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Assunto: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Seg Jul 18 2022, 13:33
A jornada do Paulo com a série Arno inspirou-me a escrever uma pequena memória do que se passa nas caves da Cinnamon, não tenho jeito para fazer caixinha.
Gosto de fazer colunas, quero aprender mais e fazer mais. As Cassia surgiram da minha necessidade e a sua projecção na parede da caverna delimitou uma forma agradável para um produto, que lançou a Cinnamon. A electro acústica fascina-me, é a minha praia. No final deste ano deverá surgir a irmã mais nova das Cassia, um desafio interessante.
Com tudo isto surge a obrigatoriedade de ter um caminho digital para o meu sistema que possa acompanhar o desenvolvimento e levar as colunas e amplificação ao limite. Procurei e inventariei a oferta do mercado em servidores, streamers e DACs com afinco e saí frustrado: claro que o que quero começa num patamar de valores aos quais não tenho acesso. A oferta à qual posso demonstrar interesse tornou-se rápidamente também um exercício de desespero. Ou com demasiados compromissos funcionais ou com designs irrelevantes na melhor das hipóteses, ofensivos na pior.
Entro imediatamente no meu modo por defeito: não há, fazes tu. Um protótipozinho, só para ti, enche as medidas e continuas caminho. Procurei, liguei, arranjei componentes e planos, sabia exactemente por onde começar: actualizar o meu streamer, depois o meu DAC. Passa o extase da ideia inicial e surge a primeira ideia madura: sabes o que queres, queres porque não há. Tens uma coisa que outras pessoas podem querer. Tens a semente de um aparelho que pode ser um produto.
Requisitos do streamer: - técnicamente irrepreensível - flexível e não encaixotar o utilizador em tretas proprietárias - não parecer um streamer
As duas primeiras são 'simples'. Sabia faz algum tempo o chipset que queria usar, o tipo de funcionalidade e sabia a performance que ia tirar disso, sabia com quem falar para me customizar as placas em que me queria basear e o que pedir. Rapidamente falei com o meste JP que com toda a graciosidade do mundo me ensinou sobre fontes de alimentação e com toda a graciosidade do universo me desenhou e montou uma para a Cinnamon.
A parte complicada é fazer isto não se parecer com um streamer ou um brinquedo mas sim com uma coisa com toda a dignidade que se exige de um componente de hifi
Mais na parte 2.
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Seg Jul 18 2022, 14:21
Isto começa a mexer
ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Seg Jul 18 2022, 14:56
Há poucas coisas que me desconcertem mais do que ver computadores mal disfarçados a ocupar lugar num sistema de hifi. É uma panca, nada mais, mas posso justificar-me o melhor que consigo. Não gosto das caixas fininhas em metal quinado, com uma frente cuja única inspiração é a necessidade de camulflar a caixa de PC adaptada, as conecções nas traseiras ainda com as portas ínuteis das motherboards a mostrar. É uma reação primária à perguiça e falta de empenho. E quase respeito
Percorro as minhas referências, tenho umas ideias, mostro a confidants e... não recebo o feedback desejado. Para além disso, há uma sensação de claustrofobia que se desenvolve quanto ao design: sinto que estou a explorar os limites da minha capacidade aqui. Que estou a deixar desmasiadas coisas na mesa e a vedar caminhos futuros. Parece exagerado, mas aprendi a confiar nesta sensação quando surge.
Volto às minhas referências e noto uma coisa interessante: é claro quando isto foi desenhado pelo próprio ou quando passou por um processo de design rigoroso e regrado, por mãos que sentem de modo diferente. Segunda ideia madura: "deixa-te de tretas Ricardo, sozinho não vais a lado algum e precisas de ajuda a perceber sequer o que queres". Umas poucas conversas depois, chego a uma proposta que me agrada a todos os níveis: uma amiga de infância, agora afastada (pelo espaço e tempo) está a montar o seu estúdio de design com o companheiro. Arquitectura, design industrial e gráfico, têm B&O dos 80s na sala, idolatram o altar do Dieter e não percebem nada mais de HiFi. O que mais há a pedir?
Briefings, conversas, esquemas e muitas horas a bater contra o ar.
O processo foi muito gratificante: duas pessoas a transbordar de curiosidade e criatividade, uma visão do mundo muito própria e não contaminadas com as vicissitudes de ter que fazer coisas como HiFi, a debater comigo sobre tudo e a empurrar para trás em tudo onde se podia agarrar. O desafio de criar uma linguagem de design que dê corpo à minha missão para a Cinnamon foi acolhido por todos e trilhámos muito espaço ao longo dos meses. A sua inabalável certeza de que tudo pode ser escultural e funcional ao mesmo tempo era precisamente do que eu precisava. De que tudo pode ser máximo sendo simultaneamente mínimo. A minha convicção de que materiais e processos pesados, ancestrais podiam ser combinados nessa visão e encontrar o lugar de uma peça de destaque numa sala bem recheada. Junto deu lugar ao que esperamos ser uma peça singular, diferente mas ao mesmo tempo reconhecível e que deve a sua leveza ao seu peso.
Mais na parte 3!
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Seg Jul 18 2022, 15:50
ricardo.canelas escreveu:
Há poucas coisas que me desconcertem mais do que ver computadores mal disfarçados a ocupar lugar num sistema de hifi... ... A sua inabalável certeza de que tudo pode ser escultural e funcional ao mesmo tempo era precisamente do que eu precisava. De que tudo pode ser máximo sendo simultaneamente mínimo. A minha convicção de que materiais e processos pesados, ancestrais podiam ser combinados nessa visão e encontrar o lugar de uma peça de destaque numa sala bem recheada. Junto deu lugar ao que esperamos ser uma peça singular, diferente mas ao mesmo tempo reconhecível e que deve a sua leveza ao seu peso...
Gostei desta fase de tensão e resolução... é do GY!BE em palavras, bem escritas ainda por cima! Confesso que sou uma pessoa com uma relação muito especial com o design... gosto que ele exista sém que seja visivel da mesma maneira que prefiro a sugestão à afirmação! Penso que pouco a pouco começas a dar uma resposta à questão deixada em suspensão no topico das Cassia; O que é o High End? Estou curioso de seguir esta nova epopeia
ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Seg Jul 18 2022, 22:24
Porquê Galle? Galle é um porto no Sri Lanka onde a canela era carregada nos barcos e levada para os outros cantos do mundo. O paralelo pareceu-me demasiado bom para lhe resistir, para além da beleza do nome.
Paralelamente ao design, que muito ia entusiasmando, ia refinando e experimentando com o lado técnico. Nunca tinha pedido transformadores à medida, muito menos envolvidos em mu-metal e mergulhados em epoxi. Medido e optimizado fontes de alimentação para garantir bom comportamento térmico numa caixa fechada. etc...
O streamer em si é na verdade um transporte (partindo de Galle se chega a todo o lado...), pensado para ser o quebra ruido entre o servidor de música (o PC, servidor de rack, um Roon Nucleus, o que for que usam para armazenar/escolher/stream os fiheiros), ao mesmo tempo que permite fazer algumas das funções do mesmo. Podemos ler e gerir a biblioteca de armazenamento local (pen, disco usb), rádio online, ler de um NAS, fazer stream de spotify, tidal, Qobuz, Dropbox e serve de endpoint para Roon também. É só ligar o cabo de rede e estamos a correr. Para além de por defeito passar música bit-perfect, pode também fazer operações sobre a mesma para quem precisar. Disponível estão equalização (gráfica e paramétrica), resampling e upsampling e DSP com mais taps do que é preciso para tudo o que ouver. Tudo isto servido por uma versão custom do Moode pela Cinnamon, que corre belamente no processador ARM. A saída USB tem um BUS próprio, as saídas SPDIF e I2S são isoladas galvanicamente. As conexões todas Neutrik e isoladas.
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Seg Jul 18 2022, 23:09
Os requisitos para o design sempre contemplaram algumas linhas mestras, principalmente o resultar numa linguagem, isto é, um desenho com elementos de geometria, materialidades ou conceitos fortes que sejam transponíveis para outros produtos, de modo a criar uma linhagem, várias coisas que façam sentido tanto separadas como juntas.
Enquanto mexíamos a panela do design, como não tinha já suficiente no prato, decidi por a escalabilidade do que saía da colaboração com os designers a teste: então e se fizer o DAC também já? Lançar as duas coisas em conjunto seria muito mais interessante e desafiante.
Requisitos do DAC: - não baseado num chip de prateleira, para isso compro mais um smsl - flexível e não encaixotar o utilizador em tretas proprietárias - não parecer um dac - suporte para altas taxas de amostragem e profundidade de palavra - entradas usb e coax - saidas single ended e balanceado - 'modular' - mais sobre isto a seu tempo
Já tinha feito pequenos dacs, brincadeira de 1 e 5 bits, não para áudio. Lembrei-me de trazer mais uma cabeça para o jogo, naquela que é provavelmente a terceira ideia madura desta pequena saga: um colega dos tempos de IST, com quem tinha perdido contacto. Lembro-me no entanto da sua tese de mestrado na construção de DACs para áudio de alta performance...
O resto escreveu-se mais rápido do que pensei possível: selecionámos a topologia, arranjámos fornecedor, recebemos amostras, programámos e testámos os filtros de entrada e saída, e pow, soube quando estava certo. Simplesmente dava para ouvir. Quando estamos a usar uns binóculos, temos que focar. Um pouco para a frente. Mais um pouco. Demasiado, um pouco atrás. Quase. Perfeito. Conseguimos ver tudo em foco e sabemos como era quando não estava focado. A experiência foi semelhante, um pouco mais laboriosa.
Para os mais inclinados, o DAC é dual mono, completamente diferencial, com uma FPGA encarregue do recklocing e alimentação da escadaria. São quatro escadas de resistências com 0.01% de tolerância a peneirar 28 bits. As entradas de sinal são isoladas galvanicamente. Há tres fontes de alimentação independentes. etc etc. Os filtros (entrada+saída) completamente desenhados pela Cinnamon, resultam num comportamento quasi-NOS. Representam, tanto quanto sei, o melhor compromisso entre a beleza do NOS e fazer aquilo que é suposto, que é fazer a vénia ao mestre Niquist. Conseguem ao mesmo tempo não ter ringing (efectivamente), não deformar o impulso de resposta e não produzir quantidades copiosas de ruído ultrasónico. Uma parte interessante do DAC é a saída: directa da conversão na escada. Não há amplificação no andar de saída, não há exactamente um andar de saída. Não há opamps ou outros entre o sinal à saída do dac e o amplificador.
E assim habemus Cinnamon Galle Transport e Cinnamon Galle DAC.
Continua na próxima parte, já perdi a conta.
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Goansipife Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Ter Jul 19 2022, 08:14
Olá Ricardo,
Antes demais muitos parabéns pelo projeto, que me contenta que o tenhas levado a cabo, depois das nossas conversas.
Não sei se existe, ou não, algo igual ou semelhante no mercado. Não é isso eu me interessa!
O que me interessa é tudo aquilo que escreveste até agora. Não um produto diferente, mas sim um produto distinto, o que não é, de todo, a mesma coisa.
Como se diz no campo das arte performativas… Muita m*&da, ou Break a leg
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Ter Jul 19 2022, 10:05
TD124 escreveu:
Penso que pouco a pouco começas a dar uma resposta à questão deixada em suspensão no topico das Cassia; O que é o High End? Estou curioso de seguir esta nova epopeia
Espero que vá ficando claro (até para mim) o que é esta coisa do high-end para a Cinnamon aqui nestes posts nos próximos dias.
Neste momento, antes de ir revelando o desenho, a construção e mais detalhes, posso afirmar que para mim, mais do que tudo, high-end é a resolução entre a minha necessidade (que pode ser mais do que estritamente funcional, e tão extrema quanto a sentir e minha e só minha) e o meu desejo (mediado por tudo o que sabemos criar estas sensações), liberto de tudo o resto que puder. Isto lê muito abstrato e bacoco, mas escolhi bem as palavras. A minha necessidade enrolada pelo meu desejo, durante uma décima de segundo que se lixe o resto do mundo. Se isto entrar em ressonância com alguém, fico feliz por poder proporcionar esse momento de high-end.
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Ter Jul 19 2022, 10:10
ricardo.canelas escreveu:
... Os filtros (entrada+saída) completamente desenhados pela Cinnamon, resultam num comportamento quasi-NOS...
È sabido que o audio é um reino repleto de igrejas e religiões... não sou um especialista do digital mas sempre pensei que este não seria diferente do analogico ao nivel dos deuses, pareçe-me ser o caso. Quando falo com colegas ou leio sobre a conversão digital para analogico apareçem sobretudo duas topologias em concurrência, a R2R (escada) associada aos chips NOS da Philips e mais recentemente à DCS e TotalDac e os DS (Delta Sigma) que representam a maioria, ou a totalidade dos chips monoliticos modernos. Evidentemente isto é o alfa e o omega e não posso deixar de pensar à eterna lenga lenga entre vàlvula ou o transistor. Para uns sò um Dac R2R sém filtragem pode ser açeite em audio e ofereçe o som analogico... para outros, sò o DS bem implementado faz a vénia ao mestre Niquist, utilisando a tua expressão
Voçês fizeram a vossa escolha pelo que vejo e adicionaram a filtragem, suponho que experimentaram também sém filtros no espirito dos Dac's NOS que estão na moda. Podes explicar as razões dessa vossa escolha assim que as diferenças sonoras (ou de medida) ressentidas com e sém filtragem?...
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Ter Jul 19 2022, 11:06
TD124 escreveu:
È sabido que o audio é um reino repleto de igrejas e religiões...
Voçês fizeram a vossa escolha pelo que vejo e adicionaram a filtragem, suponho que experimentaram também sém filtros no espirito dos Dac's NOS que estão na moda. Podes explicar as razões dessa vossa escolha assim que as diferenças sonoras (ou de medida) ressentidas com e sém filtragem?...
Boa pergunta. Vou no entanto ser um pouco elusivo, se me permites É um mecanismo de defesa perante a tua primeira constatação, que entendo e sobre o qual tenho (temos) que me (nos) equilibrar.
Existem milhentos argumentos para ser feitos, que misturam a técnica com a experiência auditiva. Posso argumentar de um lado ou de outro com facilidade. Por um lado, é óbvio que temos que filtrar a descodificar, é a imagem espelhada do que foi feito pelo ADC quando foi codificado, já lá está, não o fazer é errado. É como tentar abrir uma porta sem a chave certa. E por aí a fora. Por outro é também notório que não filtrar (mesmo NOS tem um filtro implícito, mas assumamos que não há filtro...) resulta em comportamentos interessantes e a maioria do problema está fora da nossa gama auditiva, logo não interessa. E por aí fora.
A parte importante disto é que todos estejam cientes do seguinte, qualquer escolha é um compromisso. Não há escolhas perfeitas, mas sim um contínuo de vales e montanhas, e toda a gente aponta para o topo da montanha que vê à frente, esperando que seja o everest e não o kilimanjaro.
No final do dia, depois de argumentar trás para a frente, cima para baixo, e repetir os últimos 30 anos de drama, tivémos a capacidade de experimentar algo um pouco diferente, proporcionado pela arquitectura que rodeia a escada deste dac (naquilo que é a verdaeira beleza do r2r, és livre de implementar o que queres como queres, não estás preso aos cordeis de um fabricante de chips). Não é NOS (no verdadeiro e estrito significado, há um filtro FIR de entrada) mas o filtro resultante dessa entrada mais o de saída tem uma resposta que é típica de NOS onde interessa, de OS onde dá jeito.
O resultado é... injusto de descrever. Tenho muita vontade de o ouvir em outros sistemas, com outras colunas e amplificadores. Aqui em casa, estávamos a mudar os filtros de modo cego e conseguimos sempre acertar qual era o nosso, ao longo de vários dias, porque a janela para a música parece consistentemente mais transparente.
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Ter Jul 19 2022, 11:44
ricardo.canelas escreveu:
...Aqui em casa, estávamos a mudar os filtros de modo cego e conseguimos sempre acertar qual era o nosso, ao longo de vários dias, porque a janela para a música parece consistentemente mais transparente.
Visto pelo ângulo de uma das minhas religiões... essa frase por si sò serve-me perfeitamente como resposta
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Ter Jul 19 2022, 13:02
ricardo.canelas escreveu:
... Uma parte interessante do DAC é a saída: directa da conversão na escada. Não há amplificação no andar de saída,não há exactamente um andar de saída. Não há opamps ou outros entre o sinal à saída do dac e o amplificador...
Para continuar a dar corda à conversa, e a te obrigar a escrever, confesso que é a parte do Dac que me pareçe arriscada e aonde podes (podém) te encontrar numa posição de equilibrista. Existém dois pontos aonde a impedância pode jogar um papel importante na saida desse Dac: (1) Entre o FPGA e a escadaria... e (2) entre a saida do Dac e a entrada do Pré ou do Integrado. No segundo caso com material a vàlvulas o problema està resolvido em principio, com transistores depende... mas no primeiro caso
È sò para dar conversa
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José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Ter Jul 19 2022, 22:30
É um gosto e um gozo poder assistir ao desenvolvimento de uma marca e produtos de forma tão próxima.
Não sei se o Ricardo pensou em algo como o "travel & listen", não necessariamente como o plano aqui ao lado, mas alguma apresentação pública (restrita).
Os princípios da Cinnamon estão a ganhar força, o desenvolvimento dos vários produtos permitirão circunscrever o melhor raio de acção.
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qua Jul 20 2022, 10:10
TD124 escreveu:
(2) entre a saida do Dac e a entrada do Pré ou do Integrado
A impedância de saída é de 1250 Ohm/~2.5V em balanceado, metade disso em single ended. Claro que uma entrada de um pré com muito baixa impedância vai baixar a voltagem, mas não conheço nenhum que levante problemas. Claro que o normal é ter uma ordem de magnitude menos Zout.
TD124 escreveu:
No segundo caso com material a vàlvulas o problema està resolvido em principio, com transistores depende... mas no primeiro caso
È sò para dar conversa
Conversa aceite! A ideia da 'modularidade' do DAC prende-se precisamente com isto: ao ser viável sem andar de saída, posso desenhar andares de saída com caracteristícas diferentes, que podem simplesmente ser adicionadas à posteriori. No limite posso dar a opção ao ouvinte de transformar o seu som, ou adaptar a uma qualquer particularidade do seu sistema... É algo que me excita e assusta simultaneamente
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qua Jul 20 2022, 13:22
ricardo.canelas escreveu:
... posso afirmar que para mim, mais do que tudo, high-end é a resolução entre a minha necessidade (que pode ser mais do que estritamente funcional, e tão extrema quanto a sentir e minha e só minha) e o meu desejo (mediado por tudo o que sabemos criar estas sensações), liberto de tudo o resto que puder. Isto lê muito abstrato e bacoco, mas escolhi bem as palavras. A minha necessidade enrolada pelo meu desejo, durante uma décima de segundo que se lixe o resto do mundo. Se isto entrar em ressonância com alguém, fico feliz por poder proporcionar esse momento de high-end.
Tinha deixado para mais tarde esta intervenção que me pareçe mostrar uma façeta deveras interessante da Cinnamon audio, ou tua para resumir. Tu assumes e carregas nas tuas costas os conçeitos e objectivos da tua marca, ela confunde-se contigo... é ousado e intenso e acho mesmo extremamente refrescante. Tu falas raramente de mercado e deixas uma imagem de liberdade criativa que não se prende ném com as tendências ném se dobra às linhas directivas comerciais. Essa independência intelectual pode limitar, ou aumentar, o numero de pessoas capazes de entrar em ressonância contigo (Cinnamon) criando um obstaculo inesperado entre o desejo e o fantasma do consumidor. Pessoalmente, e tendo uma maneira complétamente diferente de conduzir a minha marca, acho que a tua atitude tém "a maneira" e é suficientemente rara para que eu sinta a vontade de o sinalar, Bravo!
ricardo.canelas escreveu:
... A ideia da 'modularidade' do DAC prende-se precisamente com isto: ao ser viável sem andar de saída, posso desenhar andares de saída com caracteristícas diferentes, que podem simplesmente ser adicionadas à posteriori. No limite posso dar a opção ao ouvinte de transformar o seu som, ou adaptar a uma qualquer particularidade do seu sistema... É algo que me excita e assusta simultaneamente
No seguimento do que disse antes considero que esta resposta (ainda) confirma mais o que eu disse atràs... mesmo se introduzes a ideia que a tua audàcia acaba por te assustar. Compreendo o problema e sei que hoje estàs em frente dessa realidade, que é bom de partilhar com os outros. Ver o horizonte maritimo cortado por eolicas pode ser assustador, ver o mar cheio de eolicas como em Rødsand pode ser assustadormente belo... sempre o problema da quantidade, dos extrêmos. Roçar os limites é excitante, ultrapassar os limites é assustador... eis a impenetràvel complexidade da criação no audio, escolher ou deixar escolher!
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qui Jul 21 2022, 15:16
Sem querer revelar ainda o design final, posso partilhar aromas.
Como disse, não gosto quando material de HiFi se confunde, se deixa confundir (ou é) um banal exercício em electrónica e digital. Acho que perde uma capa de dignidade e intemporalidade que lhe assenta bem. Quando falamos de equipamento particularmente caro... A minha pressão arterial sobe ainda mais. Um amplificador de 150Kg, enorme, imponente. Sabem o que falta? Um rídiculo ecrã tft de 5x5cm na frente, com indicações e botões e menus, digno de um telemóvel de 2005. Isto sim, eleva a proposta. No mercado dos componentes digitais então, chego a sentir repulsa pelo design de algumas coisas. Como isto para mim é um exercício em necessidade e desejo, não posso deixar de tentar abordar o tema.
Os designers com que me emparelhei perceberam completamente a missão, como apaixonados por escultura moderna e contemporânea que são. Partimos então para a descoberta de materialidades e processos capazes de cumprir a função básica (acomodar os componentes) e apresentar-se como uma proposta anti-obsolescencia. Na verdade sempre quis mais, adoro quando os objectos têm uma vida própria, um tempo próprio. Uma qualquer estátua numa praça em bronze é um exemplo disso, nos seus ciclos de envelhecimento e renovação, nunca perde a sua função e desempenha-a com uma inabalável gravidade.
Algo importante para mim é também o respeito pelo conceito de sustentabilidade, no seu sentido mais largo. Produção local, trabalho local, material reciclável (quiçá já até reciclado) com pouca ou nenhuma perda.
Tudo isto junto resultou num vector demasiado definido para ignorar. Encontrámos uma pequena metalúrgica a 20 min da Cinnamon, familiar, com muito orgulho no que faz e com uma mensagem pouco comum no seu pequeno site: "Desafie-nos". Como assim?
Não houve dúvidas e conversas depois da primeira visita ao espaço do Sr. Óscar. Ao nos afastarmos do calor da gigante forja sabíamos exactamente o caminho a correr, sabiamos o que iamos sentir ao pegar e olhar para a peça, sabiamos que ia ser pesada. Só faltava saber o quão desafiante iria ser para o Sr. Óscar e para nós.
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qui Jul 21 2022, 19:17
José Miguel escreveu:
É um gosto e um gozo poder assistir ao desenvolvimento de uma marca e produtos de forma tão próxima.
Não sei se o Ricardo pensou em algo como o "travel & listen", não necessariamente como o plano aqui ao lado, mas alguma apresentação pública (restrita).
Os princípios da Cinnamon estão a ganhar força, o desenvolvimento dos vários produtos permitirão circunscrever o melhor raio de acção.
Estão soltamente planeadas algumas sessões de escuta... mas não tinha pensado lançar alguns à estrada. A ver...
José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sex Jul 22 2022, 18:43
ricardo.canelas escreveu:
Estão soltamente planeadas algumas sessões de escuta... mas não tinha pensado lançar alguns à estrada. A ver...
Existirem essas sessões de escuta já é um passo, eu apenas deixo o desafio para que se apresente em mais pontos de Portugal.
Não sei, e não será este o lugar certo para falar, se tem ou pensou parcerias, se vai optar de forma exclusiva pelo "direct-to-consumer", contudo a exposição nunca fez mal a ninguém.
José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sex Jul 22 2022, 18:52
TD124 escreveu:
ricardo.canelas escreveu:
... posso afirmar que para mim, mais do que tudo, high-end é a resolução entre a minha necessidade (que pode ser mais do que estritamente funcional, e tão extrema quanto a sentir e minha e só minha) e o meu desejo (mediado por tudo o que sabemos criar estas sensações), liberto de tudo o resto que puder. Isto lê muito abstrato e bacoco, mas escolhi bem as palavras. A minha necessidade enrolada pelo meu desejo, durante uma décima de segundo que se lixe o resto do mundo. Se isto entrar em ressonância com alguém, fico feliz por poder proporcionar esse momento de high-end.
Tinha deixado para mais tarde esta intervenção que me pareçe mostrar uma façeta deveras interessante da Cinnamon audio, ou tua para resumir. Tu assumes e carregas nas tuas costas os conçeitos e objectivos da tua marca, ela confunde-se contigo... é ousado e intenso e acho mesmo extremamente refrescante. Tu falas raramente de mercado e deixas uma imagem de liberdade criativa que não se prende ném com as tendências ném se dobra às linhas directivas comerciais. Essa independência intelectual pode limitar, ou aumentar, o numero de pessoas capazes de entrar em ressonância contigo (Cinnamon) criando um obstaculo inesperado entre o desejo e o fantasma do consumidor. Pessoalmente, e tendo uma maneira complétamente diferente de conduzir a minha marca, acho que a tua atitude tém "a maneira" e é suficientemente rara para que eu sinta a vontade de o sinalar, Bravo!
(...)
Não te vou largar o colarinho
Eu é que tenho a fama, mas o Paulo está a ficar um perito em transformar as conversas técnicas em conversas realmente interessantes: onde se junta a técnica aos princípios teóricos ou orientadores.
Gosto muito de ler aqui como as ideias se vão formando e transformando, se atingem objectivos e se juntam sensibilidades para que nasçam produtos.
Toda a marca passa por vários pontos ao longo do processo de crescimento, no início os valores pessoais marcam muito e, tal como em nós, dificilmente sairão de cena. Com a maturidade poderemos assistir ao atenuar de algumas características, mas que não se percam os conceitos.
O high end descrito pelo Ricardo daria uma conversa e tanto, mas vai ao encontro do que está presente no site da marca e nos genes da marca. A procura pela resposta, a melhor resposta, é às perguntas dos consumidores, elevação de uma sensibilidade que poderá vir a chocar.
Pergunta malandra: quanta flexibilidade tem o Ricardo para tornar essa sua máxima uma lei universal?
Não resisti...
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Jul 23 2022, 15:46
ricardo.canelas escreveu:
Sem querer revelar ainda o design final, posso partilhar aromas. ...
Não houve dúvidas e conversas depois da primeira visita ao espaço do Sr. Óscar. Ao nos afastarmos do calor da gigante forja sabíamos exactamente o caminho a correr, sabiamos o que iamos sentir ao pegar e olhar para a peça, sabiamos que ia ser pesada. Só faltava saber o quão desafiante iria ser para o Sr. Óscar e para nós.
Excelente teasing
ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Seg Jul 25 2022, 10:45
José Miguel escreveu:
Existirem essas sessões de escuta já é um passo, eu apenas deixo o desafio para que se apresente em mais pontos de Portugal.
Não sei, e não será este o lugar certo para falar, se tem ou pensou parcerias, se vai optar de forma exclusiva pelo "direct-to-consumer", contudo a exposição nunca fez mal a ninguém.
Estas duas caixas são as coisas que me permitem pensar, explorar e estruturar esse tipo de relações. A ver o que se encontra
ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Seg Jul 25 2022, 11:00
José Miguel escreveu:
O high end descrito pelo Ricardo daria uma conversa e tanto, mas vai ao encontro do que está presente no site da marca e nos genes da marca. A procura pela resposta, a melhor resposta, é às perguntas dos consumidores, elevação de uma sensibilidade que poderá vir a chocar.
Pergunta malandra: quanta flexibilidade tem o Ricardo para tornar essa sua máxima uma lei universal?
Não tenho a certeza de ter percebido a pergunta, arrisco-me a dizer que não na verdade...
Há uma coisa que tenho ciente, desde a génese da Cinnamon. Este não é um caminho que possa tentar fazer sequer sem ser absolutamente honesto no meu ethos interno. Pela escala, falta de recursos e simplesmente porque é a coisa correcta a fazer, tudo aqui tem que ser directo e sem artifícios, tem que apelar a mim e eu tenho que me manter o meu maior céptico.
Não sei se é uma prática particularmente sustentável ou escalável, mas estou a tentar colocar-me em posição de descobrir
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qui Ago 04 2022, 21:58
Hoje foi dia de fazer uma visita ao Sr. Óscar e fazer mais experiências no nosso dac e transporte.
Fiz questão de não capturar o sorriso de todos durante o fascinante e hipnótico ritual.
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sex Ago 05 2022, 11:37
ricardo.canelas escreveu:
Hoje foi dia de fazer uma visita ao Sr. Óscar e fazer mais experiências no nosso dac e transporte.
...
O nosso amigo Ricardo possui a arte, em vias de extinção, da Mise en Scéne e do deslocamento! Agarrar em dois produtos digitais reputados frios e impessoais e decidir de forjà-los jà é em si ironico. Portanto não foram os altos fornos do inferno que ele escolheu mas o fogo metafisico do Hefesto... aquele que cria a beleza pela liquefação disforme do metal em fusão, aquele que forja as armas eternas dos deuses. Não posso deixar de pensar até que ponto ele deve andar entusiasmado com a ideia de modelar todos estes simbolos tal um Deus criador dando forma e insuflando um suspiro de alma em objectos reputados inertes de vida. Não posso deixar de ver nesta irredutivel atitude, quase arrogante, uma vontade de trilhar um caminho pessoal que conduza a um além desconhecido mas repleto de essência, hà uma forma de panache nisto tudo...
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José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sex Ago 05 2022, 12:15
O Ricardo está de parabéns pela evolução da sua marca, produtos, dedicação a estas causas. Espero que ele tenha filmado mais, é uma excelente forma de revelar o trabalho que tem feito, ao mesmo tempo colocar outros a trilhar um percurso que se sobrepõe dele - consumidores apaixonados valem por muitos.
Fico a aguardar por mais novidades e imagens dos procesos.
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sex Ago 05 2022, 12:20
Excelente! A Cinnamon està a se tornar mestre no teasing...
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mannitheear Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sex Ago 05 2022, 20:33
This is extremely fascinating and unique!
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Ago 06 2022, 14:02
mannitheear escreveu:
This is extremely fascinating and unique!
Indeed... and Ricardo became a master delivering some sneak peeks to increase the frustration on the readers. I guess that Cinnamon audio have a very skilled, and expensive, marketing service...
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qua Ago 31 2022, 13:46
Após uma mui necessária distância e pausa para ganhar folego acima da linha de água, tenho mais um pouco de clareza para continuar a escrever. Estou perto de ter o primogénito da linha Galle nas mãos, até lá... Ficamos pelas linhas mestres.
Como tinha dito anseio por uma linguagem de elementos de hifi com um gravitas imediatamente reconhecível e inescapável, mas com espaço para ser uma peça funcional ao mais alto nível. Falharia inevitávlemente se não tivesse a equipa de design a servir de terapeuta e exorcista. O conceito com o transporte e dac passa por explorar o quão longe podemos ir sem elementos de interface formais (botões, luzinhas e afins), proporcionando uma experiência leve e despreocupada, no que é o espaço estreito mas delicioso em que estas pelas peças querem habitar. Leveza de linhas e peso de forma. Comportamento de estado da arte com a simplicidade operacional de um cobertor de inverno.
O resultado é a ausência total de interface. O botão de power está nas traseiras. Não há ecrãs nem coisas que piscam. Não há selectores. O transporte tem uma interface web que consultamos no telemóvel ou pc. O dac seleciona automaticamente a entrada consoante a presença de sinal. São dois monolitos enamorados, orgulhosamente antitéticos com aquilo que se espera de componentes digitais. O único elemento vísivel, o único ponto de luz, será mudo e terá que travessar muito corpo para chegar a um utilizador atento.
Entretanto o Sr Óscar esmerou-se na elaboração dos primeiros elementos. O corpo principal do nosso design orbita em redor de massa. A caixa do transporte e dac são dois blocos maciços de aluminio, com o mínimo de espaço vazio para caber a alma e nada mais. Todos os componentes têm a sua câmara, onde vão residir isoladamente do mundo exterior, sem saber que fazem alquimia com música para outras almas.
O resto ainda está para vir.
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José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qua Ago 31 2022, 19:51
É um gosto ler sobre a evolução desses dois elementos, tenho muita curiosidade por ver o produto terminado, pronto a ser e estar numa qualquer estante ou aparador.
Deixar aos sentidos o que eles podem receber e à razão o acto de explorar o não sentido é um caminho para a Arte, que resultado terá um sistema completo pensado pelo Ricardo!?!
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qua Ago 31 2022, 21:46
José Miguel escreveu:
... que resultado terá um sistema completo pensado pelo Ricardo!?!
... Muito boa pergunta!!!...
Diria que seria algo ... mas com esse rapaz pode ser
... ... ... ...
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qua Ago 31 2022, 21:54
José Miguel escreveu:
... tenho muita curiosidade por ver o produto terminado, ...
Eu também!... tenho resistido até agora de fazer um spoiler sobre a escuta mas jà começo a ter comichão. Se ele continuar de cheirinho em cheirinho como até aqui acho que vou acelarar as coisas e passar do cheirinho à prova...
Mesmo se considero que é a ele de tomar conta desse recado... ou a fazer um Travel & Listen
ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qua Ago 31 2022, 22:03
Também tenho curiosidade de saber o que seria um sistema desenhado por mim. E desejo. Mas há muitos degraus que preciso de subir antes de olhar sequer para lá desse muro, muito para aprender, ouvir, discutir e experimentar. Cada vez mais vejo o quão longe tem obrigatóriamente de ser o caminho para se poder estar ao nível a que quero estar, com conforto e confiança.
Paulo, estás à vontade para fazer uma pré-review, o resultado só vai para melhor daqui em diante
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qui Set 01 2022, 14:41
ricardo.canelas escreveu:
... Paulo, estás à vontade para fazer uma pré-review, o resultado só vai para melhor daqui em diante
Com um convite assim não resisto... e como pude escutar a "coisa" duas vezes, espaçadas de vàrios dias, a minha opinião não està longe de ser a definitiva, pelo menos da versão prototipo que escutei! Antes de mais vou lembrar as (grandes) controversas que subsistém à volta do "som digital" que conduzém actualmente a três familias sonoras: Os dacs classificados de frios e analiticos... os dacs deveras neutros e insonsos e enfim os dacs aveludados com um cheirinho de "analogico". Este ultimo grupo é geralmente associado aos dacs utilisando chips antigos da Philips ou as technologias de escada (Latter), Binaria ou R2R... que sendo proximas não são verdadeiramente iguais!...
O Ricardo escolheu uma configuração de escada para o seu dac, não sei se binària ou R2R, e sò ele pode dar as razões para ter enveredado por este caminho. Sendo o audio um fértil ninho de mitos e lendas existe a ideia que estas tecnologias são obsoletas ou antigas... é esqueçer que a DCS usa uma variante destes dacs e que a TotalDac utilisa esta tecnologia sém que ninguém considere estas marcas como revivalistas ou ultrapassadas. Evidentemente que o amigo Ricardo espetou um processador escolhido por si no seu dac e que alimentou esse chip com programas seus... sò ele poderà ir mais longe neste assunto. Dito tudo isto como preambulo posso passar aos meus sentimentos de escuta:
"O primeiro sentimento deveras evidente desde a primeira escuta é o de liquidez sonora pois a musica flui sém esforço num magnifico equilibro entre espaço, dinamica e tempo... é o que se chama habitualmente de Natural! O nivel de transparência é muito elevado permitindo de seguir o fraseado musical até aos limites do silêncio com precisão e contraste assim que os sons directos e indirectos o que cria sistematicamente uma tridimensionalidade muito especial, e espacial! Apesar disto não hà um sentimento de ultra definição mas ao contrario apareçe uma justeza tonal que contrebalança o desempenho analitico e assegura uma percepção da musica muito organica e coisa rara, com uma materialidade justa. Senti-me deveras entre o mundo analitico dos dacs Delta-Sigma e o universo mais espesso e aveludado dos antigos chip Philips, mas com um suplemento de "garra"... o contraste entre a macro e a micro dinamica confere ao dac uma sonoridade contemporanea num involucro rico em fineza e detalhes que lhe assegura um equilibrio permanente. A coerência tonal é excellente e os intrumentos antigos apareçem com toda a complexidade timbrica e a luminosodade desejada... esta vasta paleta de cores subjuga e ausência de colorações timbricas tranquiliza. Subsiste um cheirinho de contornos subtilmente aveludados que criam um charme discreto mas que penso (espero e desejo) vão se atenuar ou mesmo desvanecer como consequência da massa final do dac. Fiquei deveras impressionado pelo que ouvi e também pela (i)logica demonstração de "savoir-faire" da Cinnamon... "nmho" o dac Galle é de uma certa maneira a antitese ideologica e sonora das colunas Cassia e no entanto uma linha de união desenha-se que contém o todo numa soma que é superior às partes... é um exercicio perigoso e escorregadio mas que deve ofereçer ao criador uma experiência interior vertiginosa! O nosso amigo brinca com o fogo, mas com arte..."
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Ghost4u Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Qui Set 01 2022, 19:39
TD124 escreveu:
(...) O nosso amigo brinca com o fogo, mas com arte..."
José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sex Set 02 2022, 08:57
ricardo.canelas escreveu:
Também tenho curiosidade de saber o que seria um sistema desenhado por mim. E desejo. Mas há muitos degraus que preciso de subir antes de olhar sequer para lá desse muro, muito para aprender, ouvir, discutir e experimentar. Cada vez mais vejo o quão longe tem obrigatóriamente de ser o caminho para se poder estar ao nível a que quero estar, com conforto e confiança.
Paulo, estás à vontade para fazer uma pré-review, o resultado só vai para melhor daqui em diante
Aproveito a curta e confortável viagem de comboio para espreitar as respostas aqui dadas... passa-me pela cabeça isto (não é de hoje): a fonte do seu sistema completo seria mesmo um DAC?
A pergunta não tem rasteiras, é só para tentar compreender que tipo de crença/valores o move na busca pelo seu som, pois os DACs (como bem disse o Paulo) não soam todos iguais.
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sex Set 02 2022, 13:01
José Miguel escreveu:
Aproveito a curta e confortável viagem de comboio para espreitar as respostas aqui dadas... passa-me pela cabeça isto (não é de hoje): a fonte do seu sistema completo seria mesmo um DAC?
A pergunta não tem rasteiras, é só para tentar compreender que tipo de crença/valores o move na busca pelo seu som, pois os DACs (como bem disse o Paulo) não soam todos iguais.
Não considero o consumo de música em formato digital uma apoteose de nada, é apenas uma fonte das 3 plausíveis no que acho ser hifi, sendo que só duas delas é que estão mesmo acessíveis (ficheiro e vinil).
Por ter alguma experiência e necessidade de melhorar a minha fonte digital decidi começar por aí a trinhar um caminho. Não sei onde leva, mas tenho presente que um sistema que consegue conciliar fontes digitais e analógicas de modo consistente está a fazer algo de fundamentalmente bem.
Quanto ao que é o meu som, seria uma busca demasiado referenciada, extensa e pouco auto contida para expor aqui nesta thread. O Paulo faz um excelente trabalho de dizer muito e para já acho que as palavras dele sobre os meus equipamentos são muito mais poderosas que as minhas poderiam ser. Como desenho os meus equipamentos para mim antes de qualquer outro, são necessariamente uma extensão de mim e como evidencio o caminho para o meu som. Espero fazer sentido
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José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sex Set 02 2022, 23:44
ricardo.canelas escreveu:
Não considero o consumo de música em formato digital uma apoteose de nada, é apenas uma fonte das 3 plausíveis no que acho ser hifi, sendo que só duas delas é que estão mesmo acessíveis (ficheiro e vinil).
Por ter alguma experiência e necessidade de melhorar a minha fonte digital decidi começar por aí a trinhar um caminho. Não sei onde leva, mas tenho presente que um sistema que consegue conciliar fontes digitais e analógicas de modo consistente está a fazer algo de fundamentalmente bem.
Quanto ao que é o meu som, seria uma busca demasiado referenciada, extensa e pouco auto contida para expor aqui nesta thread. O Paulo faz um excelente trabalho de dizer muito e para já acho que as palavras dele sobre os meus equipamentos são muito mais poderosas que as minhas poderiam ser. Como desenho os meus equipamentos para mim antes de qualquer outro, são necessariamente uma extensão de mim e como evidencio o caminho para o meu som. Espero fazer sentido
O Ricardo faz-se entender muito bem, também por isso me permito a deixar perguntas.
A minha questão sobre o tipo de som que poderia ter um sistema seu prende-se precisamente com a frase que deixo sublinhada. Não existe criação sem o dedo do criador, tal como não há fenómenos sem os sentidos e razão do observador. O Ricardo observa o fenómeno música reproduzida pelos seus sentidos e razão, no fundo (ou no seguimento de uma conversa de outro tópico) interessa-me muito compreender como se definem as linhas com que cose um criador de equipamentos áudio, como se coloca perante a problemática dos limites da reprodução ou que caminho seguir escolhendo entre as limitações por encontrar junto de alguma a crença de proximidade à "naturalidade" possível.
Todas as fontes têm os seus limites, no meio das palavras do Paulo sinto que existe a tentativa do Ricardo fazer a espargata para construir uma ponte... sobre que rio? Que margens quer mesmo unir?
Já o estou a ver que nem Van Damme. Isto é conversa que pode ficar para outro lugar.
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Set 03 2022, 10:42
José Miguel escreveu:
... no fundo (ou no seguimento de uma conversa de outro tópico) interessa-me muito compreender como se definem as linhas com que cose um criador de equipamentos áudio, como se coloca perante a problemática dos limites da reprodução ou que caminho seguir escolhendo entre as limitações por encontrar junto de alguma a crença de proximidade à "naturalidade" possível.
Todas as fontes têm os seus limites, no meio das palavras do Paulo sinto que existe a tentativa do Ricardo fazer a espargata para construir uma ponte... sobre que rio? Que margens quer mesmo unir? ...
Não é uma conversa que me é dirigida... mas ela roça-me o suficiente para que sinta a vontade de meter o meu bodelho e dar a uma opinião. Existe a ideia que o acto criativo no audio segue um fio condutor suficientemente explicito para ser apresentado e defendido publicamente ora que ém muitos casos, na minha experiência em geral, não é isso que se passa. A criação no audio apresenta três facetas essenciais que muitas vezes se desiquilibram entre elas sendo estas facetas a técnica, a estética e o som!...
O fio condutor técnico pode ser globalmente defendido pois cada designer tém o seu "gosto", "crenças" ou "competências" mais elevadas numa ou noutra tecnologia e no final existe a medida que pode ser um arbitro ou mesmo o alvo... é um sector aonde é possivel de defender o caminho escolhido em função do objectivo. Jà o factor estética, e ponho nisto todos os elementos relativos ao "objecto" que é o aparelho, são mais dificeis a assumir e a lidar a partir de um certo ponto. A estética é a primeira das três facetas que começa a ser ambigua e dificilmente explicàvel... ou compreensivel o que vai dar no mesmo:
Enquanto a estética de um aparelho se limita ao aspecto funcional e assegura as duas mamelas que são a ergonomia e a robusteza (Audio Research, Lamm e etc...) não hà problema, mas quando ela busca algo mais "artistico" como a beleza, o design ou a elegância isso pode apareçer como um desvio funcional! Esta ambiguidade é alimentada pela miragem do audio como uma forma de criação artistica... o aparelho (obra) e o designer (artista) véem-se "despidos" da pura função técnica (funcional) para serem elevados num outro patamar menos material e mais espiritual, a musica e o audio tornam-se inseparaveis, eles tornam-se sinonimos. Em si esta vertente, ou desvio, cria uma ruptura entre os designers puros engenheiros, os meio-engenheiros e os artesãos que são vistos, e muitas veém-se a si mesmos, como verdadeiros artistas. Aqui jà temos um ponto de ruptura que torna as perguntas desse tipo feitas aos designers dificeis, e talvez sém interesse, de responder...
Enfim chegamos à faceta mais complicada que é o som! È a zona aonde um designer hoje se sente o menos à vontade para se exprimir pois para cada um dos seus argumentos uma etiqueta vai-lhe ser colada na testa... não hà margem de manobra para se explicar. Ao mesmo tempo e visto que todas as vertentes estéticas do som jà existém é dificil de se diferenciar, ora que isto é um factor primordial. Este absurdo no qual o audio caiu torna dificil de apresentar um fio condutor intelectual normalisado, ou mesmo logico. Na realidade também não teria sentido pois a maioria dos designers que conheço não téem um fio condutor explicito no interior deles, eles contentam-se de estar "na sua", ter prazer no que fazém e deixar a coisa correr e ver até aonde vai desaguar. Isto também não é facil a dizer a um publico que espera que a criação audio seja uma profissão de fé ou um mundo repleto de certezas... a diletância e o hedonismo não são vistos como forças neste dominio, ném noutros...
São estas as três linhas com que cose um criador de audio e deixei de fora as linhas comerciais pois estas três jà integram em si uma componente comercial deveras importante, que escolhi não abordar. Pragmaticamente ou inconscientemente cada designer vai ter que lidar com estes três elementos e fazer as escolhas que lhe asseguram a sua singularidade e a correspondência com o seu ideal interior... mesmo se este ultimo pode estar em evolução permanente. O unico elemento que dà sentido às escolhas e aos caminhos percorridos é o aparelho... é ele a cristalisação disto tudo e o unico elemento que pode ser singular. Perguntar a um designer com que "linhas cose" não pode criar uma nova resposta, ném talvez uma interessante, pois todas as "costuras" existém e são conhecidas... são as "camisas" que podem ser diferentes. Um aparelho pode falar muito melhor sobre as suas origens do que o seu criador... o vinho também. Aliàs, e aqui faço um desabafo pessoal, penso que os criadores são as pessoas menos desejàveis para falar do seu trabalho pois... aquele que dominar melhor o verbo e a comunicação serà mais sedutor e credivel e isso é patético nmho
PS: Sim, o Ricardo anda a fazer uma ponte entre alguns elementos contraditorios que citei neste texto... é ousado e possui uma forma de "panache" mas, aparentemente, é incompreensivel pois a tua pergunta mostra que não compreendeste os elementos em oposição. O Ricardo escreve muito bem mas tém uma caligrafia de médico, ou seja, ilisivel!!!
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mannitheear Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Set 03 2022, 10:49
José Miguel escreveu:
O Ricardo faz-se entender muito bem, também por isso me permito a deixar perguntas.
A minha questão sobre o tipo de som que poderia ter um sistema seu prende-se precisamente com a frase que deixo sublinhada. Não existe criação sem o dedo do criador, tal como não há fenómenos sem os sentidos e razão do observador. O Ricardo observa o fenómeno música reproduzida pelos seus sentidos e razão, no fundo (ou no seguimento de uma conversa de outro tópico) interessa-me muito compreender como se definem as linhas com que cose um criador de equipamentos áudio, como se coloca perante a problemática dos limites da reprodução ou que caminho seguir escolhendo entre as limitações por encontrar junto de alguma a crença de proximidade à "naturalidade" possível.
Todas as fontes têm os seus limites, no meio das palavras do Paulo sinto que existe a tentativa do Ricardo fazer a espargata para construir uma ponte... sobre que rio? Que margens quer mesmo unir?
Já o estou a ver que nem Van Damme. Isto é conversa que pode ficar para outro lugar.
I'm interested in these things, too! And how it relates to a phrase of the Cinnamon homepage I specially noticed:
Cinnamon Audio escreveu:
...the Cinnamon Ellipticum was designed to provide an irreprehensible clean window to your recorded music, in your room.
tomaz gosta desta mensagem
José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Set 03 2022, 12:04
TD124 escreveu:
(...) PS: Sim, o Ricardo anda a fazer uma ponte entre alguns elementos contraditorios que citei neste texto... é ousado e possui uma forma de "panache" mas, aparentemente, é incompreensivel pois a tua pergunta mostra que não compreendeste os elementos em oposição. O Ricardo escreve muito bem mas tém uma caligrafia de médico, ou seja, ilisivel!!!
Por defeito de formação (pessoal mesmo, não académica ou profissional) eu faço perguntas quando quero obter respostas. Atirar para o ar é possível a todos, querer conhecer e estar aberto para o conhecimento já é para menos.
É interessante como cada um de nós vê as coisas de forma diferente, até uma expressão popular. Eu perguntei com que linhas se cose e não com que pontos de costura se cose. O salto lógico que o Paulo tentou dar não foi feito por mim, foi só por si, mas mesmo que esse salto fosse possível, apenas quem não quer verdadeiramente conhecer pode aceitar que o facto dos pontos de costura serem conhecidos isso fecha algo em si... hoje usamos os mesmos pontos e as peças são bem diferentes do que eram há 100 anos - estamos a falar de costura no fórum. (no áudio é a mesma coisa, um esquema com 60 anos não resultará como há 60 anos... ou há 10 anos... as coisas mudaram)
Eu sei que as margens dos rios se podem unir com pontes, mas nenhuma ponte vai eliminar o rio como obstáculo ou distância. Há ainda a possibilidade de se construir túneis para unir as margens de um rio, a travessia faz-se, mas a forma de lá chegar não é a mesma. Dentro destas duas soluções de engenharia há as que respeitam mais a fauna e flora e as que são mais invasivas de um dos lados ou dos dois... uma ponte tirolesa é uma ponte, muito boa para o ambiente, mas pouco eficiente para a travessia de grandes volumes.
Que não se responda a perguntas como a que fiz eu aceito completamente, digo-o com honestidade por saber que a pergunta é complicada (sim, os rótulos são tramados e podem ser criados pelo facto de uma palavra ser colocada fora de contexto, mas acima de tudo aceito que não exista mesmo resposta) e por isso fechei dizendo que poderia ser conversa para outro lugar.
A pergunta pela fonte é simples, não tem uma rasteira, mas pelas palavras do Paulo parece-me que ele quer construir uma ponte leve (beliscar pouco o sinal) sem que perca a possibilidade de fazer passar grandes volumes (uma componente tida como orgânica que pode ser vista como um beliscão)... Gustave Eiffel conseguiu isso e deixou dois exemplos diferentes no Porto.
As linhas com que se cose toca isto que digo, não havendo perfeição, como queremos que seja a nossa imperfeição?
ps.: a pergunta antes de ser feita por mim é feita por cada uma das pessoas que constrói um sistema (de coisas compradas ou construídas por si), já contei que um professor nosso em todos os exames deixava as suas perguntas e uma alternativa, criar a própria pergunta e elaborar a resposta... pouquíssimos alunos arriscaram essa via em anos... a disciplina era Ontologia, aqui estamos a debater o "ser" das coisas.
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Set 03 2022, 12:49
José Miguel escreveu:
... As linhas com que se cose toca isto que digo, não havendo perfeição, como queremos que seja a nossa imperfeição? ...
Essa pergunta pareçe ter sentido para contigo... por extensão pensas que ela terà sentido para os outros, ora no meu caso ela não é valida. Conheçendo os limites técnicos do audio e a sua imperfeição... nunca me questionei sobre a forma que teria a minha visão dessa imperfeição, tentei e tento ultrapassà-la! Como disse um anonimo: A perfeição nunca existe no homém mas existe às vezes nas suas intenções... talvez seja isto a unica "arte" e "elevação" que possa existir na criação de audio, é uma maneira de ultrapassar-se, de transcendência
Admiro o teu interesse pelo conhecimento mas menos a obcessão associada... num livro que se chama "O porquê dos filosofos" o Jean-François Revel explica como a filosofia se esgotou desde o dia em que pariu a ciência, sendo esse o seu papel historico para ele. Penso que deverias ter feito estudos ciêntificos em vez de letras (a filosofia é um estilo literario)... seria muito mais simples de discutir contigo nmho
TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Set 03 2022, 13:07
José Miguel escreveu:
...A pergunta pela fonte é simples, não tem uma rasteira, mas pelas palavras do Paulo parece-me que ele quer construir uma ponte leve (beliscar pouco o sinal) sem que perca a possibilidade de fazer passar grandes volumes (uma componente tida como orgânica que pode ser vista como um beliscão)... Gustave Eiffel conseguiu isso e deixou dois exemplos diferentes no Porto. ...
Não, eu não subentendi isso, ném quiz, as minhas observações estavam ligadas à (in)coerência conceptual entre as Cassia e o Galle! Falei com o Ricardo disso em Portugal e exprimi o meu pensar... penso que qualquer pessoa que seguiu o projecto Cassia e agora o Galle pode compreender este meu sentimento. Se não é o caso então o rapaz està a fazer uma ponte transparente e isso é verdadeiramente unico
José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Set 03 2022, 18:29
TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
...A pergunta pela fonte é simples, não tem uma rasteira, mas pelas palavras do Paulo parece-me que ele quer construir uma ponte leve (beliscar pouco o sinal) sem que perca a possibilidade de fazer passar grandes volumes (uma componente tida como orgânica que pode ser vista como um beliscão)... Gustave Eiffel conseguiu isso e deixou dois exemplos diferentes no Porto. ...
Não, eu não subentendi isso, ném quiz, as minhas observações estavam ligadas à (in)coerência conceptual entre as Cassia e o Galle! Falei com o Ricardo disso em Portugal e exprimi o meu pensar... penso que qualquer pessoa que seguiu o projecto Cassia e agora o Galle pode compreender este meu sentimento. Se não é o caso então o rapaz està a fazer uma ponte transparente e isso é verdadeiramente unico
Eu nunca tive as colunas em mente quando abordei este tópico ou escrevi sobre "pontes". Na leitura que fiz das palavras do Paulo encontrei frases muito claras como esta: "Apesar disto não hà um sentimento de ultra definição mas ao contrario apareçe uma justeza tonal que contrebalança o desempenho analitico e assegura uma percepção da musica muito organica e coisa rara, com uma materialidade justa." Para continuar assim: "Senti-me deveras entre o mundo analitico dos dacs Delta-Sigma e o universo mais espesso e aveludado dos antigos chip Philips"
Ao ler isso, mas também isto: "Subsiste um cheirinho de contornos subtilmente aveludados que criam um charme discreto mas que penso (espero e desejo) vão se atenuar ou mesmo desvanecer como consequência da massa final do dac."
Fiquei com a ideia de um pé em cada margem, a tal ligação que descrevi como o Paulo cita e eu deixo em cima.
Não há nada de errado na descrição do Paulo, no trabalho do Ricardo também não! Eu, por curiosidade, tentei perceber que "receita" perseguia o Ricardo, pois haverá uma crença de som a guiar a sua mente.
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José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Set 03 2022, 18:47
TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
... As linhas com que se cose toca isto que digo, não havendo perfeição, como queremos que seja a nossa imperfeição? ...
Essa pergunta pareçe ter sentido para contigo... por extensão pensas que ela terà sentido para os outros, ora no meu caso ela não é valida. Conheçendo os limites técnicos do audio e a sua imperfeição... nunca me questionei sobre a forma que teria a minha visão dessa imperfeição, tentei e tento ultrapassà-la! Como disse um anonimo: A perfeição nunca existe no homém mas existe às vezes nas suas intenções... talvez seja isto a unica "arte" e "elevação" que possa existir na criação de audio, é uma maneira de ultrapassar-se, de transcendência
Admiro o teu interesse pelo conhecimento mas menos a obcessão associada... num livro que se chama "O porquê dos filosofos" o Jean-François Revel explica como a filosofia se esgotou desde o dia em que pariu a ciência, sendo esse o seu papel historico para ele. Penso que deverias ter feito estudos ciêntificos em vez de letras (a filosofia é um estilo literario)... seria muito mais simples de discutir contigo nmho
Já que estamos a citar autores, deixo Pascal: "L'homme n'est ni ange ni bête, et le malheur veut que qui veut faire l'ange fait la bête."
Não vejo perfeição na acção do Homem e sou um crente neste animal que somos. A pergunta que deixo faz sentido para mim e por isso a coloco. O problema é essa tentativa de projecção que o Paulo tenta colar a mim... deixe-se disso, se eu faço a pergunta é para procurar respostas.
Muitos autores já anunciaram a morte de muita coisa, ainda assim não vi nenhuma dessas coisas cair e/ou desaparecer, vejo transformar-se. A Filosofia está a "morrer" faz tempo e quando me decidi por ela (decisão consciente) ela já pouco prometia para o futuro. Debater o estado da Filosofia não é mesmo conversa para aqui, comparar a Filosofia a um estilo literário está ao nível de perguntas de iniciantes como onde devo ligar um gira-discos.
Paulo eu não sou o único a gostar de ouvir da boca de fabricantes palavras sobre as criações ou métodos de criação. Não sou o único que procura compreender que crenças subjazem no processo de investigação ou metodologia de trabalho. Qualquer resposta é bem-vinda, não há aqui nenhuma obsessão, há interesse.
Eu não confundo criação de equipamentos técnicos com Arte, não ao nível destas conversas. O DAC do Ricardo poderá ser um peça de Arte pela sua forma e estética arrojada, mas parece claro que aqui se fala do lado funcional.
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ricardo.canelas Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Set 03 2022, 19:19
Como o Paulo descreve, é complicado nos dias de hoje fazer descrições vívidas, sob pena de ficarmos rotulados para sempre neste mundo com memória infinita e muitas pessoas que observam todos os passos dos outros com a lente da antagonia. Existem motivos para fabricantes não participarem em fóruns que não os seus, ou se arrependerem rápidamente de o terem feito. Dito isto, se não queria discutir não tinha iniciado esta thread
Desde que descrevi as Cassia e a minha abordagem à transdução que ficou escrito para quem quiser ler que acredito existirem muitos caminhos pouco ou nada explorados. Entre as grandes colunas do passado que moviam montanhas com 1W e as pequenas do presente que precisam de uma central térmica só para acordarem, existe muito espaço. Estou plenamente convencido que há caminhos que implementam uma sonoridade moderna, que ataca muitas das preocupações que expressei na altura e me continuam a guiar. O resultado terá necessariamente que ser um som mais natural - escala, dinâmica, timbre, coerência - um som que permita extender um pouco a nossa suspension of disbelief (desculpem, não sei como traduzir isto sem parecer mais ridículo do que escrever assim), se as minhas hipóteses estiverem bem orientadas. Tenho portanto um modelo conceptual da interação de um sistema de hifi, o espaço que o alberga e o ouvinte. Considero as Cassia um primeiro sucesso na validação deste modelo, que vai crescendo e incorporando novas dimensões rápidamente.
O Galle DAC surge no contexto do meu sistema, e interage com algo que mudou na minha percepção nos últimos tempos, a fonte digital. A transparência das Cassia ajudou-me a mudar a minha opinião, depois de despistar algumas ideias com trocas de amplificação. O próprio DAC espelha a linhagem das Cassia: mistura tecnologias dos primórdios com avanços de ontem. Deu-nos trabalho, um dos filtros assenta em ideias de um artigo científico de 2018. A FPGA inicial nas especificações do fornecedor nem sequer suportava essas operações. Creio que a descrição do Paulo é plena e coerente com os meus objectivos: recuperar a sensibilidade e respeito pela verdade musical do melhor que se fazia e criteriosiamente combinar com a linearidade e robustez do que se faz hoje. Creio que quer as Cassia quer a linha Galle se propoêm a fazer isso.
Não reconheço a imagem que o Paulo pinta de alguma dissonância entre os dois, no limite serão mais complementares que qualquer outra coisa: o DAC foi levado ao limite técnicamente por poder experimentar em tempo real com as Cassia, a ouvir gravações de referência e cruzar com muitas outras. O meu DAC anterior causava-me desconforto a ouvir algumas passagens pela DiDonato do Winterreise porque surgia uma asperosidade a volumes realistas, e eu sei que era um efeito da conversão digital. O Galle oferece uma imagem mais íntima e natural da mesma gravação, sem esforço, deixando que a tensão seja a da música apenas, mas sem oferecer como troca pelo passo de magia a dinâmica e rigor desse mesmo DAC anterior.
José, consigo de facto imaginar um pé em cada margem neste meu exercício com a Cinnamon como já deves ter percebido. Não sei se estou a fazer uma ponte transparente ou não, mas não vejo nada de proibido quando olho para baixo, só fico mais excitado com o futuro.
Última edição por ricardo.canelas em Sáb Set 03 2022, 21:48, editado 1 vez(es)
José Miguel Membro AAP
Mensagens : 9401 Data de inscrição : 16/08/2015 Idade : 43 Localização : A Norte, ainda a Norte...
Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Sáb Set 03 2022, 20:22
ricardo.canelas escreveu:
(...) José, consigo de facto imaginar um pé em cada margem neste meu exercício com a Cinnamon como já deves ter percebido. Não sei se estou a fazer uma ponte transparente ou não, mas não vejo nada de proibido quando olho para baixo, só fico mais excitado com o futuro.
Deixo esta parte para colocar aqui uma ideia que me passa pela cabeça muitas vezes e aparece quando leio estas partilhas: somos em cima de ombros de gigantes.
Nem todas coisas do passado estão erradas por estarem a ser ultrapassadas, a actualização é ultrapassagem, não é negação. Isto em si parece ser uma das margens em que o Ricardo repousa um dos pés... há ideias do passado que está a recuperar e actualizar. Como isso não lhe chega, está a colocar outro pé num terreno novo, experimentando novas soluções (não lhe vou perguntar pelo artigo, mas achei curioso).
No caso das colunas, já falado no tópico delas, isso é mais claro e visual. Aqui no DAC as soluções são menos evidentes aos olhos, mas estão lá e nisso não há nada de proibido.
A mesma água não passa duas vezes por baixo da ponte, aproveite todas as possibilidades com que se cruza e continue explorar os limites das soluções.
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TD124 Membro AAP
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Dom Set 04 2022, 13:19
José Miguel escreveu:
... Eu nunca tive as colunas em mente quando abordei este tópico ou escrevi sobre "pontes". Na leitura que fiz das palavras do Paulo encontrei frases muito claras...
Fiquei com a ideia de um pé em cada margem, a tal ligação que descrevi como o Paulo cita e eu deixo em cima.
Não há nada de errado na descrição do Paulo, no trabalho do Ricardo também não! Eu, por curiosidade, tentei perceber que "receita" perseguia o Ricardo, pois haverá uma crença de som a guiar a sua mente.
Compreendo perfeitamente o que dizes e é certamente a minha visão intima das coisas (as minhas gavetas) que acabam por criar essas confusões. Para mim, um aparelho que possui qualidades sonoras contraditorias não està com um pé em cada margem... ele procura algo de mais "completo" do que os outros! Para mim o pé em cada margem é uma relação entre os conçeitos fundadores do aparelho, não o resultado sonoro final. Uma das qualidades de um "grande aparelho" é de possuir um som mais completo e complexo do que os outros com qualidades sonoras muitas vezes contraditorias pois inesperadas num mesmo aparelho... independentemente que o seu conçeito técnico ou estético seja tradicional, disruptivo ou com "um pé em cada margem"...
Eu que sou um pragmatico separo a noção de "receita" da noção de "solução"! Não me vou avançar pelo momento mas fiz aparelhos que integram vàrias "receitas" afim de normalisar o resultado sonoro como queria... fiz outros aonde foram as "soluções" que determinam esse resultado. A "receita" é préfabricada e o seu resultado previsivel, as "soluções" são ao contrario... mesmo se o objectivo é o mesmo, ou seja, de alargar a paleta sonora de um aparelho ou sistema! No caso da "receita" é necessario ter um som padrão na cabeça para comparação ora que no caso da "solução" hà que açeitar que possa apareçer um "novo som" diferente do padrão habitual... não sei se no caso do Ricardo ele persegue um ou outro, sò ele pode dizer
José Miguel escreveu:
...Debater o estado da Filosofia não é mesmo conversa para aqui, comparar a Filosofia a um estilo literário está ao nível de perguntas de iniciantes como onde devo ligar um gira-discos.
Paulo eu não sou o único a gostar de ouvir da boca de fabricantes palavras sobre as criações ou métodos de criação. Não sou o único que procura compreender que crenças subjazem no processo de investigação ou metodologia de trabalho. Qualquer resposta é bem-vinda, não há aqui nenhuma obsessão, há interesse.
Eu não confundo criação de equipamentos técnicos com Arte, não ao nível destas conversas. O DAC do Ricardo poderá ser um peça de Arte pela sua forma e estética arrojada, mas parece claro que aqui se fala do lado funcional.
José, antes de mais a frase entre parenteses dizendo que a filosofia "tornou-se num estilo literario" é a conclusão do livro que citei antes e não minha. Não me conheço em filosofia, ném me interesso o suficiente para poder criticar os fundamentos e evolução dessa disciplina...
Eu sei muito bem que não és "o único que procura compreender que crenças subjazem no processo de investigação ou metodologia de trabalho" mas hà que compreender que a resposta não é simples. Qualquer designer com um pouco de experiência jà compreendeu até que ponto a maneira como expressa o seu trabalho influencia o auditor em relação a esse mesmo trabalho... uma estoria é preferivel à historia. As "crenças que subjazem no processo de investigação ou metodologia de trabalho" ao qual eu chamo "alicerces intelectuais" vão consoante a maneira como são apresentadas provocar efeitos diferentes. Se eu disser que um dos meus alicerces sonoros é a ordem, organisação, estabilidade, separação e justeza das notas no espaço temporal e frequencial talvez as pessoas achém isso muito bem... mas se eu disser que os meus aparelhos são uma ditadura na qual os electrões fazém o que eu digo e não o que eles querem talvez a resposta agrade menos e a percepção dos meus aparelhos seja falseada pelas palavras escolhidas. Então hà perguntas que são inocentes mas cujas respostas não o podem ser...
Para mim é muito menos claro que a conversa à volta do Galle seja puramente funcional pois trata-se de um aparelho comercial e não de diy... sou obrigado de o ver por todos os seus aspectos constitutivos e não somente os funcionais. Não falamos de um "aparelho" mas de um "produto" e esta diferença que pareçe sutil não o é... é mesmo um ponto fundamental que impõe um olhar diferente e global, pelo menos para mim!
ricardo.canelas escreveu:
... Não reconheço a imagem que o Paulo pinta de alguma dissonância entre os dois, no limite serão mais complementares que qualquer outra coisa...
José, consigo de facto imaginar um pé em cada margem neste meu exercício com a Cinnamon como já deves ter percebido. Não sei se estou a fazer uma ponte transparente ou não, mas não vejo nada de proibido quando olho para baixo, só fico mais excitado com o futuro.
Na tua posição de hifen entre os dois tu pensas que hà uma ligação evidente... visto do exterior talvez não seja tão evidente quanto isso. Quando eu digo que os "designers" não são as pessoas mais objectivas para falar dos seus produtos vejo na tua frase a cristalisação disso... fiz uma pequena tabela para brincar resumindo alguns aspectos a uma unica palavra, penso que vais reconheçer quém é quém
Num dominio como o audio aonde todas as tecnologias, da mais antiga à mais moderna ainda coabitam, a "transgressão" torna-se num exercicio intelectual excitante... num mercado tradicionalista e psicorigido como o do audio high-end a "transgressão" é mal compreendida. Se a ponte é transparente ela "tranquiliza" o mercado mas não produz "adrenalina"... se ela é visivel então é a forma e a comunicação que vai poder compensar o desiquilibrio produzido e nos dois casos é um trabalho arriscado de equilibrista
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?) Dom Set 04 2022, 13:37
José Miguel escreveu:
...No caso das colunas, já falado no tópico delas, isso é mais claro e visual. Aqui no DAC as soluções são menos evidentes aos olhos, mas estão lá e nisso não há nada de proibido...
E se o pé em cada margem fosse um pé nas Cassia e o outro no Galle com o amigo Ricardo, não a fazer mas a ser a ponte? Se ele for transparente o conçeito é invisivel mas se ele for visivel o conçeito fica errado... é ele que se torna no elemento central em vez que sejam os aparelhos. È uma pequena reflexão de domingo de ressaca
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Assunto: Re: Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?)
Cinnamon Galle - História de mais aparelhos (de Z a A?)