Ghost4u Membro AAP
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| Assunto: Sara Serpa numa casa portuguesa Qui Jul 26 2018, 22:38 | |
| Sara Serpa numa casa portuguesa Escapatória a espaços grandiosos, apartada da vida alvoroçada das metrópoles, a Casa da Cultura, em Setúbal, "é uma casa portuguesa, com certeza!" Com um pátio de paredes caiadas, onde se sente um "cheirinho a alecrim", segundo a composição poética de Reinaldo Ferreira e Vasco Matos Sequeira, primeiramente cantada por Sara Chaves e eternizada por Amália Rodrigues, como "numa casa portuguesa fica bem / pão e vinho sobre a mesa / E se à porta humildemente bate alguém, / senta-se à mesa com a gente", neste espaço encontramos a esplanada do bar. Com um copo na mão, a música ambiente serve de pano de fundo para cumpliciar o público, gerando apontamento de memória futura. Se a ambiência musical resultar da actuação, in loco, de músicos que saibam acolher a atenção da audiência, ainda melhor. Neste cenário, eis que numa noite de Verão, Sara Serpa, acompanhada da tudesca Ingrid Laubrock (saxofone e clarinete) e do argentino Demian Cabaud (contrabaixo e um dos fundadores da editora Robalo Music), realizou mais uma jornada divulgadora de «Close up», o novo e oitavo álbum da sua carreira, publicado este ano. John Austin (1911 - 1960), filósofo britânico, teorizou sobre a acção de falar, nomeadamente como fazer coisas com palavras, isto é, "quando dizer é fazer", baptizando de "performativa" esse uso que se faz da linguagem. Sem precipitar a narrativa, posso afiançar que tal designação se aplica ao distinto estilo vocal de Sara Serpa que, cantando cantigas sem letra, patenteia que a sonoridade bela nem sempre provém da forma como se canta uma poesia. Embora a interpretação dos novos temas do álbum não tenha seguido o rigoroso alinhamento do disco, paramentou a harmonia da beleza inaudita, resultante da forma como o álbum foi revelado num acto performativo. Ciente de não ostentar voz poderosa, usa-a em progressão encantatória sobre o público, mediante sons melódicos que soam como se fossem sussurrados ao ouvido. Dos três temas cantados com palavras, saliento «The future» - excerto do diário de Virginia Woolf (1882 - 1941), escritora inglesa nascida numa família da alta sociedade londrina – chamando a atenção sobre o escurecido futuro de como vivemos as nossas vidas. Durante 65 minutos, o público testemunhou uma actuação segura, onde em meia dúzia de temas, a voz sem palavras ao ser usada como instrumento, prova porque Sara Serpa se tornou num valor internacionalizado do jazz nos últimos anos.Tiro ao boneco e blá-blá-blá com a antiga grafia: Ghost4u | |
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José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
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