Finalmente a publicação do processo de restauro do meu Thorens TD145 MK1 que tenho vindo a levar a cabo nos últimos meses, à medida que o tempo e a vida autorizam.
Após estudar o manual de serviço e de pesquisar mais alguma informação, esta 1ª etápa (tenho a consciência disso
) contou com as seguintes tarefas :
Recap da placa de controlo do Auto-Stop
Ajuste do Auto-stop de acordo com o manual de serviço
Lubrificação do motor
Lubrificação do veio do prato
Correia nova
Ajuste do azimute do motor
Limpeza e lubrificação do CUE do braço
Ajuste da suspensão do chassis
Ajuste de folgas nos comutadores internos (nada foi feito, está óptimo)
Substituição do cabo de massa da sub-base
Substituição do cabo phono (QED Performance 2: muito rígido não era o mais apropriado)
Substituição do cabo phono (Klotz MC5000 : seguindo uma recomendação do AAP, gostei do cabo)
Eliminação da tomada da Shell (ficando apenas com um cabo do braço sem cortes, soldaduras ou
interrupções, mas também com montagem de cabeças, um pouco mais complicada - coisa que não me aflige)
Substituição do cabo do braço por um Cardas
Novos pés de apoio Rega
Cabeça Goldring GX 1012 Nova
Ajuste total do braço e cabeça
Lavagem da totalidade das bolachas (cabeça nova, discos lavados já dizia o poeta
)
Aquisição de alguns acessórios básicos
Instalação final à parede
Terminada a 1ª fase de restauro, já há umas semanas e que culminou com a aquisição da cabeça nova Goldring em conjunto com a "perda de cabeça" na compra de umas quantas bolachas para comemorar o feito, apercebo-me estar com "vontadinha" de começar a pensar numa 2ª etápa de evolução.
Neste novo contexto, começei por fazer uma nova tampa inferior para o Thorentino, que substitui a original e deprimente tampa em platex (fotos no fim deste tópico)
Para não tornar o tópico maçador vou resumir-me ao esquema : fotos muito resumidas com legenda ao lado.
Isto práticamente nem precisa de fotos. Há muitas na net sobre os mais variados Thorentinos baseados no mesmo chassis.
Cá vai, espero que gostem e seja útil :
Aqui está a unidade com mais de 40anos, a precisar de um merecido trato
Com uma cabeça Ortofon VMS20MK2 em final de vida. Este deve ter sido o último disco que tocou antes de ir para estaleiro
Início dos trabalhos : tampa fora, visível à esquerda e no topo o sistema de tirantes típico nestes chassis. E à direita, , o CUE, a base do pilar e a placa de comando do auto-stop
começei exactamente por aqui, o recap (troca de condensadores) do auto-stop. Não funcionava de todo! Depois do recap, ficou a 100%. Restava verificar o ajuste do magneto e da placa de acordo com o manual de serviço Thorens
um condensador trocado, utilizei vulgares electrolíticos
por baixo do cilindro branco está um magneto que faz fecho de fluxo magnético (conforme o movimento horizontal do braço) com o restante magneto bobinado. Este ajuste é algo chato, se se tentar afinar o "Lead out" de Singles e LP's, que ocorre em diâmetros (ou posições) diferentes do prato, mas ainda assim com uma certa região comum. Mais fácil se se tentar afinar para LP's apenas.
Por fim na placa há pontas de teste para afinar a frequência de ressonância que é o que dispara própriamente o circuito e o CUE.
Kit do Joel completo com espelho. Este senhor é um bom apoio no tema. Devia estar presente no Portugaudio lol
início dos trabalhos do motor. Ao que dizem é um ponto fraco destes modelos devido ao ruído produzido. Resolvi investigar, começando por sacar os 3 pernos cravados e desarmar o mesmo com cuidado.
uma vez desarmado foi fácil chegar às chumaceiras assinaladas pelo Joel, limpá-las e lubrificá-las.
Aspecto curioso é que as chumaceiras comportam-se como rótulas, isto é : existe um casquilho interior que se movimenta em qualquer direcção. Há quem realize trabalho mais extenso nestas chumaceiras. Não foi o meu caso. O motor é algo a que vou voltar na 2ª etápa de evolução do gira.
As 2 bobinas completamente seladas, não permitem modificações.
No re-arme do motor não utilizei os mesmo grampos cravados, mas sim varões roscados, tendo a montagem sido feita com cola de rosca e o aperto das roscas medido com chave dinamométrica, para que a carcaça deste ficasse capazmente "equilibrada" no aperto.
Inicio do desarme do braço.Os pivots de movimento horizontal são na realidade 2 rolamentos. Foram limpos e lubrificados. Os pivots de movimento vertical são pinos cónicos de assentamento simples. Este ajuste é primordial. O simples aperto das contra-porcas no final do ajuste é o suficiente para que fique novamente desajustado - com folga.
Braço totalmente removido. Sobrava o CUE que também foi removido, limpo e lubrificado com massa amortecedora, fornecida pelo amigo Joel (o Belga
)
O prato assenta no sub-prato, por encaixe simples. Aproveitando ferramenta minha de outras lides, resolvi assentar e marcar o prato na posição em que houvesse o menor empeno possível - ou seja o menor movimento na vertical do prato. Diz o meu registo escrito (lol um caderno de notas) que a melhor medida que "saquei" foi 0,07mm +-0,01mm. A folga axial ficou nos 0,05mm +-0,01mm. Não me preocupa absolutamente nada a axial, porque se não for o prato descentrado será certamente a bolacha. É práticamente impossível adquirir um disco perfeitamente centrado, e que imponha um movimento da cabeça inerte a quaisquer outros movimentos que não seja o da espiral de leitura (grooves).
Tentativa de dar graxa ao cágado. Uma brincadeira. Não tenho paciência para isto, confesso. Prefiro as mais de 2 horas a tentar ajustar o magneto do auto-stop (descrito acima)
Mas até que cheguei a algum lado no sub-prato.
Pormenor da tampa rectangular na base do pilar do braço. Esta tampa é pintada no seu interior com tinta condutora. É de uma eficácia de blindagem completamente "Faradayana" impedindo com grande eficácia interferências no sinal de phono no cabo do braço e soldadura com o cabo phono. Na foto é visível o cabo "QED AudioPerformance 2". Foi uma opção que decidi experimentar. Este cabo é muito rígido, nem sequer é fácil fazer curvas vigorosas, logo num giradiscos de suspensão teria o problema de trazer vibrações mecânicas para a parte suspensa.
De qualquer maneira gosto muito deste cabo para chicotes DIN-DIN. É muito bem construido e perfeito para IC's ! Já agora aproveito para confessar predilecção por fichas DIN de 4 ou 5 pinos (conforme). RCA rubbish! Peço desculpa Mr. Mainstream!
Como referi não é fácil curvaturas com o Cabo QED.
Novo cabo Phono Klotz e cabo de braço Cardas com soldadura a prata.
O cabo Phono Klotz MC5000 foi uma boa recomendação que encontrei no AAP. É também bastante robusto, de boa construção e bastante mais flexível, por ser na verdade cabo de microfone. A Massa de sinal e chassis que segui foi a original Thorens. Se tudo estiver bem com as massas eléctricas da sub-base e do braço, não vejo necessidade de as separar da massa de sinal.
Pormenor do interior da tampa da base do pilar, mostrando exactamente a camada de tinta eléctricamente condutora.
Remoção da tomada na shell do braço. O objectivo foi eliminar interrupções de sinal. Contam-se aqui soldaduras, contactos macho-fêmea, contactos cravados, presentes na configuração original. Ou seja em termos de adulteração de sinal, são ao todo cerca de 8 interrupções num de sinal de baixíssima amplitude. Ora, se qualquer alteração de transporte de sinal por materiais diferentes, causa refracção de parte desse sinal é fácil perceber a vantagem desta montagem, aliás presente em modelos High End.
Na prática esta alteração merece o torcer de nariz de alguns; para mim é caminhar no sentido correcto. O sinal sofre refracção em apenas em 3 pontos: cabeça, soldadura na base do pilar e ficha DIN.
Pormenor do cabo Cardas fornecido com terminais banhados e manga retractil à cor.
A troca do cabo do braço e a eliminação das tomadas da Shell, implicou redução do peso do mesmo. Mas ao nível da compliance não houve alteração que impedisse a instalação da cabeça escolhida. Mesmo que houvesse haveria solução.
E portanto saí a ponta do cabo Cardas que monta directamente na cabeça. A montagem não fica especialmente difícil. É perfeitamente possível utilizar a régua Thorens, fazer o aperto e ajuste.
Na foto não se percebe bem, mas o Thorentino conta agora com novos pés Rega. Muito robustos. Se há coisa que gosto desta marca é dos pés de Giras :DAqui também já tinha a sub-base nivelada.
Nova cabeça Goldring 1012Gx e a velhinha VMS20 de volta à caixa para souvenir.
Não percebia nada de escolha de cabeças. Precisava de opiniões. Ouvidas as que surgiram resolvi delegar a escolha no modelo e a sua montagem numa casa especialista no assunto. Nesta altura precisava consolidar tudo o que fui pesquisando e perceber se o que fiz teria ficado bem feito. Aparente sucesso. Mas nesta ocasião, levei uns discos comigo para a loja, para testar uma sibilância especialmente incomodativa em certas passagens por mim conhecidas. E o resultado não foi positivo!
Dias depois, já em casa acabei por re-montar a Goldring dando especial atenção à afinação do VTA; tendo chegado a bom porto ajustando este por ouvido e conseguindo reduzir a sibilância ao mínimo. Desde então (cerca de há um mês para cá) têm-se mantido o nível de sibilância que em boa verdade vai tanto do giradiscos como da qualidade das bolachas.
Eis senão quando surge a maravilhosa Knosti! Esta maquineta merecia um prémio EISA
!
Para fechar a 1ª etápa de evolução, resolvi adquirir uns básicos que qualquer ouvinte de vinil decente (não o faço por menos) deve ter. Uma escova anti-estática. Um aparato qualquer para limpeza de células (do tipo escova líquida ou Dustbuster) e uma caneta microscópica, que já tinha mas que acho absolutamente importante para manter a célula nas melhores condições possíveis ao longo do tempo. A juntar a isto um nível de "Spindle" para regularmente verificar o prato a nível. E um conjunto de níveis mais pequenos para o pilar e para a "Shell".
Admirador que sou de mobiliário fixo à parede, resolvi fugir a uma antipática prateleira metálica Apollo que me obrigaria a retirar a tampa do Thorens sempre que quisesse ouvir música, resolvi adaptar um "BESTA" do IKEA com poleias em aço.
Esta montagem para mim fecha a 1ª etápa. O móvel ficou nivelado
E convenientemente testado. Tinha de o fazer, este móvel alberga o Thorens e a restante instalação a ele ligado : QUAD 33, FM3 e 405. Juntando uns quantos discos, chega fácilmente aos 35kg de peso de equipamento. O teste com as duas colunas e o 405 somou 60KG sem qualquer click-a-brack de falência da estrutura.
Parte da montagem final que não está terminada. Falta a ocultação de cabos em canalização separada : alimentação e sinal.
Fim da 1ª etápa, início da 2ª etápa.
Novamente a tampa original do giradiscos feita em Platex.
O inícios de 2ºs trabalhos : uma tampa a partir de um paínel em pinho (nothing fancy), com a furação original, suprimida da saída Phono a qual afastei e movi para longe do motor e do cabo AC. À furação original acresce 1 novo furo para consegui nivelar totalmente o prato, nos 3 ajustes, sem tirar a tampa. A tampa conta ainda, no seu interior com a famosa espiral de arquimedes. Não faço ideia se isto resulta : nem quero saber. Em termos teóricos acredito que funcione. Na prática é mais questão de dizer "Been there, done that" : não me é especialmente crítico. Falta preencher o sulco, ainda não sei com quê.
Pormenor da parte exterior da tampa, já testada no plinto. Ficou bastante bom o encaixe no embutido da plinto.
Feito há 2 dias, falta envernizar. Aqui já com a furação para os pés definida e um certo aspecto final.
Espero que gostem do relato desta experiência.
Foi uma aprendizagem, deu-me alguma luta mas imenso gozo fazer isto.
Vou tentar evoluir mais esta base sem nunca descaracterizar este modelo.
Consultando o meu cadernito de notas
: tenho na calha para esta 2ª etápa :
- o reforço da sub base, no troço chumaçeira do prato e base do pilar (cujo conteúdo intelectual foi generosamente fornecido - como é seu feitio - pelo TD124 num tópico do AAP)
- melhoramentos ao nível da redução de ruído produzido no motor
- nova tampa inferior (que já está práticamente acabada)
- polimento do prato e braço
- polimento da tampa acrílica (que ainda é a original fumada)
- tratamento da madeira da plinto original
- experiências e evolução ao nível da pré-amplificação
- outras que pelo caminho se revelem
Na altura da montagem da cabeça foi-me sugerido a mudança do braço. Francamente acho que este modelo não se presta a isso. Perder funcionalidade e ficar com um botão de comando da CUE, inutilizado era uma tontice das antigas. Para isso servem outros modelos baseados no mesmo chassis como o 160Super que já não tem o botão de CUE. Há modelos entre nós, bem interessantes a exemplificar isso mesmo.
Abraços
FBatista