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Assunto: Hugo Vasconcelos - «Tão pesado quanto o Sol» Ter Set 20 2022, 20:40
«Tão pesado quanto o Sol»
Atmosfera nocturnal primaveral, assistida por frescor na aragem. Da janela do Auditório Fantasma é avistável um rio adormecido e espelhante, ornado pela reprodução do brilho da Lua. A noite, companheira do ouvinte, despertando o sentido da audição, me convida a instalar um pré-amplificador de gira-discos, uma célula de leitura ou um amplificador integrado no meu sistema de alta-fidelidade para proceder à análise de desempenho. Mas, por me doer "os dentes", "as varizes indiferentes" e "as costas", enjeito o ensaio, decidindo escutar um álbum que contempla nove peças de Hugo Vasconcelos.
Selo discográfico: Rock Records, RCDR4381 Nacionalidade: Portugal Duração: 29:34
Fiquei acordado até tarde. Por três vezes prestei ouvidos ao disco compacto. Esse indicativo de repetição, avivou na minha caixa idiota instruída (cérebro) o quesito "cantar servirá para adormecer ou serve, também, para despertar?", elaborado por Pedro Barroso, no exórdio do segundo milénio, em «E assim não há poema»; outrossim, concedeu consistência à afirmação que «Tão pesado quanto o Sol» não é um disco mainstream, e ainda bem!
Como a própria designação do álbum evidencia, a música exala diálogo forte e impactante com o ouvinte, conjugação destacável nos grandes intérpretes, que primeiramente instruíram-se a escutar (sem se limitarem a ouvir) para posteriormente representar as emoções em obra de arte. Ciente de que cantar não pode estar sujeito a regulamentação (tentativa imposta pela Censura antes do 25 de Abril de 1974) e, sendo perceptível que tem aversão a qualquer molde opressivo, Hugo Vasconcelos serve-se da música para bradar sobre o mundo que vê, despertando a atenção para os assuntos que lhe tocam de forma mais dura e penosa, retratando, sem filtro no linguajar, as agruras da sua vivência, pintando as convicções com traço inquietante, porquanto, aquele que exerce uma arte, enquanto tiver vida, quererá sempre interpretá-la.
O universo musical deste registo simples e simultaneamente complexo, coloca um verdadeiro desafio ao editor: escolher um ou dois temas (singles) capazes de servir de cartão de visita; se eu fosse essa individualidade, ante a relação tecida com o disco, seleccionava «Torci o colo» e «Nostalgia».
Sem interstício, desde «Roma», a guitarra - fiel companheira nas actuações a solo no Setente & Quatro, em Queluz - é o instrumento condutor do disco, bordado por bateria, baixo, berimbau de boca, flauta, percussão, piano, ukulele e garrafa de cerveja.
"Palavras caras soam sempre demais / arrojadas mas com sentidos banais". Encaro as palavras que desenhei. Será que transluzem e repercutem o entendimento do real talento plasmado no "álbum zero" (denominação atribuída por Hugo Vasconcelos)? Quiçá...
Blá-blá-blá com a antiga grafia e tiro ao boneco: Ghost4u
TD124, masa e applesnowleo gostam desta mensagem
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Assunto: Re: Hugo Vasconcelos - «Tão pesado quanto o Sol» Sáb Set 24 2022, 17:05
Ghost4u escreveu:
...Atmosfera nocturnal primaveral, assistida por frescor na aragem. Da janela do Auditório Fantasma é avistável um rio adormecido e espelhante, ornado pela reprodução do brilho da Lua. A noite, companheira do ouvinte, despertando o sentido da audição...
...O universo musical deste registo simples e simultaneamente complexo, coloca um verdadeiro desafio ao editor: escolher um ou dois temas (singles) capazes de servir de cartão de visita; se eu fosse essa individualidade, ante a relação tecida com o disco, seleccionava «Torci o colo» e «Nostalgia»....
Começei por essas duas faixas... talvez deveria me ter deixado embarcar nesse album desde o inicio, um livro lê-se desde o primeiro capitulo! Compreendo no entanto a escolha dessas duas faixas como aperitivo do todo... pessoalmente eu diria as duas ultimas faixas, diferentes e complementares. A minha faixa preferida foi "Perto" com a sua falsa descontração
Não conheço suficientemente a cena musical portuguesa para saber até que ponto este artista foge à mainstream ou possui uma diferenciação nitida em relação aos seus contemporaneos... pessoalmente tenho o sentimento de uma pedra ainda bruta. Gostei do canto ironico e das letras pessoais assim que dos arranjos despretenciosos, mesmo solares por vezes. Gostei e deu-me vontade de melhor conheçer o que se vai fazendo por ai...