Uma vez q o amigo César Neves não vem aqui ao AAP partilho aqui um post dele no facebook
"Agulhas Moving Magnet versus Moving Coil.
Hoje em dia é dada pouca consideração às agulhas moving magnet(MM).
Por isso irei tecer algumas considerações acerca das cabeças MM que os entendidos já conhecem certamente; mas que poderá ser útil a alguns membros recentemente entrados no vinil.
As cabeças moving coil, (MC), são na generalidade caras, e produzem um som muito agradável num bom braço, aplicado a um bom gira-disco, e sobretudo ligado a um bom andar de phono: tudo coisas caras ou mesmo muito caras.
Se não se verificam essas condições os resultados sonoros patinam.
Mas mesmo que se verifiquem essas condições, a MC só toca bem se o disco for de muito boa qualidade: se o disco é bera, ou mesmo mediano os resultados são desastrosos.
Por sua vez uma boa agulha clássica MM da Shure ou Stanton/Pickering, com agulha esférica, é barata, ou mesmo muito barata, e num gira-disco não tão bom, com um andar de phono de “dez tostões” produz praticamente em qualquer disco um som bem agradável.
Ora a generalidade dos discos das nossas Vinilitecas, são de qualidade mediana ou bera. Isso é devido a nos anos em que o vinil era rei, muito poucas editoras se preocuparem com qualidade audiófila.
Assim será manifestar algum sentido prático ter lá em casa, “bem escondido”, um gira-disco com um agulha MM para tocar os discos com música de que gostamos muito, mas onde a qualidade do disco deixa muito a desejar.
Estas qualidades das cabeças MM: serem baratas, e produzirem boa música com acessórios que alguns consideram da treta, e sobretudo em qualquer disco, parecem-me serem suficientes para as MM merecerem alguma atenção.
Mas as cabeças MM têm mais qualidades. E aqui podem entrar o tipo de agulhas que se quiser; pois os fabricantes fabricavam vários tipos de agulhas para a generalidade das cabeças clássicas MM: para além disso, a generalidade dos profissionais de retyping têm nos seus catálogos agulhas “pipis” para as MM mais apreciadas.
Permitam-me uma analogia um pouco atrevida. Ouvir uma MC é como fazer amor com uma parceira(0) trintão, muito sensual. O prazer é todo muito suave, muito redondo. Por sua vez ouvir uma MM é como fazer amor com uma parceira(o) nos seus vinte e poucos: a sua fogosidade, entusiasmo, magia e brilho dão-nos uma tareia que nos põe de rastos de prazer.
Permitam-me outra menos atrevida: ouvir uma MC é como guiar um Mercedes: tudo é fácil e confortável. Por outro lado, ouvir uma MM é semelhante a guiar um Porsche dos antigos: aqueles que não têm ajudas electrónicas á condução: onde tudo é agreste e bicudo. Tudo é difícil. Mas a magia e alegria, de guiar uma coisa daquelas faz-nos esquecer todas as agruras da vida.
Assim é natural que alguns prefiram as MM em alguns discos audiófilos: consideram a música resultante muito mais brilhante e alegre.
Não é todo meu propósito pretender retirar a hegemonia às MC: pretendo simplesmente alertar que as MM têm os seus argumentos.
Quais as MM de interesse? Novas sem serem clássicas, não tenho grande experiência, mas presumo que a Goldering e a Ortofon produzam óptimas cabeças.
Clássica já a minha experiência é maior e posso sugerir algumas: ei-las por ordem crescente de custo:
• Audio Technica AT91: durante muito tempo a mais barata da AT: ponham-na num Thorens TD135, com braço e Shell de origem e deliciem-se: várias firmas de retyping fazem agulhas elípticas e ultra elípticas para ela.
• Stanton 500/Pickering V15 (a mesma cabeça), a Pickering é melhor: a versão MKII e seguintes são as aconselhadas): cabeça de 30 euros: tem uma curva mais linear que a Shure V15.
É a cabeça que foi mais utilizada nas estações de radio do mundo. Façam um favor a vós próprios: nunca a comparem com a vossa MC preferida: porque se o fizerem, colocando na Pickering uma agulha do mesmo tipo da vossa MC, vão ter problemas sérios, a puxar pela cabeça, para justificarem as centenas ou milhares de euros que gastaram a mais com a vossa cabeça MC.
• Shure SC35C: agulha actual de DJ: a BBC tinha como prioridade a qualidade: o custo era secundário; a qualidade era o que importava.
Sabem qual era a cartridge que a BBC usava em todos, mas todos, os seus gira-discos?
Podia escolher as EMT TSD, ou Ortofon, ou a MC que lhes desse na real gana: mas não: era esta menina que tocava nos EMT e SP10 da BBC.
Atenção: o tracking recomendado é entre 4 e 5 gramas; embora nos meus gira-discos a afinação correta recomenda 3,5 g.
Não se assustem: uma agulha esférica a 4g faz menos pressão que uma elíptica a 1,5g. De qualquer modo podem utilizar as agulhas N44-7X ou N44GX com tracking mais baixo: a Jico também tem uma agulha SAS para ela. Com a agulha standard é de ouvir e de chorar por mais.
• Shure M75b com agulha N75 g T2: Tracking entre 0,5 e 1,5: Com um braço de pequena massa toca mesmo muito bem.
• Todas as restantes Stanton /Pickering MM terminadas em 1 são do melhor: a elasticidade é imensa pois este fabricante produzia muitos, mas mesmo muitos, tipos de agulhas para cada uma das suas cabeças.
• Shure V15 III com agulha esférica VN3G: esta cabeça com a agulha esférica, que tem um tracking igual à elíptica, tem um som, muito, muito agradável.
• Technics EPC 205*: só tem agulhas elípticas ou ultra elípticas: segundo o Van den Hul é a melhor MM jamais feita.
Finalizo com as ultra clássicas: são das primeiras agulhas estéreo fabricadas: são as MM equivalentes às Ortofon SPU.
• Shure M3D e M7D: a M3D é mais cara: mas a qualidade sonora é a mesma. A M3D quando foi lançada custava em Inglaterra 18 libras, o mesmo que uma SPU, ou que um braço SME.
• Stanton/ Pickering 380/U38: são fluxvalve: há quem defenda que é o som mais agradável que um gira-discos pode produzir. Um pesadelo para colocar na Shell.
• GE VRII: não é MM, é variable reluctance: a suavidade das MC com o brilho e a dinâmica das MM.
• Elac STS 322: nunca a ouvi. Um amigo meu, que tem uma enorme experiência em gira-discos e em cabeças clássicas, incluindo as aqui referidas, diz que esta é a melhor cabeça de todas. Este amigo sabe o que diz, porque para além da experiência é afinador de piano.
No início dos anos 70 havia algumas polémicas acérrimas no mundo da alta-fidelidade: Stereo versus Mono: agulhas esféricas versos elípticas: mas onde não havia polémica nenhuma, salvo alguma excepção muito excepção, era entre amplificadores a válvulas versus a transístores: isto porque nunca ninguém se atrevia a defender as válvulas: os transístores eram quem reproduzia mais fielmente a música, ponto final: era unânime.
O mesmo relativamente as MM versus MC: só os representantes da Ortofon é que muito timidamente defendiam as MC; porque tudo o resto nem discutia o assunto.
Como as coisas mudaram"