Mensagens : 420 Data de inscrição : 25/11/2011 Idade : 62 Localização : Massamá
Assunto: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Dom Jan 20 2013, 01:11
A música é uma arte fantástica e uma ocupação de lazer sublime. É a endorfina perfeita para a alma. Perder algum tempo a tentar decifrar a razão que nos leva a apreciar determinar trabalho musical, esmiúça-lo, nem que seja de uma forma simplista, pode ser um exercício interessante. É isso que me proponho, espero que saia alguma coisa de jeito. O primeiro alvo será um álbum conceptual, isto é, uma obra em que todos os trechos musicais são parte de uma narrativa ou história, no fundo o conhecidíssimo “ Era uma vez”. Este conceito é uma ideia simples mas brilhantemente eficaz, introduz uma coerência narrativa que nos aproxima da obra – mesmo das mais abstractas e estapafúrdias – e ajuda a compreender o estímulo criativo.
THE WHO – Tommy – 1969 Tommy, mais que um álbum conceptual foi aquilo a que à época se designava como ópera rock, utilizando algo próximo do conceito das óperas clássicas; a introdução de diversas personagens, num enredo coerente, e centrado nos interesses e conflitos do ser humano. Tommy não terá sido a primeira abordagem ao género – os louros pertencem a S.F. Sorrow dos Prety Things – mas foi certamente dos que mais contribuiu para a popularidade do género nos anos setenta. Acho que não é preciso ser um dedicado fã dos Who para admirar o álbum, que tem qualidade suficiente per si, mas ajuda estar na mesma sintonia para apreciar em pleno um dos seus trabalhos mais emblemáticos, o quarto álbum de originais para ser mais preciso. O Who são uma grande e histórica banda britânica que produziu excelentes álbuns de estúdio mas cuja principal qualidade era o facto de ser absolutamente arrasadora em palco, poderosa, energética, caótica e inesquecível. Nunca tive o privilégio de os ver em concerto, mas os trabalhos ao vivo e os vídeos são o suficiente para perceber que foi através do palco que a banda logrou subir ao panteão dos deuses do rock. Se o movimento “punk” é sobretudo atitude…bem nesse caso os Who são a primeira banda punk da história. Tommy, a ópera rock, foi alvo de várias variantes; peças de teatro, musicais da Broadway e um filme, e foi assim que a conheci, algures nos anos 70, e gostei, mas confesso que gostei mais do Jesus Christ Superstar – outra ópera rock da altura – mas a comparação não é razoável… a história da última foi aperfeiçoada durante quase dois mil anos!! Esta introdução já vai longa, é necessário passar para a “overture”, apenas mais uma nota final. A história não é nenhuma uma obra-prima, por vezes torna-se um pouco ridícula, mas o álbum tem algumas líricas fantásticas, grandes canções, e quanto à música… bem, é sublime e puro rock; fantásticos riffs de guitarra, harmonias vocais, baixo, bateria e apenas algumas partes de piano, Hammond e “French horns”, quase tudo obra de um jovem de 20 anos.
1- Overture 2- It`s boy O nascimento de Tommy, sem a presença do pai, desaparecido ou dado como morto. Qualquer ópera que se preze necessita de uma boa abertura e “overture” não desilude e marca o tom de todo o trabalho, o riff de guitarra eléctrica, french hornes, a poderosa bateria, o competente baixo e o excelente trabalho de guitarra acústica…sublime.
3- 1921 O drama (de faca e alguidar). Inesperadamente o pai de Tommy regressa e encontra a mãe com o amante… o amante é morto… ou será o pai… não interessa… Tommy assiste a tudo, e depois de ser fortemente pressionado a nada revelar entra em estado de catarse, fica cego, surdo e mudo. Com ou sem drama, musicalmente a mim parece-me uma balada, uma das boas.
4 – Amazing journey 5- Sparks O tema é algo abstrato, parece descrever uma espécie de viagem interior de Tommy. Em termos musicais mantem-se a qualidade, Sparks é melhor, grande linha de baixo, apesar de não ser propriamente original mas sim um desenvolvimento de Rael, do anterior “The Who Sell Out”
6 – The Hawker Acho que a ideia é curar Tommy através da luxuria carnal … “Every time she starts to lovin' she brings eyesight to the blind” …não duvido, mas neste caso não resultou…deve ser um caso perdido. Canção final do 1º lado, sobressai Keith, digo eu.
(Continua)
Milton Membro AAP
Mensagens : 15388 Data de inscrição : 02/07/2010 Idade : 63 Localização : Scalabicastro, naquele Jardim á beira, mal plantado
Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Dom Jan 20 2013, 01:14
fjbl escreveu:
A música é uma arte fantástica e uma ocupação de lazer sublime.
(Continua)
Acho muito bem que continue !!
fjbl Membro AAP
Mensagens : 420 Data de inscrição : 25/11/2011 Idade : 62 Localização : Massamá
Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Seg Jan 21 2013, 23:59
THE WHO – Tommy (Continuação)
1 – Christmas Dia de Natal, mas Tommy “ doesn´t know what day it is”, vive no seu mundo interior. Uma das minhas preferidas, começa em frenesim, Daltrey em pleno, o coro AHAHAHAHAH, as linhas de guitarra, tudo simples. O ritmo desacelera…Daltrey pungente…See me, feel me… Perto da perfeição.
2 – Cousin Kevin Tommy vai passar um dia a casa do primo, um sacaninha mau como as cobras, que faz “gato sapato” de Tommy . A linha melódica é interessante assim como a parte vocal, mas fica uns furos abaixo da anterior.
3 – The Acid Queen Tommy é sujeito a mais uma tentativa de cura, à base de limão que como todos sabem é umabebidamuito... Uma boa canção que não deslustra, acompanha a excelente qualidade geral.
4 – Underture Mais uma viagem interior, acho que é uma acid trip, C20H25N3O. (gin, umas gotas de limão e umas pedras) Underture, ou devo dizer Sparks ou…o reinventado Rael? De qualquer maneira as linhas de guitarra são sublimes, é um bom instrumental, mas demasiado looooooongo….não para mim…bem às veeeeeeeezes. Fim do segundo laaaaaado.
1 – Do You Think it`s Alright! 2 – Fiddle About O episódio da violação de Tommy. É só desgraças. Nope, a introdução ainda escapa, mas o Fiddle é só o pior tema do duplo álbum. Quantos de vocês se levantaram para ver se estava riscado? Ignorantes. Claro que este vosso escriba…ainda por cima especialista…jamais cairia nesse logro.
3 – Pinball Wizard Bem nem tudo é negativo, a verdade é que Tommy, mesmo sendo cego surdo e mudo, é só o maior jogador de sempre de Pin Ball (os velhinhos” flippers”, lembram-se?... que a par do bilhar constitui a 5ª essência dos anos setenta; depois de miúdas, amigos, música e copos. A escola era a 15ª essência) Pinball é dos temas mais conhecidos e um dos que teve mais divulgação via rádio, não é um dos meus preferidos, mas começa com uma bela harmonia de guitarra acústica, segue-se um poderoso riff, depois Keith Moon entra – Já vos tinha falado de Moon?...Keith é…único- e o resto …vocês conhecem. Há uma história – e talvez não passe disso – que Townsend criou este episódio porque havia um crítico musical que odiava os Who, mas era fanático por Pin Ball, mais um surdo… Pete tem um espírito de humor tortuoso.
(Não vou conseguir acabar este lado…continua)
António José da Silva Membro AAP
Mensagens : 64575 Data de inscrição : 02/07/2010 Idade : 58 Localização : Quinta do Anjo
Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Ter Jan 22 2013, 00:02
Um álbum bastante apreciado por muitos e do qual eu tenho também um exemplar (penso que até é prensagem original), mas que na altura só ouvi um pouco e não prestei a devida atenção. Acho que vou ter de o fazer.
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fjbl Membro AAP
Mensagens : 420 Data de inscrição : 25/11/2011 Idade : 62 Localização : Massamá
Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Ter Jan 22 2013, 00:13
António José da Silva escreveu:
Um álbum bastante apreciado por muitos e do qual eu tenho também um exemplar (penso que até é prensagem original), mas que na altura só ouvi um pouco e não prestei a devida atenção. Acho que vou ter de o fazer.
Tome cuidado. A adição é um forte defeito de personalidade.
António José da Silva Membro AAP
Mensagens : 64575 Data de inscrição : 02/07/2010 Idade : 58 Localização : Quinta do Anjo
Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Ter Jan 22 2013, 00:15
fjbl escreveu:
Tome cuidado. A adição é um forte defeito de personalidade.
Mas é uma adição boa.
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agorgal Membro AAP
Mensagens : 1445 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: r: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros Sáb Jan 26 2013, 14:36
Em 1972 foi editada uma versão sinfónica com a Orquestra Sinfónica de Londres e coro de câmara. Tem um alinhamento das faixas ligeiramente diferente quer do álbum original quer do filme. Entre outros intérpretes aparecem Rod Stewart (Pinball Wizard), Ringo Starr (Uncle Ernie), Steve Winwood (Cap. Walker), Richie Havens (Hawker) e Sandy Denny (Nurse). Uma capa interior dupla a simular uma máquina de "flippers" e um "booklet" lindíssimo com fotografias e ilustrações que de certa forma caricaturam cada uma das personagens. Um "must have" para os apaixonados pelas capas de luxo. E o conteúdo fez na altura, (ainda faz...), as delícias dos indefectíveis do então denominado "rock sinfónico".
"fjbl": felicito-o pelo excelente trabalho desenvolvido. Deduzo ser o "Tommy" uma das suas grandes paixões musicais...
António José da Silva Membro AAP
Mensagens : 64575 Data de inscrição : 02/07/2010 Idade : 58 Localização : Quinta do Anjo
Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Sáb Jan 26 2013, 14:39
agorgal escreveu:
Em 1972 foi editada uma versão sinfónica com a Orquestra Sinfónica de Londres e coro de câmara. Tem um alinhamento das faixas ligeiramente diferente quer do álbum original quer do filme. Entre outros intérpretes aparecem Rod Stewart (Pinball Wizard), Ringo Starr (Uncle Ernie), Steve Winwood (Cap. Walker), Richie Havens (Hawker) e Sandy Denny (Nurse). Uma capa interior dupla a simular uma máquina de "flippers" e um "booklet" lindíssimo com fotografias e ilustrações que de certa forma caricaturam cada uma das personagens. Um "must have" para os apaixonados pelas capas de luxo. E o conteúdo fez na altura, (ainda faz...), as delícias dos indefectíveis do então denominado "rock sinfónico".
"fjbl": felicito-o pelo excelente trabalho desenvolvido. Deduzo ser o "Tommy" uma das suas grandes paixões musicais...
Desconheço completamente este álbum, ou melhor, desconhecia. Como gosto bastante de alguns dos intervenientes, é um álbum a manter no campo de visão.
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agorgal Membro AAP
Mensagens : 1445 Data de inscrição : 19/12/2012 Localização : Porto
Assunto: r: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros Sáb Jan 26 2013, 16:28
Um pouco fora da ideia deste tópico mas... na altura em que escrevi sobre o disco procurei se havia por aí à venda e ei-lo:
Farto-me de tentar esticar as notas, mas não consigo, por muito que queira.
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fjbl Membro AAP
Mensagens : 420 Data de inscrição : 25/11/2011 Idade : 62 Localização : Massamá
Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Dom Jan 27 2013, 02:14
THE WHO - Tommy (Continuação)
Esta sequência final do 3º lado de Tommy é a minha parte favorita em termos musicais, e em termos de narrativa corresponde ao momento em que a história se “desembrulha”, digamos assim.
4 – There`s a Doctor Tommy vai a uma consulta com um médico (psiquiatra?).É um tema musical introdutório, nada de especial a registar.
5 – Go to the mirror 6 – Tommy can you hear me 7 – Smash the mirror 8 – Sensation A Tommy é diagnosticado um problema psicossomático, não existe nenhum impedimento físico, mas algo o prende no seu mundo interior, talvez um espelho, através do qual via o seu reflexo. O espelho é quebrado e Tommy desperta. Uma nova jornada começa, Tommy é agora um guia iluminado, um novo Messias.
Musicalmente a sequência é prodigiosa, o riff de guitarra, o trabalho de baixo, a batida da bateria, a beleza vocal do refrão de Go to the Mirror. Foi com Tommy que Daltrey se fez um grande vocalista. O tema seguinte (Tommy can you hear me), é um excelente trabalho de guitarra. Smash the Mirror tem um som diferente, um pulsar distinto, é uma lufada de ar fresco, resulta muitíssimo bem. Sensation é um belo tema - a mim não sei bem porquê mas soa-me um pouco aos Beach Boys (Keith era fã) – bem adequado ao ambiente libertador e semi-épico das líricas.
Bem tudo junto…é um pedaço de magia. Fim do 3º lado.
(Continua)
fjbl Membro AAP
Mensagens : 420 Data de inscrição : 25/11/2011 Idade : 62 Localização : Massamá
Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Dom Jan 27 2013, 22:55
THE WHO - Tommy (Continuação)
1- Miracle cure Apenas um pequeno interlúdio.
2 – Sally Simpson Bem..esta é estranha, tendo em conta o contexto anterior, talvez funcione como uma história dentro de outra história. É sobre uma adolescente rebelde que desobedecendo aos pais vai assistir a um “ concerto” de Tommy. O acontecimento não corre bem e Sally fica marcada para toda a vida. Sally acaba por casar com um músico de Rock. Se existe alguma moral nesta história confesso que a não reconheço. Musicalmente é mais uma canção que acompanha o bom nível geral.
3 – I`m free Tommy é agora livre, um guia espiritual, com uma nova mensagem e um caminho novo. Mais uma vez são as harmonias de guitarra e os riffs que comandam, mais um bom momento.
4 – Welcome 5 – Tommy`s Holiday Camp Tommy espalha a sua fé e o número de discípulos aumenta, sendo a sua casa insuficiente cria um campo de férias para o efeito. Em Tommy´s Holiday reaparece o tio Ernie ( o que violou Tommy). Bizzarro é o minimo que se pode dizer. Li uma entrevista em que Pete descreve esta parte do álbum e a ideia era enfatizar a parte negativa da nova fé, os excessos o fanatismo e o mercantilismo, através da presença de Ernie, cujo objectivo é de apenas realizar dinheiro. …Hoiday camp é mais um pequeno tema musical, nada acrescenta, mas welcome é mais uma bela canção, com mudanças de ritmo, excelente interpretação de Daltrey e mais unm excelente trabalho de guitarra.
6 – We`re not gonna take it Será que não vai haver um final feliz? Os ensinamentos de Tommy para atingir um estado de iluminação acabam por ser rejeitados, recriar a situação de ser cego, surdo e mudo e jogar flippers não parecem ser um bom meio para atingir o paraíso. A nova fé cai por terra, mas as líricas finais parecem ser de regozijo, será que finalmente Tommy é um homem livre? Não fosse pela parte final, épica e transcendente e o álbum teria um final medíocre. Enfim nem tudo é perfeito.
Tommy can you hear me?
A história é bizarra, excêntrica, inverosímil e certamente por vezes pretensiosa, mas a música é na maior parte do álbum…fabulosa…e simples, muito simples, puro rock, excelentes riffs e harmonias de guitarra, uma linha rítmica portentosa e um vocalista que esteve totalmente à altura das circunstâncias. Um trabalho que deve constar absolutamente na vossa discografia. Hipoteticamente numa classificação de 1 a 10, eu atribuía um 9, talvez um 9,5 a este magnifico trabalho. O 10 fica para as “obras primas”, joias raras e difíceis de encontrar.
PS; Se pensarmos na sonoridade dos primeiros trabalhos da tríade da British Invasion ( Beatles, Stones e Who), são os Who, que à excepção de um ou outro single, apresentaram um som mais inovador, bem diferente da inspiração emergente na época. Keith Moon terá sido, talvez, o maior responsável …mas isso é outra história.
fjbl Membro AAP
Mensagens : 420 Data de inscrição : 25/11/2011 Idade : 62 Localização : Massamá
Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Dom Fev 10 2013, 20:32
ROLLING STONES – ´GET YER YA-YAS` OUT!´ The greatest rock & roll band in the world: The Rolling Stones, The rolling Stones.
Não é uma afirmação minha, mas do speaker, no início deste inultrapassável álbum gravado ao vivo dos” “Pedras Rolantes”. Este foi o meu acto de iniciação aos Stones, e fiquei agarrado… à banda e ao concerto, e continua a ser um dos meus tesouros auditivos. Confesso que durante muito tempo tive dificuldade em apreciar as versões originais em estúdio, tal foi o impacto desta grandiosa performance em palco. As gravações foram retiradas dos concertos efectuados no Madison Square Garden em 27 e 28 NOV de 69, com excepção de Love in Vain que foi gravado no Baltimore Civic Center, no dia 26. E assim de certa maneira se fez história, porque existe um consenso alargado que esta gravação em concerto é um dos melhores exemplares do género, e diga-se de passagem com justiça. Os Stones já não contam com B. Jones , para o seu lugar foi contratado como guitarrista, o jovem Mick Taylor, que é um super virtuoso do instrumento e que nesse capítulo eclipsa totalmente o falecido B. Jones. Aliás essa qualidade é bem patente nesta gravação, em que os momentos mais conseguidos resultam da simbiose do trabalho de guitarras entre Taylor e Richards. Um álbum deste género é sempre um compromisso, entre a perfeição e o calculismo do estúdio, e o calor e imprevisto do concerto ao vivo, ou seja é imprescindível que a gravação tenha uma alma própria e tenha a capacidade de captar aquele momento mágico, irrepetível, por vezes imperfeito, mas sempre único. O público faz parte do acontecimento, festeja, faz barulho, protesta, aplaude, entusiasma-se, e na minha opinião essa faceta é quase perfeita nesta gravação. E a banda, será que faz justiça ao speaker?
Não há temas novos nesta performance e as canções apresentam versões algo diferentes, não só em termos instrumentais, mas creio que o tempo/andamento/ritmo (ou qualquer que seja o termo técnico correcto) é diferente, mais blues, mais “power” rock & rol, do que as versões originais. Três temas de não originais, duas versões de C. Berry (o pai da guitarra de rock & rol), Carol e Little Queenie, e que são competentes homenagens ao seu autor. O outro “cover” é uma fantástica interpretação de “ Love in vain”, original do cantor de blues Robert Johnson (que reza a lenda vendeu a alma ao diabo, numa encruzilhada, em troca de sucesso), e que os Stones gravaram em Let It Bleed e repetiram neste concerto. Qualquer das versões é sublime. O trabalho de Taylor no concerto é de sonho. Beggars Banquet e suas sessões contribuem com 4 canções, 4 clássicos; Jumpin´Jack Flash - O single que resgatou os Stones da mal sucedida aventura psicadélica de “Between the buttons” e “Their Satanic Majesties Request”. Stray Cat Blues - Em versão mais lenta e suave. As líricas sugerem uma relação sexual com uma adolescente de 13 anos. Street Fighting Man - Canção de caracter político, inspirada no movimento de revolta estudantil que culminaria no Maio de 68. Os Stones com esteroides, mas não sou um grande fã. Sympathy for the Devil - Um grande clássico, que relata do ponto de vista do diabo uma série de acontecimentos trágicos da história da humanidade. O original é marcado, em termos musicais, pela percussão inspirada nos ritmos do samba e candomblé, no concerto o ponto alto é o brilhante intercâmbio entre os riffs de Keith e os solos de Mick… diabólico.
Os três restantes temas são extraídos de “ Let it Bleed”, um dos mais incensados álbuns dos Stones. Live with me – Grande tema em qualquer das versões. Honky Tonk Women – Esta versão é diferente do single original e também da versão country do álbum. As líricas são acerca de uma dançarina de um bar de stripp. Midnight Rambler – O momento alto do álbum, melhor que a versão de estúdio, o ritmo, o trabalho de guitarra, Taylor, grande prestação da banda que revela o melhor dos Stones. A canção é inspirada num tema mórbido, o estrangulador de Boston, Albert DeSalvo.
Este é realmente um grande álbum ao vivo e se por alguma razão fosse colocado perante o dificílimo dilema de escolher apenas um diamante dos Stones… bem talvez escolhesse este. Infelizmente nem tudo é perfeito…é a vida.. e Get Yer tem os seus problemas. Em momentos consideráveis a mistura final oblitera Wyman, e por vezes, a audição pode adormecer numa certa monotonia, até ao despertar provocado por um riff ou um solo de guitarra. Mas para mim o maior problema, e para grande surpresa minha, foi descobrir (sou mesmo ingénuo) que o álbum foi “maquilhado”; alvo de “overdubs” na parte vocal e coros, e quem sabe, (sacrilégio) na parte instrumental. Nada disto altera a grande admiração que tenho pelo álbum, mas cria um certo formigueiro e por isso não pode ser um redondo 10 … fica-se por um 9,5.
Em certo momento do concerto, uma voz feminina bem audível grita; Paint in black, paint in black, you devil. Acredito que ela saiba da gravação, tenho inveja… deve ser bem castiço, numa reunião de amigos, pegar num vinil e dizer… querem ouvir a minha voz num álbum dos Stones?
“Please allow me to introduce myself I`m a man of wealth and taste…”
fjbl Membro AAP
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Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Sex Jun 07 2013, 19:24
GENESIS – SELLING ENGLAND BY THE POUND
Algures no tempo, quando comecei a dar mais atenção às audições musicais a primeira onda sonora foi constituída pelo denominado Rock Progressivo. Foram momentos realmente marcantes, que ainda hoje perduram com bastante acuidade na minha memória. Como adolescente comecei por ter um gira discos “maleta” (era uma maleta, destacavam-se as colunas… e já está) e que foi, mais ou menos rapidamente, substituído por um integrado Onkio (gira+sintonizador+amplificador e colunas de maior porte e qualidade). No quarto, ou em casa de amigos, era “cada cavadela uma minhoca”. Selling England…, Lamb lies down…, Dark side…, Wish you were…,Fragil…,Close to the edge…, Trilogy…,enfim ,os grandes clássicos do estilo, desfilaram numa vertigem inebriante e intoxicante e ficaram para sempre como companheiros de audição.
Os Genesis (da era Gabriel) são para mim a melhor banda de Prog Rock (gostos são de difícil discussão) e Selling England by the Pound é a sua obra mais relevante, o momento mais alto do virtuosismo e genialidade da banda; uma obra prima, um perfeito e redondo 10/10. O trabalho nem sequer é relevante em termos de experimentalismo e inovação, mas as harmonias musicais e vocais, os arranjos, as líricas enigmáticas , o virtuosismo instrumental e uma certa atmosfera onírica casam na perfeição e fazem desta obra “um disco perfeito para a ilha deserta”. O trabalho é uma obra de equilíbrio entre todos os membros da banda, quer em termos de líricas, quer em termos musicais, inclusive os seus dois membros “juniores” Hacket e Collins têm uma participação muito activa neste álbum, o que nem sempre aconteceu, uma vez que núcleo duro fundador da banda costumava assumir quase todas as despesas criativas.
Selling England … não é um trabalho conceptual, mas apresenta uma ténue linha condutora, onde as referências aos velhos tempos do Império Britânico, ao romper das tradições e costumes aparecem em contra ciclo com a amargura de um país mergulhado numa profunda crise; desemprego, greves intermináveis dos mineiros, racionamento energético e um sentimento geral de frustração e desencanto. P. Gabriel insistiu que o álbum adoptasse como título o, na altura, “slogan” político do Partido Trabalhista,e que o trabalho de alguma forma enformasse de uma atmosfera “Very British”.
Dancing Out with the Moonlit Knight, o 1º tema do album ,é aquele que melhor espelha o descrito anteriormente, embora utilize uma linguagem intrincada e metafórica, com constantes alusões míticas e/ou históricas. Felizmente há sempre um dedicado fã (Madprophet) que nos ajuda nestas matérias tão subjetivas; aqui ficam as notas da sua laboriosa dissertação e visão pessoal.
“Is about the effects the British economy has on every day lives of Englishmen, the cultural crisis that they endure and the first oil crisis that happened right around that time. As transports and oil-derived vinyl were sending prices through the roof, many ways were considered to cut costs - SEBTP was the first Genesis non-gatefold and had cheaper, lighter records. Dancing Out With the Moonlight Knight is a wonderful socio-commentary partially dressed in legend. The lyrics offer the listener to "Dance with the Moonlit Knight," or defy the trends which are destroying us. It has been described as basically an epitaph to British culture as large companies destroy its heritage.
"Can you tell me where my country lies?" (1) said the unifaun (2) to his true love's eyes. "It lies with me!" cried the Queen of Maybe (3) - for her merchandise, he traded in his prize. (4)
"Paper late!" (5) cried a voice in the crowd. "Old man dies!" The note he left was signed 'Old Father Thames' (6) - it seems he's drowned; selling england by the pound.
Citizens of Hope & Glory, (7) Time goes by - it's 'the time of your life'. ( Easy now, sit you down. Chewing through your Wimpey dreams, (9) they eat without a sound; digesting england by the pound.
Young man says 'you are what you eat' - eat well. Old man says 'you are what you wear' - wear well. You know what you are, you don't give a damn; bursting your belt that is your homemade sham.
The Captain leads his dance right on through the night - join the dance... Follow on! Till the Grail sun sets in the mould. (10) Follow on! Till the gold is cold. Dancing out with the moonlit knight, Knights of the Green Shield stamp and shout. (11)
There's a fat old lady (12) outside the saloon; laying out the credit cards she plays Fortune. (13) The deck is uneven right from the start; and all of their hands are playing apart.
The Captain leads his dance right on through the night - join the dance... Follow on! A Round Table-talking down we go. You're the show! Off we go with - You play the hobbyhorse, I'll play the fool. (14) We'll tease the bull ringing round & loud, loud & round.
Follow on! With a twist of the world we go. Follow on! Till the gold is cold. Dancing out with the moonlit knight, Knights of the Green Shield stamp and shout.
(1) It begins without any music, with Gabriel's voice asking "Can you tell me where my country lies?" This album is the reply to that very question, and the reply (while musically mind-blowing) may not be very encouraging.
(2) 1.Unifaun apparently does not have any connection with the mythological faun, but is a mercenary rank equivalent to "private". 2. Unifaun: pun that stands for representing the ancient, historical England. From uniform, unicorn, faun (fawn or faun, in general)
(3) Queen of Maybe: From Queen of May, who, in the ancient England, used to represent the starting of a good season and the hope for a good harvest. Who is the Queen of Maybe? Opportunity. Today, Queen of May is used in England only for commercial advertising of products and this "Queen of Opportunity" represents the modern England.
The first stanza could be the gambling of culture on the 'maybe' of development.
(4) This could tell of how the younger generation is throwing away a legacy ("for her merchandise, he traded in his prize").
(5) One puzzling lyric in this song is "paper late cried a voice in the crowd", especially since it went on to become the title of another songs. Americans have assumed that it meant the same thing as "extra, extra!", the way paperboys hawked a late edition of the newspaper that had just come out. A British citizen comments: "I've never heard that phrase in colloquial English. However, I have heard "Late paper!" being shouted by paper sellers. A slightly convoluted theory is therefore this: Suppose a vendor is shouting 'Late paper! Late paper!' repeatedly. Given that he is in a crowd we can suppose there is a lot of other noise, perhaps enough to drown him out at times. In these circumstances, you might, in a lull in the background noise, hear '...paper! Late...'."
(6) The "old man dies," leaving the younger generation in charge, who promptly "sell England by the pound".
Old Father Thames is the spirit of the River Thames (the one which flows through London). He is depicted as an old man with a flowing white beard and symbolises Britain's ancient past. He's part of British folklore. The Old Father Thames spirit does not recognize his modern land - Old Father Thames symbolic drowning being a death of London as it was.
(7) Citizens of Hope and Glory are the English people. From the hymn Land of Hope and Glory.
( "its the time of your life" could point out how easily led people are by what they're told
(9) "Wimpey is/was an indigenous chain of burger stores, so colloquially a Wimpey is/was a burger (like a Big Mac, only even nastier). "wimpey dreams" refers to Wimpey restaurants which at the time were taking over the food market with chain outlets. They took their name after Wimpy in the Popeye cartoons, because he always ate burgers! [His tag phrase was "I will gladly pay you Tuesday for a hamburger today".]
Also, Wimpey are a national firm of (UK) builders who specialise in building vast estates of Identikit houses. "Dream Homes", as the adverts read. These are not made of the highest grade materials but are often built in Mock-classic English styles (Tudor, Georgian) of architecture. They were a firm that specialised in providing cheap(ish) housing often on the outskirts of larger conurbations and were seen by many working class people as a Des-Res (Desirable Residence) location to move to once they had sufficient money. This sort of house is seen as being a bit of a "trash talisman" by some sections of society. Frequently this sort of housing was a step up as families sought to better themselves.
(10) Grail: the cup of Jesus Christ from the last supper, which, according to the legend, is carried in England into King Arthur's court. Represents the splendour of the epoch.
This is about the downfall and decline of Great Britain as it loses its empire on which the sun never sets - the sun never sets on the British Empire because it is so big that it's always daytime somewhere. However, it's declining, and soon the sun will set...
(11) -"Green shield stamps" were the 70s equivalent to reward points at petrol stations or whatever - this points to commercialism. Green food stamps and price folder (Aisle of Plenty ) remind how low the Once Mighty Empire has fallen as the first oil crisis did even more damage to England Sold By The Pound to Arab Sheiks playing fortune with the Old Lady England that lays out the credit cards and plays fortune A double meaning is used again in this phrase too. Today, in England, the Green Shield Stamps are point, scratch-and-win, or unstick-and-win prizes. Knights of the green shield stamp and shout is one of the many puns on Selling England that are totally lost on Americans. "Green shield stamps used to be issued when you purchased everyday goods at stores. You collected them and when you had enough you could exchange the stamps for other goods, i.e. they were a promotional gimmick to encourage you to shop at certain stores."
(12) The verse about the fat old lady could be a dig at those who willingly throw away their money, possibly to company directors with their lying money grabbing ways.
(13) "Credit cards" is another modern day introduction of the times - Today's fortuneteller doesn't use playing cards anymore, only credit cards, to foretell the fortune.
(14) The Fool and the Hobbyhorse are characters from the Morris Dance. From "hobby horse" came the expression "to ride one's hobby-horse", meaning "to follow a favourite pastime", and in turn, the modern sense of the term Hobby.
There is a repeated riff that can be found in "Dancing with the Moonlit Knight" and the last tracks, and it sort of draws the album together”
Inicialmente, a viagem musical vive da forma extraordinária como Gabriel interpreta as líricas, ao que a banda, progressivamente vai adicionando camadas sonoras, em crescendo, até ao momento em que Gabriel dispara “"the captain leads his dance right on through the night" , e uma explosão instrumental emerge, num ritmo poderoso e brilhantemente executado. O fim é calmo, relaxante, quase pastoral. Simplesmente fantástico, uma poderosa peça de rock progressivo e uma das minhas favoritas. É melhor ver/ouvir.
Continua...
António José da Silva Membro AAP
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Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros. Sex Jun 07 2013, 19:47
Para mim, o melhor deles.
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If what I'm hearing is colouration, then bring on the whole rainbow...
The essential thing is not knowledge, but character. Joseph Le Conte
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Assunto: Re: Álbuns conceptuais, ao vivo & outros.