Já vem atrasado, mas a reedição do catálogo Zeppelin em vinil trouxe à baila as velhas questões sobre a supermacia de original vs remaster. O II é um dos melhores da banda e, provavelmente, um daqueles álbuns que só faz sentido ouvir em vinil.
Para mim, as melhores versões do disco são as originais americana e inglesa, pelo que será com estas que comparo a reedição. Resumidamente:
1) 1969 US RL Monarch: + palco, dinâmica e grave
2) 1969 US RL Presswell: + palco, dinâmica e grave
3) 1969 UK A2/B2: + grave, ligeiramente menos definido e dinâmico
4) 2014 Euro AI/BI JD + detalhe
Vinda directamente das master tapes, a RL é, quase unanimemente, a versão de excelência deste disco. Robert Ludwig terá feito história ao elevar os graves a tal ponto que o crossley rasca da filha do dono da Atlantic não conseguiu tocar o disco. Isto fez com que os RL fossem retirados do mercado e, novamente, masterizado o disco nos EUA. Neste momento, estas versões são ainda mais raras e procuradas que as originais inglesas.
A versão UK A2/A2 tem a curiosidade de algumas cópias terem sido prensadas com um erro na label (Living Loving Wreck onde se deveria ler Living Loving Maid), no entanto, era a versão que mais próxima estava da americana, embora possa ter sido cortada a partir de cópia das fitas originais.
A mais recente remasterização foi supervisionada pelo próprio Jimmy Page, com o intuíto de fazer soar os Zeppelin como sempre deveriam ter soado.
A californiana Monarch 1) é menos pujante e definida, relativamente à Presswell 2), retirando alguma da agressividade natural da música, no entanto, compensa (e de que maneira) com um som polido e suave que a tornam no santo graal dos coleccionadores deste disco. É uma questão de preferência pessoal e as diferenças são tão infímas que não merecem mais reparos, RL já é suficientemente difícil de encontrar em boas condições para esmiuçar.
A inglesa 3) parece algo comprimida em relação às americanas, mas novamente, não é por grande margem. A RL tem mais "espaço", numa dinâmica clara e aberta, mas os níveis de grave da inglesa sobressaem e conferem um tom mais férreo à música, com mais distorção que as outras versões.
A nova 4) procura o paradigma da RL, mantendo os médios e agudos bastante dinâmicos e definidos, no entanto, nunca a consegue superar. Uma diferença evidente nesta reedição está na Lemon Song: O som nasalado desta música, conseguido através do sacrifício dos médios e agudos, está hoje mais encorpado e equilibrado. Também em Bring it On Home, a magia lo-fi dos blues se perde um pouco para o perfeccionismo clínico (calma, estamos a falar dos Zeppelin). Talvez, por degradação das fitas, esta 4) não consiga ser tão explosiva como as outras versões, o que se sente ainda mais na Heartbreaker e Whole Lotta Love. Possivelmente, a voz do Plant soa tão bem aqui como na RL.
Politicamente correcto, para quem não consegue encontrar os originais em estado impecável, a reedição torna-se muito apetecível, demonstrando um esforço sincero de apresentar uma versão credível de um dos melhores álbuns rock de sempre. Também, mesmo comparada aos originais, fornece uma experiência auditiva diferente e o detalhe que traz à música é difícil de ignorar.
Incorrecta, mas honestamente, a melhor versão deste álbum é a RL. Sem mais. Vale a procura (quando se paga menos de € 100,00 por ela) e não haverá remasterização que a supere. O som "live" da UK A2 é mais intenso do que a remasterização e a sensação de que a terra treme quando os Zeppelin passam é o verdadeiro apelo da banda.
A minha preferência:
- 2) Presswell RL, por ser mais definida e pujante;
- 1) Monarch RL, é infimamente menos pujante que a Presswell, mas mais equilibrada;
- 3) UK A2/B2, pela força do baixo e distorção, mas mais comprimida que as RL;
- 4) 2014 JD, tem definição e transparência e tenta replicar a dinâmica da RL.