Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Cinema+Música Qui Out 29 2020, 19:32
Como por aqui se presta muita atenção à música e pouca ao cinema abro este tópico.
Destina-se a coligir obras em que o binómio Cinema+Música é indissociável. Normalmente oriundas do género de cinema não narrativo também podem ser encontradas no documentário (englobo aqui os filmes-concerto) e mais raramente na ficção.
Neste último género destaco um filme, na altura polémico, cuja banda sonora sofreu sobressaltos curiosos. Zabriskie Point (cujo título português é "Deserto de Almas") de 1970. O realizador, Michelangelo Antonioni, encomendou a banda sonora aos Pink Floyd. Antonioni não gostou do resultado final e acabou por usar apenas uma pequena parte do trabalho dos Pink Floyd à qual juntou músicas de The Youngbloods, Kaleidoscope, Jerry Garcia, Patti Page, Grateful Dead, Rolling Stones, John Fahey, Roy Orbison. O filme, uma visão extremamente amarga da América dos anos 60/70, é um dos meus filmes favoritos. Não tendo, ao contrário do habitual em Antonioni, uma grande interpretação por parte dos actores escolhidos, tem uma fotografia fabulosa e um final que, à falta de melhores palavras, definiria como arrasador. A integralidade das composições dos Pink Floyd para esta banda sonora pode ser encontrada hoje com relativa facilidade depois de ter andado perdida (ou escondida) durante muitos anos.
Nos filmes-concerto (são mais que muitos) obviamente destacaria "Woodstock" e, sobretudo, o fabuloso "The Last Waltz" do Martin Scorsese, concerto homenagem-despedida dos The Band e que traz para o palco do Winterland Ballroom de S. Francisco uma verdadeira chuva de estrelas da música pop e folk americana.
No cinema não narrativo (um género longe do main-stream cinematográfico e muito arredado das salas) surgem obras primas, algumas delas abordadas noutros tópicos aqui do fórum: A trilogia Qatsi do realizador Godfrey Reggio, musicada pelo Philip Glass (ele gosta muito deste tipo de intervenções musicais). Chronos, Baraka e Samsara do realizador e cinematógrafo Ron Frick (o responsável pela fotografia do Koyaanisqatsi). Obras requintadas na qualidade da fotografia, não vivem sem a respectiva banda sonora. É o conjunto que lhes dá a dimensão e que prende os olhos e ouvidos do espectador/ouvinte.
Ainda neste género de cinema um último destaque: Aquando do "2001 - Porto, Capital Europeia da Cultura" a equipa responsável pela programação audio-visual encomendou aos Cinematic Orchestra uma nova banda sonora para um dos filmes mais revolucionários da história do cinema (talvez o filme que iniciou o género não narrativo): O Homem da Câmara de Filmar de Dziga Vertov. Este projecto com a apresentação pública, no ecrã do Coliseu do Porto o filme e no palco os Cinematic Orchestra. Por razões que desconheço não foi editado o DVD desta nova versão no âmbito do "2001" mas surgiu alguns anos depois numa edição inglesa. Suspeito tratar-se de uma das melhores obras do grupo britânico.
Nos dias de hoje talvez seja interessante não fechar os olhos para ouvir música de uma forma alheada do mundo mas com olhos e ouvidos bem abertos para ver mundos ao som da música.
Fica aqui o convite para deixarem as vossas sugestões de Cinema+Música
Alexandre Vieira e José Miguel gostam desta mensagem
Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: Cinema+Música Qui Out 29 2020, 23:37
Excelente tópico, de facto a simbiose quando é bem elaborada remete-nos para um patamar superior.
Eu deixo aqui os meus cinco tostões.
Nunca fui grande admirador de filmes musicais, acho a maior parte deles aborrecidos e muitas vezes musicalmente descontextualizados. Mas existe um que me marcou de uma forma que de quando a quando vejo o filme, mas muito mais vezes oiço o duplo álbum ele é o fabuloso Les uns et les autres
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Cinema+Música Sex Out 30 2020, 10:31
agorgal escreveu:
Como por aqui se presta muita atenção à música e pouca ao cinema abro este tópico.
Destina-se a coligir obras em que o binómio Cinema+Música é indissociável. Normalmente oriundas do género de cinema não narrativo também podem ser encontradas no documentário (englobo aqui os filmes-concerto) e mais raramente na ficção. ...
Fica aqui o convite para deixarem as vossas sugestões de Cinema+Música
Não sou verdadeiramente um cinéfilo e os meus amores fulgurantes pelo cinema ficam-se pelos Tarkovski, Lynch, Wong Kar-Wai, Klimov, Corneau, Imamura ou Nuri Bilge Ceylan... o que é bem pouco
No entanto penso, sém certeza, que as peças aonde o binomio Cinema+Musica é o fundamento da obra e por natureza indissociaveis sém perda do sentido inicial seja extremamente vasto...
Possederia a sua força transcendente o Solaris do Tarkovski sém a musica experimental do Artemiev ... e o Solaris do Soderbergh seria tão ambiguo sém a musica do Cliff Martinez???...
Sém falar das obras biograficas como Amadeus, Tous les matins du monde, The rose, Bird, Farinelli, Buena vista social club, The wall, 8 Mile e etc e etc... aonde a musica é central mesmo!
O Virgin suicides, o In the mood for love, o Nocturne indien, o Requiem for a dream, o Le fabuleux destin d'Amélie Poulain, o Only lovers left alive pareçem-me ser casos aonde o Cinema+Musica são indissociaveis...
Para mim é a maneira como a Musica serve o Cinema e vice-versa que pode ser fascinante a sentir...
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agorgal Membro AAP
Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Cinema+Música Sáb Out 31 2020, 12:32
Pelo maravilhoso mundo das óperas-rock: O grupo britânico The Who tem à sua conta duas: TOMMY - Lançada como álbum de estúdio em 1969, teve uma versão com a Orquestra Sinfónica de Londres (1972 - a mais luxuosa capa para um álbum duplo que conheço) e finalmente o filme, realizado por Ken Russell em 1975. QUADROPHENIA - Álbum de estúdio em 1973 dramatizado por Franc Roddam em 1979.
Jesus Christ Superstar - música de Andrew Loyd Weber e poemas de Tim Rice, lançado como álbum duplo em 1970, subiu ao palco na Broadway em 1971. Norman Jewison realizou o filme em 1973. Foi muito criticado pelas correntes mais conservadoras do Catolicismo o que não espanta dada a imagem humana (ou muito pouco divina) com que foi retratada a figura de Cristo. (Muitos anos mais tarde Peter Gabriel criou a música para o filme A Última Tentação de Cristo, realizado por Martin Scorsese e baseado no livro de Nikos Kazantzakis com o mesmo nome. Polémico, foi mais um filme violentamente atacado pelas alas conservadoras do Catolicismo. Fogo-posto, ameaças de morte, censura... não é de agora a intolerância religiosa à criatividade. Voltando à música de Peter Gabriel para este filme: lançado em 1989 o álbum duplo Passion foi uma pedrada que agitou o charco da pop. Entre outros músicos que participaram brilhou a voz do senegalês Youssour N'Dour. Ganhava dimensão a World Music.)
Ainda no universo dos filmes-óperas-rock, Evita (da dupla Andrew Loyd Weber/Tim Rice realizado por Alan Parker em 1996) e o incontornável (e já aqui citado pelo amigo TD124) The Wall dos Pink Floyd realizado também por Alan Parker em 1982. Ainda deste realizador mas distante do género ópera: Birdy (1985) com uma belíssima banda sonora de Peter Gabriel editada em LP nesse mesmo ano.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Cinema+Música Sáb Out 31 2020, 14:33
O Solaris do Andrei Tarkovski é visto como sendo a resposta ao 2001 Odisseia no espaço do Stanley Kubrick, o que é verdade mas trata-se de um espelho inversado. Em 1970 a guerra fria està no seu auge e os russos pedem ao instituto do cinema uma obra que seja uma resposta ao sucesso do Kubrick, o cineasta Tarkovski vai ser o escolhido. O artista soviético tinha criticado violentamenta o 2001 que ele considerava como materialista, tecnologico, estéril e vazio intelectualmente ... ele vai adaptar o livro do Stanislas Lem e dar a sua propria visão de Solaris. Se o filme do Kubrick é um modelo de estética futurista aonde a tecnologia tém um lugar central ... o Solaris é um filme metafisico sobre o homém, mas no espaço. O que é interessante, e que nos interessa neste topico, é que a musica também é estilisticamente oposta. Aonde o 2001 se cobre de musica classica (Strauss, Ligeti...) o Tarkovski decide de chamar o Artemiev para criar uma musica experimental (electronica) que cria uma atmosfera estranha, impalpàvel. No meio deste magma electronico apareçe o Chorale prelude F Minor do Bach para açentuar uma cena que passa do introspectivo até ao onirico, sublime momento de cinema que deixo na integralidade em versão original...
taunus Membro AAP
Mensagens : 346 Data de inscrição : 12/11/2016 Idade : 50 Localização : Maia
Assunto: Re: Cinema+Música Sáb Out 31 2020, 18:53
Para não fugir ao espírito da noite, e mantendo-me na temática das bandas sonoras, roda agora a excelente composição de Bernard Herrmann para o não menos notável Psycho.
Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: Cinema+Música Sáb Out 31 2020, 18:59
taunus escreveu:
Para não fugir ao espírito da noite, e mantendo-me na temática das bandas sonoras, roda agora a excelente composição de Bernard Herrmann para o não menos notável Psycho.
Gosto do "por maior" da abóbora no gira. Dá um ar mais sinistro a um filme notavelmente emocional!
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Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: Cinema+Música Dom Nov 01 2020, 11:53
Hoje roda por aqui, por causa até deste tópico a banda sonora de uma dos filmes da minha vida e uma banda sonora notável, penso que o filme sem a mesma seria bom mas não seria a obra prima que é.
agorgal Membro AAP
Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Cinema+Música Qui Nov 05 2020, 21:09
"Bleu" O primeiro (1993) de uma trilogia de Krzysztof Kieślowski (Trois Couleurs: Bleu; Blanc; Rouge). Não sendo um musical é a música o seu fio condutor: Um compositor morre num acidente de viação e deixa uma obra inacabada, um "Concerto para a Europa". O que penso de interessante neste filme é o acompanhar do processo criativo com vista à conclusão deste concerto. Normalmente ouvimos música mas passa-nos ao lado a forma como ela é composta, como se constrói o edifício de uma composição tijolo a tijolo.
"Lisztomania" Do mesmo realizador de "Tommy", Ken Russel, é um musical um pouco esquecido e datado. 1975 foi tão fértil em grandes filmes que os não tão grandes acabaram na sombra... Franz Liszt (Roger Daltrey) retratado como "pop star". Rick Wakeman compôs a banda sonora, Ringo Star faz de Papa.
"Yellow Submarine" A obra-prima da cinematografia pop? Uma viajem alucinada e alucinante (All aboard for the trip of your life -nothing is real). Filme de animação realizado por George Dunning (1968) e baseado na música dos Beatles, "Yellow Submarine" afasta este género das delico-doces produções da Disney. Uma animação para um público jovem e/ou adulto que grita nos concertos e que, porque não dizê-lo, salta para o universo dos alucinogénios a pés juntos. A edição recente da Universal em formato blu-ray exige que seja visto (ou re-visto) com fatiota apropriada, se é que me estou a fazer entender...
agorgal Membro AAP
Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Cinema+Música Sáb Nov 07 2020, 12:21
"The Terminal" Realizado por Steven Spielberg em 2004. Não é pela banda sonora que me lembro deste filme, é pela narrativa rodar à volta de uma fotografia.
Viktor Navorski (Tom Hanks) chega a Nova York, ido de um país distante e com um único objectivo: conseguir o último autógrafo numa fotografia que "herdou" do pai, um apaixonado pelo jazz. "A Great Day in Harlem", fotografia de Art Kane tirada em 1958, retrata nada menos nada mais que 57 nomes grandes do jazz da época. O pai foi reunindo autógrafos de todos eles e faltava um: o saxofonista Benny Golson. Viktor, cidadão de uma nação chamado Krakozhia, depois de contornar todas as dificuldades que lhe foram surgindo pela frente, acabou por obtê-la.
Tenho este filme como uma homenagem singela e sincera à universalidade do Jazz. Não há cores, nacionalidades, políticas internacionais... apenas o Jazz.
As fotografias foram retiradas deste artigo do Daily Mail
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José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Cinema+Música Sáb Nov 07 2020, 17:51
Tenho acompanhado este tópico, alguns filmes conheço bem, outros terei que visitar ou revisitar. Para contributo pessoal deixo algo diferente, não um filme em particular, mas um gênero: The (Spaghetti) Western.
Eu cresci a ver este tipo de filmes, o meu pai adora o gênero. Inicialmente os filmes não me prendiam, muitas vezes olhava-os como coisas velhas e sem graça, mas ele insistia. Havia naquelas personagens algo que lhe tocava, lembro-me que lhes achava graça, não eram homens disfarçados de heróis. As bandas sonoras, essas, ficaram para sempre...
Mais tarde tive oportunidade de voltar a este tipo de cinema, com mais maturidade e atenção, percebi que há nele muita coisa para lá das balas, dos cavalos, dos cowboys. Há personagens muito bem construídas, há heróis que não o são e não o procuram ser. Há uma luta por justiça, uma luta por Valores. Os planos (curtos ou de sequência) e jogos de luz fazem com que as personagens ganhem um relevo para lá das suas acções, as expressões faciais são muito bem exploradas, planos apertados aos olhos são de tal forma decisivos que nos penetram. Depois há as bandas sonoras, sim, essas pequenas ou grandes faixas que qualquer um consegue identificar sem grande esforço. São de tal forma bem conseguidas que nem são necessárias imagens para hoje visualizar cenas completas na minha cabeça.
Ennio Morricone é o nome maior dentro do gênero, mas Dimitri Tiomkin teve as suas orquestrações bem ligadas a Red River e Rio Bravo. Não esquecer de espreitar Leonard Cohen em McCabe & Mrs. Miller, de Robert Altman.
E por ser o último em referência, deixo o princípio e o fim:
Não é um Western típico, mas não deixa de o ser. É um filme que tem todos os condimentos que os mais típicos partilham, mas é filmado como se de uma tela ou poema se tratasse. Cohen coloca as suas canções à disposição de Altman e este coloca-as nos lugares certo. O resto é feito pela lugar, um lugar onde qualquer um se pode encontrar para depois se perder.
agorgal Membro AAP
Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 09 2020, 13:02
Ainda bem que o José Miguel trouxe para aqui o "western", seja "spaghetti" seja genuinamente americano. Não é o meu género favorito apesar de reconhecer nele as virtudes que sublinha. Talvez a proximidade da minha casa com o Cinema Carlos Alberto (muito antes deste se ter transformado numa sala de espetáculos virada para cenários mais culturais), onde em cada sessão cabiam 2 filmes e o "mau" western (aquele em que os cowboys matavam os índios todos ao primeiro tiro) imperava, tenha moldado essa parte do meu gostar cinematográfico. Do "western" apenas lembro uma mão-cheia de títulos: "Silverado" de Lawrence Kasdan, "Duelo no Missouri" de Arthur Penn (a dupla Brando - Nicholson a isso obriga), "Pat Garrett & Billy the Kid" de Sam Peckinpah (este com o lugar aqui garantido pela presença de Bob Dylan, não tanto como actor mas sobretudo na autoria da banda sonora), "Dead Man" de Jim Jarmush e "Danças com Lobos" de Kevin Costner (cito-o apenas porque o papel do índio não é morrer ao primeiro tiro...). Um género para eu olhar com mais atenção.
"McCabe & Mrs. Miller" de Robert Altman: desconhecia o filme e "amostra" que o José Miguel apresentou obriga-me a procurar forma de o ver (e ter!).
Entretanto vamo-nos apercebendo que por entre as colecções de discos de cada um existem algumas (muitas?) bandas sonoras e que este tópico as vai relembrando.
agorgal Membro AAP
Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 09 2020, 13:43
O cinema grego traz-nos uma curiosa associação: o realizador Theo Angelopoulos e o compositor Eleni Karaindrou. "Landscape in the Mist", "Voyage to Cythera", "The Suspended Step of the Stork", "Ulysses' Gaze", "Eternity and a Day"... Algumas destas bandas sonoras podem ser encontradas no catálogo ECM. Ambiências musicais belíssimas que complementam na perfeição a particular maneira de nos contar estórias de Theo Angelopoulos.
"TD124" já nos lembrou aqui, entre muitos outros filmes, o documentário de Wim Wenders "Buena Vista Social Club", uma fascinante viagem pela música cubana. Acrescento (por agora) um outro filme de Wenders, "Lisbon Story" de 1994. Um engenheiro de som vem a Lisboa com o objectivo de registar os sons da cidade para um filme. Durante a sua visita encontra um grupo musical, nada mais nada menos que os Madredeus. O álbum "Ainda" é o resultado deste encontro, a banda sonora do filme.
agorgal Membro AAP
Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 09 2020, 13:56
Alexandre Vieira escreveu:
Excelente tópico, de facto a simbiose quando é bem elaborada remete-nos para um patamar superior.
Eu deixo aqui os meus cinco tostões.
Nunca fui grande admirador de filmes musicais, acho a maior parte deles aborrecidos e muitas vezes musicalmente descontextualizados. Mas existe um que me marcou de uma forma que de quando a quando vejo o filme, mas muito mais vezes oiço o duplo álbum ele é o fabuloso Les uns et les autres
Pois foi com este filme que descobri Ravel! Acontece-me com frequência ver um filme e ficar curioso da musica que ouço. E, logo de seguida ir "investigar" o que ouvi. E encontrar músicos e músicas muito interessantes.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 09 2020, 14:54
agorgal escreveu:
... Tenho este filme como uma homenagem singela e sincera à universalidade do Jazz. Não há cores, nacionalidades, políticas internacionais... apenas o Jazz.
Não sabia da existência desse filme ném dessa fotografia ... nunca vi uma tal acumulação de grandes musicos
Caminhando pelo senteiro da musica no cinema venho de pensar a um filme que me entusiasmou recentemente que é o Only Lovers Left Alive do Jim Jarmush. Um casal de vampiros ligados por um amor imenso, mas vivendo a 6500Km um do outro (a eternidade é demasiado longa para um casal) assistém à decadência da humanidade. O seu heroi (Adam) é um vampiro ultra-civilizado e moderno que deixou de ser carnivoro e é "quase" vegan! Ele jà não acredita na humanidade, ela sim, eles vão tentar de se convençer mutualmente e de resistir, de sobreviver...
A plastica deste filme é soberba e a musica não se fica atràs (bateria seca e guitarra em distorção e loop) ... aliàs, no filme o vampiro é produtor de rock indie. Entusiasmado e espantado pela musica aprendi que é o proprio grupo do Jim Jarmush (guitarra) baptisado Sqürl que criou a musica em colaboração com o alaudista Jozef Van Wissem ... deixo uma das cenas finais do film aonde o trabalho de guitarra do Jarmush é tipica do que é feito durante todo o film!...
Alexandre Vieira Membro AAP
Mensagens : 8560 Data de inscrição : 11/01/2013 Idade : 54 Localização : The Other Band
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 09 2020, 15:01
agorgal escreveu:
Alexandre Vieira escreveu:
Excelente tópico, de facto a simbiose quando é bem elaborada remete-nos para um patamar superior.
Eu deixo aqui os meus cinco tostões.
Nunca fui grande admirador de filmes musicais, acho a maior parte deles aborrecidos e muitas vezes musicalmente descontextualizados. Mas existe um que me marcou de uma forma que de quando a quando vejo o filme, mas muito mais vezes oiço o duplo álbum ele é o fabuloso Les uns et les autres
Pois foi com este filme que descobri Ravel! Acontece-me com frequência ver um filme e ficar curioso da musica que ouço. E, logo de seguida ir "investigar" o que ouvi. E encontrar músicos e músicas muito interessantes.
Também eu! Impressionou-me de tal maneira que ainda hoje é a versão do Bolero de que mais gosto e até aprendi a tocar a peça com recurso a uma flauta.
agorgal Membro AAP
Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 09 2020, 15:02
TD124 escreveu:
agorgal escreveu:
...
Não sabia da existência desse filme ném dessa fotografia ... nunca vi uma tal acumulação de grandes musicos
Nem eu! Mas essa fotografia, guardada numa latinha de amendoins, arrastou para aqui esse filme que, para além dela, pouco tem de musical. Curiosamente o filme tem muito de actual, agora que as fronteiras são, por vezes, barreiras intransponíveis... e a fotografia acabou por ser um quase passaporte!
ruife Membro AAP
Mensagens : 111 Data de inscrição : 01/03/2016 Idade : 66 Localização : Quiaios
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 09 2020, 15:05
De um dos meus filmes favoritos, ou não fosse eu um grande apreciador de ficção cientifica: Blade Runner de Vangelis
Ccumprimentos
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TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 09 2020, 15:43
José Miguel escreveu:
... Depois há as bandas sonoras, sim, essas pequenas ou grandes faixas que qualquer um consegue identificar sem grande esforço. São de tal forma bem conseguidas que nem são necessárias imagens para hoje visualizar cenas completas na minha cabeça. (...) Ennio Morricone é o nome maior dentro do gênero, ...
Não gosto dos Western, talvez a façeta moralisadora dos grandes mestres americanos me tenha enjoado ou desviado do estilo. Ao contràrio adoro o Once upon a Time in the West do Sergio Leone que se afasta do modelo americano. Aqui a musica ultrapassa o simples acompanhamento, ela é o motor e por uma vez deixo as palavras de um critico françês que me pareçem bem descrever a obra! Deixo também uma sequência aonde não são ném as palavras (poucas) ném o cenàrio que criam a tensão, mas a pulsação desta musica alucinante...
"Ouin, ouiin, ouiiin, ..." Se todos não viram Once Upon a Time in the West, todos conhecem a horripilante melodia da harmonica, composta pelo Ennio Morricone. Quando o Bronson, mais asiático do que nunca, sopra no choroso instrumento, a tensão aumenta. Essa tensão artificial continua crescendo, é a força motriz do filme. Nesta ópera decadente, o Sergio Leone revela as suas armas favoritas: sequências dilatadas até não poder, planos petrificantes, visões cruas. Ele orquestra um balet de mortos suspensos, ampliando a poeira, as capas, o céu e a terra.
Dos rostos sinistros até aos corpos desejáveis (Claudia Cardinale, brilhante), dos massacres aos duelos, o cineasta engaja-se numa desmistificação do Ocidente. O mundo descrito é cruel e implacável, dominado pelo sadismo e pela vingança. Podemos achá-lo sobrecarregado, muito barroco, formalista. Mas apesar de tudo, continuamos petrificados, fascinados pelo realismo das situações...
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 09 2020, 15:52
ruife escreveu:
... Blade Runner de Vangelis
Grande, grande filme
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Ghost4u Membro AAP
Mensagens : 14344 Data de inscrição : 13/07/2010 Localização : Ilhéu Chão
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 09 2020, 16:29
ruife escreveu:
(...) grande apreciador de ficção cientifica.
Prezado ruife,
Também aprecio esse género. Recentemente, na RTP Memória, revi a série Galáctica.
Com melhores cumprimentos,
ruife gosta desta mensagem
agorgal Membro AAP
Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Cinema+Música Qui Nov 12 2020, 16:33
"West Side Story"
Realizado por Robert Wise e Gerome Robbins em 1961, é uma adaptação do musical da Broadway de 1957 com o mesmo nome, um "Romeu & Julieta" revisto à luz da Nova York dos anos 50.
Inicialmente pensada para ser "East Side Story", uma estória de rivalidades entre grupos de rua constituídos por jovens, de um lado judeus, do outro católicos (italianos e irlandeses), esta peça musical adaptou-se aos tempos da época acabando por retratar as rivalidades entre dois gangues de rua separados não por religião mas por etnia: os "Jets" (brancos, anglo-saxónicos mas também judeus, italianos e irlandeses), e outro constituído por jovens latinos (neste caso porto-riquenhos), os "Sharks". Repetindo o confronto entre as famílias Capuleto e Montéquio e o amor nascido entre rivais, Maria, recém-chegada de Porto Rico e irmã de Bernardo, chefe dos"Sharks", apaixona-se por Tony, membro dos "Jets"...
Cuidadosamente coreografado, o filme vive também do virtuosismo do compositor Leonard Bernstein, figura maior da cultura musical norte-americana.
Para aqueles que, para além da música, também se interessem pela imagem, deixo a nota que a edição Blu-ray comemorativa dos 50 anos de "West Side Story" é extraordinária pela explosão de cor que trás aos nossos ecrãs domésticos.
Programada para Dezembro de 2020 mas adiada para Dezembro de 2021, a estreia da nova versão de "West Side Story", realizada por Steven Spielberg, respeita a partitura de Leonard Bernstein mas com adaptação de David Newman.
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Fernando Salvado Membro AAP
Mensagens : 466 Data de inscrição : 02/03/2018 Localização : Parede
Assunto: Cinema+ Música Qui Nov 12 2020, 21:35
...Já todos vimos e ouvimos várias vezes o...MYFAIR LADY mas continua a ser visto e "ouvisto" com agrado...
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luis lopes Membro AAP
Mensagens : 4993 Data de inscrição : 25/02/2011 Idade : 57 Localização : Covilhã
Assunto: Re: Cinema+Música Dom Nov 15 2020, 14:42
Se fosse falar de filme e mais recentemente series, teria que editar um livro...
Blood runner é um eleito, também ficou na memoria o filme Terra sangrenta de 1984 https://www.imdb.com/title/tt0087553/ Pulp fiction https://www.imdb.com/title/tt0110912/ Jesus Cristo Superstar https://www.imdb.com/title/tt0070239/?ref_=nv_sr_srsg_0 Twin Peaks https://www.imdb.com/title/tt0098936/?ref_=nv_sr_srsg_0 Amadeus https://www.imdb.com/title/tt0086879/?ref_=fn_al_tt_1
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agorgal Membro AAP
Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Cinema+Música Dom Nov 15 2020, 21:05
Volto a Wenders para lembrar: "Paris, Texas" Um belíssimo "road movie" com música a condizer: Ry Cooder. De entre as suas muitas participações em bandas sonoras esta é, na minha opinião, a mais conseguida.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 16 2020, 12:41
O erudito realisador françês Alain Corneau fez ao menos dois filmes aonde a musica é o fio condutor e de uma certa maneira, uma das essências dessas obras. O primeiro é o Tous les Matins du Monde consagrado à vida do compositor Marin Marais do séc XVII. Este recorda com nostalgia o seu encontro com o Monsieur de Sainte-Colombe do qual foi aprendiz e que era o maior interprete de viola da gamba. Este filme de uma estética austera e profunda faz pensar a uma natureza morta. Num momento em que Sainte-Colombe recorda-se da sua falecida esposa ele toca esta peça e a recordação toma vida nele ... um momento melancolico e unico sobre a perda!...
O outro filme é Nocturne Indien que de uma certa maneira tém uma relação directa/indirecta com portugal. È baseado num romance do Antonio Tabucchi que foi escritor e traductor do Fernado Pessoa ... faleceu em lisboa. Este filme iniciàtico conta o caminho de um rapaz que busca um amigo desapareçido o que o leva até à India e a Goa. Esta viagem vai ser, mais do que a busca de um amigo, o encontro com ele mesmo ... serà uma viagem interior! Pautado pela musica do Schubert este filme de grande beleza plàstica mergulha o auditor nos complexos arcanos do ser ... uma viagem fascinante!...
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agorgal Membro AAP
Mensagens : 1442 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 16 2020, 13:06
Dos 60' do séc. XX:
"Blowup" Realizado em 1966 por Michelangelo Antonioni, conta-nos a estória de um fotógrafo de moda que, um dia em que fotografava num parque londrino, captou uma sequência de imagens perturbadora e que indiciava um assassínio. Antonioni abandona a sua Itália para mergulhar na cultura pop britânica. A banda sonora, composta por Herbie Hancock, contou com a interpretação deste e, entre outros, Freddie Hubbard no trompete e Jack DeJohnette na percussão. De salientar ainda a aparição dos Yardbirds (Jeff Beck, Jimmy Page, Keith Relf, Jim McCarty e Chris Dreja) num club de Londres.
"The Graduate" Mike Nichols realiza "The Graduate" em 1967. Um triângulo amoroso entre um jovem recém-graduado, uma mulher de meia-idade casada com um amigo da família e a filha desta. Para a banda sonora Mike Nichols escolheu uma série de canções dum duo então não muito conhecido: Simon & Garfunkel. Com o sucesso do filme veio também o sucesso de "The Sound of Silence" e "Mrs. Robinson".
"Easy Rider" "Road movie" de 1969, realizado por Denis Hopper, conta-nos uma viagem de mota pelo sul dos Estados Unidos. Harley-Davidson chopper "Captain America", cocaína, LSD e muita, muita marijuana. E música: The Band, Jimmy Hendrix, The Birds e Steppenwolf. Reza a história que Bob Dylan escreveu o primeiro verso da canção "Ballad of Easy Rider", tema do filme. O cinema abraça a cultura hippie e as suas pedras angulares: sex, drugs & rock-n-roll...
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 16 2020, 13:13
agorgal escreveu:
Dos 60' do séc. XX:
"Blowup" ............. "The Graduate"..............."Easy Rider" (...) cocaína, LSD e muita, muita marijuana. E música: The Band, Jimmy Hendrix, The Birds e Steppenwolf. ...
Belissimos filmes ... e musica
agorgal Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 16 2020, 18:04
TD124 escreveu:
Belissimos filmes ... e musica
Pois, caro TD124, vamos recordando aqui obras de arte que valem a dobrar: a arte da narração de estórias pela imagem em movimento a encantar os olhos e a arte do som modulado a que chamamos música a encantar os ouvidos. E ambas juntas a encantar o cérebro...
agorgal Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 16 2020, 21:24
Músicas do coração...*
José Miguel escreveu:
... essas pequenas ou grandes faixas que qualquer um consegue identificar sem grande esforço. São de tal forma bem conseguidas que nem são necessárias imagens para hoje visualizar cenas completas na minha cabeça. (...)
Caros amigos, aos primeiros acordes as imagens que os acompanham "saltam-nos pelos olhos dentro"! Deixo aqui algumas
De "Eyes Wide Shut" (Kubrick, 1999) Na falta de um vídeo do início do filme em que a câmara entra pela intimidade doméstica do casal Bill & Alice, algures numa rua de Nova York e ao ritmo da Valsa Nº 2 de Dmitri Shostakovich, deixo este, uma orquestração diferente e uma coreografia deliciosa...
De "Kill Bill, Part I" (Tarantino, 2003) A filha canta bem melhor que o pai... "Bang Bang, you shot me down" por Nancy Sinatra.
"In the Mood for Love" (Wong Kar-Wai, 2000) TD124 já aqui o lembrou e ainda bem. Yumeji's Theme, instrumental escrito por Shigeru Umebayashi para um outro filme, Yumeji, realizado por Seijun Suzuki em 1991.
* Quanto ao "The Sound of Music", escrevo sobre ele num dia em que acorde muito mal disposto. Se alguém quiser chegar-se à frente...
luis lopes Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Sex Nov 20 2020, 15:45
E o "disco" aterrou no cinema:
"Saturday Night Fever" Dirigido por John Badham em 1977 apresenta-nos Tony (John Travolta) que passa os fins de semana dançando numa discoteca de Brooklin. Música dos Bee Gees. Nada tenho a dizer deste filme, nunca o vi nem sou propriamente fã dos Bee Gees ou da música "disco".
Ao contrário de todos os outros que fui apresentando (e que, ou foram vistos no grande ecrã ou estão presentes nas minhas estantes - ou ambas as situações), trago estes para aqui apenas por uma razão: independentemente do meu gosto pessoal fazem definitivamente parte do universo dos musicais ou dos filmes em que a música tem lugar preponderante. Por esta razão vou meter no mesmo saco um ou outro que, com melhor conhecimento, talvez lá não merecesse estar.
"Grease", 1977, Randal Kleiser
"Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", 1978, Michael Schultz (Com os irmãos Gibbs e Peter Frampton - nada a ver com o álbum dos Beatles)
Como nota de rodapé: "Saturday Night Fever" foi considerado de interesse histórico e cultural pela Biblioteca do Congresso norte-americana, ao lado de obras como "Citizen Kane", "2001: A Space Odyssey", "The Shining", "The Kid" "12 Angry Men" "Blade Runner" e "American Graffiti", entre muitos outros.
José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Sáb Nov 21 2020, 23:04
Confinamento, um toque de amigos, uma possibilidade, ... acabei por ver o Documentário sobre Amy Winehouse. A imagem não é a mais representativa dela, mas fiquei com ela na cabeça.
Desde já o alerta, não aconselho a pessoas sensíveis, eu penei para ver do início ao fim.
O documentário está bem conseguido, segue uma linha narrativa que nos permite perceber a pessoa, mas acima de tudo a enorme capacidade que ela tinha de transformar em canções a sua própria vida. É impressionante como alguém conseguiu criar a sua auto-biografia ali mesmo, no virar dos acontecimentos. Cantar cada evento a quente... não admira que no final já não conseguisse cantar o que escreveu.
A fluidez da sua escrita só tem par na sua voz, era ainda uma menina quando começou, coisas desconhecidas do grande público já eram tão certeiras. Como se diz no documentário, como diz o povo, ela era jovem por fora, mas uma velha alma lá dentro.
Só é capaz de criar assim quem vive. A Arte alimenta-se da vida, não há outra forma. Não se expressa o que não se conhece ou vive. Ela viveu muito, conseguiu relatar.
Isto ainda está quente, este não é um documentário obrigatório, mas ajuda a perceber algumas coisas sobre a Música de Amy Winehouse. O resto... deixemos que a História trate de esquecer quem não interessa e que coloque na memória dos que virão quem merece.
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 23 2020, 09:04
José Miguel escreveu:
... Só é capaz de criar assim quem vive. A Arte alimenta-se da vida, não há outra forma. Não se expressa o que não se conhece ou vive. Ela viveu muito, conseguiu relatar.
Isto ainda está quente, este não é um documentário obrigatório, mas ajuda a perceber algumas coisas sobre a Música de Amy Winehouse. O resto... deixemos que a História trate de esquecer quem não interessa e que coloque na memória dos que virão quem merece.
Eu vi dois documentarios sobre a vida dela, não sei se esse faz parte dos que vi! Não sei se a Arte necessita realmente que o artista tenha vivido algo para que possa exprimir o seu sentir em relação a isso. Não sei se o Victor Hugo conheçeu na pele a miséria (Os Miseràveis), ou se a Amàlia foi prostituta como a Billie Holiday (Povo que lavas no rio) ... ou se o John Steinbeck viveu o exodo da grande depressão (As vinhas da ira), mas todos eles souberam comunicar aos outros esse sentir, vivido ou não. A vida da Amy Winehouse não me pareçe muito diferente dos faits divers que são exprimidos habitualmente no Rap; violência, droga, suburbios pobres, crise familial, segregação e etc! Pela sua vida ela fala da miséria moderna ... como tantos outros jovens de hoje, mas ela utilisa a linguagem do Jazz o que para alguns é a melhor maneira de transmitir essa miséria humana e nisso não estou de acordo. Ela não é uma Billie Holiday moderna ném uma cristalisação da dureza da sociedade actual, bem ao contràrio ... ela é um produto comercial! Talvez tenha sido esse o peso que mais a sobrecarregou, aquele que a destruiu (como a Whitney Houston e outros) ... e isso faz parte da miséria moderna também
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José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 23 2020, 13:22
TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
... Só é capaz de criar assim quem vive. A Arte alimenta-se da vida, não há outra forma. Não se expressa o que não se conhece ou vive. Ela viveu muito, conseguiu relatar.
Isto ainda está quente, este não é um documentário obrigatório, mas ajuda a perceber algumas coisas sobre a Música de Amy Winehouse. O resto... deixemos que a História trate de esquecer quem não interessa e que coloque na memória dos que virão quem merece.
Eu vi dois documentarios sobre a vida dela, não sei se esse faz parte dos que vi! Não sei se a Arte necessita realmente que o artista tenha vivido algo para que possa exprimir o seu sentir em relação a isso. Não sei se o Victor Hugo conheçeu na pele a miséria (Os Miseràveis), ou se a Amàlia foi prostituta como a Billie Holiday (Povo que lavas no rio) ... ou se o John Steinbeck viveu o exodo da grande depressão (As vinhas da ira), mas todos eles souberam comunicar aos outros esse sentir, vivido ou não. (...)
Paulo, não querendo questionar de toda a sua opinião sobre a obra e a própria Amy, não quero deixar de esclarecer o ponto que deixei.
Repare que eu coloquei dois verbos, que sendo complementares, não dizem exactamente a mesma coisa. A nossa mente, a imaginação, alimenta-se do que nós conhecemos, do que vivemos directamente ou indirectamente. Se não conhecemos, ou seja, se não percepcionamemos uma coisa, como a podemos pensar?
Os exemplo que o Paulo deu são todos distintos, Steinbeck experimentou (viu acontecer) a "grande depressão" de 1929 com 17 anos. A Amália cantou esse tema muito bem, o poema não é dela (é do Pedro Homem de Mello), mas ela passou o suficiente na sua vida, viu e sentiu, para conseguir dar significado às palavras. Victor Hugo viveu num tempo e lugar onde o que ele relata acontecia... até pior (a realidade ultrapassa sempre a ficção).
Para mim, o que me tocou no caso da Amy, prende-se com a capacidade dela escrever o que vivia quase no imediato. O Paulo saberá que ela escrevia bem antes do sucesso comercial, ele não escreveu apenas o Back to Black... O resto eu não comentei por não acreditar ser necessário, ver o documentário não alterou a minha opinião sobre o que conhecia dela, mas permitiu-me conhecer outras coisas e perceber melhor as letras (eu gosto de palavras).
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Seg Nov 23 2020, 14:02
José Miguel escreveu:
... Para mim, o que me tocou no caso da Amy, prende-se com a capacidade dela escrever o que vivia quase no imediato. (...) ver o documentário não alterou a minha opinião sobre o que conhecia dela, mas permitiu-me conhecer outras coisas e perceber melhor as letras (eu gosto de palavras).
Eu tinha percebido a tua intenção inicial ... e sei o quanto gostas da "palavra", por isso ém nada a minha intervenção ia contra a tua, era complementar
agorgal Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Sex Dez 04 2020, 17:27
Martin Scorsese novamente...
Poucos realizadores se mostram tão próximos da música como Scorsese. Afinal um dos seus primeiros trabalhos no cinema foi como editor e assistente de realização no filme-concerto "Woodstock" (1970) de Michael Wadleigh. Mais tarde, em 1978, realizou "The Last Waltz", o concerto-despedida dos "The Band". No ano anterior tinha homenageado Nova York, a sua terra natal, com o musical "New York, New York". Uma atribulada estória de amor entre um saxofonista (Robert DeNiro) e uma cantora de jazz (Lisa Minnelli). Para história da música ficou a canção tema deste filme:
Com uma carreira não menos ilustre como documentarista, Scorsese presenteou-nos com uma visão muito sui generis do universo da música popular:
"No Direction Home: Bob Dylan" de 2005, uma viagem pelos anos 1961-65 em que Dylan "estacionou" em Nova York e "Rolling Thunder Revue: A Bob Dylan Story by Martin Scorsese" de 2019, uma mistura documentário-ficção sobre a digressão "Rolling Thunder Revue" de 1975.
"Shine a Light" foi realizado em 2008 tendo como paisagem de fundo dois concertos dos Rolling Stones no Beacon Theatre, Broadway, integrados na digressão "A Bigger Bang Tour".
Em 2011 realizou "George Harrison: Living in the Material World", documentário biográfico sobre o "mais sossegadinho membro do quarteto de Liverpool".
Como nota de rodapé a canção final de "The Last Waltz":
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Mário Franco Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Sex Dez 04 2020, 22:03
Tópico engraçado
Cinema Paraíso
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Mário Franco Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Sex Dez 04 2020, 22:11
Um grande filme com gente do piorio música do piorio broncas do piorio
100% bad ass
agorgal Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Dom Dez 13 2020, 13:26
E o cinema mudo ganha voz (e música).
"The Jazz Singer" Realizado em 1927 por Alan Crosland, este musical sincroniza pela primeira vez a banda sonora bem como a voz (um pouco mais difícil de obter o que em termos técnicos se chama de "lip-sync"). Interpretado por Al Jolson, comediante e cantor norte-americano de origem lituana, conta a estória de Jakie Rabinowitz e o choque entre as suas ambições enquanto cantor de jazz e "entertainer" e a cultura e tradições da sua família judia. Alguns dos papéis desempenhados por Al Jolson ao longo da sua carreira são olhados, nos dias de hoje, com desconforto social dado o uso da caracterização "blackface" na qual ele era considerado um mestre.
agorgal Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Sex Dez 18 2020, 19:37
"Jonathan Livingston Seagull"
Em 1973 Neil Diamond escreveu a música e a letra para um filme de Hall Bartlett baseado na obra homónima de Richard Bach e que em Portugal teve como título "Fernão Capelo Gaivota". O filme (uma espécie de "The Karate Kid" para gaivotas) narra-nos a aprendizagem de uma ambiciosa e jovem gaivota que pretende ser o mais rápido dos pássaros acabando ostracizada pelo seu próprio bando. Ainda muito distante das novas tecnologias de imagem gerada por computador o filme, que não deixa de ser um exemplo interessante da utilização de animais reais enquanto actores, não obteve o sucesso comercial que antes tinha obtido o livro e depois a banda sonora. Esta acabou sendo premiada com o Grammy de 1974 para a melhor banda sonora e, tanto quanto me lembro, foi um sucesso de vendas por estas bandas.
Pessoalmente este filme, que vi quando tinha 15 ou 16 anos, despertou o meu interesse pelas gaivotas, elegantes na vestimenta, no porte, no voo... Tenho um casal de gaivotas "de estimação" que, todos os dias, vem lanchar à janela do meu gabinete de trabalho. E se estou desatento, uma delas bate insistentemente com o bico no vidro até me convencer a distribuir equitativamente meia dúzia de biscoitos por cada uma delas. Anualmente - entre maio e agosto - assisto ao crescimento de duas ou três crias num telhado adjacente que é, nos últimos dez anos, a habitação permanente da família. Quanto à banda sonora, acompanha muito bem o filme mas Neil Diamond não é um dos meus cantautores favoritos.
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agorgal Membro AAP
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Assunto: Re: Cinema+Música Seg Jan 11 2021, 19:36
"Der Himmel über Berlin" (As Asas do Desejo)
Há quem diga que é o mais belo filme da década de 80. Poderá isso ser discutível mas é (ou talvez seja) a obra-prima de Wim Wenders. Realizado em 1987, rodado numa Berlim então dividida pelo Muro, é uma estória de anjos que escolhem viver as emoções dos humanos em detrimento duma vida monocromática mas eterna. A banda sonora nunca se distancia da beleza do filme nem dos seus ritmos narrativos. Variada nos estilos e intérpretes apresenta-nos, entre outros, Laurie Anderson, Nick Cave & the Bad Seeds, Tuxedomoon e Minimal Compact. Há quem veja (e eu incluo-me nesse grupo) o filme como premonitório de uma Berlim liberta do Muro e onde o percorrer a cidade, sem a limitação física e política da época em que foi rodado, seria uma realidade futura.
Tive a felicidade de, passados 2 anos de me sentar numa cadeira de uma qualquer sala de cinema (julgo que foi o Trindade) a assistir ao filme, assistir também ao cumprimento dessa premonição: