Canções que atravessam uma vida

Há canções que, por uma razão ou por outra, permanecem isentas do desgaste do tempo. A sua valia enquanto música+palavra é tão grande (mesmo que a palavra e a música sejam, por vezes, extraordinariamente simples) que continuam a ser interpretadas e reinterpretadas, com um resultado que poderá levantar a questão "qual é a melhor"...

Deixo-vos a primeira da minha lista:

Bang Bang (My Baby Shot Me Down)

De certa maneira recuperada por Quentin Tarantino no seu filme Kill Bill I, escrita por Sonny Bono e interpretada, aqui na sua primeira versão, 1966, por Cher:



Por Frank Sinatra:



Por Nancy Sinatra:



Uma nova versão da Cher, de 1969:



"Muitos" anos depois a mesmíssima Cher:



Dalida, 1966, numa outra língua:



Do outro lado do mundo, uma versão em francês:



Muito simples esta:



Não podia estar ausente:



Num registo hard-rock:



Dua Lipa numa versão que  diria que de anteontem:



Por um"artista de rua", também no séc. XXI:



Agora a preto e branco:



Um outro registo que diria que doméstico:



Termino num ritmo muito, muito latino!

... ne me quitte pas... ne me quitte pas... ne me quitte pas!

A mais triste (ou melancólica) canção de Jacques Brel. Gravada em 1959, foi reinterpretada inúmeras vezes, reescrita em várias línguas, mantendo-se ainda hoje como paradigma da canção de amor estilhaçado:



Por Édith Piaf:



Nina Simone reinterpreta assim:



Haitiano, Wyclef Jean, canta-a assim:



Barbra Streisand, em inglês (If You Go Away):



Haverá voz mais poderosa do que a de Shirley Bassey?:



Ainda na língua inglesa, nem Frank Sinatra escapou ao fascínio desta canção:



Celine Dion, e regressando ao francês:



Com um soque brasileiro, por Maria Gadú:



Britânica, Cynthia Erivo:



Não gostando eu do Júlio, aqui fica a versão Iglesias:



De regresso ao Rio, Alcione:



Uma "artista de rua", portuguesa,  en français, on the bank of the Thames:



Em dueto, ali, num cantinho acolhedor:



De regreso aos grandes nomes, Ray Charles:



Sting:



Uma versão instrumental, Toots Thielemans (harmónica) e Fred Hersch (piano):



Terminando em beleza, Iggy Pop & Fabrice Eulry

(The) House of the Rising Sun

Canção tradicional americana (folk song/blues) com uma longa história.

A gravação mais antiga que encontrei:



Woody Guthrie:



Em 1962, Bob Dylan:



The Animals, grupo britânico, pega na canção e faz dela um sucesso comercial em 1964:



A partir daqui sem qualquer preocupação na sua ordem temporal...
Frigid Pink, grupo norte-americano sem ligação aos Pink Floyd:



Joni Mitchel (fantástica voz):



Joan Baez:



Belíssima esta versão por Odetta:



Uma versão "a capella"(?):



Dolly Parton:



Nina Simone:



Kronos Quartet, instrumental (a quem não conhecer recomendo vivamente este quarteto de música de câmara):



Versão "sexi", piano solo:



An old guy with a lot of feeling:



Os Metallica:



Em alemão, pelos Wolfenstein:



Em japonês, excerto do filme Perfect Days de Wim Wenders:



Termino em "papagaiês":

Summertime

George Gershwin escreveu a partitura da ópera "Porgy and Bess" em 1934 (da qual esta ária faz parte). O libreto é de DuBose Heyward e Ira Gershwin.

Começo pelo CascaisJazz de 1973, com a Sarah Vaughan (apenas porque foi um concerto cá na terrinha):



Em 1969 Janis Joplin interpretava-a assim:



No seu real contexto operático, por Golda Schultz



Ella Fitzgerald & The Tee Carson Trio (1968):



Billie Holiday:



Ella Fitzgerald & Louis Armstrong:



Norah Jones em 2010:



Natalie King em 2018:



Lana del Rey (2019):



Billy Stewart, anos sessenta:



Uma outra versão operátiva, talvez dos anos 70, por Harolyn Blackwell:



Katheleen Battley:



Doc Watson, guitarra acústica e voz:



Pelos Stringspace:



Uma versão cabaret:

Gracias a la vida


Composição da chilena Violeta Parra (1966), poucos meses antes do suicídio, incluída no seu último disco "Las Ultimas Composiciones" transformou-se no hino da América do Sul:



Mercedes Sosa, argentina, cantou-a assim (1971, com enorme sucesso na América Latina de língua espanhola):



Joan Baez, em 1974, arrastou esta canção para o coração do "movimento hippie" no disco com o mesmo nome, uma provocaçãozinha ao ditador chileno Augusto Pinochet:



Tornou-se uma das canções favoritas de Joan Baez e interpretação frequente nos seus concertos. Aqui em dueto com Mercedes Sosa, 1988:



Ainda Joan Baez, em 2020, nos tempos difíceis do " grande confinamento mundial":



Muitos outros e outras a cantaram. Aqui Fany Kammerlander, Jo Barnikel, Jens Fischer e Severin Trogbacher:



Luz Casal:



Tania Libertad, mexicana/peruana:



Pasión Vega, espanhola:



Fito Paez, argentino:



Quase anónimos, Isaac & Nora:



Voces Unidas por Chile, um colectivo constituído aquando do terramoto que afectou este país em 2010 (Beto Cuevas, Juanes, Alejandro Sanz, Juan Luis Guerra, Laura Pausini, Fher (Maná), Shakira, Michael Bublé y Miguel Bosé):



A minha versão favorita (é imaginação minha ou tem um pouco de fado?):

Uma das canções mais brilhantes do "Rock'n'Roll":
Roll over Beethoven

Escrita e gravada por Chuck Berry em 1956, conta a estória que com origem na disputa por um piano: a irmã de Chuck Berry tentava monopolizar o piano da casa com o seu gosto por música clássica e ele disputava esse quase monopólio com o seu gosto pela música popular (não sendo o melhor áudio disponível, acompanha com a letra...):



Little Richard:



Gene Vincent:



The Beatles:



The Rolling Stones:



The Sonics:



Pat Wayne & The Beachcombers:



The Byrds:



The Trashman (nome curioso):



Electric Light Orchestra (a sua imagem de marca: o início com a abertura da sinfonia nº 5 de Beethoven):



Rita Lee:



Cliff Richard:



Bob Dylan (infelizmente o som é muito mau mas...):



Versão "hard-rock" por Huriah Heep:



Uma outra versão "hard-rock", os Mountain:



Status Quo:



John Lennon (com problemas de sincronismo mas porque não?...):



Em japonês, por Yuya Uchida:



Gee Tee, em versão "punk" ou "pós-punk", não dá para perceber...



Versão sinfónica, com a "Presidential Orchestra of the Republic of Belarus" (não há nada melhor que um país onde o presidente é dono "daquilo tudo"), Robert Wells, piano e voz, Victor Babarikin a dirigir:

Saltando do "rock'n'roll" para uma balada...

Imagine

(...)
You may say, I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one
(...)

Uma parceria John Lennon & Yoko Ono, de 1971:



Uma geração depois, o filho de Lennon cantava-a assim:



No entretanto muitas e muitos sentiram a necessidade de a usarem...

Tracy Chapman, uma voz extraordinária que ecoou nos anos 80 e 90, sempre fugidia da fama, do estrelato:



Queen com Freddy Mercury, no dia seguinte ao assassinato de John Lenonn (o som é real, a imagem vídeo foi retirada de um outro concerto):



Queen, já sem Freddy Mercury, ao vivo no Hyde Park, com Paul Rodgers:



Randy Crawford:



Saído de um "Chuva de Estrelas" qualquer, fez sucesso (...e algumas lágrimas) . Por Chris Kläfford:



Coldplay com um convidado especial, Emmanuel Kelly:



Allie Sherlock & Jacob Koopman, música numa rua de Dublin:



Emeli Sandé:



Lady Gaga (2015, em Baku):



Davina Michelle:



Em pleno "Grande Confinamento", 25 numa canção colectiva:



Mais uma versão colectiva, Playing For Change:



Uma "World Version", feita para apoiar a UNICEF:



Terminando numa tonalidade "bem disposta" - serão mesmo John Lennon & Freddy Mercury????

A próxima será uma provocação! Usada por ditadores e libertadores foi, segundo alguns musicólogos, a primeira canção pop.

A Música é, no meu entender, o único meio de expressão artística que não se submete à sua autoria original. Uma obra musical é interpretada, re-interpretada e re-re-interpretada sem que perca a sua beleza, sem que perca a facilidade com que trauteamos os seus acordes e/ou as suas palavras.
Ninguém imagina "Guerra e Paz" ou "A Cidade e as Serras" ou "Os Lusíadas" re-escritos por outros que não os seus escritores originas. Nem a "Mona Lisa" ou "La Maja Desnuda" ou "Guernica" re-pintadas por outros que não os seus pintores originais.
Mas a Música...

O 4º andamento da Sinfonia nº 9 de Ludwig van Beethoven (An die Freude - Ode to Joy - Hino à Alegria).

Uma encomenda da Sociedade Filarmónica de Londres, a Sinfonia nº 9, em D menor, Opus 125, foi escrita por Beethoven entre 1822 e 1824. Numa inovação à época, esta sinfonia não é apenas instrumental mas também coral no seu 4º andamento. O poema, originalmente de Friedrich Schiller, sofreu ligeiras alterações.
Considerada uma das obras mais geniais da música clássica mantém, exactamente duzentos anos depois da sua criação, uma frescura extraordinária.
É disto que se trata quando olhámos obras de arte: não envelhecem!

Aqui, a versão integral do 4º andamento, orquestra (e coro) dirigida por Herbert von Karajan:



E uma outra orquestra, dirigida por Barenboim:



Com todas as variedades de prestos, allegros e muitas outras "coisas" pelo meio da sua totalidade, um excerto do 4º andamento, o final, tornou-se um hino, usado por ditadores e libertadores. Dos primeiros não reza grande estória porque acabaram mal, dos segundos reza estória, apenas porque sim!

BBC Proms, 2015




Tema favorito de "flash-mobs":













Crianças. Esta melodia é tão fácil de interpretar (será que é?)... que as crianças adoram-na...



Quem diria, passados 35 anos do fim da guerra Americano-Vietnamita:



Versão "heavy metal":



Muito de Lisboa nesta versão de Katia Guerreiro:



280 vozes portuguesas:



Na Festa do Avante, 2018:



Universal e aqui no Líbano:



Dos ditadores aos libertadores, com particular ênfase para os últimos:



Um documentário sobre esta obra (em inglês):



Agora pelo "barítono" Roawn Atkinson:



E por uma personagem dos "Marretas":



E sim, é o hino da Comunidade Europeia. Um enorme país constituído por muitos pequenos países, assim os europeus consigam cumprir a ideia de  Robert Schuman (nada a ver com o compositor Robert Schumann...).
Um artigo recente do New York Times sobre esta obra: https://www.nytimes.com/2024/07/02/arts/music/ode-to-joy-beethoven.html?searchResultPosition=1

Agora um mergulho nos antípodas da nona...

(I can't get no) Satisfacion

Escrita por Keith Richards, muito provavelmente com uma ajudinha de Mick Jagger, foi inicialmente gravada em mono (1965):



Ao vivo, 1965:



Ao vivo em 1969, New York:



Ao vivo, 1981, Hampton:



Ao vivo, 1990, Tóquio:



Ao vivo, Copacabana, 2006:



Ao vivo, 2013, Glastonbury:



2015, Taylor Swift & Mike Jagger & all the others:



Ao vivo, Houston, 2024 (porra que os Rolling Stones também não envelhecem)*:



1989, um caso à parte e uma chuva de estrelas:



Nem só Mick Jagger berrou a falta de satisfação, muitos e muitas a berraram (ou nem tanto) ao longo dos sessenta e um anos de vida desta canção...

Cher, em 1975, um vestido muito bonito:



Britney Spears, data desconhecida:



Pink & Brandi Carlile (?), muito, muito recente...



PJ Harvey & Björk, 1994, uma versão extraordinária, na minha opinião:



Beverley Knight, uma abordagem um pouco diferente, quase "work song", talvez "gospel", de certeza que um pouco de tudo:



Uma vez que os "Muppets" não têm nenhuma versão termino com os "DEVO" que, não por acaso, detêm algumas semelhanças (desculpem mas só no site do YouTube)!



*Se é verdade que não envelhecem também é certo que a Morte vai cobrando os seus impostos: Brian Jones (1969), Ian Stewart (1985) e Charlie Watts (2021).

Desta vez começando pelo fim:



Numa década recheada de canções geniais "Bohemian Rhapsody", parida numa "Noite na Ópera", é uma das mais geniais. Saltando da balada para o "soft-rock", deste para o "hard-rock", pormenores operáticos incluídos e seis minutos demasiado longos para uma canção à época. Escrita por Freddie Mercury, celebrará cinquenta anos daqui a quinze meses. Com o álbum (e sobretudo com ela) os Queen atingiram a nobreza no universo da música popular:



Queen, ao vivo, Montreal, 1981:



Queen, ao vivo, Live Aid 1985:



Ao vivo, 1986, Wembley:



Na homenagem a Freddie Mercury (1946-1991), ao vivo com Axl Rose, Elton John & os restantes Queen, Abril 1992:



"One Thousand Musicians", 2023:



Tbilisi Children's Capella com Marc Martel no piano:



Mesmo não sabendo a letra é possível acompanhar a música:



Se bem que sabendo-a soa um pouco melhor:



Pentatonix, um exercício vocal:



Instrumental, piano solo, a quatro mãos:



The Braids, 2016:



Sons of Anarchy, de "soft" a "hard", muito "hard":



"The Ten Tenors":



Putri Ariani, uma versão piano e voz, a música a ser transversal às culturas e às etnias:



A quatro vozes femininas:



Por último, versão "crazy cats":

Saída das profundezas do rock psicadélico e trazendo-nos um pouco da loucura que reside em todos nós:



Não vou acrescentar mais nenhuma versão, penso que esta basta: Syd Barrett,"Dominoes" e um Thorens.

Um pedaço do meu coração...
Poderia trazer para aqui uma canção com "quem" partilho o gosto pelos Mercedes Benz (apenas os muito topo de gama, obviamente)...
Fico-me por "Piece of my Hearth", a imortal Janis Joplin e mais nenhuma outra versão porque se as incluísse cometeria um sacrilégio musical...

Povo que lavas no rio
E talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão...

O fado também é canção e esta é uma das mais sentidas canções portuguesas!
Poema de Pedro Homem de Mello, música de Joaquim Campos e a voz inesquecível da Amália:



António Variações cantou-a assim:



E a Mariza assim:



Para não induzir ruído, apenas a poesia:

Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não

Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Era o vinho que me deste
Água pura, fruto agreste
Mas a tua vida não

Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não

Canções: poemas musicados. A música como pano de fundo para a expressão de sentimentos, de ideias...

Suzanne
Escrito por Leonard Cohen, muito provavelmente com os olhos postos no profundo azul do Mediterrâneo e a alma perdida num amor inatingível, inserido no seu livro de poesia "Parasites of Heaven" editado em 1966. Judy Collins, nesse mesmo ano, assumiu o poema, musicou-o e interpretou-o no seu álbum "In My Life". (aqui numa versão de 1973):



Em 1967 Leonard Cohen apresentou o seu primeiro álbum, "Songs of Leonard Cohen". No alinhamento deste disco o poema/a canção "Suzanne" é a primeira do lado A. A primeira canção do primeiro disco de um poeta/cantor que, há quem defenda, também mereceria um Prémio Nobel...



Françoise Hardy, a menina bonita (sem qualquer desprimor) da "chanson française"(1968):



Em 1976, Leonard Cohen e Judy Collins em dueto (o som é péssimo, o sentimento é óptimo!):



Joan Baez não escapou ao encanto deste poema (2000):



Roberta Flack:



Nick Cave:



Nina Simone:



Uma versão apenas instrumental, o Stringspace String Quartet

Knockin' on Heaven's Door

Bob Dylan escreveu-a em 1973 para a banda sonora do filme "Pat Garrett & Billy the Kid". Neste filme, realizado por Sam Peckinpah, Bob Dylan interpreta a personagem de Alias:



Em 1974 Sandy Denny (com o grupo do qual era vocalista, os Fairport Convention), ao vivo no LA Troubadour, Los Angeles:



Ainda em 1974, Bob Dylan com os The Band, ao vivo no Madison Square Garden:



Por Eric Clapton, ao vivo em 1991:



1994, Phil Collins, com sabor "reggae":



Bon Jovi em 1997:



Tracy Chapman, ao vivo, 2005:



Guns N' Roses, recentemente e num registo um pouco mais "hard":

"Porto Sentido"

Carlos Tê escreveu, Rui Veloso musicou e cantou...
Não conheço palavras que tão bem descrevam a cidade onde nasci e sempre vivi...

Numa homenagem a Rui Veloso, a muitas vozes e produzida pela Rádio Comercial, 2022:



A versão original, 1986:



1990, Rui Veloso no Coliseu do Porto, B. B. King, um mestre dos "blues", a acompanhar na guitarra eléctrica:



1992, Rui Veloso no São Luís, Lisboa. Carlos Paredes na guitarra portuguesa:



2017, Rui Veloso, Miguel Araújo e toda a plateia do Coliseu do Porto:



2021, Rui Veloso e Valéria Carvalho, acompanhados por Armando Marçal, Jorge Helder e Lula Galvão, com sabor a bossa nova:

Estávamos em pleno século XX... final dos anos 60, princípio dos anos 70. O mercado da música popular estava cansado do "rock'n'roll" e também cansado dos "obla-di-obla-dá" e dos "yé-yé-yé". Em menos de 10 anos surgiram estilos de "rock" para todos os gostos: psicadélico, progressivo, sinfónico, "alemão" e por aí fora. Os Procol Harum fizeram uma não muito breve breve incursão no "rock" sinfónico que teve o seu apogeu no LP "Grand Hotel". Aqui fica a canção que deu nome ao álbum (1973):



Versão 2006:

No sétimo dia, e enquanto Deus descansava, surgiu o "Punk". Fartos das sumptuosidades sinfónicas, corais e electrónicas, grupos de "energúmenos" enveredaram por um caminho, diria eu, quase diabólico:

1977, lado B do LP "Ratus Norvegicus": "Peaches" by The Stranglers:



Não há uma outra versão, mais decente ou menos decente, que possa incluir aqui!

Felizmente que, para a honorabilidade do movimento "punk", surgiram os "The Clash": LP's "London Calling" (1979) e "Sandinista" (1980). Do primeiro a canção com o mesmo nome, "London Calling":



Do segundo LP a canção "Washington Bullets":



Uma nota: Ortega, nos dias de hoje, nada tem a ver com o movimento Sandinista, é apenas mais um ditadorzinho de pacotilha!

agorgal escreveu:

(...) final dos anos 60, princípio dos anos 70. O mercado da música popular estava cansado do "rock'n'roll" e também cansado dos "obla-di-obla-dá" e dos "yé-yé-yé".

Felizmente que, para a honorabilidade do movimento "punk", surgiram os "The Clash": LP's "London Calling" (1979) e "Sandinista" (1980).

O rock´n´roll como a sonoridade dos Beatles e, na mesma altura os Stones, nunca me cativaram. Aliás, considero The Beatles a primeira boy band.
Quanto ao quarto álbum The Clash, «Sandinista!» é uma obra-prima!

Ghost4u escreveu:

O rock´n´roll como a sonoridade dos Beatles e, na mesma altura os Stones, nunca me cativaram. Aliás, considero The Beatles a primeira boy band.
Quanto ao quarto álbum The Clash, «Sandinista!» é uma obra-prima!

Concordo consigo, caro Fantasma, se bem que parcialmente...
Penso que os Beatles, nos primeiros anos da sua carreira, eram um pouco banais. Mas os últimos álbuns abriram portas que depressa foram atravessadas por muitas outras figuras da "pop music". Quanto aos Stones, sempre mais do mesmo, até aos dias de hoje: It’s Only Rock ’n’ Roll (but I Like It) , honra lhes seja feita!

Mas também penso que esta minha avaliação pode estar "contaminada" pela idade... como tinha apenas dois anos quando os The Beatles apareceram... e doze quando desapareceram... quatro anos na "fundação" dos The Rolling Stones e, por este caminho, estarei sete palmos debaixo de terra aquando da sua "dissolução"! Como só conquistei "autonomia musical" com treze ou catorze anos e "gosto musical" com dezassete (o meu primeiro gira-discos e três discos a acompanhar: "Grand Hotel", "The Dark Side of the Moon" e "The Lamb Lies Down on Broadway"), não posso medir um meu eventual entusiasmo por "Get Back" ou "Revolution", "Get Off of my Cloud" ou "Paint it Black", descobertas uma dezena de anos posterior à sua edição, portanto já com alguma patine!

E não, não é por acaso que os The Clash mereceram duas canções e não apenas uma!

"À Beira do Fim"

Os Tantra, grupo português - formado por  Américo Luís (guitarra baixo), Manuel Cardoso (Frodo*) (guitarra), Armando Gama (teclas) e Tozé Almeida (bateria) - editou o álbum "Mistérios e Maravilhas" em 1977. Colocou-se na banda larga do rock progressivo que, no nosso curto mercado discográfico, teve alguma expressão. Mais um exemplo: o LP de José Cid "10.000 Anos depois, entre Vénus e Marte".

São evidentes as inspirações, quer musicais quer gráficas!




*Frodo, nome artístico, nada tendo a ver com a posterior trilogia cinematográfica "O Senhor dos Anéis", pode ter sido inspirado na personagem dos livros de Tolkien, escritos muitos anos antes...

"Biko"

1980, Peter Gabriel publicava o seu terceiro álbum a solo, depois de ter sido, durante oito anos, o "front-man" do grupo britânico Genesis.
Steve Biko, um activista anti-"apartheid" na África do Sul, morreu, prisioneiro e torturado, em 12 de Setembro de 1977. Peter Gabriel, um dos grandes, talvez o maior, responsável pela introdução da "world music" no "mainstream" musical contemporâneo usou esta canção como manifesto contra o sistema de "apartheid" na África do Sul e, de uma certa forma, contra todos os outros sistemas de "apartheid" existentes pelo mundo fora.



O punho fechado e bem levantado, usado por Tommie Smith e John Carlos em protesto contra a segregação racial nos USA, Jogos Olímpicos do México, 1968, tornou-se um elemento fundamental na coreografia dos concertos de Peter Gabriel à época.

Prezado agorgal,

Ante a sua referência a «Biko», recordo que no álbum «Street Fighting Years» os Simple Minds incluíram uma versão desse hino.  

Cumprimentos fantasmagóricos,

Uma versão de "Biko" igualmente poderosa e que não conhecia.

Obrigado por a partilhar aqui, caro "Ghost4u".

"Leaving on a Jet Plane"

Poema e música de John Denver, canta-autor dividido entre as muito próximas correntes da "country" e "folk", obteve grande sucesso com a versão gravada pelo trio "Peter, Paul & Mary". Melodia simples, daquelas que entram pelo ouvido, estacionam no cérebro e nunca mais de lá saem, tornou-se uma canção fácil de interpretar por toda a gente, sobretudo quando acompanhada de uma fogueira, uma guitarra acústica e uma tenda nas nossas costas.

A versão "Peter, Paul & Mary", 1969 (numa remasterização de 2004):



John Denver, ao vivo em 1977:



Chantal Kreviazuk, cantora canadiana, fez algum sucesso com esta versão, 1998:



No filme "Armageddon", realizado por Michael Bay em 1998, informal (e, não por acaso, romântica que baste):



Perdoem-me, não resisto a introduzir aqui uma versão muito, mas mesmo muito, adulterada:

"The Doors": No que a este grupo diz respeito a escolha é difícil, diria que impossível...
Mas sendo incontornável esta escolha, opto por palavras muitos anos antes escritas por um dos grandes autores de canções da primeira metade do século XX: Brecht.

A voz do "sex symbol" do "rock", Jim Morrison, o som dum dos mais interessantes agrupamentos da época e as palavras de um enorme poeta e dramaturgo, Bertold Brecht - Alabama Song (Whisky Bar)



Jim Morrison, The Doors, Brecht e absolutamente mais ninguém!

Quando se escreve sobre Bertold Brecht não se pode esquecer Kurt Weill. Brecht escrevia o poema, Weill musicava-o. Um duo inseparável.

"Lost in the Stars (The Music Of Kurt Weill)" foi um disco publicado em 1985, recheado de estrelas da pop/rock, do jazz e não só. A música escrita por Kurt Weill, alguns temas com a poesia de Brecht, vozes e instrumentistas de todas as correntes musicais... como, e por exemplo, Sting (The Ballad Of Mac The Knife):

"Memory"

Pode a minha memória estar a atraiçoar-me mas...
...havia, nos anos 80, um programa chamado "As Noites Longas do FM Estéreo" (com patrocínio da fábrica de cristais Atlantis, Vista Alegre), locução de António Santos. Era transmitido em FM na que é hoje, presumo, a Antena 3... um programa transmitido ao domingo, horas tardias (sim, a mesma emissora do "Roll's Rock" do António Duarte).

Música calma, romântica qb... e esta canção a iniciar ou a acabar o programa, na voz de Barbra Streisand  (e que voz!):



Extraída do musical "Cats", um enorme sucesso em Londres e Nova York (21 e 18 anos em cena, respectivamente), música de Andrew Lloyd Webber, um dos mais prolíferos compositores para espectáculo nos anos 70 e 80 (Jesus Christ Superstar, Evita, Cats, O Fantasma da Ópera e muitos outros) baseado na obra poética de T. S. Eliot "Old Possum's Book of Practical Cats". Aqui na sua versão operática, por Elaine Page:

Continuando neste divagar pela música popular do século XX:

"Nights in White Satin"

Um dos primeiros álbuns da "pop" gravados em estéreo, "Days of Future Passed" do grupo britânico The Moody Blues. Uma viagem pelo "rock progressivo" na sua vertente sinfónica. Corria o ano de 1967 e a música popular vivia uma das suas muitas revoluções. Uma delas foi a criação de obras de longa duração, os chamados "concept albuns". As canções deixavam de ser autónomas para serem capítulos de estórias que duravam 40 minutos ou, no caso de um duplo álbum, 80 minutos. A complexidade melódica que uma orquestra proporciona ao acompanhar um grupo de música pop é uma outra revolução. A "pop music" desejava conquistar um lugar ao nível do que muitos chamam de "a grande música", a música clássica com as suas sinfonias prolongadas no tempo e cuidadas nas elaborações melódicas.
"Nights in White Satin" é o o que podemos, com toda a propriedade, chamar de sétimo andamento da sinfonia "Days of Future Passed"!

Prezado agorgal,

Talvez alguns membros desta praça desconheçam, mas The Moody Blues constituíram-se os grandes influenciadores dos Pink Floyd.

Cumprimentos...

Caro "Gosth4u"

Os dez anos que medeiam 1965-1975 são um dos períodos mais fascinantes da história da música, Não apenas da história da música contemporânea mas de toda a história da música. Com algumas (e importantes) participações com origem no outro lado do Atlântico, foi sobretudo no Reino Unido, um país relativamente pequeno, que uma "ensurdecedora" explosão de criatividade musical definiu a música popular (pop, rock, folk e por aí fora que muitas vezes estes estilos e sub-estilos confundem-se) por muitos e longos anos. Neste "melting-pot" musical todos se influenciaram uns aos outros e de uma maneira ou de outra. Uns enquanto percursores, outros enquanto exploradores dos novos sons e das novas estéticas musicais.

Pondo de lado os tão falados The Beatles, The Rolling Stones e Pink Floyd, relembro aqui outros grupos, alguns um pouco esquecidos, que contribuiram, desde Londres e arredores, para essa década musicalmente impressionante: Magna Carta, Renaissence, Gentle Giant, Emerson Lake & Palmer, The Family, Genesis, Jethro Tull, Fairport Convention, Yes, King Crimson, Van der Graaf Generator, Roxy Music... e, obviamente, estou a esquecer muitos.

Como escreve, e muito bem, alguns membros desta praça desconhecem as influências (e as novidades) dessa época dourada da música popular. A minha intenção é recuperar algumas delas, uma recordação para muitos de nós, talvez uma espécie de museu musical para muitos outros de nós, mais jovens, porque a Música é uma Arte enorme, independente de ter sido escrita (ou pensada) nos séculos XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX... e porque não, também no século XXI!

Como nota de rodapé: nem sempre a música de um grupo ou intérprete corresponde ao que este desejaria. O papel do produtor e do engenheiro de som é determinante no resultado final - a comercialização da música, nos dias de ontem e de hoje, assim o obriga. Infelizmente.
Mozart, Bach e Beethoven, músicos de anteontem, não tiveram produtores e engenheiros de som a determinar o resultado final!

Ghost4u escreveu:

[Aprecio o objectivo do seu labor, acompanhando com agradabilidade.

(...)
apesar de desgostar de colectâneas e de prescindir de tais discos, a única que possuo, recomendando, é «This Is The Moody Blues». Editada no ano 74 do século XX, a mistura e o alinhamento deste duplo-álbum coloca-o no escaparate das obras de arte.

(,,,)

Muito obrigado pelo apreço.
Também eu desconfio um pouco das colectâneas, dos "best-of's"... mas tenho alguns...
A minha preferência, nestes casos, incidia nos álbuns gravados ao vivo, onde os grupos ou intérpretes, libertos das amarras dos estúdios, davam aso ao seu virtuosismo instrumental e vocal. E destes tenho exemplares absolutamente preciosos.

Como exemplo, e porque vem a talhe de foice, "Musical Box"...
Genesis, Peter Gabriel como "front-man" do grupo, que nunca mais foi Genesis após a saída de Gabriel, o "anjo"...
Canção que encerrou o concerto em Cascais, 1975 e que me custou um enorme embaraço social quando entusismado pelo "NOW, NOW, NOW" final (posso confessar hoje, quase cinquenta anos passados e portanto sem qualquer risco de procedimento criminal, com uma pequena ajuda psicotrópica) saí do quarto onde ouvia "Genesis Live" e entrei na sala de visitas da casa a gritar esse mesmo "NOW, NOW, NOW", acabando no meio de respeitáveis senhoras, estarrecidas perante o meu entusiasmo lírico, e que assistiam a um daqueles "encontros Tupperware"... um momento muito, mas mesmo muito, alto da minha juventude!

Abandonando, por agora, o "rock progressivo" dos anos 60-70, um regresso à "chanson française"

"Comme d'habitude"

Música composta por Jacques Revaux, poema de Gilles Thibaut e Claude François, aqui interpretada por este último em 1967:



Uns anos depois, por Mireille Mathieu:



(Continua...)

Diz a lenda que Paul Anka comprou os direitos de "Comme d'habitude" por um único dólar... também diz que David Bowie esteve envolvido numa versão inglesa que, tendo sido gravada, nunca foi publicada.

Paul Anka, num daqueles negócios típicos de "gangsters da música" adaptou-a e cedeu-a a Frank Sinatra. Assim nasceu um dos maiores, senão o maior, êxito de Sinatra: "My Way" gravada em 1968.
Ao vivo em 1974:


Em 1973, Elvis Presley:


Shirley Bassey, 1987:


Miley Cyrus, recentemente:


Punk, punk, punk, punk, punk, Sid Vicious!:

1968, Kubrick realizou "2001, Odisseia no Espaço". Zaratrusta falou e os filmes de ficção científica nunca mais foram os mesmos...
1969, Armstrong pisou a Lua e, com o seu pequeno e inseguro passo, proporcionou à humanidade um salto de gigante...

Exactamente nove dias antes de Armstrong ter pisado o pequenino "planeta" que ilumina as nossas noites, foi editado no Reino Unido um 45rpm que incluía "Space Oddity". Com esta canção, o homem-camaleão da "pop" britânica, David Bowie, colocou a música popular em órbita lunar.



Here am I floating round my tin can
Far above the moon
Planet Earth is blue, and there's nothing I can do....

Have a nice trip, Major Tom

1971. Ano prolífico em edições do que muitos agora apelidam de "rock clássico" (L. A. Woman - The Doors; Aqualung - Jethro Tull; Pearl - Janis Joplin; The Cry of Love - Jimi Hendrix - edição póstuma; Sticky Fingers - The Rolling Stones; Who's Next - The Who; Hunky Dory - David Bowie...).

Pelo final do ano um grupo britânico com apenas três anos de idade e cujo nome original foi "The New Yardbirds", (os velhos "The Yardbirds" foram o ninho de três dos mais virtuosos da guitarra - Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page), editou o seu quarto álbum, sem nome específico mas conhecido como "Led Zepplin IV".

A última canção do lado 1 depressa conquistou os corações dos fãs e dos críticos da época. Ainda hoje é considerada uma das melhores canções que a música rock nos ofereceu. Um crescendo que se inícia com instrumentos acústicos e quase acaba no mais puro "hard-rock". Quase... porque mesmo, mesmo no fim, nos últimos 15 segundos, fica apenas a voz: And she's buying a Stairway to Heaven.

Ladies and gentlemen: Led Zepplin, with Jimmy Page and a guitar:

A revolta dos porcos
George Orwell escreveu o conto "Animal Farm" em 1945. Nele os animais de uma quinta, com um dono desleixado, revoltaram-se. Dirigidos pelos porcos acabaram por tomar conta da quinta sendo que no fim da estória "Napoleon", o porco mais esperto, transformou-se num ditador implacável, dominando e aterrorizando todos os outros animais. "Napoleon" humanizou-se...

Durante o ano de 1976 Roger Waters (com a ajuda de David Gilmour) conceptualizou o décimo álbum de estúdio dos Pink Floyd, "Animals", publicado no ano seguinte. Livremente inspirado na obra de Orwell teve por imagem de marca um porco. Um porco enorme e voador chamado "Algie".
Durante a captação das fotografias para a capa do disco na "Battersea Power Station" "Algie" revoltou-se, libertou-se das amarras. Voou livre pelos céus, surpreendeu os londrinos e paralisou o aeroporto de Heathrow. Depois de quase cem quilómetros percorridos aterrou, bem mais magrinho, no meio de um aterrorizado rebanho de pacíficas vacas. Ainda hoje há quem pense que o na altura considerado acidente foi, nada mais nada menos, um genial golpe publicitário.

Pigs (Three Different Ones)

A canção como mensagem política é uma questão incontornável. Como protesto ou intervenção, as letras das canções sempre serviram para exprimir ideias inconformadas com o satus quo. Nos Estados Unidos, Dylan, Donovan, Phil Ochs, Baez... em Portugal, Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Adriano Correia de Oliveira... Em França, Ferré, Moustaki... em Espanha, Lluis Llach, Paco Ibanez... No Reino Unido, Roger Waters, Lennon, The Clash, Sex Pistols... e isto é só arranhar a superfície de um universo fascinante, o da canção como arma política.

Em 1965 os militares tomaram conta do Brasil construindo uma ditadura que durou 21 anos. Como em todas as ditaduras a liberdade de expressão "foi para o galheiro". E, como em todas as ditaduras, há sempre alguém que insiste, independentemente dos riscos, em libertar a voz e dizer o que sente. Essa forma de estar passada a poesia, passada a canção é, não apenas de protesto ou intervenção mas também de resistência. Geraldo Vandré escreveu e musicou "Pra não dizer que não falei das flores" em 1968. Muito depressa esta canção transformou-se no hino da oposição à ditadura militar brasileira. Censurada, proibida, amaldiçoada pelo sistema então em vigor no Brasil. Só que, ao contrário da ditadura, a canção sobreviveu.

Por Geraldo Vandré, 1968:


Em 1979, Simone Bittencourt de Oliveira, aproveitando uma tímida abertura na censura, cantou-a assim no Canecão (isto porque a música popular brasileira tem muito de encanto quando cantada por voz feminina):


Um pouco contra-corrente, esta canção alinha-se mais com o activismo do "Maio de 68" em Paris do que com o pacifismo do "Flower Power" da Califórnia:
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...

Por muito respeito que me mereça, não perdoo a Mr. Lou Reed ter-me estragado o que poderia ter sido um dia perfeito. Entusiasmado com a entusiasmante noite de S. João e fascinado com o Porto (não com a cidade mas com o vinho da dita), Mr. Lou Reed ficou de tal modo que foi cancelado o concerto marcado para o Pavilhão Infante de Sagres no dia seguinte!
Pelo menos ficou provado que o Porto (o vinho) é bem melhor que "heroin"!

Mr. Lou Reed,  o "Perfect Day" dele que não foi o meu...

1973, o mais romântico dos agrupamentos pop britânicos publicava o seu terceiro LP. Entre roupas de seda molhadas, o toque da pele mais aveludada e, consequentemente, um erotismo discreto, também ele aveludado, conquistava o ambiente musical da época.
Brian Eno tinha abandonado o grupo conjuntamente com John Porter. Bryan Ferry, Phil Manzanera, Andy Mackay, Eddie Jobson e John Gustafson eram agora os homens que acariciavam a música pop. E ela adorava essas carícias.

Roxy Music, "Stranded" e "A Song for Europe". Inglês, latim e francês, por esta ordem...



Pas d’aujourd’hui pour nous
Pour nous il n’y a rien
A partager
Sauf le passé

Tous ces moments
Perdus dans l’enchantement
Qui ne reviendront
Jamais

Mais uma canção de amor perdido?
Ou uma premonição sobre o Brexit feita 43 anos antes?

É agora ou nunca...

Eduardo di Capua, compositor e cantor napolitano nascido em 1865 e morrido em 1917, compôs um dos maiores sucessos da música italiana: "O Sole Mio". Quem não comeu uma "pizza" numa esplanada da belíssima baía de Nápoles, sob o olhar atento de meia dúzia de mafiosos e embalado por esta canção?

Em 1990, três tenores também italianos, Carreras, Pavarotti e Domingo, "gritaram-na" assim:



No universo do rock n'roll e pelo ano de 1960, um sujeito nascido norte americano, a viver em Memphis, Tennessee e chamado de Elvis Aaron Presley, gravou um single. Nele uma canção que se não é "O Sole Mio" versão americana até parece que é!

It's Now or Never e o Rei, ainda melhor, a Divindade Suprema do Rock and Roll:

O Hotel Chelsea foi, nos anos 60 e 70 o ninho de amor da “contra-cultura" nova-iorquina. Debaixo dos lençóis das camas dos seus quartos (condição não obrigatória), Janis Joplin e Leonard Cohen, Patti Smith e Robert Mapplethorpe, Syd Vicious e Nancy Spungen e, muito provavelmente, Joan Baez e Bob Dylan responderam, com mais ou menos entusiasmo, às muitas e diversificadas exigências da carne.

(...)
Because the night belongs to lovers
Because the night is belongs to lust
(...)

Patti Smith está para a música rock (ou punk, segundo alguns) como Mapplethorpe está para a fotografia: iconoclastas que baste, irreverentes que baste, sofisticados e eruditos que baste para que as suas artes prevaleçam no tempo.
"Because the Night" foi escrita por Patti Smith e Bruce Springsteen para o LP "Easter":



U2, Bruce Springsteen e Patti Smith:

Os "Faíscas" e o efeito borboleta*

Os "Sparks" estão para a música dos anos 70 como as velas estão para os motores a gasolina: são electrizantes!
Nascidos em Culver City, Los Angeles, Califórnia, os irmãos Mael (Ron e Russell) na vez de se dedicarem ao cinema, o ambiente natural da cidade onde viviam, dedicaram-se à música e assim se divertiram - e divertem quem os ouve. Apenas com essa diversão feita música influenciaram muitos nomes do "rock", do "punk", da "new wave", do "disco sound"...
Ron nas teclas e Roussell na voz, cada um com uma imagem muito sui generis (sobretudo Ron e a sua reencarnação de um Chaplin semi paralisado e feito teclista), fazem-me sorrir quando ouço "Quimono My House" ou "Propaganda" (1974).

De "Quimono My House", logo abrir o lado 1, "This Town Ain't Big Enough for Both of Us":



*Da teoria do caos: o bater de asas de uma borboleta em Los Angeles pode provocar uma enorme alegria algures numa rua do Porto.

A maldição dos 27...

Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, todos pereceram aos 27 anos de idade (27 anos, dez meses; 27 anos, oito meses; 27 anos, sete meses). Pereceram por excesso de vida (ou por uma vida de excessos, consoante o ponto de vista).

Com uma origem nebulosa (música tradicional? Billy Roberts? Dino Valenti? Billy Roberts & Len Partridge?) tem inúmeras versões, desde os anos 50 até 1967. Neste ano Jimi Hendrix, na minha opinião, criou a versão definitiva.

The Jimi Hendrix Experience, "Hey Joe":