Continuando...
A partir dos anos 30, temos então basicamente três
possibilidades: usar pavilhões, usar apenas altifalantes
de membrana de papel, ou conjugar os dois.
Nos sistemas que apenas usam os altifalantes de
membrana, sejam numa ou em várias vias, as
possibilidades são basicamente as seguintes
Todas elas têm em comum o facto de que, neste tipo de
altifalante, ser necessário separar as ondas da frente e de
trás da membrana - problema que não se põe nos
pavilhões exponenciais - para conseguir reproduzir os
graves.
É que se a onda de uma frequência de 1000Hz tem 34cm
de comprimento, a de 30Hz tem...11 metros!!!
O sistema A, que é talvez o mais antigo, é o do "baffle"
de graves do sistema 3 vias da WE que já mostrei.
E naquela montagem no palco se calhar tinha pelo menos
uns 8 ou 10 metros de largura...
Mas un "open baffle" em casa dificilmente pode ter esse
tamanho. Portanto só funciona com duas ou três vias, e
um reforço dos graves com um "woofer"...
O sistema B, era o utilizado em quase todos os Rádios e
TVs, e soa àquilo que é: um "caixote"...
O C, pode funcionar muito bem. Trata-se de uma caixa
completamente fechada e cheia de material absorvente
(papel, fibra de vidro, etc.), e apenas utiliza as ondas
que a membrana produz para a frente, absorvendo as
de trás: é muito utilizado pois permite fazer caixas
muito pequenas, mas tem o inconveniente de necessitar
de um amplificador muito maior, pois o altifalante perde
uma grande parte da sensibilidade por estar amortecido.
O D, era muito usado por arquitectos, nos aeroportos, etc,
mas só é possível se se fizer um buraco na parede. Tem
a vantagem de se ter música em duas divisões, mas faz
eco... a menos que a divisão de trás seja uma biblioteca
onde ninguém vai e tenha a porta fechada, ou uma
dispensa cheia de fibra de vidro.
O E, é o mais comum:
É preciso saber que um altifalante tem sempre uma
frequência de ressonância, que é aquela à qual o sistema
mecânico ou eléctrico que se opõe ao sinal, e que permite
que a membrana seja precisamente excitada por esse
sinal, pois os movimentos de vai-vem resultam da
interacção das duas forças, perde "inércia" e entra em
vibração mais ou menos descontrolada.
A ideia, é criar uma caixa com um tubo ou abertura
afinada (como um tubo de órgão) para essa frequência,
para criar uma nota musical que sobrepondo-se à
frequência de ressonância, a anula... em teoria.
Na prática, estas colunas que só são muito boas se o
interior da caixa estiver muito bem amortecido, têm
tendência para produzir o que se chama o "baixo de uma
nota só", e às vezes, ouve-se o VOUFF do buraco...
sobretudo se estiver do lado da frente.
O F, pode dar muito bons resultados e tem muitas
variantes, sem ter o VOUFF pois há várias aberturas
repartidas, mas tem na mesma ressonâncias, como aliás
a "caixa Onken" que é excelente, mas só nos graves...
E a G, que é mais rara, dá muito bons resultados, mas
tem tendência para se desregular com o tempo.
Não se percebe na figura, mas o "drone" é um "radiador
passivo", ou seja uma membrana que não tem magneto
nem bobine, e que está livre. Quando a outra membrana,
que é o verdadeiro altifalante, vibra, esta não apenas
adapta o volume da caixa à pressão, amortecendo a
primeira, mas vibra também em contra-fase. Para evitar
que isto anule as vibrações do verdadeiro altifalante, é
preciso que esta membrana tenha uma maior resistência
e seja mais pequena (sistema já descrito por Olson nos
anos 30 e que foi utilizado em algumas Tannoy, creio).
Há ainda outro sistema EXCELENTE, que é o da "acoustic
suspension" usado pela marca AR, que é uma caixa
fechada, mas com uma pequeníssima abertura, em que
as suspensões da membrana são muito leves e flexíveis,
e é o próprio ar que está lá dentro que serve de suspensão
do aparelho móvel do altifalante.
MAS, todos estes sistemas e mais uns quantos de que
não falei têm um INCONVENIENTE:
É que ao amortecer, mais ou menos, a onda traseira da
membrana do altifalante, por um lado têm todos menor
rendimento (sensibilidade) do que os pavilhões, e
dificilmente se conseguem reproduzir os graves com uma
só via, pois todos eles precisam de reforço nos graves!!!
E é aí que o Ricardo Onga-ku tem razão: são precisos
quase sempre amplificadores de grande potência, que
ou têm muito mais distorção (ela é directamente
proporcional ao ganho do amplificador), ou então têm
de ter muita contra-reacção para a anular!!! Sejam eles
de válvulas ou de transístores...
Além do que os filtros (crossovers) usados nos duas e
três vias nunca são perfeitos (mesmo as marcas reputadas
como as Klipsch de que falarei de seguida, propõem vários
modelos de filtros aos seus clientes pois nenhum é
inteiramente satisfatório).
E quando se ouvem de perto altifalantes com 2 e 3 vias,
ao contrário das instalações nos Cinemas, consegue-se
quase sempre distinguir cada uma delas, o que pode
ser muito desagradável, sobretudo os "tweeters"... a
menos que elas sejam concêntricas.
Não é o ideal em salas com 20m2.... ou menos!!!
A par destas soluções mais "baratas" e menos volumosas,
as marcas de grande prestígio sempre utilizaram
pavilhões, que AMPLIFICAM, em vez de AMORTECEREM,
as vibrações.
E há essencialmente meua dúzia de marcas de que
gostaria de falar, que todas fabricam ou fabricaram
colunas de pavilhão e de ALTO RENDIMENTO:
A primeira é a KLIPSCH, fundada por Paul W. Klipsch em
1946, que comercializa desde essa altura a "Klipschorn"
por ele concebida nos anos 30, que é uma coluna
extraordinária que pude ouvir em várias ocasiões (aqui, à
esquerda - a da direita é uma Klipsch "La Scala" que
também ouvi mas de que não gosto embora tenha muitos
adeptos)
vista de trás é assim...
...porque é uma coluna "de canto" - como esta que não é
Klipsch e está mal colocada perto de uma janela!
...e utiliza a própria PAREDE para prolongar o pavilhão de graves.
É uma três vias, e a novidade é a técnica de "dobragem"
interna do pavilhão de graves, juntamente com a
compressão do "woofer" de membrana. Os altifalantes
de médios e de agudos são pavilhões exponenciais com
motor de diafragma, como nos primórdios do áudio.
Os graves são INCRÍVEIS e parece que não têm fim!!!
(contrariamente à la Scala, em que são apenas potentes,
mas só descem a cerca de 52Hz).
Pouco depois, a marca ALTEC inventou o altifalante
coaxial, aqui o 604, que foi produzido de 1945 a 1998!!!
O tweeter é um pequeno pavilhão exponencial multicelular.
Tem que ter evidentemente um crossover, mas não tem
problemas de fase acústica!!!
No que foi seguida pela JENSEN, com um triaxial:
Que é extremamente interessante pois os graves são
dados pela membrana em papel, mas se olharem
atentamente, por dentro e no centro da bobine há um
pequeno pavilhão metálico para o médio-agudo, com
diafragma, e por fora ao centro, mas ligeiramente desviado
para não interferir com o eixo do pavilhão, um pequeno
tweeter igualmente de pavilhão e de diafragma metálicos.
Mas a própria membrana de papel é de forma
EXPONENCIAL, e serve de PROLONGAMENTO do pavilhão
interno!!!
Brilhante!!!
E esta marca usou-o em pavilhões do tipo Olson a partir
de 1950
Isto foi um "array" feito para as Convenções Republicana e
Democrática americanas em 1952
A marca inglesa TANNOY criou um sistema semelhante de
duas vias, mas com o tweeter ao centro...
Com que fez as GRF
As Autograph
que também tiveram uma versão sem ser de canto
E, baseando-se mais ou menos noutra proposta de Olson
e Massa de 1936...
As Westminster Royal que ainda se fazem... e custam
qualquer coisa como 10.000 libras o par.
Finalmente, a marca LOWTHER, que sempre continuou a
usar os seus drivers de dupla membrana mas DE UMA SÓ
VIA
...e que muita gente detesta, outros amam, e eu adoro!!!
E que fez as PW 1 e 2, ainda de parceria com Voigt
As Hegemann (de parceria com Stewart Hegeman, que iria
criar mais tarde os altifalantes omni-direccionais)
As TP1
As Acousta
Enquanto outras marcas optavam pelos multi-vias
"extraordinaire", como a JBL Paragon que são duas colunas
numa só (direita e esquerda), mas também com pavilhões
...e assim por diante....
No meu caso - e embora tenha deixado muitas coisas de
fora desta já demasiado extensa introdução - considero
que a melhor reprodução é a que é dada por altifalantes
de alto rendimento, de preferência monovia, ou quando
muito com duas ou três vias coaxiais, e amplificação dos
graves não por "woofers" de radiação directa, mas sim por
pavilhões, que na condição de estarem bem desenhados
conferem uma reprodução muito mais natural dos graves,
com uma imagem sonora coerente, estável e precisa.
Abraço a todos
Amanhã falo dos "meus pavilhões"