A rodar XLI

Cada gira (e setup associado) possui uma sonoridade propria e reconhecivel, o que elimina a simples ideia do "som vinil ou analogico" ... pois entre um Technics SL1200, um Linn LP12 e um Rega Planar (os três giras mais vendidos) e qualquer que seja o setup em causa, é dificil de estimar que o som seja equivalente ou mesmo proximo. A partir deste constato podemos imaginar que um disco soe melhor com um gira do que com outro, ou que a sua escuta seja globalmente mais "màgica" com um equipamento determinado. Foi o que me aconteçeu hà uns doze anos atràs quando ouvi o "The Lamb..." num Xerxes...

Sempre gostei deste album, hoje aclamado como um padrão do Rock Progressivo, mas sempre tinha passado ao lado das subtilidades dinamicas, harmonicas e mesmo dos subentendidos do texto até comprar o CD. Dificil hoje de imaginar que esta obra monumental foi escrita separadamente (o Gabriel de um lado a escrever os textos e o resto do grupo no estudio a criar a musica...) e que seria o selo da separação. Pela alternância estilistica, pelos textos elipticos (impenetràveis mesmo) assim que pelos vocalismos em movimento do Gabriel/Collins ... este disco pode perder coerência e ser mesmo "quase" inescutàvel com alguns gira e setups (sobretudo as faixas The Lamia e Carpet Crawlers). O minimalismo repetitivo de Carpet Crawlers cria com o Xerxes um turbilhão de sentimentos obcessionais e hipnoticos ... que nenhum outro gira que conheça iguala. Venho de o escutar com um Pink Triangle, e mesmo se a escuta foi muito boa não é a mesma coisa ... e o Xerxes não vai ler outros discos como o Pink! A leitura dos vinilos é mesmo muito complicada ...

Apòs algumas escutas tanto atentivas que distraidas, posso afirmar que este disco mereçe toda a vossa atenção e mesmo de arranhar os tostões das algibeiras e gavetas para comprà-lo*. È indiscutàvel que o modelo musical do grupo são os GYBE! assim que o grupo irmão destes, os SMZ. Até aqui nada de anormal e muitos grupos de Post-Rock reclamam esta filiação, mesmo quando se encontram a mil léguas da musica original dos canadianos ... ora que os Indignu [lat.] não sò se aproximam e por vezes igualam, como são capazes de produzir sonoridades pouco miméticas e por vezes mesmo altamente originais. Entre a raiva assumida e a negridão politica dos GYBE os portugueses escolheram a diagonal melancolica, lirica e hipnotica dos dois primeiros albums dos SMZ. Esta escolha perigosa e escorregadia (tanto os primeiros SMZ são virtuosos...) é assumida com coragem, modestia e inteligência. Os "crescendos" são luminosos e as progressões harmonicas brilhantes, alternando com brio o rock e a musica contemporanea "a la Steve Reich". Os dialogos musicais são por vezes inspirados e modernos (Adeus Claraboia) e outras vezes clàssicos no estilo, mas com enfase, grandiloquência e lirismo (Mar do Norte) ... deixando o auditor extenuado, mas feliz, pela complexidade assumida das construções musicais. Não comprem este disco porque é português (a razão seria estupida...), mas comprem porque faz parte dos melhores discos de Post destes ultimos anos, e que acidentalmente é feito por um grupo português...

Fora de tempo, em Junho, temperaturas de Agosto assolam os últimos dias de Primavera.
Fora de tempo, conclui-se que "o tempo também se engana".
Dentro do tempo, na hora agendada, sintonizo a Antena 2, dando ouvidos a «Argonauta».

A importância das coisas


(American Recordings, 30013954-01)

Prestando homenagem às vítimas da tragédia de Pedrógrão Grande, com o álbum «American VI: Ain´t no grave», edição datada de 2010, póstuma ao falecimento de Johnny Cash.