Mensagens : 14270 Data de inscrição : 13/07/2010 Localização : Ilhéu Chão
Assunto: Lusco-fusco (Esoteric T1 Grandioso) Qui Out 31 2024, 02:10
Lusco-fusco I
Do tempo que decorre o nascer e o pôr do Sol para o tempo em que a estrela que é o centro do nosso sistema planetário está abaixo do horizonte, na semana quarenta e três da temporada civil 2024, o episódio de um homem baleado fatalmente por um novel agente policial no exercício da função, constituiu a detonação da bomba de consecutivas e repetentes noites de motins, com actos de vandalismo sobre bens públicos e privados, resultando num ferido grave, que em nada tem correlação com protestos na prática do direito cívico. Tais delitos ocorreram em zonas urbanas sensíveis e de exclusão dada a assimetria da vida quotidiana nos bairros sociais da área metropolitana de Lisboa, que são território de crime, onde as pessoas são vítimas da condição socioeconómica e dos criminosos lá instalados, necessitando de protecção. O Estado, conhecedor do que se passa nos bairros vulneráveis, mantém os braços cruzados, nada fazendo ao longo de anos... Após os actos repreensíveis, a Polícia de Segurança Pública fez um comunicado com base no Auto de Ocorrência que é executado logo que possível e a quente, fazendo fé no que está descrito. Seguiram-se comunicados contraditórios e não desmentidos nas versões policiais, gerando enorme suspeita sobre o que aconteceu ao homem atingido, fragilizando a posição e nublando a actuação da PSP, agonizando este complexo episódio.
A par da péssima metodologia de comunicação da polícia, neste cenário sem precedentes - má comunicação diminui a confiança do cidadão - actores e agentes políticos em nada têm contribuído para desejável serenidade, utilizando violenta linguagem fabricadora de violência, representativa de extremismo na tomada de posições para gerar divisão contestatária na sociedade, instrumentalizando a polícia para obtenção de lucros políticos, colando à extrema destra a actuação da força pública encarregada de manter as leis e disposições. Perigoso é tal parecer por não traduzir a realidade e, abjecto é o discurso contestador da extrema direita; em ambos existem direitos fundamentais em conflito que devem ser exercidos com equilíbrio. Portanto, deverá imperar o contrato social realizado entre cidadão e o Estado, em que o cidadão não exerce justiça privada com as próprias mãos, sendo a polícia - organização que serve de garantia à ordem e paz pública - a exercer a justiça e a segurança do indivíduo no gozo dos seus direitos civis e políticos de um estado livre.
No último dia útil dessa fatídica semana, na Ajasom, ocorreu a primeira sessão de Lusco-fusco, um evento do dia prá noite. Durante quatro horas, quem se deslocou à Damaia-de-Baixo, pausou a sua mente do assombro divulgado na comunicação social. Nesta sessão um, a estratégia assentou na apresentação do gira-discos Esoteric T1 Grandioso, com fonte de alimentação externa. Construído num chassi de tripla camada em madeira e alumínio para controlo de ressonâncias, a leitura do ajuste de velocidade garante precisão de 0,1% e, apesar de possibilitar a utilização de três braços com armboards opcionais, foi equipado com o braço TA-9D, hospedando a pesada (14,5 g) niponense Murasakino Sumile de tipologia MC, com sinal de saída de 0,35 mV, resistência interna igual a 1,2 Ohm e 1,9 - 2,1 g de peso recomendado. Com cantilever de boro, a base de suporte ao braço é construída em aço inoxidável banhada a oiro.
O Esoteric foi adicionado directamente à parelha McIntosh, constituída por prévio a válvulas C12000C + C12000ST 75 th Anniversary e amplificadores a transítores MC1.25KW 75 th Anniversary, fornecendo 1200 W sobre 8, 4 ou 2 Ohm, valor mais do que suficiente para nutrir as germânicas Blumenhofer Genuin FS1 Mk3. Sendo colunas de duas vias bidirecional, com saída bass-reflex dirigida para o soalho, ostenta uma corneta com cúpula em titânio de 75 mm, possuindo unidade de grave fabricada em papel tratado de 38 cm de diâmetro, movida por íman de alnico. Consideradas colunas de alto rendimento pela sensibilidade de 96 dB para impedância nominal de 8 Ohm, a sua gama de frequência vai de 36 Hz a 20 kHz, não necessitando de amplificador que forneça elevada dose de potência, bastando, comparativamente ao valor que os monoblocos utilizados podem fornecer, singelos 150 W.
Os discos emergidos das capas não estão inclusos na "airplay" gerada por representantes/distribuidores de equipamento de alta-fidelidade, que fizeram história em sucessivos Audio Show. Assim, os ouvintes munidos dos seus próprios discos, apreciaram o Esoteric com registos que tão bem conhecem: desde obras dedicadas ao cordófono violino, com sua versátil propensão dinâmica e riqueza sonora, até à edição da Mobile Fidelity Sound Lab do LP «Brothers in Arms» (AMOB 441), dos Dire Straits. O tema homónimo do álbum editado em Maio de 1985, recordado por ter sido o primeiro CD-single comercializado, foi servido no prato de alumínio do T1 Grandioso. Ora, no papel de analista, prescindindo da dissecação do desempenho do sistema que ronda duas centenas de milhar de euros, restringi-me a reportar o contorno da apresentação da fonte analógica, testemunhando que as audições realizadas remeteram para um som envolvente, repleto de riqueza harmónica, sendo este desempenho, por sua vez, implícito na opinião do público. Agora, aguarda-se pela próxima sessão de Lusco-fusco...
Tiro ao boneco e blá-blá-blá com a antiga grafia: Ghost4u
masa e applesnowleo gostam desta mensagem
agorgal Membro AAP
Mensagens : 1430 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Lusco-fusco (Esoteric T1 Grandioso) Sex Nov 01 2024, 12:34
"Ghost4u" trás para este fórum as duas faces da moeda que melhor representa a sociedade em que vivemos. Sendo opostas são também, na sua essência, extraordinariamente diferentes.
Em uma das faces a parte da sociedade que, não vivendo mas apenas sobrevivendo, se debate quotidianamente com dificuldades que lhe são levantadas apenas porque vivem numa zona considerada "urbana e sensível" e que, tendo este atributo, pode ser tratada com a maior das insensibilidades. Uma recente entrevista publicada na página web do jornal Expresso deu-me uma imagem suficientemente apurada do que é viver nessas "zonas urbanas sensíveis". E a interrogar-me se eu, um típico "classe média" do Porto, não seria um "bandido" disponível para incendiar ecopontos e autocarros se lá tivesse nascido, criado e vivido, sabendo que um concidadão tinha morrido apenas porque sim. Apenas porque um polícia novato e inseguro do seu poder, disparou a arma, talvez não com a intenção de matar, mas esquecendo que as armas matam.
Lamento quem morreu de forma tão inútil como também lamento, e se o agente policial for um ser humano como eu presumo que seja, que este tenha a sua vida estragada e a consciência pesada.
As considerações políticas estabelecidas posteriormente chocaram-me. Da extrema-direita sem surpresa, do governo uma abordagem diria que infantil mas propensa a mais repressão. Da esquerda mais do mesmo mas nenhuma solução. Não deixa de ser curioso que Isaltino Morais, por quem nutro uma enorme desconfiança política, acabou por ser nesta estória o político com o comportamento mais acertado. Propaganda pré-eleitoral? Talvez...
Do outro lado da moeda o melhor do que a nossa sociedade é capaz de produzir. A possibilidade de trazer para a nossa sala de estar, 120 músicos de uma orquestra sinfónica ou 5 de um grupo de rock sem que se note a diferença entre estar sentado numa cadeira de uma excelente sala de concertos ou no nosso sofá favorito. Se bem que a um custo proibitivo para o comum dos mortais!
Que sociedade esta que, capaz de tão excelentes proezas tecnológicas, não consegue resolver os problemas de discriminação e desigualdade económica e social?
Caro "Ghost4u", todos ficamos a aguardar o episódio "Lusco-fusco 2" e mais inovações no mundo do áudio.