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 Historias de/em Alta Fidelidade...

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MensagemAssunto: Historias de/em Alta Fidelidade...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptyQui Jan 05 2012, 22:37

Caros amigos,

este vai ser um topico especial. Vou aqui vos contar historias em relação ao audio, mas que por extensão, se tornam em historias de homens, de vida e de reflexão. Vai haver coisas profundas, engraçadas, feias... breve como a vida !!! Espero que gostém de ler/sentir isto...

Até+
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António José da Silva
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MensagemAssunto: Re: Historias de/em Alta Fidelidade...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptyQui Jan 05 2012, 22:43

TD124 escreveu:
Caros amigos,

este vai ser um topico especial. Vou aqui vos contar historias em relação ao audio, mas que por extensão, se tornam em historias de homens, de vida e de reflexão. Vai haver coisas profundas, engraçadas, feias... breve como a vida !!! Espero que gostém de ler/sentir isto...

Até+


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MensagemAssunto: O tempo, a memoria e a inocência...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptyQui Jan 05 2012, 22:48

Caros amigos vou vos contar uma historia que é bonita, estranha e algo perturbadora. Ela permite de compreender alguns dos problemas da Alta Fidelidade, e a estranha relação que existe entre a técnica e a sensibilidade. Quando após os meus estudos desci do extremo norte da Europa para a França em 1990 (para fazer doutros estudos !!!), jà era audiofilo e possuía conhecimentos (suficientemente) aprofundados em técnica a válvulas (que tinha aprendido por prazer e paixão com um velho mestre russo), mesmo se não era esta a minha formação académica. Passados uns meses de estar aqui, aprendi por acaso que existia um clube de audiofilos na minha cidade e inscrevi-me. Todos os meses havia uma reunião e era um tempo muito bem passado e excitante, pois era como um Fórum, mas com contacto real. Um dia o clube decidiu de fazer uma demonstração publica dos aparelhos em DIY dos membros. Levei o meu amplificador da época que era um modesto integrado a válvulas EL84 (a minha preferida …) de 15 Watts. Era o primeiro aparelho que tinha realizado com um circuito a 100% meu, e tinha um orgulho naquilo que era qualquer coisa !... era o meu primeiro filho de uma certa maneira. Durante um momento em que era o meu aparelho que tocava, um membro do clube vem me ver emocionado. Paulo !, diz-me ele, nunca ouvi nada assim !, estou subjugado e maravilhado, quanto eu gostaria de posseder um aparelho assim, mas não tenho a possibilidade infelizmente. Eu sabia que esse senhor era um grande melómano mas modesto financeiramente, por razões complicadas de família. Após uma curta conversação estou tocado pelas palavras e pela emoção dele e faço algo de inesperado, pois ofereço-lhe o meu aparelho. Feliz, honrado e perturbado pelo meu acto ele parte com o amplificador, e eu sinto-me feliz... Não a historia não acabou estamos mesmo ainda longe do fim !!!... Dois anos após isto, o clube deixa de existir e passo sete ou oito anos sem voltar a ver este senhor, nem penso mais nesta historia. Um dia encontro-o por azar na cidade e ele vem me cumprimentar feliz. Discutimos um pouco, compreendo que ele jà se reformou e que continua a ouvir muita musica. Conta-me que entretempo mudou de colunas, de gira e de leitor de CD, mas que continua a ter o meu amplificador. Surpreendido pelo que penso ser um acto de respeito, eu digo-lhe, que ele não se deve sentir obrigado a guardar o meu aparelho visto o que se passou, e que há muitos integrados de certeza melhores. Não ! diz-me ele, até hoje não ouvi nada que iguale o seu aparelho, do menos no que diz respeito à minha sensibilidade de escuta. Fico surpreendido, e visto a minha reação ele convida-me a vir escutar na casa dele, coisa que aceito. No fundo de mim era por simpatia que tinha aceitado, pois estava intimamente persuadido que aquele aparelho estava ultrapassado, e ainda por cima nessa época jà trabalhava como designer, era reconhecido profissionalmente, e tinha mesmo uma marca minha. Para mim, os aparelhos que eu produzia nessa época estavam a mil léguas para cima, comparados ao meu primeiro aparelho. No fim da semana vou à casa dele em fim da tarde com uma garrafa de Borgonha branco (Chardonnay) para tomar o aperitivo. Não levei discos pois sabia que ele era amador de Jazz e eu sou ainda pior, pois sou um louco, então disse-me, que haveria de certeza coisas que já conhecia na discoteca dele. Ele começa por meter no gira o « Love supreme » do Coltrane e levo a primeira bofetada. Um som lindo, pleno, articulado com um equilíbrio quase perfeito, mas com uma humanidade evidente, e rara para mim. Estou espantado, seduzido e entusiasmado pelo que escuto, mas esta sensação foi de pouca dura. Imediatamente após, uma evidência desenha-me no espírito uma angustia terrível, pois constato que este aparelho é muito melhor do que, os que eu fazia nesse tempo. Isto é um drama intelectual para mim, pois não estou a ser ultrapassado por um colega, estou simplesmente a fazer pior profissionalmente do que fazia quando era amador !!! Estou a andar para trás simplesmente. Volto para casa desmoralizado e sem saber o que pensar e acendo o meu sistema. Nessa época tinha um sistema vinte vezes mais caro e prestigioso do que vinha de escutar. Ainda foi pior !!!, pois após dez minutos levanto o braço, e por este acto acabo a tortura que é, de ouvir o som do meu sistema em relação ao dele. Nesse dia vivi uma solidão imensa, que nada, nem ninguém, podia aliviar. No dia seguinte tomo uma decisão evidente e estúpida ao mesmo tempo. Visto que tenho os planos detalhados (pois sou em áudio, uma pessoa organizada…), decido de fazer a copia perfeita do aparelho. Estão a ver a parvoíce, pois estou a decidir de me « clonar » a mim próprio !!! Mas bom, estúpido que sou quando quero, fui até ao fim da minha estupidez e fiz a copia perfeita, no mínimo detalho desse aparelho. No dia em que o acendi feliz e gabão, cai das nuvens ! (segunda bofetada), pois o aparelho não era mau, era mesmo muito bom, mas inferior ao que tinha escutado na casa do senhor. Preocupado, perturbado e desamparado, marco encontro com o senhor para fazer uma escuta na casa dele entre os dois aparelhos. Deixei os dois aquecer o mesmo tempo e após a escuta do dele passámos ao meu. Paulo !, diz-me o velhote, você esqueceu-se de qualquer coisa neste, você não deve ter metido as mesmas coisas là dentro… Senti esta frase como uma facada, estava furioso e vivia esse momento como um pesadelo acordado. Não !!!, digo eu, este aparelho é o clone perfeito do seu até ao mínimo detalho e componente, a única diferença é que o seu é mais velho de onze anos. Então tà a ver que há uma diferença !!!, diz-me o senhor, pois eles são gémeos, mas não teem a mesma idade…Estava num estado critico, ao bordo da falésia do suicídio, então em ultimo recurso agarro nas válvulas do dele e pus no meu e fiz o contrario com o dele. Foi a mesma coisa que « mijar para cima de um violino », que é uma expressão francesa para dizer que, tudo ficou na mesma, a musica não mudou de campo, e o aparelho dele continuou a ser melhor que o meu. Desamparado e desiludido, decidi de parar de trabalhar alguns dias e subi a Paris ver o meu mestre « francês ». Foi ainda pior, pois não hà nada de mais estranho no comportamento do que um japonês (o que ele é), pois ele nunca diz as coisas diretamente, mas através de frases sem relação (aparente) com o sujeito. Após lhe ter explicado o que se passou ele diz-me - Pois é Paulo !, a vida é feita de matéria e de essência, em áudio a ciência permite-te de controlar a matéria, mas a essência só pode ser controlada pela sensibilidade, pelo ser, pelo que tu és… - Deixe-se de tretas, digo-lhe eu, esquecendo os limites do respeito que a diferença cultural, e de idade impõem, - diga-me algo que me ajude a sair deste dilema no qual me encontro !. Ele olha para o tecto e diz-me uma frase que fez a luz, - Paulo !, um dia o Picasso disse : « passei toda a minha vida a aprender a desenhar como quando era criança… ».

Voltei para a minha casa maravilhado. Compreendi o que fazia a grandeza do meu primeiro aparelho, e a razão porque o segundo tinha falhado. Um ano após vendi a minha marca, e até hoje continuo a aprender a fazer aparelhos, como fazia quando não dominava completamente a coisa. Pouco a pouco aprendi a esquecer o que sabia, e a recuperar as sensações do que senti dantes, e que já não sentia... E estranha a vida, quando o saber nos afasta de nos mesmos !!!
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MensagemAssunto: Re: Historias de/em Alta Fidelidade...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptyQui Jan 05 2012, 23:07

Gostei muito: Humanizar.

Hoje em dia este tipo de pensamento é considerado "naïf" e até "lamechas",

eu não acho e sei que o mais belo é aquilo que vemos todos os dias e não damos importância.

(estou a ouvir Friday Night in San Francisco e fica bem com o texto)

Eu gosto muito de Alberto Caeiro, que é o poeta do simples e diz que:

"há metafísica bastante em não pensar em nada" e não é que é verdade!

Para mim o melhor poema é : Num meio dia de fim de primavera

http://www.revista.agulha.nom.br/fp213.html

obrigado
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MensagemAssunto: Re: Historias de/em Alta Fidelidade...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptyQui Jan 05 2012, 23:19

Quando se pensa que já se sabe tudo (ou quase) vem um "velho" e sábio japonês e colocou-te novamente com os pés no chão.
Um bela história de vida cheia de lições.

Agora a pergunta. Já pintas (fazes aparelhos) como quando eras uma criança?

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MensagemAssunto: Re: Historias de/em Alta Fidelidade...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptyQui Jan 05 2012, 23:30

Belo começo de auto biografia !
Venham de lá mais histórias assim belas e humanas !
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MensagemAssunto: Re: Historias de/em Alta Fidelidade...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptyQui Jan 05 2012, 23:56

António José da Silva escreveu:
Quando se pensa que já se sabe tudo (ou quase) vem um "velho" e sábio japonês e colocou-te novamente com os pés no chão.
Um bela história de vida cheia de lições.

Agora a pergunta. Já pintas (fazes aparelhos) como quando eras uma criança?

Esse "velho" que se chama Jean Hiraga é simplesmente o mais jovem dos cinco fundadores da "escola japonesa" e uma das ultimas lendas vivas da Alta Fidelidade. E sim !, o meu mestre até hoje aprende-me a ser quem sou, mas que não sou ainda... é por isso que ele é "o mestre" e eu o "aprendiz", mas vou crescendo, e até parece, segundo o que ele diz que jà sou melhor (como designer) do que ele. Mas eu sei que é treta, é uma maneira como outra de motivar o aprendiz...

Não ainda não pinto como antes... mas o que faço depois desta historia é muito melhor do que o meu primeiro aparelho, ENFIM !!!

Até+
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MensagemAssunto: Re: Historias de/em Alta Fidelidade...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptySex Jan 06 2012, 01:04

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MensagemAssunto: Re: Historias de/em Alta Fidelidade...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptySex Jan 06 2012, 02:25

Historias de/em Alta Fidelidade... 58893
Belas e instrutivas " estórias " aqui pelo AAP.
Obrigado por partilhar !!
Cumprimentos.
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MensagemAssunto: Re: Historias de/em Alta Fidelidade...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptySex Jan 06 2012, 12:42

TD124 escreveu:
Caros amigos vou vos contar uma historia que é bonita, estranha e algo perturbadora. Ela permite de compreender alguns dos problemas da Alta Fidelidade, e a estranha relação que existe entre a técnica e a sensibilidade. Quando após os meus estudos desci do extremo norte da Europa para a França em 1990 (para fazer doutros estudos !!!), jà era audiofilo e possuía conhecimentos (suficientemente) aprofundados em técnica a válvulas (que tinha aprendido por prazer e paixão com um velho mestre russo), mesmo se não era esta a minha formação académica. Passados uns meses de estar aqui, aprendi por acaso que existia um clube de audiofilos na minha cidade e inscrevi-me. Todos os meses havia uma reunião e era um tempo muito bem passado e excitante, pois era como um Fórum, mas com contacto real. Um dia o clube decidiu de fazer uma demonstração publica dos aparelhos em DIY dos membros. Levei o meu amplificador da época que era um modesto integrado a válvulas EL84 (a minha preferida …) de 15 Watts. Era o primeiro aparelho que tinha realizado com um circuito a 100% meu, e tinha um orgulho naquilo que era qualquer coisa !... era o meu primeiro filho de uma certa maneira. Durante um momento em que era o meu aparelho que tocava, um membro do clube vem me ver emocionado. Paulo !, diz-me ele, nunca ouvi nada assim !, estou subjugado e maravilhado, quanto eu gostaria de posseder um aparelho assim, mas não tenho a possibilidade infelizmente. Eu sabia que esse senhor era um grande melómano mas modesto financeiramente, por razões complicadas de família. Após uma curta conversação estou tocado pelas palavras e pela emoção dele e faço algo de inesperado, pois ofereço-lhe o meu aparelho. Feliz, honrado e perturbado pelo meu acto ele parte com o amplificador, e eu sinto-me feliz... Não a historia não acabou estamos mesmo ainda longe do fim !!!... Dois anos após isto, o clube deixa de existir e passo sete ou oito anos sem voltar a ver este senhor, nem penso mais nesta historia. Um dia encontro-o por azar na cidade e ele vem me cumprimentar feliz. Discutimos um pouco, compreendo que ele jà se reformou e que continua a ouvir muita musica. Conta-me que entretempo mudou de colunas, de gira e de leitor de CD, mas que continua a ter o meu amplificador. Surpreendido pelo que penso ser um acto de respeito, eu digo-lhe, que ele não se deve sentir obrigado a guardar o meu aparelho visto o que se passou, e que há muitos integrados de certeza melhores. Não ! diz-me ele, até hoje não ouvi nada que iguale o seu aparelho, do menos no que diz respeito à minha sensibilidade de escuta. Fico surpreendido, e visto a minha reação ele convida-me a vir escutar na casa dele, coisa que aceito. No fundo de mim era por simpatia que tinha aceitado, pois estava intimamente persuadido que aquele aparelho estava ultrapassado, e ainda por cima nessa época jà trabalhava como designer, era reconhecido profissionalmente, e tinha mesmo uma marca minha. Para mim, os aparelhos que eu produzia nessa época estavam a mil léguas para cima, comparados ao meu primeiro aparelho. No fim da semana vou à casa dele em fim da tarde com uma garrafa de Borgonha branco (Chardonnay) para tomar o aperitivo. Não levei discos pois sabia que ele era amador de Jazz e eu sou ainda pior, pois sou um louco, então disse-me, que haveria de certeza coisas que já conhecia na discoteca dele. Ele começa por meter no gira o « Love supreme » do Coltrane e levo a primeira bofetada. Um som lindo, pleno, articulado com um equilíbrio quase perfeito, mas com uma humanidade evidente, e rara para mim. Estou espantado, seduzido e entusiasmado pelo que escuto, mas esta sensação foi de pouca dura. Imediatamente após, uma evidência desenha-me no espírito uma angustia terrível, pois constato que este aparelho é muito melhor do que, os que eu fazia nesse tempo. Isto é um drama intelectual para mim, pois não estou a ser ultrapassado por um colega, estou simplesmente a fazer pior profissionalmente do que fazia quando era amador !!! Estou a andar para trás simplesmente. Volto para casa desmoralizado e sem saber o que pensar e acendo o meu sistema. Nessa época tinha um sistema vinte vezes mais caro e prestigioso do que vinha de escutar. Ainda foi pior !!!, pois após dez minutos levanto o braço, e por este acto acabo a tortura que é, de ouvir o som do meu sistema em relação ao dele. Nesse dia vivi uma solidão imensa, que nada, nem ninguém, podia aliviar. No dia seguinte tomo uma decisão evidente e estúpida ao mesmo tempo. Visto que tenho os planos detalhados (pois sou em áudio, uma pessoa organizada…), decido de fazer a copia perfeita do aparelho. Estão a ver a parvoíce, pois estou a decidir de me « clonar » a mim próprio !!! Mas bom, estúpido que sou quando quero, fui até ao fim da minha estupidez e fiz a copia perfeita, no mínimo detalho desse aparelho. No dia em que o acendi feliz e gabão, cai das nuvens ! (segunda bofetada), pois o aparelho não era mau, era mesmo muito bom, mas inferior ao que tinha escutado na casa do senhor. Preocupado, perturbado e desamparado, marco encontro com o senhor para fazer uma escuta na casa dele entre os dois aparelhos. Deixei os dois aquecer o mesmo tempo e após a escuta do dele passámos ao meu. Paulo !, diz-me o velhote, você esqueceu-se de qualquer coisa neste, você não deve ter metido as mesmas coisas là dentro… Senti esta frase como uma facada, estava furioso e vivia esse momento como um pesadelo acordado. Não !!!, digo eu, este aparelho é o clone perfeito do seu até ao mínimo detalho e componente, a única diferença é que o seu é mais velho de onze anos. Então tà a ver que há uma diferença !!!, diz-me o senhor, pois eles são gémeos, mas não teem a mesma idade…Estava num estado critico, ao bordo da falésia do suicídio, então em ultimo recurso agarro nas válvulas do dele e pus no meu e fiz o contrario com o dele. Foi a mesma coisa que « mijar para cima de um violino », que é uma expressão francesa para dizer que, tudo ficou na mesma, a musica não mudou de campo, e o aparelho dele continuou a ser melhor que o meu. Desamparado e desiludido, decidi de parar de trabalhar alguns dias e subi a Paris ver o meu mestre « francês ». Foi ainda pior, pois não hà nada de mais estranho no comportamento do que um japonês (o que ele é), pois ele nunca diz as coisas diretamente, mas através de frases sem relação (aparente) com o sujeito. Após lhe ter explicado o que se passou ele diz-me - Pois é Paulo !, a vida é feita de matéria e de essência, em áudio a ciência permite-te de controlar a matéria, mas a essência só pode ser controlada pela sensibilidade, pelo ser, pelo que tu és… - Deixe-se de tretas, digo-lhe eu, esquecendo os limites do respeito que a diferença cultural, e de idade impõem, - diga-me algo que me ajude a sair deste dilema no qual me encontro !. Ele olha para o tecto e diz-me uma frase que fez a luz, - Paulo !, um dia o Picasso disse : « passei toda a minha vida a aprender a desenhar como quando era criança… ».

Voltei para a minha casa maravilhado. Compreendi o que fazia a grandeza do meu primeiro aparelho, e a razão porque o segundo tinha falhado. Um ano após vendi a minha marca, e até hoje continuo a aprender a fazer aparelhos, como fazia quando não dominava completamente a coisa. Pouco a pouco aprendi a esquecer o que sabia, e a recuperar as sensações do que senti dantes, e que já não sentia... E estranha a vida, quando o saber nos afasta de nos mesmos !!!

História maravilhosa! Historias de/em Alta Fidelidade... 22692 Obrigado pela partilha! Historias de/em Alta Fidelidade... 22692

Apenas um pequeno reparo, para que isto faça mais sentido. O que coloquei em negrito eu colocaria antes em vez do saber, o conhecimento. É que a presunção do conhecimento tende a ocupar um lugar, que o orgulho acaba por fazer das suas e assim se explica tal fenómeno. Historias de/em Alta Fidelidade... 809774
Por isso, o meu desejo é que esse caminho agora seja o mais frutuoso possível! Historias de/em Alta Fidelidade... 843159
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johncool
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MensagemAssunto: Re: Historias de/em Alta Fidelidade...   Historias de/em Alta Fidelidade... EmptyTer Jan 17 2012, 13:39

TD124 escreveu:
António José da Silva escreveu:
Quando se pensa que já se sabe tudo (ou quase) vem um "velho" e sábio japonês e colocou-te novamente com os pés no chão.
Um bela história de vida cheia de lições.

Agora a pergunta. Já pintas (fazes aparelhos) como quando eras uma criança?

Esse "velho" que se chama Jean Hiraga é simplesmente o mais jovem dos cinco fundadores da "escola japonesa" e uma das ultimas lendas vivas da Alta Fidelidade. E sim !, o meu mestre até hoje aprende-me a ser quem sou, mas que não sou ainda... é por isso que ele é "o mestre" e eu o "aprendiz", mas vou crescendo, e até parece, segundo o que ele diz que jà sou melhor (como designer) do que ele. Mas eu sei que é treta, é uma maneira como outra de motivar o aprendiz...

Não ainda não pinto como antes... mas o que faço depois desta historia é muito melhor do que o meu primeiro aparelho, ENFIM !!!

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Gostei de ler essa mostra de paixão infindável... Historias de/em Alta Fidelidade... 22692
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