Bob Dylan iniciou a sua carreira discográfica aos 20 anos. Era um jovem ambicioso que viu na musica, especialmente na Folk music, uma forma de expressão, de emancipação, de fuga ao destino, enfim uma forma de vida e de realização pessoal. Era um escritor prolífico, praticamente autodidata musicalmente, que teve o mérito de transportar para o movimento folk uma densidade poética pouco usual, muito incisiva socialmente, cirurgicamente certeira e especialmente alinhada com um tempo de mudança, de contestação, de procura de algo novo para uma América em profunda mutação. O movimento Folk, a ”protest song” e os movimentos cívicos adotaram-no como filho pródigo e rapidamente este autor-cantor de voz improvável, fortemente nasalada dura e ríspida, viu-se transformado no porta- estandarte da herança folk e seu mais promissor mensageiro.
Mas o futuro determinaria coisa diferente, Bob Dylan provavelmente nunca quis ou sentiu apetência para liderar o movimento folk e as suas preocupações políticas e sociais, talvez pura e simplesmente não estivesse interessado em ficar espartilhado num género musical com uma mensagem específica.
Em meados da década de sessenta Dylan empreenderia uma mudança radical no seu estilo de mensagem e sobretudo no seu espectro musical. O cerne dos seus textos migraria das preocupações da época (Vietname, racismo, justiça social, nuclear, guerra fria) para algo mais íntimo, pessoal e abstrato. Musicalmente abandonaria o ambiente acústico e entraria na fase “Dylan goes eléctric”: editaria entre 65 e 66 uma trilogia imperdível do seu espólio musical; Bringing It All Back Home", "Highway 61 Revisited" e o duplo “Blonde on Blonde”.
Highway 61 Revisited é o sexto álbum de estúdio de Dylan, gravado inteiramente com o recurso a uma banda de rock (ou blues rock, se preferirem) repetindo a experiência do lado A do trabalho anterior. É reconhecido como um álbum seminal no campo da música rock e extremamente influenciador para muitas bandas futuras e contemporâneas. Funcionou sobretudo como gasolina na fogueira para uma emergente corrente de nova música (rock) que se tornaria “mainstream”, conquistaria a crítica e faria a delícia de muitos melómanos. Teve um sucesso tremendo e seria dos primeiros trabalhos desta área a romper a habitual apetência da crítica por considerar os trabalhos da área do Jazz como os mais importantes da época.
Highway é um belíssimo álbum, quer musicalmente quer sobretudo pelas líricas, densas, complexas, por vezes abstratas e a léguas de distância da vulgar canção “pop” de três minutos de duração. Não tenham ilusões a par de Sgt Pepers, este é um dos álbuns mais importantes e mais influenciadores de muitas bandas e escritores de canções futuros. Dylan simplesmente indicou um novo rumo, criou um novo paradigma para a música contemporânea com um álbum que não pode falhar na vossa discografia. Mas chega de conversa o melhor mesmo é julgarem-no com os ouvidos, toca a por a rodar, em negro profundo ou cor de prata.
A edição que eu tenho é da Sundazed, em mono, de edição relativamente recente, não é um portento sónico mas cumpre bem.
Existe um documentário excelente sobre o inicio de carreira de Dylan, o ”No Direction Home” de Scorsese.