Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Set 14 2020, 11:34
ricardo onga-ku escreveu:
... Outro aspecto feio da indústria são os one-hit-wonders, bandas ou cant'autores que na sua carreira apenas produzem uma única música de sucesso "fácil" de escutar e normalmente de fraca qualidade e que é excessivamente promovida pela indústria e pelos media.
O Patrick Hernandez e o "seu" Born to be Alive é um exemplo ... ainda hoje vive desse Hit ...
Hoje as editoras recorrem aos xôs de talentos televisivos para caçar, promover e vender essas "pérolas".
Na verdade muita música mainstream é como pastilha elástica, mastiga-se enquando o doce dura e depois deita-se fora...
È verdade e penso que sempre foi assim ... nos anos 80 a quantidade de singles que duravam um mês e ficavam obsoletos era enorme. A partir dos anos 90 deixei de ouvir radio, mesmo no carro, então não sei como é hoje mas deve ser a mesma coisa...
No entanto, e neste ponto estou de acordo com o José Miguel, é uma razão suplementar para sensibilisar os mais novos (e mesmo os mais velhos ) a saber reconhecer e apreciar a musica de qualidade. prefiro uma pessoa que ouve musica comercial sabendo que ela é mà do que uma pessoa que escuta essa musica porque não conheçe algo de outro, é a diferença entre escolher ou seguir os outros. Mesmo na mainstream existém obras muito interessantes e por vezes excelentes e isto ém todos os estilos ... pareçe-me importante que as pessoas possam separar o trigo do joio. O que digo é vàlido tanto para a musica como para a comida, vinho, literatura, banda-desenhada, cinema e etc...
A face oposta da moeda em relação ao que digo, pois hà sempre uma face oposta, é o ressurgimento de uma camada de tendências elitistas e radicais que puxa para os extremos a noção do "bom". Existe hoje uma postura em relação à maneira de cozinhar, de fazer o café ou o chà, nas escolhas musicais complétamente opostas à mainstream, pratica de ginasticas asiaticas e etc que me pareçem ser elitismo de circunstância ou diferenciado ... que não me pareçe levar as coisas para melhor, os vinhos naturais são um exemplo do que digo e penso
Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Set 14 2020, 12:29
ricardo onga-ku escreveu:
TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
... o sucesso comercial de algumas faixas pode ter votado a totalidade à escuridão.
O álbum quando vende, vende como todo, mas receberá tal atenção como todo ou será ouvido apenas nas partes mais famosas? ...
José Miguel escreveu:
... Há outra coisa que o Paulo disse e que me tocou, o facto de a EDM poder ser olhada de soslaio... há um belo documentário sobre a EDM em São Francisco e nele revela-se como Músicos tocam em estúdio para criar os "beats" que nos fazem abanar o corpo - há alguns ligados ao Jazz e isso nota-se na nova geração.
Na maioria dos albums mainstream aonde hà quase sempre um ou dois singles na obra esse fenomeno reproduz-se e os hits escondem a globalidade da obra. Tenho a certeza que o Losing my Religion dos REM foi (muito) mais escuitado do que as pérolas que estão no mesmo album ... o Another Brick in the Wall foi de certeza a faixa mais escutada do The Wall, mas talvez foi essa faixa que levou alguns miudos a descobrir o Echoes no Meddle. Tu que falaste à pouco na necessidade de educar musicalmente os jovens (e não sò), às vezes são detalhes como estes que ajudam a melhor mergulhar na Musica
No que diz respeito aos Daft Punk e mesmo aos singles extraidos do RAM, penso que hà uma boa dose de mà vontade em relação ao grupo. A faixa Get Lucky que foi um hit teria sido altamente considerada se tivesse sido escrita pelo Wyclef Jean ... ora que é uma faixa com um groove fantàstico. Mesmo a mais fraquita faixa do album que é o Instant Crush com o cantor dos Strokes é uma pepita de humor com o vocoder em exagerado e o seu falso groove...
Quanto à EDM ela sofre ainda hoje uma forma de repudio como toda a musica electronica ... ora que desde os anos 80 estes estilos são o motor mais potente e criativo da musica popular nmho. Uma forma de snobismo da parte dos melomanos (sobretudo audiofilos) leva a considerar esses estilos como o primo pobre da musica ora que obras como as do Manuel Gotsching, Arthur Russell e vàrios outros são obras gigantescas com uma influência tentacular noutros estilos, jazz incluso ... é assim
Outro aspecto feio da indústria são os one-hit-wonders, bandas ou cant'autores que na sua carreira apenas produzem uma única música de sucesso "fácil" de escutar e normalmente de fraca qualidade e que é excessivamente promovida pela indústria e pelos media. Hoje as editoras recorrem aos xôs de talentos televisivos para caçar, promover e vender essas "pérolas".
Na verdade muita música mainstream é como pastilha elástica, mastiga-se enquando o doce dura e depois deita-se fora...
Exigencias do Mercado?
Em Florença vejo mais pessoas na Academia a tentar tirar uma Selfie com o David que a sentarem-se e tentarem entender o que cria o "Miguel Angelo" transmitir com a obra.
Vivemos o tempo do imediato, do prazer instantâneo.
ricardo onga-ku Membro AAP
Mensagens : 6017 Data de inscrição : 02/01/2012 Localização : Terra d'Anglos...e Saxões
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Set 14 2020, 14:20
TD124 escreveu:
ricardo onga-ku escreveu:
... Outro aspecto feio da indústria são os one-hit-wonders, bandas ou cant'autores que na sua carreira apenas produzem uma única música de sucesso "fácil" de escutar e normalmente de fraca qualidade e que é excessivamente promovida pela indústria e pelos media.
O Patrick Hernandez e o "seu" Born to be Alive é um exemplo ... ainda hoje vive desse Hit ...
Hoje as editoras recorrem aos xôs de talentos televisivos para caçar, promover e vender essas "pérolas".
Na verdade muita música mainstream é como pastilha elástica, mastiga-se enquando o doce dura e depois deita-se fora...
È verdade e penso que sempre foi assim ... nos anos 80 a quantidade de singles que duravam um mês e ficavam obsoletos era enorme. A partir dos anos 90 deixei de ouvir radio, mesmo no carro, então não sei como é hoje mas deve ser a mesma coisa...
No entanto, e neste ponto estou de acordo com o José Miguel, é uma razão suplementar para sensibilisar os mais novos (e mesmo os mais velhos ) a saber reconhecer e apreciar a musica de qualidade. prefiro uma pessoa que ouve musica comercial sabendo que ela é mà do que uma pessoa que escuta essa musica porque não conheçe algo de outro, é a diferença entre escolher ou seguir os outros. Mesmo na mainstream existém obras muito interessantes e por vezes excelentes e isto ém todos os estilos ... pareçe-me importante que as pessoas possam separar o trigo do joio. O que digo é vàlido tanto para a musica como para a comida, vinho, literatura, banda-desenhada, cinema e etc...
A face oposta da moeda em relação ao que digo, pois hà sempre uma face oposta, é o ressurgimento de uma camada de tendências elitistas e radicais que puxa para os extremos a noção do "bom". Existe hoje uma postura em relação à maneira de cozinhar, de fazer o café ou o chà, nas escolhas musicais complétamente opostas à mainstream, pratica de ginasticas asiaticas e etc que me pareçem ser elitismo de circunstância ou diferenciado ... que não me pareçe levar as coisas para melhor, os vinhos naturais são um exemplo do que digo e penso
Concordo.
Tenho dois filhos rapazes, um com 12 e o outro com 15. Um gosta de rock desde o início dos géneros até aos dias de hoje, de algum jazz, e até de um pouco de clássica, o outro só gosto de cantoras pop/baladas contemporâneo da moda e muito poucas coisas mais antigas (é assim também com os filmes, mais de 10-15 anos e é demasiado antigo). O primeiro sabe as letras, partilha as playlists com os primos e amigos, o segundo vai mais pelas vozes e melodias. O primeiro tem um gosto naturalmente mais "desenvolvido" (se é que assim o podemos chamar), já o segundo tem-se tornado mais exigente dentro do género (e eu respeito a sua escolha) mas não sem algum esforço da minha parte para o "educar".
Será elitismo da minha parte? Eu julgo que não.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Set 14 2020, 15:34
ricardo onga-ku escreveu:
... O primeiro tem um gosto naturalmente mais "desenvolvido" (se é que assim o podemos chamar), já o segundo tem-se tornado mais exigente dentro do género (e eu respeito a sua escolha) mas não sem algum esforço da minha parte para o "educar".
Será elitismo da minha parte? Eu julgo que não.
Olà Ricardo, eu do meu lado tenho três filhos de duas mães diferentes de 33, 28 e 12 anos! Os dois primeiros foram educados à la russe fazendo piano clàssico até aos 18 anos ... o ultimo foi mais à la française esperando que ele se interesse a algo e que aprofunda as suas paixões...
O meu filho mais velho é sobretudo Rap e Mozart???... o do meio é complétamente Post-Rock e Jazz???, jà o ultimo é dificil de compreender pelo momento as conexões que o alimentam mas pelo momento seria Daft Punk, Autechre e Justice (é o meu preferido mas não digam nada )...
Nunca disse que é elitismo de educar os seus filhos, é mesmo uma obrigação! ... disse que é elitismo de criar, ou visualisar uma forma de bem ou de mal de uma maneira arbitraria, ou em fase com os codigos de uma sociedade moderna e peremptoria, e jà estou a lamentar o que escrevi...
Estas discussões acabam sempre por tocar o intimo o pessoal ... então nunca esperei, e não espero, dos meus filhos que eles correspondam a um ideal que não possuo e que sempre combati ... espero deles que sejam felizes, que seja a escutar Pink Floyd ou Bach, de preferência os dois
PS: Todos os três são os meus filhos e adoro-os ... mas recuso que algum deles seja o meu clone
ricardo onga-ku gosta desta mensagem
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Set 14 2020, 15:53
Alexandre Vieira escreveu:
... Exigencias do Mercado?
Em Florença vejo mais pessoas na Academia a tentar tirar uma Selfie com o David que a sentarem-se e tentarem entender o que cria o "Miguel Angelo" transmitir com a obra.
Vivemos o tempo do imediato, do prazer instantâneo.
Olà Alexandre, posso compreender muito bem o que dizes! No entanto, e pelas tuas palavras aqui no AAP sinto uma distorção deveras evidente. Florença é a cidade do Michelangelo e a aura da vila é impregnada pelo génio do grande-mestre ... ao ponto de ser a cidade do Sindroma de Stendhal. Ora a Arte é material por necessidade e imaterial por definição ... exactamente como a musica!...
Colecionar discos e vir falar de Florença e de Michelangelo pareçe-me duma distorção e ambiguidade inconciliavel ... mas sou eu
Podemos dizer tudo com palavras ... mas quid dos actos
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Set 14 2020, 16:17
Não havendo fórmulas perfeitas para Educar, nem a nós mesmos, creio na via que nos coloca face à experiência e reflexão. No meio do turbilhão cada criança ou adulto encontrará o seu caminho e, eventualmente, a capacidade de pensar o mundo que nos rodeia, a Arte como criação que pode ir para lá da fruição imedita, a Estética como disciplina que vai além de medida do belo.
Quanto a isso de Florença ou outro lugar qualquer (até a esplanada ou ida à casa de banho), chamo o brilhante pensamento de um senhor velhote: selfie partilhada, logo existo.
O Paulo, mauzinho, preferiu chamar o pensamento de um velhote ainda mais velhote, o que disse: dá-me mais e mais objectos para mostrar e eu elevarei a minha posição no mundo enquanto o mundo fica a girar como sempre.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Set 14 2020, 16:49
José Miguel escreveu:
Não havendo fórmulas perfeitas para Educar, nem a nós mesmos, creio na via que nos coloca face à experiência e reflexão. No meio do turbilhão cada criança ou adulto encontrará o seu caminho e, eventualmente, a capacidade de pensar o mundo que nos rodeia, a Arte como criação que pode ir para lá da fruição imedita, a Estética como disciplina que vai além de medida do belo. ...
Olà José, sém ingenuidade ném cinismo acredito sincéramente no que dizes ... além disso, afirmei sempre ser um grande optimista no homém, que seja o de hoje ou aquele de amanhã, talvez me engane! Qualquer concepto do belo obedeçe a regras, temporais ou intelectuais, mas acredito na capacidade universal da Arte de ultrapassar essas regras de circunstância. A Arte é um pouco como o destino, estamos preparados para os afrontar ou não ... se não for o caso, vamos improvisar e serà assim. Um quadro mudou a minha vida, um album também e uma escultura ajudou à transformação definitiva ... para outros serà um livro, uma poésia ou uma fotografia, um filme talvez, não importa. Não sou uma excepção ném ninguém de excepcional então o que me é acessivel é do dominio do possivel para todos os outros ... haja vontade e sensibilidade
O resto ... é mais entre eu e o Alexandre
Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Set 16 2020, 17:56
TD124 escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
... Exigencias do Mercado?
Em Florença vejo mais pessoas na Academia a tentar tirar uma Selfie com o David que a sentarem-se e tentarem entender o que cria o "Miguel Angelo" transmitir com a obra.
Vivemos o tempo do imediato, do prazer instantâneo.
Olà Alexandre, posso compreender muito bem o que dizes! No entanto, e pelas tuas palavras aqui no AAP sinto uma distorção deveras evidente. Florença é a cidade do Michelangelo e a aura da vila é impregnada pelo génio do grande-mestre ... ao ponto de ser a cidade do Sindroma de Stendhal. Ora a Arte é material por necessidade e imaterial por definição ... exactamente como a musica!...
Colecionar discos e vir falar de Florença e de Michelangelo pareçe-me duma distorção e ambiguidade inconciliavel ... mas sou eu
Podemos dizer tudo com palavras ... mas quid dos actos
Coleccionar discos é uma forma de preservar a arte, sob a perspectiva do coleccionador. Eu gosto de algumas coleções de arte e menos de outras. Nós também nos revelamos pela nossa colecção.
Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Set 16 2020, 18:00
[quote="Alexandre Vieira"]
TD124 escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
... Exigencias do Mercado?
Em Florença vejo mais pessoas na Academia a tentar tirar uma Selfie com o David que a sentarem-se e tentarem entender o que cria o "Miguel Angelo" transmitir com a obra.
Vivemos o tempo do imediato, do prazer instantâneo.
Olà Alexandre, posso compreender muito bem o que dizes! No entanto, e pelas tuas palavras aqui no AAP sinto uma distorção deveras evidente. Florença é a cidade do Michelangelo e a aura da vila é impregnada pelo génio do grande-mestre ... ao ponto de ser a cidade do Sindroma de Stendhal. Ora a Arte é material por necessidade e imaterial por definição ... exactamente como a musica!...
Colecionar discos e vir falar de Florença e de Michelangelo pareçe-me duma distorção e ambiguidade inconciliavel ... mas sou eu
Podemos dizer tudo com palavras ... mas quid dos actos
Coleccionar discos é uma forma de preservar a arte, sob a perspectiva do coleccionador. Eu gosto de algumas coleções de arte e menos de outras. Nós também nos revelamos pela nossa colecção.
Eu colecciono cerâmica (todas as peças me dizem algo e a sua caça muito), alguns quadros originais e mais se juntarão em breve.
O resto é semântica...
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Set 16 2020, 19:44
Alexandre Vieira escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
TD124 escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
... Exigencias do Mercado?
Em Florença vejo mais pessoas na Academia a tentar tirar uma Selfie com o David que a sentarem-se e tentarem entender o que cria o "Miguel Angelo" transmitir com a obra.
Vivemos o tempo do imediato, do prazer instantâneo.
... Colecionar discos e vir falar de Florença e de Michelangelo pareçe-me duma distorção e ambiguidade inconciliavel ... mas sou eu
Podemos dizer tudo com palavras ... mas quid dos actos
Coleccionar discos é uma forma de preservar a arte, sob a perspectiva do coleccionador. Eu gosto de algumas coleções de arte e menos de outras. Nós também nos revelamos pela nossa colecção.
Eu colecciono cerâmica (todas as peças me dizem algo e a sua caça muito), alguns quadros originais e mais se juntarão em breve.
O resto é semântica...
Alexandre, num forum por natureza tudo é semântica ! A minha intervenção tinha pouco a ver com a tua coleção de discos, ou do que quer que seja, mas com a frase à volta das pessoas a fazerem selfies com o David. Da mesma maneira que eu não compreendo, mas açeito, que compres discos para os guardar embalados (é como colecionar garrafas sém as beber ) ... tu podes açeitar que as pessoas que vão a Florença, ou a qualquer outro lugar, não estejam nas mesmas disposições do que tu... Hà pessoas que vão a Paris sém ir ao Louvre, hà pessoas que vão a Milão sém ir ao museu Alfa-Romeo ... e pareçe que hà mesmo pessoas que vão a Lisboa sém ir beber à Ginginha!!! È o direito delas e no meu conhecimento não hà um método para ir a qualquer parte em cumprindo regras obrigatorias, ném em Florença ném em nenhum outro lugar ... por isso falei do Sindrome de Stenhdal pois não me pareçe ser obrigatorio de desmaiar à frente da obra do Michelangelo!!!
As pessoas que fazém selfies ao lado do David estão na delas ... fica-te na tua e todos estarão bem e contentes, era apenas isso a base da minha resposta. A tua frase que està em negrito apareçeu-me como uma observação critica ... como se houvesse uma unica maneira de estar em frente do David, ora que não me pareçe ser o caso nmho
Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Set 16 2020, 19:48
TD124 escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
TD124 escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
... Exigencias do Mercado?
Em Florença vejo mais pessoas na Academia a tentar tirar uma Selfie com o David que a sentarem-se e tentarem entender o que cria o "Miguel Angelo" transmitir com a obra.
Vivemos o tempo do imediato, do prazer instantâneo.
... Colecionar discos e vir falar de Florença e de Michelangelo pareçe-me duma distorção e ambiguidade inconciliavel ... mas sou eu
Podemos dizer tudo com palavras ... mas quid dos actos
Coleccionar discos é uma forma de preservar a arte, sob a perspectiva do coleccionador. Eu gosto de algumas coleções de arte e menos de outras. Nós também nos revelamos pela nossa colecção.
Eu colecciono cerâmica (todas as peças me dizem algo e a sua caça muito), alguns quadros originais e mais se juntarão em breve.
O resto é semântica...
Alexandre, num forum por natureza tudo é semântica ! A minha intervenção tinha pouco a ver com a tua coleção de discos, ou do que quer que seja, mas com a frase à volta das pessoas a fazerem selfies com o David. Da mesma maneira que eu não compreendo, mas açeito, que compres discos para os guardar embalados (é como colecionar garrafas sém as beber ) ... tu podes açeitar que as pessoas que vão a Florença, ou a qualquer outro lugar, não estejam nas mesmas disposições do que tu... Hà pessoas que vão a Paris sém ir ao Louvre, hà pessoas que vão a Milão sém ir ao museu Alfa-Romeo ... e pareçe que hà mesmo pessoas que vão a Lisboa sém ir beber à Ginginha!!! È o direito delas e no meu conhecimento não hà um método para ir a qualquer parte em cumprindo regras obrigatorias, ném em Florença ném em nenhum outro lugar ... por isso falei do Sindrome de Stenhdal pois não me pareçe ser obrigatorio de desmaiar à frente da obra do Michelangelo!!!
As pessoas que fazém selfies ao lado do David estão na delas ... fica-te na tua e todos estarão bem e contentes, era apenas isso a base da minha resposta. A tua frase que està em negrito apareçeu-me como uma observação critica ... como se houvesse uma unica maneira de estar em frente do David, ora que não me pareçe ser o caso nmho
Mas eu nem faço reparo aos outros (no sentido ao que lhes dá ou não prazer)...apenas não tolero Jazz...
E normalmente como escreves fico-me sempre na minha. É que posso não entender, mas já compreendi que não consigo mudar o mundo. Mas continuo a tentar.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qui Set 17 2020, 08:42
Alexandre Vieira escreveu:
... E normalmente como escreves fico-me sempre na minha. É que posso não entender, mas já compreendi que não consigo mudar o mundo. Mas continuo a tentar.
Olà Alexandre, a tua intenção é louvàvel e penso que o José Miguel participa desse desejo. Não o vejo como utopico, mas temo sempre a "mudança" quando ela não é incentivada e partilhada pela maioria. Da mesma maneira que a unica (boa) maneira que conheço de transformar a àgua em vinho é através dos milhões de videiras e milhares de viticultores ... penso que se o mundo mudar para melhor serà pela interação de milhões de pessoas de boa-vontade...
No entanto, e da minha parte
PS: A França que se gaba de ser o pais dos direitos humanos e do humanismo, sò aboliu a pena de morte à quarenta anos pela decisão unilateral de um presidente que não consultou a opinião publica. Uma recente sondagem de opinião mostra que mais de metade da população francesa é "ainda" a favor da pena de morte. È assim, e de uma certa maneira é normal...
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Sáb Set 19 2020, 17:19
Desta vez vamos abordar uma obra que é um dos patinhos feios do Rock. Desde a saida esta obra é tão controversada que ném sei se ela mereçe o seu lugar neste topico, penso que sim porque aqui està mas sém certeza nenhuma. A razão do que digo é simples e mesmo se tenho uma profunda convição sobre o assunto, ném sei se este disco é uma besta que se tornou bestial ou o contràrio ... e mesmo se a verdade se esconde quase sempre algures entre os extremos, talvez esta obra seja ainda algo de outro, qualquer coisa que nos escapa complétamente e que continua a fugir a qualquer forma de compreensão, de classificação. A recepção critica alternou o fogo e o gelo e para muitos ainda hoje, a obra ném é a ultima dos Pink Floyd mas simplesmente o primeiro disco solo do Roger Waters. Criticada pelo clima sombrio e depressivo ou adulada pelo conteudo que faz dela um dos maiores manifestos anti-militaristas do rock britânico, o The Final Cut divide desde sempre as opiniões. As razões são multiplas e quase sempre do dominio da emoção e não da lucidez, mas os elementos periféricos do album interférem com este pareçer e são tão complexos quanto a propria obra...
O The Final Cut começou a ser escrito como um complemento sonoro ao filme The Wall em plena realisação pelo Alan Parker em 1981. Ràpidamente, as tensões com o realisador americano, de mesmo que o inicio da guerra das Malvinas assim que a decepção com a saida do filme em 1982, levam o Roger Waters a mudar de direção e assim nasce esta obra sub-denominada A Requiem for the Post-War Dream. As relações dificeis entre os membros do grupo desde o The Wall, aonde o pianista Richard Wright tinha abandonado o grupo, planam no ar durante a gravação da obra e acentuam o clima opressante da musica. Tudo é escrito pelo Roger Waters mas verdade seja dita, jà fazia vàrios anos que era o baixista que escrevia tudo e mesmo no The Wall é o caso fora três faixas aonde o David Guilmour é co-autor. O The Final Cut é um album-conceptual que não soa como nada de outro na discografia dos Pink Floyd e isto é um dos factores que perturbam o auditor, ora que o The Wall, em si, jà não soava como os albuns mais antigos. Como jà foi dito antes, talvez o delugio de sentimentos contraditorios suscitados pelo album sejam ligados aos factores extra-musicais que rodeiam a obra. È o fim de um grupo mitico, é uma mudança radical no som e nos textos, é a guerra das Malvinas, é o Reino Unido da Maggie, é o desemprego massivo, é a sombra tentacular do The Wall, é o sombrio espectro do Waters, é o fim de um sonho europeu de paz e prosperidade, é a ameaça crepuscular dos tempos a vir. A unica maneira nmho de abordar o The Final Cut, se tal é possivel, passa pela abstração dos elementos citados e por uma nova imersão nos parâmetros artisticos que compõem a obra...
Extremamente cinematografico pelas colagens sonoras que ponctuam cada faixa o The Final Cut é um road-movie nocturno e lancinante. Complétamente maniqueista na sua construção a obra é construida e assenta numa alternância permanente dos extremos. Lentidão e rapidez, espaço e claustrofobia, loucura e lucidez, doçura e asperidade, dor e humor, cinismo e ingenuidade. A construção musical é complexa e virtuosa pois alterna e mistura os estilos, os arranjos são sumptuosos de precisão e sensibilidade dando um sentimento de falso ritmo, de construção fragmentada ... talvez seja este verdadeiramente o primeiro disco de post-rock. Os textos brilhantes e labirinticos perfeitamente encarnados pela presença e pelo canto alucinado do Roger Waters são, e de longe, a escrita mais fina de todos os albuns do grupo. Algo de desesperado e de desesperante percorre esta obra que se acaba sém esperança ném luz acentuando um sentimento de alienação consciente. Sim, hà algo de doentio neste requiem que recusa o optimismo e que se afunda nas suas proprias obcessões morbidas ... mas, também existe algo de profundamente catàrtico no humanismo subjacente e na maneira dramatica e corajosa de assumir essas convições. Indiscutàvelmente o The Final Cut é uma imensa obra de autor e que o mérito pertença ao Waters ou aos Floyd é puramente segundario, sém interesse. Se o The Wall jà era uma obra profunda pois abordava os temas do sucesso, da solidão, da alienação ... o The Final Cut encontra a sua profundura em abordando algo de mais existêncialista e universal. Isto é uma obra sobre a ruptura, a decepção, a traição, a impotência na mudança, o fim dos ideais. È finalmente no fim da obra que a implacàvel ambiguidade dos sentimentos revelados nos leva a considerar o contexto no qual este disco foi criado. O The Final Cut é finalmente ambiguo pelo contexto e pelo conteudo ... simplesmente porque a sua implacàvel mensagem é por demasiado dolorosa. Nesta velha e belicosa europa aonde os conflitos armados foram um elemento constituinte de cada uma das nações nada mudou e nada mudarà nunca, a guerra é o nosso passado, presente e futuro...
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Sáb Set 19 2020, 19:30
Inicialmente eu apenas observei este tópico, de forma atenta, mas com distância. Aprecio a forma como o Paulo trata as obras e como tenta revelar a sua forma de ver as coisas - uma mistura entre o pessoal e o geral.
Confesso que olho mais para isso do "bestas a bestiais" como um caminho pessoal, a parte da aceitação geral é algo que me faz ficar mais distante - neste aspecto acalmei muito.
Não sou grande fã dos Pink Floyd, conheço superficialmente a obra e apenas temos dois álbuns deles na estante, continuam por razões diferentes. Vou espreitar esse e depois logo vejo se o sapo se transforma, porque na escrita desses últimos álbuns da banda já há muito do Waters - isto em si não é mau, o homem escreve bem, mas nem sempre me toca.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Sáb Set 19 2020, 20:19
José Miguel escreveu:
... a parte da aceitação geral é algo que me faz ficar mais distante - neste aspecto acalmei muito.
Não sou grande fã dos Pink Floyd, conheço superficialmente a obra e apenas temos dois álbuns deles na estante, continuam por razões diferentes. ...
Também não sou um fã dos Floyd, ném um detrator sequer, possuo dois albuns deles que é este e o Meddle mas conheço relativamente bem a obra, não a possuo por convição e escolha. Nunca fui colecionador de discos, ném de nada, mas se fosse colecionador de musica seria um pouco como o Calouste Gulbenkian, escolheria peça por peça a minha coleção e não por estilos, épocas, artistas ou tendências. GeralmenteNo divido os meus discos em três grupos: os que me tocam, os que me surpreendem e os que me calibram ... penso que este està a cavalo entre estes três elementos
A aceitação geral é um elemento como outros e não tenho nada contra ném a favor. Não vou contra a aceitação geral pelo simples intuito de afirmar a minha alteridade ném vou seguir algo com o qual não estou de acordo pois a maioria açeita, então é como jà disse atràs ... é peça por peça como faço com o vinho.
Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Dom Set 20 2020, 13:58
Muitos parabéns pelo texto. Ouvi muito este disco na minha adolescência, um bocado por adesão.Porque toda gente me dizia que era maravilhoso. Mas, de facto, nunca o assimilei e hoje muito menos, não entra no meu crivo do meu gosto e acho que é daqueles discos e obras que não acrescentou nada de mais. Apesar de tudo é um disco com uma produção enorme no sentido em de nos fazer sentir como dizes a marcas da guerra, uma espécie de catarse final. Estou como o José Miguel, ou não, gosto da Pink Floyd, no seu período inicial até Pompeia. Mas não deixo de considerar uma das bandas mais marcantes de sempre e com um lugar de destaque na história da música.
Este álbum é daqueles que para mim continuará a ser uma Besta.
Talvez daqui a 10 anos, com uma outro visão minha do que é música e com outras experiências e memórias o consiga assimilar de outra maneira. Dúvido, mas nunca digo nunca.
Muitos parabéns pelo texto e exercício isso é que é mais importante!
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Dom Set 20 2020, 14:39
Alexandre Vieira escreveu:
... Ouvi muito este disco na minha adolescência, um bocado por adesão.Porque toda gente me dizia que era maravilhoso. Mas, de facto, nunca o assimilei e hoje muito menos, não entra no meu crivo do meu gosto e acho que é daqueles discos e obras que não acrescentou nada de mais. ...
Não me enganei e estou contente por isso ... este album é realmente clivante. Seria triste nmho se trouxéssemos para este topico sòmente os albuns que fazém unanimidade. Este é um daqueles que provoca amor ou odio o que em si jà é raro. Admito que sempre gostei dele e visto que sou extremamente sensivel à erosão e deixo de gostar muito rapidamente ... ele tém uma proteção contra a oxidação que me surpreende. Continuo a gostar muito dele
Alexandre Vieira Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Dom Set 20 2020, 14:50
TD124 escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
... Ouvi muito este disco na minha adolescência, um bocado por adesão.Porque toda gente me dizia que era maravilhoso. Mas, de facto, nunca o assimilei e hoje muito menos, não entra no meu crivo do meu gosto e acho que é daqueles discos e obras que não acrescentou nada de mais. ...
Não me enganei e estou contente por isso ... este album é realmente clivante. Seria triste nmho se trouxéssemos para este topico sòmente os albuns que fazém unanimidade. Este é um daqueles que provoca amor ou odio o que em si jà é raro. Admito que sempre gostei dele e visto que sou extremamente sensivel à erosão e deixo de gostar muito rapidamente ... ele tém uma proteção contra a oxidação que me surpreende. Continuo a gostar muito dele
Como é obvio meu amigo, e como disse e escrevi, talvez um dia destes oiça sem qualquer compromisso e a minha opinião mude. Não seria a primeira vez, quando ouvi a Sinfonia nº 2 de Gustav Mahler pela primeira vez, achei-a confusão e agressiva, hoje acho-a extraordinária, o tempo e a nossa vivência fazem-nos mudar de gosto e de opinião.
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Dom Set 20 2020, 14:58
Alexandre Vieira escreveu:
... o tempo e a nossa vivência fazem-nos mudar de gosto e de opinião.
E ainda bem, como dizém os franceses: Sò os estupidos é que nunca mudam de opinião
"Il n'y a que les imbéciles qui ne changent jamais d'avis"na versão original...
Alexandre Vieira Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Ter Nov 24 2020, 20:31
Timber Timbre Sincerely, Future Pollution...
O quarteto Timber Timbre, é uma banda que sempre foi notoriamente difícil de definir, muitas vezes categorizada como 'algo entre o blues e o folk', outras vezes puramente Indie, mas sempre foi surpreendentemente original e, talvez mais importante, quase sempre cinematográfica. Mas a sua popularidade nunca foi grande, algum reconhecimento no Canadá mais esclarecido e em França nos meios mais alternativos, mas se perguntar a todos vós se conhecem a banda talvez um outro a conheça, mas duvido que seja uma banda seguida pela maioria.
Mas eles são lutadores, destemidos e convictos, e o seu sexto álbum Sincerely, Future Pollution, uma obra notável, devia ser a resposta à pergunta -Porque é que eles não são reconhecidos pelo público em geral?
Sincerely, Future Pollution ... é um disco estranho porque parece uma relíquia de uma era anterior, deliciosamente longínqua, mas que faz parte do nosso imaginário orgânico, usando sintetizadores e baterias eletrônicas dos anos 80, algumas vezes o som industrial que faz relembrar Nine Inch Nails e estruturas e referências aos anos 60 com um som quase a fazer lembrar o Pop francês mais comercial, mas também à guitarra de Mick Ronson quando acompanhava David Bowie, algumas vezes emana a matéria negra de Nick Cave mas sua mensagem é muito muito pertinente, fazendo-nos lembrar a velocidade dos dias que correm sem parar e que nos lembram em alta velocidade também, que menos nos restam; outras vezes apela a revolta como fazia o Punk nos bons velhos tempos. Nos momentos instrumentais do álbum, tem-se uma visão musical de Blade Runner , de Ridley Scott , fazendo-nos relembrar o pesadelo distópico e metropolitano, aliás como sugere a capa do álbum. No todo é uma incrível experiência emotiva, pois este álbum sem dar-mos por isso, tem um enorme poder, o poder de nos guiar emocionalmente para “onde ele quer” sem dar-mos por isso, é sem dúvida um das obras mais dominadoras que conheci, fazendo-me lembrar o Unknown Pleasures, que manieta, arrasa e recupera, o pobre submisso que se atreve a desafia-lo.
Este disco até teve críticas bastante afáveis pelos críticos da especialidade, mas nunca obteve do público em geral o reconhecimento que merece. Este disco é uma das obras mais notáveis da...(continuo a não conseguir qualifica-lo) deste sec. XXI.
Ele no entanto passou ao lado de quase todos, e é o próprio álbum que responde à pergunta que anteriormente formulei: “ O esgoto transbordou, enquanto todo mundo estava no Instagram” (sim referem-se a Donald Trump).
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Nov 25 2020, 13:42
Alexandre Vieira escreveu:
... Timber Timbre_Sincerely, Future Pollution...
O quarteto Timber Timbre, é uma banda que sempre foi notoriamente difícil de definir, muitas vezes categorizada como 'algo entre o blues e o folk', outras vezes puramente Indie, mas sempre foi surpreendentemente original e, talvez mais importante, quase sempre cinematográfica. ... Mas eles são lutadores, destemidos e convictos, e o seu sexto álbum Sincerely, Future Pollution, uma obra notável, devia ser a resposta à pergunta -Porque é que eles não são reconhecidos pelo público em geral? ...
Eu sò conhecia os dois primeiros albums deles então antes de responder fui escutar este afim de poder falar. È um album bem diferente estilisticamente, mesmo na atmosfera, dos dois que conheço e gostei muito, é uma muito bela obra nocturna, como a capa subentende. As alusões synth-pop dos anos 80 é menos do meu agrado ... mas é bem feito e finalmente integra-se bem na obra, dà-lhe um estilo um pouco neovintage, belo trabalho!...
No entanto não compreendo a sua presença no topico, e sei que eu mesmo trouxe para aqui obras cuja presença parecia estranha, mas esta ultrapassa-me! O topico intitula-se De Bestas a Bestiais ... ora esta obra não é ném um ném o outro nmho! Do que li, a critica reconhece-o como um bom album e os amadores do grupo também o receberam globalmente bem, então nunca foi Besta ... do outro lado e mesmo se é um belo disco, não é Bestial, não me pareçe ser um disco de referência! Penso que deverias ter escrito isto no A Rodar pois estàs complétamente na subjectividade desta vez
Quanto à tua pergunta ... ela não tém resposta ou uma multitude de respostas! Estàs admirado que um grupo que tém dez anos não seja conhecido ora que existém grupos que apòs vinte anos de carreira continuam desconhecidos como os I'am Kloot ou Coil ... sém falar de outros que sempre foram desconhecidos como o Bill Callahan ou o Steven R Smith! Pois é, todos não podem ser conhecidos ném "estrelas" pois jà hà muitas
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Alexandre Vieira Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Nov 25 2020, 13:51
Bem analisado, e este de facto, como referi, nem sequer foi mal recebido pela critica, mas um discos destes permanecer "secreto" é uma autêntica heresia, pois é mesmo BESTIAL, e muito!
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Dom Nov 29 2020, 15:39
O album Exile on Main Street dos Rolling Stones é reconhecido hoje como uma das maiores obras do rock, mas tal não foi sempre o caso! Quando o album saiu em 1972 a critica foi pràticamente unânime e negativa na sua apreciação: Os Stones fazém sempre a mesma coisa ... Nada de novo no horizonte com este album ... Faixas inconsistentes ... Album que exalta a negritude ... Um concentrado de alcool, drogas e sexo! Talvez esta ultima critica seja a que melhor corresponde ao album como veremos, o resto é apenas o resultado da surpresa, a impossibilidade de compreender a força desta obra desde a nascença, algo de compreensivel neste caso. No entanto o acolho do publico foi deveras bom, mas de novo tal é uma ilusão de interpretação ... o Exile on Main Street decebeu os aficionados historicos e seduziu aqueles que vão aclamar cinco anos mais tarde o Never Mind the Bollock's dos Sex Pistols, tudo é complexo e escorregadio à volta desta obra. Uma coisa é certa, existe um antes e um depois do Exile ... para o grupo como é evidente, mas para o rock também, infelismente. Apòs este album os Rolling Stones vão vestir o fato de genro ideal e tentar apagar a imagem de grupo sulfuroso, imprevisivel, selvagem e lubrico ... nunca mais uma obra do grupo terà o cheiro do sumo de limão dissolvendo a heroina, os subentendidos libertinos e a impertinência formal. È o fim duma forma de liberdade criativa e as editoras mainstream vão começar a interferir e a censurar o trabalho dos grupos ... é o começo de uma ditadura musical, não total ou absoluta, mas global pelo menos!...
Tudo começa na primavera de 1971 quando os Rolling Stones estão em plena tempestade. Eles estão a se separar do produtor Allen Klein ao qual devem muito dinheiro e que lhes reclama em compensação os direitos sobre os albums existentes. Estão quase tesos pois as finanças britânicas exigem impostos enormes sobre os beneficios do grupo e ao mesmo tempo eles abandonaram a veneràvel Decca para criar a sua propria editora. Um especialista finançeiro vai-lhes aconselhar de partir do Reino Unido durante algum tempo afim de regularisar a situação fiscal do grupo. De comum acordo eles vão se instalar com as namoradas e amigos em casas diferentes no sul da frança. Algumas faixas do album jà estavam escritas, e umas quantas gravadas, mas tinham sido escondidas para escapar ao acordo juridico com o Allen Klein. Os Rolling Stones decidem de começar a trabalhar num novo album e escolhem um palacete (Nellcôte) alugado pelo Keith Richards perto de Nice. A casa tém vàrios quartos e pode acolher todos e sobretudo possui um grande subsolo que eles vão transformar em estudio com a ajuda de um camião de gravação. As sessões de trabalho vão ser épicas pois interrompidas pela dependência crescente do Richards pela heroina, pelas disputas entre os membros, pelos amigos de uns e outros que parasitam as sessões de trabalho assim que pelas orgias permanentes, que acabam por levar a mulher do Jagger a partir e se instalar numa outra casa. Apesar das condições caoticas de gravação o trabalho avança tão bem e com tão bom material que o disco torna-se num duplo-album, o primeiro e unico do grupo em estudio. Constantemente pedrados e embriagados afim de esqueçer as desavenças e a atmosfera nociva que os rodeia os Stones criam as condições necessarias para que cada um se concentre no seu trabalho e nada mais. Neste album não vai haver càlculos comerciais ném tendência a fazer uma ou duas faixas que possam ser um sucesso de radio imediato ... sòmente rock & roll seminal e rythm & blues inspirado. Durante a mixagem em Los Angeles o grupo vai mesmo conservar o som rafeiro das gravações originais afim que subsista a recordação do que se passou. O resto é a historia que vai gravar no marmore...
Se o termo Sex, drugs and rock'n'roll é a cristalisação da essência duma certa ideia do rock, então o Exile on Main Street é o expoente maximo dessa idealisação. Nenhuma outra obra transpira de maneira tão evidente os excessos da juventude, todos os excessos! Cada faixa é um concentrado de rock&roll que deriva sempre para um rythm&blues carregado de energia catàrtica. O Exile é um album extàtico aonde a força primitiva da musica é espaldada por uma execução de uma perfeição formal total. Os musicos estão no auge das suas capacidades e a execução em publico é practicamente impossivel pela complexidade harmonica exigida. È impossivel de encontrar uma faixa que possa ser um single ou uma canção que seja automaticamente adoptada à primeira escuta, mas também é impossivel de encontrar algo que não seja de uma qualidade superlativa. A coerência da obra é tal que poucos anos depois da saida um a um os jornalistas corrigém a primeira critica e o album passa de tedioso a monumental. Se o estatuto de obra fundamental do rock é hoje unânime os dois principais protagonistas continuam em desacordo. O Mick Jagger sempre disse que não era o seu album favorito, longe de là ... ora que o Keith Richards sempre disse que era a melhor coisa que o grupo jamais fez. Esta ultima desavença é a prova da excepção artistica que este album representa na historia do grupo, um mito impossivel a carregar às costas, um ponto culminante que nunca mais serà atingido. O Exile on Main Street continua o seu caminho indiferente ao ponto de vista dos seus criadores e mesmo da critica, pois ele é a expressão musical da irreverência artistica e da liberdade absoluta do rock'n'roll, e ao mesmo uma obra que exalta as duvidas da juventude, os sonhos perdidos. Uma obra inesgotàvel que ultrapassa os estilos...
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Alexandre Vieira Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Nov 30 2020, 08:16
Excelente análise!
De facto diz-se que fizeram uma "Open House" e toda a gente ia para lá, entravam saíam e que muitas vezes só de madrugada conseguiam gravar. E que a localização da Mansão foi escolhida porque estaria perto do fornecimento de drogas.
É um disco obrigatório em qualquer discografia!
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Nov 30 2020, 16:57
Alexandre Vieira escreveu:
... De facto diz-se que fizeram uma "Open House" e toda a gente ia para lá, entravam saíam e que muitas vezes só de madrugada conseguiam gravar. E que a localização da Mansão foi escolhida porque estaria perto do fornecimento de drogas.
É um disco obrigatório em qualquer discografia! ...
Obrigado Alexandre, sincéramente!!! ... mas a azia começa a me descer no estomago, é mau sinal! Este topico tém quase 7000 visitas e ninguém participa, ora que a musica é a principal coisa que nos reune ... aliàs, como sou cinico ao contrario de tu (e é sincéro o que afirmo), diria que a Musica é a unica coisa que nos reune!!!...
Tinha preparado um novo album a apresentar, de novo na logica de levar a descobrir "quadros" perdidos nos meandros da nossa discoteca imaginaria! Pois finalmente este topico não é nada mais do que lembrar o esquecido, o olvidado, o perdido ... mas coisas grandes!!!
Não hà nada de mais de "inteiro" do que dar um novo lustro a uma obra baça, incompreendida! Um disco é sempre a historia de alguém, amado ou detestado, essa memoria quando é vàlida, actual e pertinente, deve ser lembrada, homenageada ... por isso tanto escrevi neste topico até hoje!!!
Sou designer de aparelhos de audio, sempre foi a minha profissão, mas creio ter sempre mostrado aqui o meu apreço pela Musica ... a expressão é mesmo fraca! Se não falamos de Musica, não temos nada absolutamente a nos dizer num forum de audio ... pois por ela e para ela a nossa paixão existe! Vou meter a minha ultima obra aqui brevemente, pois està escrita e foi feita para aqui estar ... a partir daqui as minhas participações serão espaçadas, economicas, inexistentes!...
Escrevi muito sobre os discos que escuto no quotidiano, escrevi muito sobre as obras que aprecio, escrevi muito sobre aparelhos, escrevi muito sobre ideias, convições e ideais audiofilos, escrevi muitos conselhos pessoais e finalmente alimentei muitos debates ... sempre lidos (obrigado!), raramente comentados (não agradeço!), é tempo de deixar o espaço ao silêncio dos outros, eles saberão muito bem o que fazer, basta continuar como até hoje
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Nov 30 2020, 17:02
Tu achas que fica a palavra que o diz e o resto quase nada?
A obra (neste caso a análise das obras dos outros, mas que não deixa de ser obra) é o que fica cristalizado para a posteridade e bem por ti!
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Ter Dez 01 2020, 09:04
Este album jà foi citado aqui neste topico e com o desafio que alguém o apresente o que não foi feito ... de novo agarro na caneta para apresentar este album culto. vou começar com algumas perguntas pois existém obras cujo destino cria perplexidade e esta é uma delas. O que é que caracteriza uma obra prima? Porque razão alguns albums são aclamados desde a nascença e outros mergulham no esquecimento durante décadas? Os artistas malditos existém verdadeiramente ou é a critica que os cria?... Estas três perguntas são demasiado complexas para que sejam devidamente tratadas neste modesto artigo, portanto cara a cara com este album elas são pertinentes e mesmo necessarias, são obrigatorias. Este album contemporâneo das obras seminais dos Pink Floyd, dos Moody Blues e que se situa entre o Sgt Peppers e o White Album dos Beatles teve o mesmo destino do que o Forever Changes dos Love, pior mesmo. Como explicar que uma obra tão complexa harmonicamente, tão pertinente e fresca actualmente, não tenha tido o sucesso que merecia e que ainda hoje seja murmurada às escondidas entre conheçedores? Diz-se que as sequoias matam as outras arvores pelo tamanho e a sombra que fazém ... talvez seja esse mesmo fenomeno a explicação para o infortunio dos Zombies e deste Odessey and Oracle.
Este album é o primeiro e o ultimo de um grupo que passou praticamente despercebido nos anos 60. Houve um album anterior mas era apenas uma coleção de singles pois eles tiveram um pequeno sucesso antes deste album. Os Zombies tinham começado a trabalhar no material para este disco dois anos atràs e tinham esperança que o album lançaria a carreira do grupo. A gravação começa nos estudios da Abbey Road em 1967 e rapidamente a coesão do grupo é abalada por desacordos musicais. Os Beatles tinham deixado no estudio o melotron do Sgt Peppers e os Zombies vão usar e abusar do instrumento, iconico da época é verdade! O album começa a ter uma tendência demasiado formalista e a se afastar da ideia inicial, os desacordos tornam-se desavenças e eles acabam por tomar uma grande resolução. De comum acordo o grupo decide de se separar apòs a saida do album, mas em contrapartida vão gravar o album como estava previsto e o melotron serà utilisado de maneira a que todos estejam de acordo. Esta solução radical teve o mérito de acabar com a discordia e de criar um clima de trabalho colectivo e apaziguado. Os Zombies são grandes musicos e possuém na equipa dois elementos extraordinarios. Trata-se do Colin Blunstone (jà citado neste topico pelo seu album solo) que é vocalista e guitarrista e que é a voz mais elegante e sedosa da época assim que o Rod Argent que està nos teclados mas que também é um fino compositor ... este ultimo serà o feitiçeiro das harmonias nesta obra. O album vai sair em abril de 1968 num anonimato total e o single escolhido Care Of Cell 44 foi complétamente ignorado. Um ano e meio mais tarde um produtor americano aficionado do album lança nos EUA o single Time of the season com êxito ... como o grupo jà estava desfeito foram criados falsos Zombies para fingir de tocar o single pois nunca houve nenhum concerto do Odessey and Oracle. O que começa mal acaba da mesma maneira e este album não é excepção. O album destruiu o grupo, não teve sucesso nenhum e ainda por cima foi editado com o nome errado! Durante a impressão da capa houve um erro e a palavra Odyssey tornou-se Odessey e ficou assim...
A primeira coisa que sempre me marcou neste album é a analogia da capa com o Greenwich Village do Albert Ayler ... não é exactamente idêntico, estou consciente, mas as cores e a estética pareçem-me anàlogas, vejo como patente a filiação, é a mesma época é verdade! Sei que não sou objectivo no que digo, mas a aproximação entre as duas obras pareçe-me deliciosa, mesmo se é improvàvel a ligação. Ao mesmo tempo as pequenas alusões ao jazz são evidentes de vez em quando aqui, mas cada coisa no seu tempo. Bom, vamos atacar o principal e a realidade é que o Odessey and Oracle é um dos albums fundamentais dos anos 60 ... no rock psicadelico como é evidente mas não sò, no proto-artrock, no proto progrock, e sobretudo no rock-barroco no qual ele é um modelo de par com o One Year do Colin Blunstone, mas neste ultimo ponto isto jà é uma historia de familia! Se eu vos dizer que artistas como o Mikael Åkerfeldt, Paul Weller, Peter Hammill ou Robert Wyatt veneram este album, mesmo o Peter Gabriel, isto começa a ser estranho. O Odessey and Oracle não necessita de vozes célebres, ou de advogados, para ser bom pois ele é magnifico, mas essas vozes ajudam-o a sair do lodo, da penumbra. Eis uma obra que soa fresca como os Beach Boys, complexa como os Beatles, estranha como os Kinks e sedutora como os Moody Blues ... mas sém soar como nenhum deles no final. Se as influências citadas são evidentes, tal não é a parte mais impressionante mas o resultado final. Escutado hoje o Odessey and Oracle apareçe a um auditor atentivo como uma obra yé-yé, psicadelica, arty, prog e etc, mas sobretudo os arranjos estão regularmente a roçar o jazzy, por vezes o funky ou o bluesy! Pois é, isto é uma catedral de musica e perdoem-me os aficionados mas, os Beatles, Kinks, e mesmo Beach Boys são ameaçados pela qualidade dos arranjos e harmonias presentes nesta obra. Tudo é fantàstico, visionàrio e elegante neste barroco desvaneio psicadelico que soa tão fresco como se tivesse sido feito ontém. Sempre me questionei porque razão nunca gostei dos Beatles e hoje sei ... é porque conheci este album antes! Sei que não sou complétamente objectivo, seria impossivel ... também não sou complétamente subjectivo pois tudo o que escrevo é reconhecido hoje ... fica a duvida, então corram escutar esta maravilha do rock, cada um me dirà o que pensa e ao menos o Odessey and Oracle terà enfim a estima que mereçe! Tal pareçe-me ser justiça e meio século depois é tempo!...
Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Ter Dez 01 2020, 09:20
TD124 escreveu:
Pois é, isto é uma catedral de musica e perdoem-me os aficionados mas, os Beatles, Kinks, e mesmo Beach Boys são ameaçados pela qualidade dos arranjos e harmonias presentes nesta obra. Tudo é fantàstico, visionàrio e elegante neste barroco desvaneio psicadelico que soa tão fresco como se tivesse sido feito ontém.
A catedral (catedralecclesia cathedralis), isto é, igreja onde tinha assento, representa a na hierarquia católica a Igreja dos Notáveis. Tal como o teu artigo. Li de fio a pavio e adorei. Tem a capacidade de nos querer fazer ouvir o álbum e confirmar as tuas palavras.
Muito bom!
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Ter Dez 01 2020, 13:18
TD124 escreveu:
(...) então corram escutar esta maravilha do rock, cada um me dirà o que pensa e ao menos o Odessey and Oracle terà enfim a estima que mereçe! Tal pareçe-me ser justiça e meio século depois é tempo!... [/justify]
Há álbuns que são colocados aqui e que me surpreendem, este é um deles.
Eu gosto muito de Rock Psicadélico, conheço bem o álbum e por acaso sabia que o Mikael Åkerfeldt gostava dele... ele é um grande coleccionador, adora o final dos 60's e o Progressivo dos 70's.
O que eu não entendo é como um álbum que foi um sucesso, que teve um grande single como primeiro a sair, se encaixa em "besta"?
Deixo um vídeo interessante com a banda, lembrei-me dele por realmente ter essa dúvida que coloquei.
Numa coisa estamos de acordo, haverá sempre álbuns a ficar na sombra de outros e quem não conhece pode bem procurar escutar, este álbum merece.
Em vez de "besta", para este talvez colocasse "pouco divulgado". Em outros tempos, Odessey and Oracle era partilhado no A Rodar... hoje pouco Progressivo e Psicadélico passam por lá.
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Ter Dez 01 2020, 14:18
TD124 escreveu:
(...) Escrevi muito sobre os discos que escuto no quotidiano, escrevi muito sobre as obras que aprecio, escrevi muito sobre aparelhos, escrevi muito sobre ideias, convições e ideais audiofilos, escrevi muitos conselhos pessoais e finalmente alimentei muitos debates ... sempre lidos (obrigado!), raramente comentados (não agradeço!), é tempo de deixar o espaço ao silêncio dos outros, eles saberão muito bem o que fazer, basta continuar como até hoje
Confesso que este tópico me passou ao lado, digo-o por me custar entrar na rota de pensamento que ele pede... mas compreendo a bela frase "Não hà nada de mais de "inteiro" do que dar um novo lustro a uma obra baça, incompreendida!" e por acção das muitas partilhas conheci muitos álbuns e redescobri outros. Não segui este tópico, como não sigo outros, mas ao ver um número como 7000 visitas, fico a pensar mais preocupado nas palavras do Paulo que cito e que só agora li - já depois de ter feito a minha anterior intervenção.
Partilho com o Paulo a ideia que no princípio está a Música, mas não deixo de o acompanhar (concordando ou não) em muitos debates que julgo importantes para alimentar o nosso conhecimento e o conhecimento de todos que acabam por ler. Como se pode ter Música sem compreender muito do que a rodeia e até o que possibilita a sua reprodução?
Uma das definições de loucura diz algo como isto: não se pode esperar resultados diferentes de acções semelhantes. Continuar é um verbo de acção, mas não nos diz como a acção é ou pode ser. Continuar pode encerrar a mesmidade e por isso resultados semelhantes, ou pode encerrar mudança e abrir novas possibilidades. Continuar como até aqui pode significar continuar a defender e partilhar ideias ou outra coisa qualquer.
Espero, com toda a honestidade, poder continuar a acompanhar o Paulo em muitas conversas e/ou debates, receber de si o que tem para dar e poder colocar-me perante a partilha com a abertura necessária para receber - receber pressupõe dar... dar atenção, cuidado, tempo, dedicação e, muitas vezes, resposta na forma que se julga necessária.
Ontem senti a necessidade de escrever sobre algumas coisas que me passavam pela cabeça, acabei com dois exercícios de escrita. Um deles vou tentar ignorar, visava a partilha no fórum, mas eu próprio questiono a minha forma de participação e para não voltar a partilhar como antes (continuar de forma semelhante trará resultados semelhantes...), deixarei as folhas na gaveta. O outro exercício de escrita saiu na forma de história infantil, uma metáfora sobre o Homem e a sua condição de Ser social, sobre como as nossas acções tocam todos e a nós voltam... colhe-se o que semeia.
Não sei se poderá fazer o Paulo repensar algumas das palavras em cima, mas ainda assim partilho.
Brilhante… Não se sentia perdido no mar, das poucas vezes que lhe matutavam umas dúvidas no alto da cabeça, ele sabia para onde olhar ou o que fazer. Durante a noite era muito fácil, as estrelas são o mais fiel dos mapas, elas mudam de lugar ao contrário dos desenhos dos continentes, países, cidades com portos, mas as mudanças ocorrem sempre da mesma forma independentemente se passa um ano, dois ou três a viajar. De dia o sol dava uma ajuda, até permitia ver as horas quando isso era necessário. Raramente era, viajava sozinho, tinha-se fartado de ouvir vozes alheias e quando atracava era rápido a entrar e sair dos mercados que lhe permitiam o abastecimento. Ostentava como máxima pessoal “cada um faz o que quer” e sozinho isso era tão mais possível que por vezes se esquecia das palavras de negação ou privação. No seu barco imaginava um mundo onde bastaria metade do vocabulário, afinal o que começasse por prefixos que contrariassem a sua máxima não era necessário. Por vezes soltava a gritar "faço o que quero!" - Sentia-se livre.
As refeições fazia-as quando a fome apertava, olhava para a mercearia muito arrumada na prateleira por cima do fogão e deixava que o apetite orientasse a sua mão. Quase tudo estava sob a forma de conserva ou já com algum tipo de preparação. Não escolhia aquele tipo de comida apenas pelo sabor que tinha ou praticidade, gostava de ver as latas, frascos, pacotes. Havia em todos um especial colorido brilhante. Depois de usadas, as embalagens iam borda fora, retinha-se a observá-las até desaparecerem por entre os altos e baixos que se formam no mar ou até que afundassem para lá dos limites da visão. Não sentia culpa pelo gesto, julgava-o singular, sabia que mais ninguém levava a vida como ele. Chegou mais uma vez a necessidade de ir a terra abastecer-se, a prateleira estava a ficar vazia, sem cor e sem brilho. Olhou para o sol e verificou que não tardaria a anoitecer, aproveitou a chegada das estrelas para se orientar de forma mais precisa, abriu as velas até meio e seguiu com a brisa que se fazia sentir. Fez as contas por alto, a uns quantos nós por hora, haveria de chegar a terra de manhã cedinho, aproveitaria a primeira hora possível para entrar no mercado e sair sem ouvir muitas vozes, sem ter que se dirigir a outras tantas pessoas.
Com o nascer do sol viu algo brilhante no horizonte, tentou observar desde o ponto mais alto do veleiro, percebeu que seria terra. Abriu totalmente as velas que estavam a meio e a estas somou a balão. Sentiu de imediato a velocidade subir, assim como a adrenalina. Sorriu ao vento. Era uma praia, mas deveria ter uma povoação perto, seguiu mais um pouco, abrandou o veleiro com o recolher das velas, lançou a âncora e saltou para o bote. A praia era brilhante ao ponto de inebriar a visão, o sol batia-lhe e estava a observar algo como nunca tinha visto, remava feliz. Há sempre uma primeira vez para tudo, pensou, mesmo depois de anos no mar com paragens ocasionais e fortuitas. Saltou para o areal a esfregar os olhos, sentiu algo estranho. Olhou em seu redor, mirou rapidamente o seu veleiro, pensou que estava perante a prateleira da sua cozinha. Agora que o brilho tinha dado lugar a uma imagem nítida, percebia que a praia estava repleta de lixo. Eram latas, vidros, plásticos, restos de redes e boias. Procurou a saída daquele lugar e seguiu por ela até à povoação que ficava a umas poucas centenas de metros. Lá chegado percebeu que ainda estava tudo fechado, aproveitou para percorrer as ruas à procura do mercado local. Sentou-se no banco comprido que estava nos limites do jardim em frente ao Mercado e Café Central, reparou que as ruas estavam impecavelmente asseadas, o jardim cuidado. A imagem da povoação em nada se assemelhava à da praia, sentia nisso estranheza.
O relógio da igreja fez-se ouvir pelo bater dos sinos, logo depois ouviu o ranger das portas do mercado e do café. Levantou-se com o fito de fazer as suas compras e, desta vez, procurar ouvir umas quantas palavras da boca de alguém capaz de explicar o que se passava com a praia. Entrou, percorreu as fileiras de prateleiras, encheu um cesto com o que precisava. Junto da caixa registadora encontrou alguém que deveria ter o dobro da sua idade, recebeu cumprimentos e um sorriso, uma pergunta também: Não é destas paragens? Aproveitou a pergunta para lançar as suas dúvidas, recebeu logo um aviso: não é uma conversa simples e rápida.
A conversa prolongou-se, foi sendo interrompida pelas pessoas que entravam e saiam com as suas compras, pelas palavras desbragadas que lançavam quando percebiam do que se estava a falar. Aquela praia já tinha sido bem diferente, o areal dourado e a água ora azul turquesa ora verde translúcido, conforme o bater do sol e profundidade. Do mar tinham chegado aqueles ricos presentes, transportados de uma outra praia ou do alto onde navegam as grandes embarcações. Incrédulo com o que acabara de ouvir, mas percebendo tratar-se da verdade partilhada por vários habitantes da povoação, recuperou o fôlego e pediu para trocar algumas das suas compras. Voltou às fileiras de prateleiras, pousou as latas, frascos, embalagens de plástico. Encheu o seu cesto de coloridos legumes e frutas frescas, agradeceu e saiu com a promessa de voltar em breve.
Já no seu veleiro e com o sol a pique, procurou um lugar resguardado das marés para lançar âncora e reter-se por mais tempo. Dirigiu-se para mais perto da praia, para onde parecia formar-se uma pequena baía. Lançou âncora. Pegou nos sacos que lhe tinham permitido transportar as compras e em mais alguns que tinha numa gaveta na cozinha, foi a nado para a praia. Lá chegado encheu os sacos o mais que conseguiu com os vários tipos de lixo separados, dirigiu-se novamente à povoação e mercado. Perguntou onde estavam os contentores para poder deixar o que tinha com ele e seguiu. Na povoação algumas pessoas foram-se juntando a esta laboriosa tarefa após o trabalho ou aos fins-de-semana, gerou-se uma onda. Os meses de Verão passaram e ainda havia muito para limpar, enquanto tomava um café com os que mais o acompanhavam, pensou que passo deveria dar a seguir e lançou a pergunta: há alguma casa que possa alugar para ficar por aqui e ajudar mais algum tempo? Encontrou um lar e uma nova máxima para ostentar: quero para mim o que todos podem querer.
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Ter Dez 01 2020, 14:21
José Miguel escreveu:
... O que eu não entendo é como um álbum que foi um sucesso, que teve um grande single como primeiro a sair, se encaixa em "besta"?...
Olà José, quando escrevo algo aqui sobre um album, e mesmo se conheço bem o seu conteudo, vou ler tudo o que me passa pelas mãos sobre ele, como foi feito, aonde, quando, a recepção critica, o sucesso comercial e etc! Ora no que diz respeito ao Odessey and Oracle, não li em parte nenhuma que tenha sido um sucesso, bem ao contràrio pois foi um fiasco total no seu pais de origem! Um ano e meio depois houve um single do album que foi um exito nos EUA (3° lugar) mas o album não se vendeu de novo, um novo fiasco ... deixo abaixo um cheiro do que todos os artigos sobre esse album dizém no que diz respeito ao seu lançamento ... que nada tém de sucesso comercial, ainda hoje
Recorded throughout 1967 at Abbey Road, with liberal doses of the Mellotron left behind by John Lennon after The Beatles completed Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, Odessey & Oracle may have been received indifferently on its release and a commercial flop, but it has since gained the status of a classic, regularly making it onto the ‘Best Albums of All Time’ lists and regarded as one of the records that helped expand the ambit of what could be achieved with a long-playing record in terms of daring arrangements and sectional song structure.
José Miguel escreveu:
... Em vez de "besta", para este talvez colocasse "pouco divulgado". Em outros tempos, Odessey and Oracle era partilhado no A Rodar... hoje pouco Progressivo e Psicadélico passam por lá.
O termo besta aqui neste topico e pela designação do Alexandre que criou este espaço é: um album que foi criticado aquando da saida e/ou que vendeu pouco ... ora o Odessey and Oracle foi ignorado pela critica e não vendeu nada, dai pertençer às "bestas" ... pois "pouco divulgados", fora o Daft Punk, Pink Floyd, Lou Reed e Dire Straits, são todos os outros aqui presentes. Todos os albums aqui apresentados jà foram partilhados no A Rodar, quase tudo jà foi partilhado nesse lugar, hoje é o topico que anda A Rodar ... e eu jà tinha citado aqui o Odessey and Oracle quando falei do album One Year do Colin Blunstone ... fiz mesmo um desafio a quém quizesse de o apresentar, mas como disse tive de ser eu a agarrar na caneta! Se o conhecias bem poderias ter feito esse pequeno esforço, e economisar o meu
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Ter Dez 01 2020, 14:52
José Miguel escreveu:
(...) Não sei se poderá fazer o Paulo repensar algumas das palavras em cima, mas ainda assim partilho. ...
Muito Obrigado!... o final dà(me) a pensar, gostei muito
José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Ter Dez 01 2020, 14:54
Paulo, eu acabei de escrever uma mensagem e nela digo que não segui o tópico, muita coisa me escapa... veja bem, até me escapou a sua partilha sobre o Exile on Main Street dos Rolling Stones, para não falar da mensagem seguinte que acabo por citar.
Não quero parecer esquisito com as palavras, pois não é por isso que me referi ao termo "bestas". Eu tenho um conhecimento limitado e tudo o que me escapa acabo por não conseguir atribuir valor - normal. Em alguns casos compreendo que obras são mal recebidas e mais tarde se afirmam, mas isso depende mais do meio do que da própria obra. No caso dos The Zombies, talvez por ter conhecimento do álbum e parte do contexto, não o consegui ver como mal recebido ou criticado negativamente, o sucesso foi relativo, mas o possível no contexto. É verdade que a banda ficou na sombra de outras, mas ficaram tantas... nessa fase tantas bandas entraram em estúdio, gravaram um álbum e perderam-se. Para este fenómeno muito conta a própria perseverança dos Músicos, muitos não olhavam para a Música como carreira, antes como meio de expressão ou gozo/diversão.
Algo de que gosto muito:
A então menina Linda Perhacs era uma higienista oral que escrevia canções e as guardava na gaveta. Seguia algumas bandas, gostava da Música da Costa... um dia ouviram a sua voz, convidaram-na para gravar, ela lançou esse álbum. Conheci faz uns anos precisamente pela boca de Mikael Åkerfeldt, cujo amigo reeditou o álbum em CD... Mikael Åkerfeldt, já fez uma cover de Parallelograms e conhece bem a senhora.
Parallelograms merece ser conhecido, para mim está ao nível de alguns álbuns de Joni Mitchell... mais "dreammy". Não creio que tenha sido uma "besta", é verdade que vendeu mal, mas foi mal divulgado, sem concertos, ... e havia vozes femininas a fazer semelhante e a ter sucesso. Ela perante este cenário baixou os braços e seguiu com a vida que tinha.
Os The Zombies não tiveram uma máquina como a dos Beatles a puxar, mas estariam eles dispostos a isso? Pela entrevista deles parece que não.
Uma coisa é certa, desenterrar álbuns e falar deles é a melhor forma de os tornar visíveis.
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Ter Dez 01 2020, 15:24
José Miguel escreveu:
... Parallelograms merece ser conhecido, para mim está ao nível de alguns álbuns de Joni Mitchell... mais "dreammy". ...
Uma coisa é certa, desenterrar álbuns e falar deles é a melhor forma de os tornar visíveis.
A Linda Perhacs tinha sido citada pelo Màrio no inicio deste topico ... não conhecia, fui escutar e disse exactamente o que estàs a dizer ... é digno do "Blue" nmho !!!...
Existém albuns que vivém na sombra de outros, pelas mais diversas razões, e que por isso acabam por chegar mais tarde às orelhas do grande publico. Efectivamente, falar deles pode acelarar as coisas
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Alexandre Vieira Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Sáb Jan 23 2021, 15:03
Este disco assim que saiu levou tanta porrada por parte de alguns dos críticos que nunca mais recuperou.
Melody Maker intitulou sua avaliação "Goth - Awful!", Avaliando o álbum 1,5 em 5. A Rolling Stone criticou a qualidade das composições, dizendo: "[Smith] pode escrever quatro músicas ruins em uma fileira, e os álbuns do Cure tendem a vazar material de enchimento como um sótão espirrando isolamento "e concluiu," Bloodflowers , é um zumbido meio desprezível, uma proporção imperdoável considerando que tem apenas nove faixas ". Da mesma forma, a Trouser Press declarou em sua análise: "O álbum parece completamente sem inspiração, já que Smith e companhia seguem os movimentos de Cure-ness." AllMusic notou que embora Bloodflowers contivesse todas as marcas musicais do Cure, "letras sombrias, vocais agudos, tempos longos", "o álbum está aquém da marca, em grande parte porque soa muito autoconsciente". I’ll defend Bloodflowers until I die.
Ainda hoje se pergunta aos enorme grupo de seguidores dos The Cure que enumerei os discos e 9 em cada 10 vai esquecer de enumerar este. Ainda hoje a minha Leninha fez o mesmo e acho que é a única banda que me pede sempre para eu colocar a tocar (porque ela não toca na aparelhagem - não sei bem porquê... Talvez porque no pacto pré-nupcial casamento tenha prometido partilhar tudo menos o meu sistema de som ). Mas adiante porque este artigo não pretende recuperar o meu pacto, antes este belo disco.
Este disco coloca desde logo de lado as imprudentes e as aspirações a banda de massas do terrível 'Wild Mood Swings' de 1996, assim como algumas das irreverentes canções pop que comercializaram o The Cure em meados dos anos 1980. Este discos mostra núcleo intrinsecamente escuro e denso da psique de Smith, que consegue concebe temas, longos, e mesmo quando se aproximam de uma duração épica, as canções permanecem belas, dramáticas e, acima de tudo, simples, e um ao mesmo tempo o aviso a todos de que The Cure está em seu melhor momento quando cria belas paisagens sonoras inundadas de incerteza e medo.
Talvez a quando da edição do disco o público dos The Cure não estivesse preparado para o ouvir, uma banda com uma história tão grande, que passou muitas vezes de gótica depressiva a popular e voltou-o a fazer de novo; em que o seu próprio público envelheceu, mudou de gostos, ou apenas estivesse à espera mais do mesmo e não de uma nova ruptura e uma nova e manifesta ligação ao passado. Este álbum é uma espécie de manifesto dizendo, na verdade somos estes e não os outros, porque já não somos quem éramos, somos o que somos: - apaixonados pela música com requinte, mas continuamos amargurados, porque na amargura encontramos a nossa zona de conforto.
Bloodflowers é uma maravilha. Tem algo a dizer e transmite essa mensagem com paixão, emoção com uma intrínseca coerência e notável simplicidade. Gosto bestialmente quando usam partes de músicas que eles próprios criaram e introduzem-nas nas músicas deste disco, como um memorial perpétuo da sua gloriosa obra.
Esta não é uma obra para ficar pendurada num cabide
Como diria o poeta Fernandes Amorim:
O que escondemos por trás de uma palavra? Muito mais angústia que um pensamento, O desejo, um sofrimento, do fraco ao mais Forte, do complexo ao simples; sobre a vida ou Sobre a morte, sobre o início e sobre o fim.
Há tanto sentimento, de quanto há dúvida Qual sã homem e todo o seu discernimento O amor conseguirá explicar. Atroz e infâme, se não macabro, insalubre Diz o ódio sobre si mesmo. O que carrega uma palavra, se não mais forte Que uma bala, tão pura como uma flor.
Também existe em Pinheiro Chagas se encontra um paralelismo com este disco dos The Cure, no seu romance histórico "As Duas Flores de Sangue" em que é protagonista Jaime de Noronha aparece como uma "alma contraditória e absurda, que veio ao mundo fadada para todas as desventuras" embora enquanto relate as suas desventuras dos seus dois amores deixe verter gotas de sangues numa magnólia e em uma rosa branca e as ofereça à sua prima Inês onde não encontra o amor mas encontra conforto.
Em nenhum momento na história da nossa vida como o presente, cada pequena acção ou falta de comportamento pessoal ou social teve tanto impacto para todos, vale a pena escutar intimamente este disco e desfrutar sem complexos ou traumas, existe quem encontre a felicidade no lado mais sombrio. E os The Cure mostram como!
Isto foi escrito directamente no IPAD, deve estar cheio de erros, depois revejo um dia destes
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Sáb Jan 23 2021, 15:28
Alexandre Vieira escreveu:
Este disco assim que saiu levou tanta porrada por parte de alguns dos críticos que nunca mais recuperou. ... Em nenhum momento na história da nossa vida como o presente, cada pequena acção ou falta de comportamento pessoal ou social teve tanto impacto para todos, vale a pena escutar intimamente este disco e desfrutar sem complexos ou traumas, existe quem encontre a felicidade no lado mais sombrio. E os The Cure mostram como!...
Antes de tudo bravo pela tua escrita e introdução a este album dos Cure ... que confesso não conheçer de todo
È um grupo que conheci là para os lados do tardio pois quando era jovém ele estava assimilado a estilos que não encaixavam nos meus ném dos amigos ... a adolescência é um periodo de escolhas e por vezes de circularidade estilistica, não fui excepção! Conheço bem a trilogia constituida pelos albums Pornography, Disintegration et Bloodflowers mais o Seventeen Seconds e é tudo! Irei escutar com prazer e descobrir esse que apresentas e ém todos os casos ... bravo e obrigado pelo texto e escolha
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Zé Carlos Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qui Jan 06 2022, 08:21
Alexandre Vieira escreveu:
Quando gravou Berlin, Lou tinha recaído outra vez na heroína e nos speeds, afundando o seu casamento pelo caminho. Matéria-prima autobiográfica mais fresquinha seria difícil. Mas podemos ir ainda mais longe no nosso exercício de psicanálise selvagem. A sua adolescência nos conservadores anos 50 não fora fácil. Desde cedo, Lou escandalizava os pais com os seus gestos efeminados e as suas tendências bissexuais. O austero senhor Reed não fez mais nada: internou o pobre do miúdo num hospital psiquiátrico para “tratar” a sua homossexualidade. O “tratamento” consistiu nos bárbaros electrochoques, uma experiência traumática que Lou nunca conseguiu ultrapassar. Nunca perdoou os seus pais pela selvajaria e nunca mais confiou inteiramente em ninguém. O seu mau feitio épico encontra aqui uma possível explicação.
O corolário é inevitável. Lou Reed seria Jim se não fosse salvo pelo rock’n’roll. Compreendemos melhor agora as suas célebres palavras: “Sou judeu mas o meu deus é o rock’n’roll. É um poder obscuro que pode mudar a tua vida.” Não mudou também a nossa?"[/i] http://altamont.pt/lou-reed-berlin-1973/
Lou Reed sofria desde muito jovem de alcoolismo que foi a porta de entrada para outras substâncias. E esse alcoolismo começou seguramente pelo complexo de culpa que lhe foi incutido. O artista nunca conseguiu assumir Lewis Allen, a pessoa, tentando exorcizar a sua ambígua orientação sexual nas letras de inúmeras canções dedicadas a travestis desde muito cedo ( Candy Says, passando pelo Walk on the wild side, inspirado pela " Candy Darling " e outras trans, todo o álbum Coney Island que gira à volta de Rachel Humphreys ( ou Ricky ás vezes ) e finalmente Street Hassle , onde a memória da travesti/transexual mexicana pela qual se apaixonou e com quem viveu entre 1973 e 1977 ainda está presente. Outras canções andam também á volta de outros personagens trans como Sally Can't Dance .
Claramente o seu mau feitio épico fez várias vítimas a começar pela primeira mulher e, depois, a trans Rachel Humphreys quando esta decidiu fazer a cirurgia de redesignação sexual e foi agredida por Lou que se opunha a isso, divergência que acabou com a relação numa cena triste relatada por Warhol.
Um grande artista com altos e baixos e sérios problemas de dependências ao qual terá faltado a coragem de assumir como artista aquilo que sempre assumiu como pessoa no dia a dia em NY . Que amava uma pessoa trans.
Já Andy Warhol nunca teve esse problema com Candy Darling.
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Alexandre Vieira Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Seg Jan 17 2022, 17:19
Encontrei este belo artigo na Altamont que se enquadra muito bem neste tópico.
Menos cabelo, uma vida familiar feliz e o primeiro falhanço completo. A carreira de Cave nunca mais foi a mesma depois deste patinho feio.
«O Nocturama é alvo de um desprezo generalizado tão grande que o próprio título passou a ser sinónimo de fracasso ou catástrofe. “Ele fez o melhor que pôde, mas no final acabou por Nocturamar”, dizem algumas pessoas. Ou então: “Que Nocturama completo”! Com o passar dos anos, o desdenho de que este disco foi alvo não diminuiu e “Nocturama” tornou-se só mais uma palavra para descrever “falhado” – por exemplo: “Vai-te foder, seu Nocturama do ca%$lho!” e assim continuou com os anos. Por isso, quando um fã dos Bad Seeds leva com um dedo no olho ou um pontapé nos tomates, ele grita: “Nocturama!”»
O parágrafo acima é escrito por Nick Cave nas suas cartas aos fãs a que apelidou de “Red Hand Files”, em resposta a perguntas e mensagens tão eloquentes e simpáticas como: “Nocturama? Mas que ca%$lho?!!” ou “Nocturama é o teu pior disco? Porquê?”. E como acontece com maior parte dos discos que os fãs odeiam de forma visceral, é dos discos favoritos do seu autor. Cave descreve-o como um disco “valente e pequenino” e assegura mesmo: “Pessoalmente, eu gosto do Nocturama”, elogiando a sua capacidade de fazer vomitar fãs que o oiçam “por engano” numa festa. Reconhecendo que não é o seu disco mais bem conseguido, o australiano diz que foi um álbum muito importante porque o “falhanço dá-nos força. Faz-nos avançar. Arranca-nos tudo para que fiquemos só com o essencial e deixa-nos limpos e puros, prontos para recomeçar”.
Lançado em 2003, entre o magnífico No More Shall We Part e o excelente Abattoir Blues/ The Lyre of Orpheus, Nocturama é o patinho feio dos discos dos Bad Seeds. Talvez este seja o disco “feliz” de Cave e, como é mais que sabido, ninguém que não esteja miseravelmente infeliz faz obras-primas. Quando gravou Nocturama, Cave era casado com uma mulher lindíssima, tinha três filhotes e o seu maior problema era ter perdido parte da sua farta cabeleira o que, convenhamos, não é um tema primordial para canções.
Ouvir o homem que conseguiu tornar a canção “Avalanche” de Cohen ainda mais depressiva do que a original cantar “it’s a wonderful life” causa alguma comichão no fã de Cave. Não que “Wonderful Life” seja a pior canção do disco. A azeitice de “He Wants You”, o rock fácil de “Dead Man in My Bed” e “Rock of Gibraltar” levam a taça de piores canções do disco (e da carreira de Cave).
O que salva este disco de ser um fracasso total são três canções: o blues hesitante de “Bring it On”, a balada “Still in Love” (composta do ponto de vista do marido assassinado e que tem uma linha de piano assombrosa, sublinhada pelo violino ácido de Warren Ellis) e a épica “Babe, I’m on Fire”.
Na canção que fecha o disco (com quase 14 minutos de duração), Cave extravasa toda a energia que conteve até aí e com o seu gingar intacto, atira-se numa batalha contra os Bad Seeds para ver quem consegue soar mais alto e mais sujo. Com um riff frenético de guitarra e uns fills de bateria e sintetizador demoníacos, a banda aproveita para soltar toda a energia acumulada (e raiva contra as canções de m*&da em que tiveram de tocar antes) para desafiar Cave e este não os deixa sem resposta.
“Não se cria algo tão problemático como o Nocturama sem um certo risco e um pouco de coragem e a audácia de falhar. Eu adoro este disco problemático por isso mesmo. Pode mesmo ser o meu favorito”, conclui Saint Nick. Nós optamos por ser magnânimos e desculpá-lo por este lixo.
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Ter Jan 18 2022, 15:24
Alexandre Vieira escreveu:
Encontrei este belo artigo na Altamont que se enquadra muito bem neste tópico. ... “Não se cria algo tão problemático como o Nocturama sem um certo risco e um pouco de coragem e a audácia de falhar. Eu adoro este disco problemático por isso mesmo. Pode mesmo ser o meu favorito”, conclui Saint Nick. Nós optamos por ser magnânimos e desculpá-lo por este lixo. ...
Não sei se enquadra bem... pelo que li é uma besta que nunca se tornou bestial, fala-se mesmo de lixo!!!...
Vou ouvir e julgar por mim mesmo, quém sabe... até pode ser um bom lixo
Alexandre Vieira Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Jan 19 2022, 10:00
TD124 escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
Encontrei este belo artigo na Altamont que se enquadra muito bem neste tópico. ... “Não se cria algo tão problemático como o Nocturama sem um certo risco e um pouco de coragem e a audácia de falhar. Eu adoro este disco problemático por isso mesmo. Pode mesmo ser o meu favorito”, conclui Saint Nick. Nós optamos por ser magnânimos e desculpá-lo por este lixo. ...
Não sei se enquadra bem... pelo que li é uma besta que nunca se tornou bestial, fala-se mesmo de lixo!!!...
Vou ouvir e julgar por mim mesmo, quém sabe... até pode ser um bom lixo
GIVE NOCTURNA A CHANCE
Pessoalmente fiquei surpreso, não o ouvia desde o lançamento. E gostei, menos dramático que os outros trabalhos mas com temas muito fortes. Não foi o disco que mudou a minha métrica é que se alterou!
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Jan 19 2022, 10:59
Numa época aonde as obras mais obscuras do rock alternativo são reeditadas na esperança de lhes dar uma segunda oportunidade ou apaziguar o desejo de pocessão dos vinyl victims é interessante de constatar que ném todas as obras esquecidas téem direito a essa nova chance. Pois é, o que devia ter sido (e foi) a contra-cultura do rock alternativo tornou-se com o passar do tempo numa basica oposição de principio, uma forma de contra-mainstream... o resultado é que a musica alternativa tornou-se ela mesma numa nova moda e numa atitude por demasiado previsivel! Ninguém, ném mesmo a critica, fala da diferença entre uma obra esquecida e uma obra desconhecida, portanto para além dos critérios artisticos e sociais existe uma diferenciação comercial evidente... a primeira faz a riqueza das editoras e a segunda faz a especulação da discogs. Tirar da estante um raro vinil original porque nunca houve reedição no lugar da prensagem actual do Marble Index é muito mais valorisante socialmente do que o proprio valor artistico da obra e como esta ultima caracteristica tornou-se por demasiado subjectiva e relativa, o importante é de possuir o raro mais do que o bom!...
Nesta avidez de obras auto valorizantes este disco apareçe como a quadratura do circulo... suficientemente desconhecido para nunca ter sido reeditado, obra prima esquecida e adulada por um grupo restrito, evidência musical que leva o vinil a se gastar rapidamente, prazer orgasmico aquando da escuta com um copo na mão! Portanto nada predizia que esta obra teria um destino tão subterraneo, bem ao contràrio pois tudo tinha sido feito para que este album dos American Music Club fosse o navio que os levaria até aos niveis de reconhecimento dos REM, talvez mesmo mais! Excelentemente produzido pela Virgin este rock alternativo estonteia pelos arranjos, melodias e subjuga pelas letras ao ponto que em 1991 o Mark Eitzel apareçe na capa da Rolling Stone e o The Guardian considera-o o melhor letrista vivo da America, tão a ver o nivel! Apesar de tudo isto o publico não veio aplaudir a obra em 1991 e o desencontro dura até hoje fazendo do Everclear uma das maiores (e melhores) obras desconhecidas do rock a par do eponimo I Am Kloot! Pouco serve e é mesmo estupido que a critica compare este album com o Whiskey for the Holy Ghost do Mark Lanegan considerando-os como o expoente da musica "dark night of the soul" dos anos 90 pois entre os dois existe um mundo... de diferenças! Convido-vos a escutar as faixas "Sick Of Food" e "Why Won't You Stay" e quém sabe... pode este album se tornar na vossa proxima obcessão musical.
Fernando Salvado gosta desta mensagem
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Jan 19 2022, 11:51
Os albums vestidos de luto possuém um magnetismo especial... aqui é simplesmente vestido de preto pois nada de morbido atravessa esta obra de uma pureza melodica perfeita. Obra gémea do jà citado Everclear dos AMC pelo lado desconhecido assim que pela perfeição formal a obra eponima dos I Am Kloot é diferente no fundo, mais pop-rock. Se por momentos o espectro dos Echo & the Bunnyman, Verve ou Oasis pode apareçer na realidade os momentos mais altos são verdadeiramente aqueles que pertençem ao codigo genético do grupo. Proximo de uma perfeição tanto melodica que na execução este album faz parte das estrelas escondidas cuja luminosidade por razões estranhas nunca chegou até nòs... ora que todas as condições para um sucesso universal merecido estão reunidas. Este album também questiona sobre o espaço que separa uma imensa obra de uma obra-prima... neste caso é um fio de seda! Este disco superlativo prova que a exigência artistica, a escuta facil e a falta de reconhecimento podem coabitar sém que a obra se torne maldita...
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Jan 19 2022, 11:56
Alexandre Vieira escreveu:
...Pessoalmente fiquei surpreso, não o ouvia desde o lançamento. E gostei, menos dramático que os outros trabalhos mas com temas muito fortes. Não foi o disco que mudou a minha métrica é que se alterou!
Também o ouvi... e não gostei! Disse-me mesmo para comigo, e é pessoal, que a vida é demasiado curta para comer mal, beber mal... e ouvir albums assim
Alexandre Vieira Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Jan 19 2022, 12:21
TD124 escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
...Pessoalmente fiquei surpreso, não o ouvia desde o lançamento. E gostei, menos dramático que os outros trabalhos mas com temas muito fortes. Não foi o disco que mudou a minha métrica é que se alterou!
Também o ouvi... e não gostei! Disse-me mesmo para comigo, e é pessoal, que a vida é demasiado curta para comer mal, beber mal... e ouvir albums assim
O preconceito ajuda muito! Olha que neste momento está a tocar por aqui. E acredita que desde a compra que só o tinha ouvido meia dúzia de vezes.
Mas gostei muito da revisão que fizeste Cinco estrelas
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Jan 19 2022, 17:33
Alexandre Vieira escreveu:
...O preconceito ajuda muito! Olha que neste momento está a tocar por aqui. E acredita que desde a compra que só o tinha ouvido meia dúzia de vezes...
Alexandre, o preconçeito é uma faca de dois gumes pois ele ajuda tando a desgostar quando a gostar, depende da alteridade das pessoas e do conteudo da prensa. Pessoalmente, tudo o que foi escrito e gabado (com razão) quanto ao Serge Gainsbourg nunca me fez entrar uma obra dele ném nas estantes ném no disco rigido... também a perplexidade da prensa e as criticas em relação à "musica" dos Experimental Audio Research nunca me impediu de possuir todos os albums do grupo, são escolhas que assumo e defendo se necessario...
Se compraste esse album e escutaste poucas vezes e agora estàs a te reconciliar apòs teres lido o artigo... isso sim é preconçeito, mesmo se embrulhas o fenomeno numa mudança de metrica pessoal. Se escuto sempre um album atentivamente antes de o comprar é para evitar remorsos ou me sentir "obrigado" a gostar dele
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José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Jan 19 2022, 18:47
TD124 escreveu:
(...) Pouco serve e é mesmo estupido que a critica compare este album com o Whiskey for the Holy Ghost do Mark Lanegan considerando-os como o expoente da musica "dark night of the soul" dos anos 90 pois entre os dois existe um mundo... de diferenças! Convido-vos a escutar as faixas "Sick Of Food" e "Why Won't You Stay" e quém sabe... pode este album se tornar na vossa proxima obcessão musical.[/justify]
Por falar em preconceito... O Paulo não terá lido essa frase em Inglês de forma muito literal?
Os dois álbuns são pesados da sua forma particular, mas aqui e acolá tocam temas que nos colocam perante o lado mais negro da alma.
Everclear segue em cima de alicerces semelhantes aos que usaram bandas como The Cure, vincaram um pé no Country/Folk e o outro deixaram no ar para que pudessem dar suporte à viagem da voz. Mark Lanegan em Whiskey for the Holy Ghost segue o que construiu no seu primeiro álbum, bem mais próximo dos Blues, mais directo nos arranjos.
Cada um com o seu estilo, tocam pontos onde nos encontramos com o lado negro...
Foi bom revisitar estes dois álbuns, mérito da partilha.
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Alexandre Vieira Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qua Jan 19 2022, 21:31
TD124 escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
...O preconceito ajuda muito! Olha que neste momento está a tocar por aqui. E acredita que desde a compra que só o tinha ouvido meia dúzia de vezes...
Alexandre, o preconçeito é uma faca de dois gumes pois ele ajuda tando a desgostar quando a gostar, depende da alteridade das pessoas e do conteudo da prensa. Pessoalmente, tudo o que foi escrito e gabado (com razão) quanto ao Serge Gainsbourg nunca me fez entrar uma obra dele ném nas estantes ném no disco rigido... também a perplexidade da prensa e as criticas em relação à "musica" dos Experimental Audio Research nunca me impediu de possuir todos os albums do grupo, são escolhas que assumo e defendo se necessario...
Se compraste esse album e escutaste poucas vezes e agora estàs a te reconciliar apòs teres lido o artigo... isso sim é preconçeito, mesmo se embrulhas o fenomeno numa mudança de metrica pessoal. Se escuto sempre um album atentivamente antes de o comprar é para evitar remorsos ou me sentir "obrigado" a gostar dele
Foi precisamente o inverso, por o ter voltado a escutar pesquisei se estaria sozinho na sua "nova" apreciação. Apenas isso. Quem poderia ficar chateado com a tua apreciação era o Nick Cave, não eu!
De qualquer forma vou enviar um email ao Nick com os teus comentários traduzidos para ele te proibir de ouvir toda e qualquer obra dele.
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qui Jan 20 2022, 08:28
José Miguel escreveu:
...Por falar em preconceito... O Paulo não terá lido essa frase em Inglês de forma muito literal?
Os dois álbuns são pesados da sua forma particular, mas aqui e acolá tocam temas que nos colocam perante o lado mais negro da alma. (...) Cada um com o seu estilo, tocam pontos onde nos encontramos com o lado negro... ...
Essa frase foi utilisada numa critica da AllMusic e por isso està entre aspas... sei o seu significado em inglês e é também o titulo de um album do Van Morrison mas, tomei-a pelo que o critico quiz dizer com ela, ou seja, dois albums aonde o desalento e a depressão são temas omnipresentes ou centrais...
Achei e acho esse paralelo entre os dois albums estupido mesmo açeitando (evidentemente) que existe esse ponto comum de desespero solitario nas duas obras mas... não comparo o Bruce Springsteen com o Bob Dylan sob pretexto que os dois abordam problemas sociais similares! Também, se fossemos fazer as contas de todos os grandes depressivos obcessionais do rock a lista seria longa e haveria paralelos que me pareceriam nmho mais adequados. Que o album do Matt Eliott_Drinking Songs seja similar ao citado do Mark Lanegan jà me pareçe mais adequado... que o album Pinkerton dos Weezer possa ser comparado em vàrios pontos ao Everclear também açeito então para resumir, achei o paralelo entre os dois albums feito pela AllMusic "enchimento de texto gratuito", é a minha opinião, persisto e explico porquê
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qui Jan 20 2022, 08:33
Alexandre Vieira escreveu:
...De qualquer forma vou enviar um email ao Nick com os teus comentários traduzidos para ele te proibir de ouvir toda e qualquer obra dele.
Que ele me deixe o Boatman's Call e o Skeleton Tree... o resto ele pode guardar para os outros
Alexandre Vieira Membro AAP
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Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qui Jan 20 2022, 09:44
TD124 escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
...De qualquer forma vou enviar um email ao Nick com os teus comentários traduzidos para ele te proibir de ouvir toda e qualquer obra dele.
Que ele me deixe o Boatman's Call e o Skeleton Tree... o resto ele pode guardar para os outros
TD124 gosta desta mensagem
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: De Bestas a Bestiais Qui Jan 20 2022, 10:03
TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
...Por falar em preconceito... O Paulo não terá lido essa frase em Inglês de forma muito literal?
Os dois álbuns são pesados da sua forma particular, mas aqui e acolá tocam temas que nos colocam perante o lado mais negro da alma. (...) Cada um com o seu estilo, tocam pontos onde nos encontramos com o lado negro... ...
Essa frase foi utilisada numa critica da AllMusic e por isso està entre aspas... sei o seu significado em inglês e é também o titulo de um album do Van Morrison mas, tomei-a pelo que o critico quiz dizer com ela, ou seja, dois albums aonde o desalento e a depressão são temas omnipresentes ou centrais...
Achei e acho esse paralelo entre os dois albums estupido mesmo açeitando (evidentemente) que existe esse ponto comum de desespero solitario nas duas obras mas... não comparo o Bruce Springsteen com o Bob Dylan sob pretexto que os dois abordam problemas sociais similares! Também, se fossemos fazer as contas de todos os grandes depressivos obcessionais do rock a lista seria longa e haveria paralelos que me pareceriam nmho mais adequados. Que o album do Matt Eliott_Drinking Songs seja similar ao citado do Mark Lanegan jà me pareçe mais adequado... que o album Pinkerton dos Weezer possa ser comparado em vàrios pontos ao Everclear também açeito então para resumir, achei o paralelo entre os dois albums feito pela AllMusic "enchimento de texto gratuito", é a minha opinião, persisto e explico porquê
Eu não encontrei a frase no AllMusic, mas achei a frase interessante por me fazer pensar num poema (e livro). A frase "dark night of the soul" não encerra, que eu saiba, uma gaveta da Música, de facto existem muitos álbuns que podem receber essa conotação e esses dois podem - creio que ao ler as letras fica evidente.
Aproveito e deixo as primeiras linhas do poema de João da Cruz (em original Espanhol): En una noche escura, con ânsias en amores inflamada, iOh dichosa ventura! Salí sin ser notada, Estando ya mi casa sosegada. (...)
No caso das letras dos dois álbuns, a alma não sai do corpo para procurar o que necessita (João da Cruz pensava na procura de deus), esta acaba por entrar na noite escura presa aos vícios do corpo e do mundano.
A forma como pensamos os álbuns, como disse o Alexandre, depende do que conhecemos (a tal métrica) a cada momento. A frase não me pareceu mal empregue, pois acaba por enquadrar os dois registos (que são de facto diferentes).