados, o que é normal, pois apareçe uma "musicalidade" desejada que se acompanha de uma potência modesta assim que de simbolos "anti-audiofilos" como o tamanho, o peso e o minimalismo funcional. O amigo Ricardo Canelas tinha proferido a imagem de "objecto de desejo" e hoje prefiro a imagem proferida por um cliente que é : o Arno é como o Fiat Abarth que vamos ofereçer à nossa esposa egoistamente pelo desejo de poder conduzi-lo sém ter que assumir a propriedade...! Efectivamente o Arno està a ser escutado, diria testado, em três paises diferentes e acoplado a sistemas para os quais não foi concebido ném que são o seu objectivo primeiro... espero que entre os audiofilos ainda existam amadores de Ref8Sign, AE1, BL 300L, NS-10M e Ls3/5a capazes de escolher um amplificador pelas mesmas razões que os conduziram a escolher as colunas  

Dear Paulo,

I understand the frustration coming from pairing big speakers with Arno - but it is as it is! And I  feel that the pairing with high efficiency speakers is a good thing because the power and control is more than enough to shake the room with music in near live volume without stressing the amplifier in any way!  
But today I was told that the next host of Infernum was a bit delayed but it will be the modest system of the girlfriend of the current host. She loves the appearance of Arno and is at the beginning of appreciation of music player over a good system!


Biz, Paulo!

TD124 escreveu:

(...) espero que entre os audiofilos ainda existam amadores de Ref8Sign, AE1, BL 300L, NS-10M e Ls3/5a capazes de escolher um amplificador pelas mesmas razões que os conduziram a escolher as colunas  

Essa é uma curiosa selecção de colunas para juntar ao Arno, fico na dúvida se olha para os modelos do passado, novas reencarnações desses mesmos models ou ainda poderia continuar a lista com as pequenas Amphion, ATC, PMC, etc.

mannitheear escreveu:

...I understand the frustration coming from pairing big speakers with Arno - but it is as it is! And I  feel that the pairing with high efficiency speakers is a good thing because the power and control is more than enough to shake the room with music in near live volume without stressing the amplifier in any way! ...

Of course Man, if the Arno works well with big, or expensive, or even big, expensive and difficult speakers as the D80R's you're right, "it is as it is!"... but he haven't been conceived for that and its what i've tried to explain. The ancestors of the current Arno were designed with the Ref8Sign and keeping on mind any high quality monitor speaker... in the worst case a full-range based floorstand speaker. A compact sports car should be better in a small winding mountain road than on a highway... that doesn't mean it can't be very good on a highway also  

José Miguel escreveu:

...Essa é uma curiosa selecção de colunas para juntar ao Arno, fico na dúvida se olha para os modelos do passado, novas reencarnações desses mesmos modelos ou ainda poderia continuar a lista com as pequenas Amphion, ATC, PMC, etc.    

Não é o caso!... citei esses exemplos porque os conheço bem e alguns fazém parte do patrimonio audiofilo sendo ainda hoje procurados e desejados por certos amadores. Como venho de dizer ao Manfred o Arno ancestral foi criado e optimisado com micro monitoras Ref8Sign e tendo esse tipo de colunas como alvo e fonte de inspiração... qualquer monitora moderna de qualidade pode ser adicionada na lista e espero o escutar brevemente com umas LS50! Aproveito para dizer que o casamento do Arno com as Avantone CLA-10 é nmho...

Uma "grande" monitora não faz tudo mas o que faz pode ser unico e diria a mesma coisa do Arno. Foi nesse sentido que falei do publico e sistemas alvo do Arno... penso que este aparelho é uma escolha tão ciblada quanto é a de escolher uma Response D1 da ProAc ou uma Usher S-520

Gosto de pensar que um audiofilo é por natureza um hedonista cuja curiosidade ultrapassa a musica. Não é raro de ver peças de arte nas salas de escuta assim que a associação da escuta com um belo néctar... tudo isto faz parte da mesma coisa, a busca de sensações, a emoção! Nalgumas salas aonde o Arno estagiou na Alemanha apareçem fotos que uma das pessoas que escutou o Arno queria meter em valor e dar uns pequenos indicios sobre elas... é com prazer que deixo os seus links para que cada um se possa informar de maneira mais aprofundada:




Està feito e com grande prazer

PS: Disto tudo também se pode discutir pois a musica é uma arte primeira e tal nunca deve ser esquecido  

Isto anda muito calmo... não hà novidades dos Arno

Yes very strange. If it stays quiet this weekend I'll ask the current host.

Biz Paulo!

TD124 escreveu:

Isto anda muito calmo... não hà novidades dos Arno

Em Portugal estamos a experimentar um fim-de-semana soalheiro, apesar do Arno ter um quarto com vista para o mar à espera dele em Espinho (só depois partirá para Ovar), deve ter parado algures para apanhar sol.

Não se terá perdido, está a gozar um merecido descanso.

José Miguel escreveu:

... apesar do Arno ter um quarto com vista para o mar à espera dele em Espinho (só depois partirá para Ovar), deve ter parado algures para apanhar sol. ... está a gozar um merecido descanso.

Ainda bem, acho que o Arno (PT) anda muito palido, muito branquinho... um pouco de sol vai-lhe fazer bem

Hoje o dia de trabalho ia fechar uma valente m€#%@, mas nunca se deve dar por fechado o que ainda não terminou.

Fui alertado pela equipa de recepção que tinha chegado um hóspede especial, o tal da reserva com datas em aberto. Fui ver e... o Arno cá está. Acompanhei-o ao quarto, por norma isto é algo privado, mas ele gosta de aparecer e cá vai:



Gostou das vistas, apesar da hora. Disse-lhe que amanhã seria melhor, apontei-lhe a cama onde poderá descansar e ele sorriu.



Ele sabe que tem bar aberto, espero que beba e coma algo decente, amanhã terá de cantar e fazer cantar, a viagem não é de férias.

O Arno já está no Bar e pelo que sei está bem. Pediu um vinho, melhor, pediu sugestões sobre que vinho beber. Contou que gosta de se sentir livre, mas sabe que a vida deve ser vivida de forma controlada; de alguma forma sente que esperam dele algo, nem sempre compreende muito bem o que isso é.
As meninas que trabalham no Bar, sempre muito atentas, sugeriram e ele permitiu que fosse partilhado o momento:



Amanhã terei uma conversa com ele, mas parece que tudo está a correr bem.

José Miguel escreveu:

...





...

Hotel com vista para o mar, belo quarto com uma grande cama de casal e ainda por cima é estadia all inclusive e com open bar... toca a meter esse gajo a trabalhar se não vai se habituar a isso e vai ser uma carga de trabalhos para o fazer partir

Sou eu que deveria estar no lugar dele... a beber um copo de douro com um cigarrito em frente do mar

José Miguel escreveu:

O Arno já está no Bar e pelo que sei está bem. Pediu um vinho, melhor, pediu sugestões sobre que vinho beber. Contou que gosta de se sentir livre, mas sabe que a vida deve ser vivida de forma controlada; de alguma forma sente que esperam dele algo, nem sempre compreende muito bem o que isso é.
As meninas que trabalham no Bar, sempre muito atentas, sugeriram e ele permitiu que fosse partilhado o momento:



Amanhã terei uma conversa com ele, mas parece que tudo está a correr bem.

Caro José Miguel
Não dê tantas liberdades ao Arno: um bar com meninas e um vinho com essa qualidade... corre o risco de ele não querer outra coisa. E se obrigado a tal toca desafinado porque contrariado!

O gémeo françês do Arno português aqui em casa em pleno ensaio do novo cabo de colunas. Ao menos este trabalha pois por aqui o velho ditado americano "No pain, no gain!" aplica-se sém desculpas...

agorgal escreveu:

Caro José Miguel
Não dê tantas liberdades ao Arno: um bar com meninas e um vinho com essa qualidade... corre o risco de ele não querer outra coisa. E se obrigado a tal toca desafinado porque contrariado!

O Arno passará mais uma noite no hotel, hoje recebemos uma senhora cuja voz ele já reproduziu (aposto) e ficou a conversar. Assisti a parte da conversa, mas por questões de privacidade não vou ilustrar... mas irei escutar mais ao vivo e em casa.

Estava a ver que nunca mais era Sábado...!

Hoje cheguei cedo a casa com o Arno, não o podia deixar mais tempo no Hotel, estava a habituar-se a observar a chuva em sossego. Ele é um ser "friendly" e em pouco tempo todos ficamos a perceber isso.


Sabemos que ela mia em muitas línguas, diz miau em Português, Castelhano, Francês, ... não sabemos o que falaram, mas ela foi acolhida por nós há uns dias e já aprendeu como acolhemos quem nos visita.

Depois foi tempo da boa experiência de deixar o Arno mostrar-se completamente, subimos com ele para o lugar que ocupará nos próximos dias.


Quase se pode jogar à descoberta de diferenças, há pormenores que mudaram... coisa pouca.


O Arno ainda está a trabalhar, para já não se queixa, mesmo quando tem de se esforçar para controlar tudo o que por ele passa.



ps.: não disse nada sobre ele, mas essa parte da partilha não está esquecida... a semana foi pesada e apenas hoje deu para dedicar algumas horas a escutar Música, só escutar Música.

José Miguel escreveu:

... Sabemos que ela mia em muitas línguas, diz miau em Português, Castelhano, Francês, ... não sabemos o que falaram, mas ela foi acolhida por nós há uns dias e já aprendeu como acolhemos quem nos visita...

Uma refugiada Siamesa? O Arno està habituado a esses felinos e sabe como lidar com eles...

É verdade, esta pequena apareceu nas traseiras de nossa casa faz umas semanas, não resistimos... já visitou a médica e agora anda por casa sossegada. O Arno não lhe escapou, ela gosta da cadeira de baloiço e companhia!

O Arno também foi bem acolhido, não lhe falta nada... nem trabalho.

1 de Dezembro de 2022,

Faz algum tempo que não me dava ao prazer de escrever, a vida agitada do trabalho tem ocupado o meu tempo e, pior do que tudo, a minha mente. Lembro com frequência como era bom ser criança, adolescente, jovem. Naquele tempo vivia e sabia que o fazia bem, divertia-me, não olhava muitas vezes para o lado, aproveitava as oportunidades que a vida me colocava no caminho. Hoje mesmo explicava a um jovem que trabalha comigo que a análise de satisfação ou agonia não deve esperar pela idade adulta tardia, aquela onde já nos parece que o caminho para a frente é menor do que o caminho percorrido. Ele entendeu, espero que sim, eu pensei mais uma vez como é bom poder olhar para trás e ver como a paisagem lembra mais uma floresta desordenada do que um deserto.

Ao escutar Música em casa lembro muitas vezes os ambientes onde experimentei esta forma de Arte com maior satisfação, onde me senti mais próximo do que a Música e os Músicos me conseguem dar. Desde pequeno que tenho um fascínio por salas de concerto escuras, carregadas de fumo, quase vazias, com vozes que se espalham no vazio e se tocam por entre ruídos vários como os dos copos ou dos isqueiros. A imagem da Música e do Cinema que se cruza ou tão simplesmente a imagem da boémia vida que para alguns pode ser entendida como ócio. Os Gregos sabiam o que era o ócio, eu não sei se o entendi na plenitude, mas penso que o experimento ocasionalmente, é o caso com a Música.

O sistema de reprodução de Música que reside em casa e que já viajou por várias casas tende a manter-se, há uma persistência que é difícil de explicar e tantas vezes fui (ou fomos!) tentado para a troca. Por todas as cidades onde ele tocou, onde vivemos, encontramos salas de concertos como as que gosto de experimentar, aquelas que lembram caves, lugares de pouca luz natural, muito fumo e copos a verter para o chão, o cheiro das bebidas que se mistura com o piso, as paredes, com as pessoas. E no final tudo parece correcto, natural, íntimo, real. Ouvir álbuns como The Winding Sheet de Mark Lanegan, Histoire de Melody Nelson de Serge Gainsbourg, The Velvet Undergound & Nico, Morphine, Black Bombain, Sessa, Angélica Salvi, Coltrane Live, Opeth, … é sempre muito bom, alguns vivi na sua versão ao vivo, outros imagino que tivessem a sua melhor apresentação num lugar como o que descrevo. Ao descrever isto sei que não descrevo o tipo de som, descrevo apenas a capacidade de um espaço permitir que algo se recrie nas melhores condições.

Há outro tipo de salas de concertos onde (também!) vivi a Música de forma completa, bem diferentes das “caves” escuras que descrevi antes, mas capazes de permitir a elevação do espírito e das emoções. Falo de salas como a Suggia da Casa da Música, dos Coliseus, do Teatro da minha antiga escola. Neste tipo de salas já ouvi de tudo, desde Música dita Clássica nas suas variadas vertentes a Metal, de Rock Independente até Jazz, Reggae ou Folk… as salas portam-se bem, revestem a Música de vestes mais finas, cerimoniosas até. A experiência tende a ser mais polida, muitas vezes do lado do público e muitas vezes do lado dos Músicos. O meio afecta-nos, o Homem é um animal de hábitos, mimetiza comportamentos e incorpora-os, tudo tolda a nossa mundividência, as nossas acções. Isto que digo não afirma a qualidade acústica das salas, apenas refere a forma de recriação do que acontece.

Não estou aqui para vos falar da minha vida e experiências, mas pode ajudar ao leitor ter acesso ao contexto de onde estão a sair estas palavras. Neste momento escuto Música com auxílio do Arno, amplificador pensado e produzido em França, saído da mente do Paulo e acarinhado pela Aethernel Audio, colocado a viajar por várias casas, convidado a “casar” com várias colunas como um vinho com vários copos.


Desde já avanço que lamento não ter aqui por casa mais colunas para “casar” com ele, umas facilmente reconhecíveis, mas as Chameleon da Helius são as residentes faz tempo e ainda não apanhamos outras para as substituir como pensamos ser o passo a dar. Estas colunas deverão ser estranhas a todos (creio que todos é o quantificador correcto) os leitores, os trinta anos de idade delas, o facto de terem saído da mente de um criador mais conhecido pelos seus braços de gira-discos, terem sido comercializadas numa única loja em Portugal e colocadas ao lado de colunas com marcas mais famosas (como Proac), terem um preço relativamente elevado para a altura, … compreendem o contexto, nada ajuda. As Chameleon são colunas com algumas particularidades, para começar são monitoras de grande porte (61cm de altura x 23cm x 36cm de profundidade), a sua caixa é selada, sensibilidade de 88 db, impedância de 8 ohm, têm um tweeter de 1” soft dome e um driver de 8” paper cone com 1” high temperature voice coil cujo trabalho vai até aos 4000 Khz. Esta informação é relevante, mais uma vez contexto, para que se perceba com o que tem de lidar o amplificador.

Normalmente temos um outro estranho ligado às colunas, um McLaren A150 (não confundir com Tag Mclaren), amplificador com trinta e alguns anos (mesma geração das colunas), projecto de Bruce Crothers, design simples para extrair o melhor som possível. São 75 watts/8ohms, capacidade de corrente, proporciona boa dinâmica, textura e tom que convencem, leva a pensar em coerência quando ligado às Chameleon (experimentamos vários amplificadores antes deste). Contexto!


A analogia entre salas e amplificadores pode parecer estranha, cabe-me tentar descodificar toda a informação para que faça sentido, uma vez que das salas não falei da qualidade do som, antes da capacidade de recriar um evento, colocar público e Músicos num certo comprimento de onda. Ao escrever esta crónica pensei no que foi sendo partilhado sobre o Arno, não sou indiferente ao que leio, a transformação no “tempo” da Música era algo que queria compreender. Assim que ligamos o Arno ficamos de olhos cheios, estes também comem. É um objecto que fica muito bem nesta nossa sala, o tamanho não o deixa menor, ele tem presença. Passados alguns minutos o Arno começou a trabalhar, trabalhou sem mais durante alguns dias. Deu-nos muita e boa Música, matutamos e maturamos ideias, seguimos a escutar Música. Pois bem, o Arno apresentou-se como mais próximo das salas polidas e menos próximo das “caves” escuras. Ele tende para a luz e não é da cor dele ou da válvula (nem da segunda válvula fornecida). A apresentação da Música com o Arno é mais cerimoniosa, não obriga ninguém a um dress code formal, ele simplesmente cria um ambiente onde a reprodução se faz mais leve, airosa, com acentuação em registos mais altos. The Winding Sheet de Mark Lanegan, Histoire de Melody Nelson de Serge Gainsbourg, The Velvet Undergound & Nico, Damnation dos Opeth, Kid A dos Radiohead, Wave Field de Rafael Toral, Phantone da Angélica Salvi (foi gravado num Mosteiro, resulta muito bem em ambientes escuros), Here Comes the Sun de Nina Simone, Koln Concert de Keith Jarrett, Journey in Satchidananda de Alice Coltrane, Sea Change de Beck, Mezzanine dos Massive Attack, (a lista poderia continuar) … estes álbuns transportam o ouvinte (pelo menos estes ouvintes) para ambientes sombrios, eles têm uma carga emocional forte, uma base de gravidade que atravessa todas as frequências, a forma como o Arno entrega a Música fez-nos pensar como a mesma banda a tocar no antigo Hard Club do Porto e no Coliseu do Porto se fez ouvir e sentir de forma diferente. A analogia continua a pairar.

Somos sensíveis a coisas distintas, colocamos nas coisas algo que é só nosso (não podia deixar passar a oportunidade). Quando escuto Música que tem grande carga emocional gosto de sentir que ela está presente com a gravidade que entendo certa, que escuto aqui e acolá, em casa ou em sistemas que visitamos esporadicamente. O peso da voz, o peso da vida. Uma linha de baixo que se expressa com rapidez e profundidade, uma linha de destino. A percussão que perdura interrompida pelas batidas prontas e secas, o batimento que no peito habita. Música é cada nota, cada som que na sequência certa se une ao que passou e ao que virá, é Arte que expressa uma mundividência, é o motor que tudo pode transformar.

O Arno é um amplificador com uma sensibilidade fina, a reprodução que por ele se forma vai ao encontro dos ambientes onde o recorte sobressai, não há ruído de fundo, os Músicos aparecem a entregar o que melhor fazem num palco seguro, com uma imagem nítida. O peso e um certo fundo de gravidade que sinto falta é compensado pela forma como os diálogos mais altos se expressam, como os sons se unem para formar Música.

Tudo isto que vos escrevo poderia ser diferente com outras colunas, com outras fontes (Topping E30, Lenco L78 modificado com braço RB300 e Ortofon 2M Bronze), com outro pré de phono (protótipo de Guilhermino Pereira), com outros cabos (Interconnect Monster M1000, Van Damme Blue Series nas colunas), com outros discos?
Poder, podia! É por ter consciência disso que olho para o Arno e sinto que ficou a faltar algo, volto ao início, gostava muito de o ter experimentado com outras colunas, pelo menos com outras colunas. Faz muito tempo que tenho (aqui em casa temos os dois) uma inclinação para pensar o sistema a partir do amplificador, o Arno merece que as colunas sejam pensadas para ele, um sistema pensado para extrair o máximo de potencialidade de uma apresentação musical que pode elevar o espírito e emoções.

O Arno (DE) està aonde pode ser a sua moradia definitiva em companhia de colunas Mordaunt Short. A rapariga prometeu umas palavritas mas pelo momento temos as fotos do sistema e do novo habitat do Arno...

TD124 escreveu:

O Arno (DE) està aonde pode ser a sua moradia definitiva em companhia de colunas Mordaunt Short. A rapariga prometeu umas palavritas mas pelo momento temos as fotos do sistema e do novo habitat do Arno...

Muito interessante. Essas M-S estavam à frente do seu tempo quando lançadas, pela qualidade dos materiais e do design, são colunas muito boas, é pena não terem sido um grande sucesso de vendas para a marca.
O casamento de um amplificador de qualidade de baixa potência com colunas mais "vulgares" (sem desprezo) é uma solução que faz mais sentido do que parece e pode ter resultados muito superiores aos conseguidos na corrida pela potência em colunas difíceis de amplificar.

Pouco a pouco o Travel & Listen està a chegar ao fim... foi uma bela epopeia em três paises aonde o Arno deixou varios traços da sua personalidade e se insinuou temporariamente nos vossos sistemas. Cada um criou uma relação pessoal e singular com ele e tenho a certeza que a experiência ficarà viva no espirito dos implicados! A rapariga que o tém actualmente na Alemanha deixa-nos umas palavritas...

Em primeiro lugar, obrigado por me terém deixado experimentar o Arno, foi um prazer. Como, ao contrário de vocês, não possuo nenhum sistema de topo, fiquei muito curiosa para saber se havia alguma diferença. Na verdade, posso relatar que ouvi muito mais sutilezas, o contexto musical pôde ser entendido com mais clareza. Passei muito mais tempo a ouvir a música e isso é novo, além do mais, o design do aparelho agrada-me visualmente! O Arno também ganha pontos comigo em termos de tamanho porque tenho pouco espaço na sala. Um belissimo produto!!...

José Miguel escreveu:

1 de Dezembro de 2022, (...)

No meio de tantas palavras para criar contexto, o Arno relaxava junto da videira neste final de tarde.

... Pois bem, o Arno apresentou-se como mais próximo das salas polidas e menos próximo das “caves” escuras. Ele tende para a luz e não é da cor dele ou da válvula (nem da segunda válvula fornecida). A apresentação da Música com o Arno é mais cerimoniosa, não obriga ninguém a um dress code formal, ele simplesmente cria um ambiente onde a reprodução se faz mais leve, airosa, com acentuação em registos mais altos...

Antes de mais agradeço ao José Miguel pela sua cronica que finalmente conduz a tentar compreender a personalidade do Arno por um outro ângulo que os habituais argumentos audiofilos... gostei do paralelo entre a atmosfera das salas e a atmosfera criada pelo Arno, um sistema é isso também, é luz e cores. Também gostei das diferentes imagens que fez e que conduzém a uma mise en scéne que (me) diz coisas:...

A sua videira podada com o Arno pousado nos pés fez-me pensar ao inicio do filme Sacrificio do Tarkovski que começa com uma criança muda que rega uma arvore morta e diz-se no seu interior "No inicio era o verbo... porquê Papà?"... o Arno no lugar dessa criança tocou-me na simbolica. Estamos no estetismo e este por natureza é importante ou estéril, como muitas outras coisas... tudo depende do observador  

O som também tém a sua estética cristalisada neste caso pela comparação com as salas claras ou iluminadas... nesse aspecto o Arno é um perfeito gaulês, "solaire" como se diz por aqui! Penso que, independentemente das colunas e salas, as vossas apreciações vão globalmente no mesmo sentido... o Arno é um pouco de tudo o que foi dito no Travel & Listen e isso agradou-me e surpreendeu-me ao mesmo tempo. A historia continua...

A viagem do Arno que se passeou por Portugal está quase a chegar ao final, confesso que foi divertido acolher e ler tudo o que foi dito sobre ele. Por aqui ele ficou mais do que esperava, talvez culpa minha que o recebi bem no hotel e em casa... não lhe faltou nada, nem trabalho!

Tocou na nossa sala de estar e tocou na sala onde temos as nossas coisas montadas, encantou quem o viu, surpreendeu e proporcionou alegres conversas. No final fica aquela sensação de que faltou apimentar a experiência, colocar umas quantas colunas para ele se expressar em outras "línguas".

Vai partir em plena Primavera, vai deixar saudades (o que nos reserva o futuro também faz parte desse sentimento) e boas memórias, por isso...


Despede-se a tocar Força Bruta de Jorge Ben, álbum incrível de MPB cujo título também pode ser aplicado a este "pequenote".

Ainda antes de partir despediu-se...


O copo com branco na nossa mesa é do Dão, um Encruzado perfumado e rico, as uvas da nossa videira são doces e de cor viva, a gatita é uma rebelde e já nos obrigou a saltar muros. O Arno é um luminoso ser muito bem educado que sabe estar bem com todos, essa é a prova do que digo.

Esperamos pelo dia de estar com a família toda, talvez com amigos também, estamos certos que serão bons momentos.

Beijos destes dois!

José Miguel escreveu:

A viagem do Arno que se passeou por Portugal está quase a chegar ao final, confesso que foi divertido acolher e ler tudo o que foi dito sobre ele... Ainda antes de partir despediu-se...

Obrigado a todos    

Bom, o Travel & Listen ainda continua... eis un texto da Alemanha e a devida foto  

O Arno - O Mega Microscopio

Em um mundo ideal, todo entusiasta de hi-fi deveria ouvir o Arno em seu sistema pelo menos uma vez na vida. Em primeiro lugar porque é uma verdadeira experiência, e em segundo lugar, porque esta experiência vai levar algumas pessoas a coçar a cabeça com o queixo caído, e em terceiro lugar, porque você vai se fazer muitas perguntas. Pelo menos foi assim para mim.

Eu esperava, pela foto e pela descrição (etapa de saída com chip), outro peso leve engraçado, ora o contato com o Arno ao desembalar a bela caixa de madeira revela um pouco de substância na mão que faz bem. O acabamento em verniz brilhante é executado com muito cuidado e os conectores utilizados são de primeira qualidade. No meu sistema, o amplificador anunciado com seus 2 x 15 watts era para acionar dois alto-falantes de 18 polegadas em um gabinete plano, acima, de 2,5 kHz, uma fita dipolo Raal e EQ digital via Roon PSD. Não sou muito de duvidar, mas ainda era discutível se o homenzinho tinha músculos suficientemente desenvolvidos para operar as membranas gigantes.

Resposta clara: Ele é capaz, e muito bem! Na folha de dados que li, os chips do estágio de saída têm capacidade para fornecer uma corrente máxima de 4 Amps, ok, eles realmente parecem estar presentes aqui, e sim no modo rápido. Concretamente, isso significa que, em comparação com meu amplificador de transistor AB, o controle de graves era bastante tenso na faixa de graves e quase até os graves extremos. Levando em consideração o tamanho do Arno, aqui está uma novidade que eu não esperava. Em volume muito alto tornou-se audível para mim, nos médios para os agudos, uma forma de limitação (compressão/distorção), mas apenas bem acima do meu nível de audição normal. Não teria sido o amplificador perfeito para uma festa.

Mas a festa foi o prazer de ouvir e a surpresa de descobrir as nuances escondidas na música. Minha namorada disse imediatamente e sem rodeios "Mas eu nunca ouvi isso, tão claramente". Batizei então Arno de Méga Microscopio. É potente, é micro, e é como um microscópio no groove (apesar de só ter ouvido digital). Aliás, o Arno tem um jeito extremo de mostrar TUDO no som da gravação. A informação musical é muito fácil de entender e isso nos mínimos detalhes audíveis. Quase como se algum tipo de compressor/expansor estivesse envolvido, os silêncios levantam detalhes insuspeitados. De qualquer forma, isso faz com que todas as informações se destaquem muito bem na sala, quase como se fossem ouvidas por fones de ouvido. Único, e acabo me perguntando - o que mais você poderia pedir do que realmente ouvir tudo o que està no disco?

Essa é a questão! Muito básica eu acho. E foi só depois da emoção da última semana com o Arno que comecei a perceber que para mim a quantidade de informação não é mais valiosa do que a apresentação dessa mesma informação, de forma mais descontraída e natural. Tive a impressão de que as sensações hiperdetalhadas do Arno estavam um pouco erradas, uma espécie de síndrome de Tourette informativa. Talvez, pelo que o Paulo possa entender, faça alguns ajustes e ajustes para que a resposta do transiente esteja em um melhor equilíbrio com o som geral. É assim que teorizo os ​​meus sentimentos.

Mas também devo dizer que em uma configuração diferente, na minha que é particular, percebi como um problema, mas em outros casos pode não ocorrer. Muito breve e provisoriamente, experimentei o Arno em um sistema de gabinete de plano aberto Visaton de alta saída e obtive excelente desempenho dele. Também existe a opção de alterar o tubo de entrada para se adequar ao personagem sonoro e ele toca com bastante força. No final das contas, gostei do tubo 23P "padrão" que achei melhor, mas também me deu uma imagem estéreo holográfica e mais detalhada, criando o efeito "Você ouviu isso?".

Em suma, obrigado novamente pela oportunidade de ter descoberto o Arno e de conhecê-lo. Estou curioso para ver como ele reage às críticas dos profissionais que vão conviver com ele. Eu suspeito que sua apresentação de som soberbamente clara causará um rebuliço.

Traduzido do Alemão para Françês e depois para Português pelo Google...