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| Assunto: Midori Takada na Culturgest Sáb Nov 24 2018, 00:59 | |
| Contemplação Desde a minha infância imemorial que a relação com literatura, pintura e fotografia é nutrida pela ida a livrarias e galerias. No capítulo de salas onde se expõe obras de arte, após me acomodar na grande sala da Culturgest, apreciei a disposição dos instrumentos no palco como se fosse um magnífico conjunto de esculturas ou uma fotografia varrida por uma ténue luz direccionada. Essa imagem, ao contrário de nos fazer olhar para ela, como se fosse uma representação viva, levou o observador a conjecturar como será a actuação da percussionista niponense. No quotidiano, Midori Takada toca ao vivo nas sessões dos clássicos dramatúrgicos revisitados pela companhia de Tadashi Suzuki, situada no meio das montanhas da pequena e pacata cidade de Toga, cuja população não chega ao milhar de habitantes. Fruto da assimilação das técnicas aplicadas na arte de representar, entra no palco em minuciosos passos vistosos e lentos, segurando um pequeno vaso de boca larga, pouco fundo e transparente, de onde extrai um suave silvo, mediante circulares movimentos vagarosos, semelhantes aos que são exercidos numa taça de cristal. Depois passa aos tambores e pratos, esculpindo incomuns imagens musicais livres de abstração, pintadas, lapidadas e harmonizadas quando, sobre uma luz avermelhada, passa para a marimba, tocada com quatro baquetas, onde é notória a sua apurada técnica, impondo mudanças rítmicas que servem como premissa narrativa, iniciada quando manuseou uma longa corrente. Usando frases simples e curtas, se por um lado recorda momentos da infância, por outro lado, recorre ao modo como observa o mundo, conduzindo a assistência a reflectir sobre "o que se passa com a nossa forma de amar na infância? O que se passa com o amor ao próximo? O que se passa com o amor que simboliza acolher o outro, a entrega ao outro e complementaridade?" Infelizmente, por se pôr o amor no dinheiro ou na carreira, há menos tempo para amar, causando ruína na sociedade. A sua forma de actuar nada tem de convencional, abrindo uma janela para a música contemporânea com enquadramentos resultantes da investigação de sons oriundos de latitudes distintas da superfície do Globo (África e Ásia), levando o público que esgotou a sala, maioritariamente ocidental, a perder-se na contemplação da sua música luminosa. Será que a música dela é algo novo? - pensa o leitor e terão pensado alguns dos nossos semelhantes presentes no concerto. Não, porque Stephan Micus também realiza o mesmo tipo de abordagem. Contudo, Midori engrandece e renova a sua obra ao reinventá-la. A actuação decorreu em 85 minutos sem ser interrompida por aplausos. No fim, o Grande Auditório aplaudiu entusiasticamente, deixando a instrumentista admirada e acanhada, por não esperar aquela merecida aclamação. Midori Takada deixa a sua marca na história de concertos na Culturgest.Blá-blá-blá com a antiga grafia: Ghost4u Tiro ao boneco: Vera Marmelo | |
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