Quando se relê um livro há sempre uma nova leitura.
Na música o mesmo.
Depois de um deambular pelo youtube ouvindo exitos (rock/pop) dos finais dos 60 e inícios de 70 identifiquei (o que sempre lá esteve mas nunca liguei) que há um denominador comum de efeitos sonoros. Naquela época não havia modéstia no seu uso.
Reportando-me à época lembro-me que se fazia a festa com qualquer mísero GD mono porque as gravações vinham cheias de esteróides.
Hoje procuramos um som "definido" "puro" "detalhado" (geralmente em prejuízo da emoção mas isso são outra questões e não quero ir por aí).
Esta questão está sempre presente nas minhas audições de equipamentos, as variáveis são muitas assim com são diversificadas as expectativas e os gostos de quem ouve. Talvez por isso seja um assunto que nunca dei por encerrado.
Admito porém que muitas vezes as grandes expectativas dão lugar a um "lá vem mais do mesmo".
A sofisticação homogeneizou o som.
Para quê toda esta converseta?
Para contextualizar a colagem deste texto que na sequência dos anteriores pensamentos encontrei na net e que apesar da sua simplicidade aborda com alguma clareza a questão dos efeitos sonoros.
" Os Processadores de Efeitos
Sérgio Izecksohn
O famoso som de estúdio. Afinal, o que faz com que aquela voz pequenina soe tão exuberante na gravação? Usam-se nos estúdios muitos tipos de processadores. Há processadores de efeitos, que abordaremos aqui, e processadores de sinal, de que falaremos na próxima edição. São vários aparelhos que modificam os sons originais dos instrumentos, dando-lhes novo colorido, ambientando-o ou adaptando o som para ser gravado em um determinado meio. Os mais usados em home studios são o reverberador ou reverber, o delay, o compressor, filtros de ruído, o "chorus", o "flanger" e outros mais específicos, como os distorcedores.
Os processadores podem se apresentar em forma de "rack", dedicados (um só tipo de efeito) ou multi-efeitos Os multi-processadores vêm com vários recursos diferentes, como se fosse uma pedaleira de guitarra, com os efeitos em série e controles de todos eles. Alguns têm o processamento totalmente independente à esquerda e à direita (em paralelo), se conectados pelas mandadas estéreo de efeitos da mesa. Podem vir como recursos próprios de mesas de som e de certos teclados, as "workstations". Ou, ainda, podem aparecer como recursos adicionais, os “plug-ins”, para programas de gravação em HD. Todos os formatos são úteis e podem soar muito bem, se bem escolhidos e dosados. Enquanto os plug-ins são um novo front na revolução do áudio gravado, pela imensa versatilidade, os efeitos em rack dão mais estabilidade e, em geral, agilidade ao trabalho de processamento de sinais e efeitos.
Os processadores com MIDI podem ter seus controles modificados em temo real na mixagem, pelo mesmo seqüenciador onde se ‘gravam’ os sintetizadores. Escolhe-se um canal MIDI só para ele e opera-se pelas funções “control change” e “patch change”.
Efeitos. Esses processadores são de uso coletivo. Em cada canal se controla a intensidade de cada efeito ligado à mesa. Há muitos tipos de efeitos. Deles, o reverber é um item obrigatório no estúdio, por permitir a correta ambientação de vozes e instrumentos. As marcas mais usadas são Lexicon, Yamaha e Alesis, com modelos dos mais simples aos mais complexos.
O reverberador reproduz os ambientes acústicos, de acordo com os timbres dos instrumentos e vozes e com as peculiaridades de cada música. Ao som seco e impessoal de estúdio, acrescenta vida e profundidade, valorizando, dando profundidade e definindo os diversos sons.
Quando estamos num lugar amplo, diante de um paredão ou uma montanha, podemos experimentar o efeito do eco. O eco é o reflexo do som, como uma imagem no espelho, a onda sonora que volta ao ouvido do emissor, após bater numa superfície reflexiva. O som viaja a 340 metros por segundo. Se você estivesse a 340 metros da montanha e pudesse gritar alto o suficiente, você ouviria o eco exatos dois segundos após o grito. Um segundo para a sua voz chegar na montanha, e outro para o eco vir até você.
O som se propaga em todas as direções. Ao atingir uma superfície reflexiva, reverbera (ecoa) num ângulo simétrico. Exatamente como a imagem de um espelho. Dentro de uma sala, com paredes, piso e teto mais ou menos reflexivos, múltiplas reflexões do som causam a reverberação. De acordo com os materiais usados e o tamanho das salas, as ondas sonoras se refletem com características variadas.
Os estúdios têm suas salas de gravação revestidas de materiais absorventes para “secar” o som. Isto nos permite gravar o som seco e aplicar a reverberação artificialmente. Do contrário, todos os sons gravados teriam a mesma reverberação, e todas as músicas ficariam com o mesmo “clima”, gravadas no mesmo ambiente.
Quando emitimos um som dentro de uma sala, primeiro ouvimos o som seco, direto da fonte. É o estágio do reverber conhecido como “pre delay”. Um instante (milissegundos) depois, ouvimos as primeiras reflexões (“early reflections”), e depois ouvimos as reflexões se cruzando pelas paredes, até o som perder força e cessar.
Os parâmetros de um reverberador variam desde o tipo e tamanho de salas, quartos, estádios, catedrais, “plates” (antigos reverberadores de metal), “gates’ etc., passando pela intensidade do efeito, até o timbre (graves e agudos) da reverberação, o tempo de decaimento (decay), o pre-delay, que é o atraso do efeito sobre o som seco, usado para definir o ataque do som e dar maior nitidez, e outros.
Alguns reverberadores mais simples e baratos, porém com qualidade profissional, trazem apenas um seletor de “salas” e controle de intensidade, o que é suficiente para bem sonorizar o home studio de nível básico.
Delay e Eco. O eco é um efeito usado para dar maior profundidade a instrumentos solistas. O recurso mais usado para criar este efeito é o digital delay. Delay significa atraso. Ele reproduz uma ou várias cópias digitais do som com atrasos pré-determinados, criando um “eco”.
Seus controles mais comuns são “level”, que dosa o volume do eco, “delay time”, o tempo ou o ritmo das repetições, “intensity”, que determina o número de repetições e outros, em geral referentes ao uso em estéreo, com diferentes delays à esquerda e à direita.
O delay digital substituiu as antigas câmaras de eco (que consistiam numa fita magnética girando em torno de cabeçotes de gravação com distâncias variáveis) por "samples" (amostras do som gravados digitalmente). É necessário ao estúdio para fixar a profundidade de solos instrumentais e algumas vozes.
O chorus faz oscilar a freqüência (afinação) de um sample (amostra sonora digital) em torno da freqüência do som original. A soma dos dois sons, o original e a amostra com afinação oscilante, sugere um efeito como o de um coro. Pode-se regular a intensidade, a velocidade (rate) da oscilação, o distanciamento do "pitch" (afinação) original. O flanger, que funciona de outro jeito, tem efeito semelhante, porém mais dramático. Também há o phaser, o rotary, derivado das caixas Leslie, que tinham falantes giratórios motorizados, e muitos outros efeitos."
(e já agora algumas gravações da referida época: Nancy Sinatra - These Boots Are Made for Walkin / THE SHADOWS - Apache (1969) / Mungo Jerry - In the summertime / Animals - House of the Rising Sun / Box Tops - The Letter (1967) / Los Bravos - Black is Black / PROUD MARY - CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL / Christie - Yellow River - 1970 / Bobby Vinton - Sealed With A Kiss (1972) / etc. etc. etc. )