Táxi na Culturgest (reportagem, 2023)

        Que quinta-feira de doidos! Depois de oito horas de labor, passei pela escola para chegar ao meu habitat com a princesa, planeando escutar um disco após o jantar e antes de adormecer. Inesperadamente, fui convocado para reportar a actuação dos Táxi, na Culturgest. Naquela sexta noite outonal de têmpera da estação anterior, esperava-me uma surpresa...


        Oriundos da cidade Invicta, os Táxi souberam encurtar distâncias à superfície do Globo. Começaram com «Cairo», patenteando sua história que percorre gerações, num apelo probo do passado, pautado por sonoridade actualizada e electrizante. Férteis pensadores aptos a revelar em canções e com precisão o alcance dos seus pontos de vista, continuaram com «T.V.W.C.» que, relendo o texto, ganha hoje nova actualidade à luz da imensidade de canais disponibilizados por cabo, porquanto "(...) quem vê T.V. / sofre mais que no W.C. / e se falo desta maneira / é por ela ser tão foleira / não transmite nada de jeito / leva-me a taxa sem dar proveito".


       "Era novo, a noite estava fria / e ninguém sabia o que fazer / ir para casa com alguns amigos / ou experimentar prazer // Tudo foi muito bem pensado / até tomarmos uma decisão / ir tentar a casa da Rosete / é o tira e mete / que boa diversão / é o melhor / para quebrar a tensão / eu vou experimentar // Eu vou à Rosete / é uma tentação / ó mas que tentação (...)", excerto da letra «A queda dos anjos», mais conhecido por "Rosete", tema preferido do público masculino no repertório dos Táxi. Dedicando «O fio da navalha» a todos os mancebos (visto que o universo do indivíduo jovem e moço nem sempre é um mar de rosas, sendo difícil fazer parte dele sem se magoar), «Meu manequim», em renovado e notável arranjo de bateria por Hugo Drums e de baixo por Rui Taborda ("um dos melhores baixistas da sua geração", segundo parecer do vocalista), foi tributado às mulheres, com enquadramento cénico de João Grande e de Rute Simone (voz) indissociável aos versos, pois "(...) ao fim da noite /deu-me a solipampa /ela é que deu cabo de mim".


       Cumprindo com a promessa de "colocar o público em pé a dançar", o Auditório da Culturgest foi convertido numa discoteca em «Sing sing club». Ingressando em «Táxi», tema que dá nome ao LP de estreia da banda (1981) - primeiro álbum de oiro do rock português - foi perceptivel para a audiência o génio dos guitarristas Jorge Loura e Nelson Funky.


      Neste concerto, os Táxi recriaram um momento acústico com «Última sessão», apresentando música nova que Grande, antecipadamente ensinou o refrão ensaiando o público, revelando que  "entre Janeiro e Fevereiro de 2024, surgirá um novo trabalho do grupo". Por lhe ter apetecido, executou «Love me tender» a capella.


      Dando-se a conhecer bom comunicador, indicando os temas de sua preferência e "a música que não acha muita piada - «É-me igual»" - João Grande, em boa forma vocal, após o primeiro tema, opinando que "um anfiteatro não será o espaço mais apropriado para a atmosfera dos Táxi", renovados com quatro novos elementos (baterista, guitarristas e voz de apoio), concederam um concerto que foi um sucesso desde as primeiras notas para o seu público, jamais a título de posse, mas em conformidade com relação prolongada ao invés de epidérmica, pintado com forte colorido de renovação e reinvenção, afirmando "absolutamente memorável e que ficavam toda a noite a tocar, mas por a Rute ter horas de chegar a casa...", o encore  foi preenchido com apoteótica versão de «Song 2», dos londrinos Blur, ao qual foi bem colado o clássico «Chiclete». Surpresa foi o facto de poucos elementos do público na faixa etária dos 50 e 60, terem presenciado alguma actuação dos Táxi.

Pois, ganda grupo de rock da "minha" cidade... tudo malta da "minha" geração... ganda ganza... porra que estou mais pró velho que pró jovem!!!

Bela reportagem!

Uma boa viagem no tempo ao lê-la

Olá

Excelente reportagem...

O audio é tramado...o que uns adoram...outros detestam...

Dredie