Ao ver o Muro de Berlim pela primeira vez de dentro de seu autocarro, no lado comunista da cidade, o astro do jazz Louis Armstrong lamentou: "Que sofrimento para milhões de pessoas. Vou dar o melhor de mim para fazê-las felizes!".
Armstrong via-se como embaixador da convivência pacífica, e a sua mensagem foi entendida. Ele reconheceu que a sua turné não tinha apenas um caráter musical. Durante a sua visita, o trompetista refletiu bastante sobre os movimentos civis no Leste Europeu e nos Estados Unidos.
Naquele mês de março de 1965, o grupo Louis Armstrong All Stars encerrou na Alemanha Oriental uma turné pelos países do Leste Europeu. Ao desembarcarem no aeroporto berlinense de Schönefeld, Armstrong e os seus músicos foram calorosamente recebidos.
O músico chegou a interromper uma entrevista para se juntar ao grupo Berliner Jazz Optimisten e cantar sem microfone. "Um momento inesquecível", comentou na ocasião um repórter que documentava ao vivo o desembarque.
Para a Alemanha comunista, a passagem de uma estrela do porte de Louis Armstrong foi "o" acontecimento. "Quando você colocar os seus lábios no trompete, vai encantar milhares" e "Satchmo veio, soprou e venceu!" estampavam as manchetes dos principais jornais de Berlim. Satchmo virou o apelido de Armstrong. A expressão vem de sack mouth, boca de saco.
As entradas para os 15 concertos de Louis Armstrong na Alemanha Oriental foram rapidamente vendidas. Uma das peculiaridades da turné: o cachê foi pago em artigos da fábrica de lentes Zeiss, por causa do baixíssimo valor do marco da Alemanha Oriental.
Ao sentirem falta da vida noturna no lado comunista, os músicos do grupo um dia resolveram atravessar a famosa passagem de fronteira no Checkpoint Charlie para a Alemanha Ocidental. Ao controlarem os passaportes e verem de quem se tratava, os sisudos policias, fortemente armados, simplesmente gritaram: "Armstrong, é o Louis Armstrong, pode passar!" E, no lado ocidental, controlado pelos americanos, foi a mesma euforia.
O baixista Arvell Shaw disse que também nas noites seguintes os músicos ultrapassaram a fronteira para ir a um bar em Berlim Ocidental. E já nem precisavam levar os documentos, tão conhecidos que já eram nos dois lados.
Vejam aqui um desses concertos :
https://youtu.be/Y5O-oIUXIjo
Como disse uma vez Miles Davis, não existe nenhum som que se possa tirar do Trompete que Louis Armstrong não tenha já tirado!
Abraços,
Jorge Ferreira