Sistema: filosofia e equipamentos

A construção de um sistema de audio (ou de reprodução de música gravada) é um percurso pessoal, guiado pelos objectivos e gostos de cada um de nós.
Ao longo do meu percurso, que tem combinado a experimentação possível com a pesquisa de documentação técnica e a leitura relatos de experiências individuais, fui desenvolvendo a minha filosofia que é acima de tudo uma visão pessoal.


Em primeiro lugar parece-me indispensável referir que o género musical que mais aprecio é a música dita "clássica" ou erudita, com especial relevo para o período Romântico no género sinfónico, para piano (solo ou em concerto), para violoncelo (acompanhado ao piano ou pela orquestra) e também alguma música com conteúdo vocal (ópera e canções).

De um ponto de vista audiófilo este tipo de música acústica (tocada em espaços com reverberação natural) tem a vantagem de poder ser usado como referência sónica na avaliação de equipamentos e sistemas e beneficia de um especial cuidado na sua gravação, ao contrário da maior parte das gravações em estúdio que só "existem" à saída da mesa de mistura ou nos concertos amplificados onde o som escutado pela audiência é uma reprodução daquilo que foi captado pelos microfones ou pela mesa, amplificado e transduzido por sistemas P.A. que não têm a fidelidade como principal objectivo.
Além disso, a complexidade sonora e musical, a larga banda de frequências, a ampla gama dinâmica e a variedade de timbres/fontes sonoras da música "clássica" representam um desafio especialmente exigente no que se refere à sua gravação e consequente reprodução em ambiente doméstico.


Tendo a reprodução "natural" de música "clássica" como objectivo, aquilo que eu espero do meu sistema é reproduzir a gravação com a máxima fidelidade possível e para o conseguir é necessário recorrer às topologias que oferecem maior potencial e procurar obter o máximo rigor técnico de cada uma delas (dentro do meu orçamento, claro está).

Mas se por um lado esse rigor técnico implica um "respeito" absoluto pela integridade do sinal, não me sinto pudico ao ponto de repudiar uma ligeira adaptação da resposta de frequências ao gosto do "escutante", até porque os sistemas de transdução (que convertem o sinal eléctrico em ondas sonoras) são bastante imperfeitos e mesmo os melhores deles são o resultado de compromissos, da escolha de uns malefícios em detrimento de outros.

Numa situação ideal isso significaria uma resposta de frequências cobrindo todo o espectro da audição humana (20-20.000Hz), uma gama dinâmica limitada apenas pela gravação, transdutores e ruído de fundo da sala de escuta, com valores negligenciáveis das distorções várias de modo a permitir a "claridade" e a resposta de transitórios necessária à produção de uma sonoridade "natural".


Seguem-se algumas considerações sobre equipamentos e acessórios...

No que se refere às fontes, tema algo polémico neste fórum dada a minha preferência pelo digital, sou da opinião que este equipamento deverá ser o mais "transparente" possível de modo a conseguir extrair a máxima quantidade de informação do suporte (que contém a música),  contaminando o sinal o menos possível com todo e qualquer tipo de distorção.
Isso significa que uma mesma gravação reproduzida a partir de CD ou de vinil apenas deverá distinguir-se pelas "colorações" ou distorções inerentes a cada um dos sistemas (suporte e equipamento de leitura).

A amplificação deverá seguir o mesmo princípio de "transparência" na sua função de aumentar a amplitude do sinal que provém da fonte, ser capaz de alimentar as colunas às quais está ligado (o que implica um headroom suficiente para responder aos transitórios e uma impedância de saída reduzida de modo a resistir imune à carga produzida pelas colunas que varia consoante a  frequência) e a fonte de alimentação deverá ser adequadamente dimensionada e eficaz na filtragem das "impurezas" da corrente eléctrica (a amplificação de potência modela a intensidade da corrente eléctrica de acordo com o sinal de audio).

Todos os circuitos electrónicos deverão pautar-se pela simplicidade e utilizar os componentes que apresentem as melhores características/desempenho técnico.

Quanto à transdução, vou cingir-me às caixas acústicas de radiação frontal com uma listagem sumária de algumas características que considero indispensáveis para um bom desempenho:
• a caixa deverá ter uma face larga para evitar "descontinuidades" na resposta ao nível da gama média/média-alta (baffle step) onde o ouvido é mais sensível, uma construção que permita o controlo das ressonâncias e das ondas estacionárias e as arestas boleadas ou chanfradas para reduzir a difracção
• um mínimo de 3 vias por forma a reduzir a distorção por intermodulação e utilizar cada altifalante com as características adequadas à banda de frequências que reproduz
• resposta de frequências plana ao eixo e sem irregularidades fora deste por forma a garantir uma tonalidade equilibrada na sala
• altifalante de baixas frequências de grandes dimensões (ou par de dimensões médias) colocado em caixa selada para melhor resposta aos transitórios
• o material utilizado no diafragma dos altifalantes não deve produzir distorções audíveis aquando do break-up…quer se trate de papel, carbono, kevlar, cerâmica, alumínio, polipropileno ou bextrene, qualquer material introduz uma "coloração" própria e penso que não é descabido associar a tonalidade dessa "coloração" ao material em questão


Para terminar gostava de afirmar a minha preferência por cabos de condutor unifilar (solid core) e topologia de baixa capacidade, sem blindagem e com material isolador de baixa constante dieléctrica (polietileno ou politetrafluoretileno/teflon).

Neste tópico descrevi a minha abordagem ao posicionamento das colunas na sala:

https://www.audioanalogicodeportugal.net/t2251-posicionamento-de-colunas



E neste outro a minha opinião e experiência no que se refere à "modificação"/"optimização" de equipamentos comerciais:

https://www.audioanalogicodeportugal.net/t5230-modificacoes-ou-optimizacoes-de-equipamentos

E a foto da praxe daquilo que era até há bem pouco tempo o meu sistema:



Fonte: Pioneer PD-91 modificado* - http://www.thevintageknob.org/pioneer-PD-91.html
Amplificação: integrado a transístores* (base Marantz PM50)
Colunas: Spendor SP9/1 - http://www.pdf-archive.com/2014/06/01/spendor-master-series-brochure/

* - pelo Ricardo Domingos

É sempre bom ler os teus considerandos e opiniões Ricardo !
Agora só faltam as fotos do sistema atual...

  

Caro João, o sistema actual é o mesmo, mas sem as colunas...  

(tive de vendê-las, vou ser vizinho do António)

ricardo onga-ku escreveu:

Caro João, o sistema actual é o mesmo, mas sem as colunas...  

(tive de vendê-las, vou ser vizinho do António)

Ah, ok...é pena, não pelas colunas porque de certo vais lá encontrar umas belas Tannoy   , mas pelo facto de teres má vizinhança...

  

 

Obrigado pela partilha e cuidado com a nova vizinhança quando ele não estiver a monte   

Milton escreveu:

má vizinhança...

  

Não vou discordar nem concordar, apenas digo que existe bem pior.  

Algumas características (subjectivas) que na minha opinião definem "transparência" e por conseguinte um "bom" som:
• equilíbrio tonal (resposta de frequências "plana") - nenhuma parte do espectro sobressai em relação às outras
• "resolução" a baixos volumes (resulta de uma grande ausência de ruído e "distorções") - quando se baixa o volume o "detalhe" permanece relativamente estável (apesar da inevitável mas ligeira alteração na tonalidade)
• som "confortável" (resulta de uma grande ausência de ruído e "distorções") - é possível de conversar sem dificuldade mesmo com o sistema a tocar a níveis de pressão sonora relativamente elevados
• dinâmica "solta"
• ausência de "dureza"

Hello Ricardo,

thank you for sharing your experiences in building a satisfying audio system.

Now I'm curious which are your new speakers?

Cheers
Manfred

mannitheear escreveu:

Hello Ricardo,

thank you for sharing your experiences in building a satisfying audio system.

Now I'm curious which are your new speakers?

Cheers
Manfred

Hi Manfred,

I'm curious too.  
Since I won't be moving to the U.K. until August I haven't bought any replacement yet.
I'm currently trying to sketch up a shopping list of models to listen to.

Best,
Ricardo

Este tópico não podia ficar completo sem a medição da resposta no ponto de escuta:

A mudança de casa levou à mudança das colunas.



B&W 802 Series 3

Ainda é cedo para comentar; falta substituir alguns condensadores do filtro, a espuma de amortecimento da caixa do médio por lã de ovelha, os cabos internos e talvez atenuar o tweeter se nas medições se verificar que está a acentuar os agudos.

Mas com esta sala livrei-me do eco...

E como é, para já estás a gostar?

ricardo onga-ku escreveu:

... ...  os cabos internos e ... ... ...

Mas com esta sala livrei-me do eco...

Olá!

Bem chegado e com muitos sucessos!


??? Precisa dos cabinhos da 47 Labs de volta? ...
    Usei alguns com os drivers CORAL's mas ainda tenho alguns ali!? ...

António José da Silva escreveu:

E como é, para já estás a gostar?

Suspeito que os agudos são um pouco exagerados mas preciso de "actualizar" o crossover e depois vou medir a resposta.
Tens de vir ouvi-las mas talvez valha mais a pena depois da cirurgia.

R

reirato escreveu:

ricardo onga-ku escreveu:

... ...  os cabos internos e ... ... ...

Mas com esta sala livrei-me do eco...

Olá!

Bem chegado e com muitos sucessos!


??? Precisa dos cabinhos da 47 Labs de volta? ...
    Usei alguns com os drivers CORAL's mas ainda tenho alguns ali!? ...

Obrigado, está tudo a correr bem.

R

ricardo onga-ku escreveu:

António José da Silva escreveu:

E como é, para já estás a gostar?

Suspeito que os agudos são um pouco exagerados mas preciso de "actualizar" o crossover e depois vou medir a resposta.
Tens de vir ouvi-las mas talvez valha mais a pena depois da cirurgia.

R

O que as Wharfdale tinham a menos, têm essas a mais.

É desta que vou aprender a fazer medições.

António José da Silva escreveu:

É desta que vou aprender a fazer medições.

Mas não vás carregado com vinyl.

Pierre escreveu:

António José da Silva escreveu:

É desta que vou aprender a fazer medições.

Mas não vás carregado com vinyl.

Agora como moro a 7 min. do Ricardo, vou chaga-lo tanto tempo até ele comprar um gira.

António José da Silva escreveu:

Agora como moro a 7 min. do Ricardo, vou chaga-lo tanto tempo até ele comprar um gira.

Fico bastante curioso com a vossa opinião antípoda e no que poderá se extrair daí.

Pierre escreveu:

António José da Silva escreveu:

Agora como moro a 7 min. do Ricardo, vou chaga-lo tanto tempo até ele comprar um gira.

Fico bastante curioso com a vossa opinião antípoda e no que poderá se extrair daí.  

Na melhor das hipóteses...

António José da Silva escreveu:

... ... ... O que as Wharfdale tinham a menos, têm essas a mais.

Sempre posso desenrascar uns (!? ...) ... Super-tweeters, que tal? ...

António José da Silva escreveu:

Pierre escreveu:

António José da Silva escreveu:

É desta que vou aprender a fazer medições.

Mas não vás carregado com vinyl.

Agora como moro a 7 min. do Ricardo, vou chaga-lo tanto tempo até ele comprar um gira.

Já tenho um gira-discos…2 terabyte:





R

ricardo onga-ku escreveu:

Já tenho um gira-discos…2 terabyte:

Mas eu estava a falar de máquinas para ouvir musica.

António José da Silva escreveu:

ricardo onga-ku escreveu:

Já tenho um gira-discos…2 terabyte:

Mas eu estava a falar de máquinas para ouvir musica.

Realmente isso é mais uma picadora de miolos, estilo 1,2,3... já está!? ...

reirato escreveu:

António José da Silva escreveu:

ricardo onga-ku escreveu:

Já tenho um gira-discos…2 terabyte:

Mas eu estava a falar de máquinas para ouvir musica.

Realmente isso é mais uma picadora de miolos, estilo 1,2,3... já está!? ...

Mas para ouvir musica sem encanto, serve na perfeição.

António José da Silva escreveu:

Agora como moro a 7 min. do Ricardo, vou chaga-lo tanto tempo até ele comprar um gira.

Isso é muito bom. Só se estraga uma região

Ricardo, espero que esteja a correr bem a tua aventura (séria)!

Depois de 3 meses de plena tortura lá me consegui livrar das BeW...
O som causava uma sensação desagradável, como se estivesse a mastigar vidro enquanto partia copos de cristal.
Estariam avariadas?

R

ricardo onga-ku escreveu:

Depois de 3 meses de plena tortura lá me consegui livrar das BeW...
O som causava uma sensação desagradável, como se estivesse a mastigar vidro enquanto partia copos de cristal.
Estariam avariadas?

R

Era um som sem alma, ou então já tinham entregue a alma ao criador.
E o problema não estava nas frequências altas, mas na ausência das baixas, o que te dava a sensação de que la em cima estava tudo em excesso.
Pelo menos foi a minha conclusão do pouco que ouvi.

As novas, só podem ser melhores.

Acho não era só um problema de tonalidade, "fria" e "metálica" devido ao excesso nos agudos e a um médio-grave "anémico"...
Também fiquei desiludido com o som "granulado" e "brilhante" do tweeter e com uma ressonância(?) no topo da gama média (±700Hz) que dava ao som dos violinos uma "aspereza" semelhante ao buzinar de uma trompete.

BeW nunca mais.

ricardo onga-ku escreveu:

Depois de 3 meses de plena tortura lá me consegui livrar das BeW...
O som causava uma sensação desagradável, como se estivesse a mastigar vidro enquanto partia copos de cristal.
Estariam avariadas?

R

Estranho...as que ouvi aqui em casa do teu homónimo não tinham essas características....mas penso que os xovers foram mexidos por ele...

Milton escreveu:

ricardo onga-ku escreveu:

Depois de 3 meses de plena tortura lá me consegui livrar das BeW...
O som causava uma sensação desagradável, como se estivesse a mastigar vidro enquanto partia copos de cristal.
Estariam avariadas?

R

Estranho...as que ouvi aqui em casa do teu homónimo não tinham essas características....mas penso que os xovers foram mexidos por ele...

A minha fonte é bastante pior do que a dele e isso faz alguma diferença, provavelmente muito mais do a substituição dos componentes do crossover por novos de características idênticas.
E não descarto a possibilidade de as minhas terem algum problema...eu também ouvi as do Ricardo aí em Santarém e não fiquei com tão má impressão; aliás, foi por isso que as comprei, apesar de preferir as minhas antigas Spendor no que toca ao equilíbrio tonal.

ricardo onga-ku escreveu:

[

A minha fonte é bastante pior do que a dele e isso faz alguma diferença, provavelmente muito mais do a substituição dos componentes do crossover por novos de características idênticas.
E não descarto a possibilidade de as minhas terem algum problema...eu também ouvi as do Ricardo aí em Santarém e não fiquei com tão má impressão; aliás, foi por isso que as comprei, apesar de preferir as minhas antigas Spendor no que toca ao equilíbrio tonal.

Eu ouvi a tua fonte aqui em casa e também não achei nada disso....(mas admito que o meu nível de exigência/percepção seja inferior ao teu)
Mas se achas que o problema é da fonte não era mais simples trocares a mesma ??

ricardo onga-ku escreveu:

Acho não era só um problema de tonalidade, "fria" e "metálica" devido ao excesso nos agudos e a um médio-grave "anémico"...
Também fiquei desiludido com o som "granulado" e "brilhante" do tweeter e com uma ressonância(?) no topo da gama média (±700Hz) que dava ao som dos violinos uma "aspereza" semelhante ao buzinar de uma trompete.

BeW nunca mais.

Chegaste a experimentar com um giradiscos?

Rui Mendes escreveu:

Chegaste a experimentar com um giradiscos?

Era o quanto bastava.

Se o sistema de leitura gira+braço+célula+prévio fosse competente o resultado seria o mesmo...despachar as colunas.

Tenho colunas novas a tocar desde Sábado; o meu amplificador avariou e tive de comprar um velho Sony para desenrascar, ainda não tive muito tempo para as ouvir com atenção.

Que modelo é esse Ricardo?

São as Imagine T2 da PSB -> http://www.psbspeakers.com/products/imagine/Imagine-T2-Tower

Boa sorte com elas então. Não me parece que tenham sido uma pechincha...
Viver no UK e comprar colunas canadianas...

Estas vieram da Alemanha; são usadas, ficaram quase por metade do preço.

ricardo onga-ku escreveu:

Estas vieram da Alemanha; são usadas, ficaram quase por metade do preço.

Não duvido que fizeste o trabalho de casa, ainda por cima tendo sido avaliadas na Stereophile...

Pelo menos giras são...

ricardo onga-ku escreveu:

São as Imagine T2 da PSB -> http://www.psbspeakers.com/products/imagine/Imagine-T2-Tower

Recordo-me que nuns gráficos postados algures, as PSB Imagine eram dos modelos com melhores medições... Espero que ao vivo e a cores sejam do teu agrado.

Eu já tive umas PSB (mais antigas) e apesar de as achar muito razoáveis (bastante neutras mas com uns agudos muito característicos), acabei por me desfazer delas (e de muitas outras de chão) devido ás limitações do espaço actual...

Boa Sorte

Uma coisa é certa, são bem bonitas. A outra coisas (quase certa) é que vão ser melhores que as B&W que tinhas (que Deus tenha pena de quem as adquiriu ).

Mas a ver se ouves bem com esse Sony de cama média, e nos dás o teu parecer dessas colunas fininhas que nunca são bem do teu agrado.

Eu também sinto alguns remorsos por não ter alertado o tipo que me comprou as BeW...

ricardo onga-ku escreveu:

Eu também sinto alguns remorsos por não ter alertado o tipo que me comprou as BeW...

Não vale a pena, ele até pode estar a delirar. Pode ser difícil de imaginar, mas imagina que as que ele tinha antes, ainda eram piores.