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Fórum para a preservação e divulgação do áudio analógico, e não só...
 
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Fórum para a preservação e divulgação do áudio analógico, e não só...

 

 Prazer, Vaidade ou Razão...

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MensagemAssunto: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyTer Nov 05 2019, 15:04

O recente topico do Gonçalo sobre o seu novo gira-discos "Confortable" despertou-me algumas interrogações, sém duvida pelo aspecto autobiografico como o nosso amigo o apresentou ... mas sobretudo porque desde que se aborda as nossas motivações em torno do audio, existém tantas variantes quanto as pessoas. Eu sei que somos todos diferentes, e felismente, mas no dominio do audio apareçe como "quase" impossivel que duas pessoas sigam o mesmo caminho. De vez em quando estamos de acordo num ou nuns quantos pontos ... mas globalmente a nossa forma de encarar, ou de viver, o audio é profundamente diferente, pois sistematicamente singular. Isto deixa-me tanto mais dubitativo que de todos os dominios técnicos o audio é aquele que mais se aparenta à religião ... no entanto as religiões e o misticismo criam grupos, eles reunem as pessoas à volta de uma ideia comum, o audio não!

Evidentemente que esta "singularidade" me apaixona e por vàrias razões pois de ordem profissional, pessoal e historicas. Pareçe-me muito mais simples de meter vàrias pessoas de acordo sobre o significado do que é um "bom carro" do que meter vàrias pessoas de acordo sobre o que é um "bom aparelho", ou um "bom sistema". No dominio automovel a noção de fiabilidade, conforto, pouco consumo ou segurança são obvias ... ora que no audio as caracteristicas são sempre analisadas pelo prisma da "crença razoàvel". Uma simples viagem pela leitura neste nosso jovém forum mostra até que ponto a divergência de opinião é a regra ... sòmente a Musica pareçe ser um elo de ligação, sém ser verdadeiramente!...

Finalmente penso que, o prazer, a vaidade e a razão são os três motores da paixão pelo audio e o que nos diferencia é tão sòmente as proporções de cada um destes elementos no nosso caminho. Penso mesmo que as proporções podem variar com o tempo e a experiência ... mas isso é a cada um de avaliar!
Jà fazia algum tempo que não lançava uma ideia filosofica ... fica esta então para brodar !!!

cheers
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Goansipife
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyTer Nov 05 2019, 16:19

Paulo,

Se percebi bem todo o teu contexto filosófico, então aqui, para mim, não há duas opiniões diferentes. A minha é, em tudo, concordante com a tua.

Contudo, em quase tudo (para não dizer tudo) existem tendências. Até no vinho que se bebe.

Eu posso concordar contigo e ou com inúmeros especialistas do grande néctar (incluindo Baco) que determinado vinho é bom e até mesmo, Bom de forma inquestionável, mas posso tender (e as tendências são uma carga de trabalhos) que outro vinho, puxa mais pelo meu apelo. Ou porque as minhas pupilas gustativas são mais sensíveis a um do que a outro, ou porque, em extremo, seja do género tão bairrista e regionalista, onde não haverá melhor vinho do que o da minha região. Enfim... tendências são como manias...

Mas tu pões aí o toque da paixão. Concordo! No entanto sempre que a expressão "Paixão" vem à baila, lembro-me de um certo conselho que um não menos jovem Senhor me deu há muitos anos atrás:

"Apaixona-te sempre que puderes, mas nunca deixes levar pela paixão, nas tuas decisões, nomeadamente aquelas que te possam conduzir a uma casamento menos reflectido.

A Paixão, reflecte, ela própria a loucura momentânea... Pouco duradoura. Mas o amor e a amizade pela outra pessoa, o sentimento de medo de perda, esses sim, tem larga duração e, durante esse tempo, dá-nos muito maior prazer
.

Não sei se cumpri tal sempre à risca e com o Materialismo Dialéctico, em que este conselho está impregnado, mas continuo sempre a tentar seguir aquilo que me dá prazer e por muito, muito tempo.

Ora então, como julgo que me reconheces, também no áudio procuro sempre o Prazer e um prazer duradouro!


cheers
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José Miguel
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyTer Nov 05 2019, 16:47

O princípio do tópico é interessante, melhor, é pertinente e pode levar à auto-reflexão ou à reflexão sobre a interacção social (dentro e fora do Fórum).

A esta hora não me posso alongar muito, mas partirei de uma imagem:
Prazer, Vaidade ou Razão... Imag2019

A imagem em cima mostra quatro dos nossos pratos e neles podem ver que estão quatro características do Homem que ora representam Valores (positivos) ora representam Vícios (negativos).

O Paulo já tocou este assunto ao referir a proporção que permitimos a cada uma das características presentes no título e isso pode muito bem ser o fio condutor da reflexão a fazer.

Para lançar desde já um outro olhar, eu não concordo que o Audio não permita reuniões e consensos, muito pelo contrário. Este Fórum, ou outros, são bem o exemplo de como se criam micro-sociedades em torno de um qualquer ideal, crença, tipo de equipamento ou mesmo equipamentos.

Pela minha parte posso dizer que faço a gestão de proximidade/afastamento mediante a sensação de me sentir mais ou menos tocado de forma positiva, porque participar de um espaço como este cria Vícios e quando pensamos estar bem, logo surgem ideias que levantam dúvidas, ao ponto de duvidar do que efectivamente quero.

Isto é tão natural como uma conversa de café, assim que somos colocados perante Outros logo surge diversidade e felizmente, na maioria do casos, isso representa crescimento individual e colectivo, tocando a cada um gerir a proporção que permite às características que nos pertencem.

Posto isto, colocar o Audio ao lado da Religião parece, por princípio, exagerado, mas eu já vi acontecer tanta coisa... Contudo não vejo o Audio como diferente de outros assuntos terrenos e na maior parte das vezes confesso não ver grande espiritualidade neste assunto - o Homem é naturalmente metafísico e as crenças neste patamar tendem a ser mais profundas (seja metafisicamente religioso ou científico Smile ). Posições extremadas há sobre Audio, bicicletas, carros (vejam-se debates sobre que tipo de motor usar para proteger a Natureza), Política, ...

Faz tempo que deixei de expressar opiniões de fundo por aqui, mas ainda hoje acredito que a Aprendizagem é a base de tudo e quando se Aprende com Outros, é normal que deles fiquemos próximos... Assim o vejo e assim faço a gestão para poder encontrar o caminho em que me sinta confortável. Wink
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Mellowship

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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyQua Nov 06 2019, 10:13

Permitam-me acrescentar algumas reflexões a esta discussão, às quais deixo a ressalva de serem aspectos gerais das ciências que estudam o comportamento humano, não reflectindo assim o específico comportamental de cada um de nós. Estarão, não obstante, na base de muitas motivações deste mundo algo obscuro (às vezes) do audio, da alta fidelidade e, nomeadamente, desse muitas vezes designado desvio chamado audiofilia.

Chamo em primeiro lugar a Biologia da evolução do comportamento humano, que nos coloca a evoluir de arborícolas a caçadores-recolectores. O humano é um macaco que se foi pondo de pé ao longo cerca de 10 milhões de anos, e quando se cristalizou na espécie actual, há cerca de 200 000 anos, entrou num vazio evolutivo em que a tecnologia que foi capaz de criar o possibilitou adaptar-se a uma multitude de ambientes, e por esse motivo, diminuiu a pressão ambiental que leva à evolução. Mas cá estamos, evoluídos como caçadores-recolectores que, nas nossas sociedades actuais, não caçam nem recolhem no sentido literal do termo. A caça efectiva, que era uma forma de angariar alimentos até há 10000 anos, foi substituída por uma forma mais estável de alimentação, com a revolução agrícola. Passámos a ser agricultores e pastores sem deixar de ser caçadores, embora tenha persistido sempre a necessidade (e o instinto) de caça.

Aqui entra a Psicanálise a dar uma ajuda à Biologia: se o homem não caça o animal - não só porque não precisa mas também porque não tem a possibilidade de o fazer de forma fácil ou sustentável - mas mantém o "drive" para caçar, a resposta natural do homem é substituir a caça real pela caça simbólica.

A caça simbólica é um comportamento central do humano. Caçamos vitórias, glória, objectos, dinheiro, estatuto, para satisfazer esta necessidade ancestral. O desporto, a escalada profissional, o coleccionismo, o "binge-watching", o consumismo desenfreado e - aqui está - a audiofilia, são todos exemplo de caça simbólica. O simbolismo vem não só do facto de não se tratar de uma caça real mas também porque não serve apenas - ou da maior parte dos casos, de todo - para alimentar ou para suprir necessidades de base, mas principalmente para alimentar o ego.

Volta a Biologia, para explicar uma questão interessantemente comum no seio das comunidades audiófilas: reparem que eu disse "homens" e não "humanos", e não o fiz inocentemente. De facto, a caça ancestral, durante o tempo que assistiu à nossa evolução, ao longo do Paleolítico, era apanágio dos homens e não das mulheres. Elas teriam, nessa altura, um estatuto muito mais importante de liderança das comunidades, das nossas pequenas aldeias de não mais de 200 pessoas. Recolhiam, cuidavam, organizavam, decidiam, controlavam, reproduziam - mas muito raramente ou nunca caçavam. Não choca, portanto, que as sociedades nas quais evoluímos eram matriarcais, e só deixaram de o ser por obscuros mecanismos de controlo inventados pelos homens à medida que a população cresceu e as sociedades se complicaram, com mais complexas divisões de tarefas já no Neolítico, ou seja, já depois da revolução agrícola. A Polis tornou-se a sociedade e o homem tornou-se o seu senhor. Daqui se compreende que haja muito poucos representantes do sexo feminino nas comunidades de audiófilos - elas não têm os mesmos predicados para a caça simbólica que eles.

A audiofilia como caça simbólica ganha contorno quando atendemos às suas características comportamentais na relação com o impulso de busca de algo mais, a presa que existe para lá daquela colina, a manada que vagueia num vale qualquer, o investimento em esforço, em caminhada, em articulação, em ferramentas para caçar mais e melhor. O cabo, a célula, o pré-amplificador - tantas e tantas presas e tão diferentes...

Voltando à evolução do comportamento, recuando 200000 anos, temos que os papeis dentro da tribo começam a ser cada vez mais definidos. A cooperação é cada vez maior - fruto também da evolução da linguagem e da comunicação. A tecnologia permite uma eficácia enorme das tarefas. O vital começa a demorar cada vez menos tempo a fazer. E o que é que sobra? Pela primeira vez na história natural, um animal tem tempo livre. Muito tempo livre. E esse animal tem tempo livre porque soube pensar - não só no concreto mas também no abstracto - e como não tem mais nada para fazer no tempo livre, pensa e inventa e contempla. Começam as invenções da mente - as artes! O macaco que se pôs de pé deu-se ao luxo de começar a representar a sua realidade através da pintura, da escultura, da música. Reparem, também, como a representação abstracta da caça sempre esteve ligada à arte. As pinturas rupestres são, em tantos casos, de animais, de cenas de caça. Isto surge também da evolução da linguagem e da comunicação no sentido de tornar a caça mais eficiente, ao coordenar os movimentos dos caçadores. A caça tornou-nos melhores artistas, porque tornou-nos melhores comunicadores. Também na caça simbólica a arte tem um papel preponderante, quer seja por via do coleccionismo, quer seja por mera apreciação estética. Caçamos o belo.

Há muita coisa por explorar na evolução do comportamento humano que consegue explicar muitos dos nossos comportamentos presentes. Não raras vezes andamos à procura de explicações para as diferenças entre nós, e esquecemo-nos de questionar aquilo que temos em comum, aquilo que nos une. Sobre o que nos une cai um manto de cultura, que não é mais do que uma transmissão geracional de conhecimento, e que nos vai cavando diferenças e negando semelhanças. Dificilmente nos toleramos porque nos tendemos a ver, culturalmente, como o centro do universo - o antropocentrismo - ou como a mais vil invenção do homem para se dominar a ele mesmo - o teocentrismo. Mas no fundo somos muito semelhantes, e a probabilidade de demonstrar determinado comportamento na lógica da sua evolução será sempre maior que a probabilidade de ter outro qualquer comportamento ao acaso, e mesmo maior do que a probabilidade de seguir um comportamento de mera base cultural.

Gostar de música transfigura-se muitas vezes em, simplesmente, ouvi-la. Isto é o macaco com tempo livre a contemplar o que o rodeia. Outras vezes, o impulso é de ouvir sons e conjugá-los em música - sim, o macaco também sintetiza. Outras vezes ouvimos a música e buscamos pelos sons, e aqui temos o macaco a analisar. O macaco caçador vai à procura de muitas músicas, adquire-as em vários suportes, quer ouvi-las em todo o seu esplendor, em alta fidelidade, constrói ou adquire as ferramentas que lhe permitem fazê-lo. Muitas vezes essas ferramentas são a própria caça - e a caça passa a chamar-se "upgradite". O macaco que caça a música é o melómano. O que caça o som e/ou a ferramenta é o audiófilo. Muitos de nós temos cá dentro ambos os macacos. O prazer que daí advém pode ser apenas a satisfação estética, ou o afago do ego, ou a satisfação do impulso de caça.
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyQua Nov 06 2019, 12:07

Goansipife escreveu:
... Ora então, como julgo que me reconheces, também no áudio procuro sempre o Prazer e um prazer duradouro! ...

Reduzi a tua bela e pragmàtica intervenção ao final que me pareçe concentrar algo que està no eixo da minha reflexão original afim de continuar no mesmo rumo. Nessa tua busca do prazer, que compreendo perfeitamente, qual é o "objecto" do prazer! È de escutar a musica em boas condições, de possuir belos aparelhos, de alimentar uma singularidade social ... tudo isto ou ainda algo de diferente ???

José Miguel escreveu:
... Para lançar desde já um outro olhar, eu não concordo que o Audio não permita reuniões e consensos, muito pelo contrário. Este Fórum, ou outros, são bem o exemplo de como se criam micro-sociedades em torno de um qualquer ideal, crença, tipo de equipamento ou mesmo equipamentos. ...

... colocar o Audio ao lado da Religião parece, por princípio, exagerado, mas eu já vi acontecer tanta coisa...

Reflecti sobre a tua frase que sublinhei esta noite com a qual estava de acordo e finalmente hoje volto à minha reflexão original. O unico ponto comum que vejo entre Todos os amadores de audio (explicando a existência dos audio-forums) é de terem decidido de "escutar" em vez de "ouvir" a musica gravada. Esse esforço em optimisar a qualidade da escuta consoante os seus meios pareçe-me ser o unico ponto comum ... o resto vejo-o ser pura singularidade como jà disse !...

Eu referi-me à religião não pela presença de um Deus, mas porque algumas atitudes audiofilas pareçem-me provenir de um acto de fé, ou de crença. Pensar que no meio da complexidade de um aparelho electronico e das dezenas ou centenas de componentes atravessados pelo sinal ... uma ficha, um cabo, um movel ou pés conicos possam fazer uma diferença é técnicamente absurdo. No entanto ...

Mellowship escreveu:
... A caça simbólica é um comportamento central do humano. Caçamos vitórias, glória, objectos, dinheiro, estatuto, para satisfazer esta necessidade ancestral. O desporto, a escalada profissional, o coleccionismo, o "binge-watching", o consumismo desenfreado e - aqui está - a audiofilia, são todos exemplo de caça simbólica. O simbolismo vem não só do facto de não se tratar de uma caça real mas também porque não serve apenas - ou da maior parte dos casos, de todo - para alimentar ou para suprir necessidades de base, mas principalmente para alimentar o ego.  ...

Olà Mellowship, achei muito interessante a sua visão da "caça original" como uma pulsão inconsciente que continua a dirigir, ou a influenciar, a atitude humana. Não sei até que ponto essa "ideia" possa explicar a "singularidade" entre os amadores de audio mas uma coisa é certa ... o ego joga um papel preponderante nesta paixão e a todos os nivéis. Num dominio técnico aonde os produtos a 100€ esfregam-se com produtos a 1000000€ a propria razão perde um sentido literal para se tornar simbolica ... podendo mesmo conduzir um ateu como eu a proferir a frase do Eclesiastes: Vaidade de vaidades! Tudo é vaidade. ...

cheers
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Goansipife
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyQua Nov 06 2019, 14:27

TD124 escreveu:


Reduzi a tua bela e pragmàtica intervenção ao final que me pareçe concentrar algo que està no eixo da minha reflexão original afim de continuar no mesmo rumo. Nessa tua busca do prazer, que compreendo perfeitamente, qual é o "objecto" do prazer! È de escutar a musica em boas condições, de possuir belos aparelhos, de alimentar uma singularidade social ... tudo isto ou ainda algo de diferente ???


Para mim o objecto do meu prazer é e será sempre a música. Esta tem-me acompanhado sempre ao longo da minha vida, quer quando estudava, quer no trabalho, quer porque muito cedo, ao entrar para o Conservatório, facilmente me distraía com as horas, para outras obrigações, pois não a não largava facilmente.

Neste resumo de momentos, uma coisa sempre a música me presenteou. A possibilidade de conhecer muita gente e criar óptimas relações - o Social - como aliás, aqui no fórum onde conheci inúmeros amigos fantásticos.

Agora, no momento em que escrevo estas linhas, (re)ouço as 4 estações de Vivaldi pelo Nigel Kennedi, porque, revisitando o disco ontem à noite na minha casa, descobri algo que ainda não me tinha apercebido bem e agora confirmo. A cambiante Tempo e um toque de Contraponto que ele coloca na interpretação deste disco, interessante e ao mesmo tempo estranha. Nem boa nem má. Apenas interessante e estranha.

Ora ouvindo reouvindo os discos e, de preferência bem servido de ferramentas, vou sempre descobrindo novas coisas, sendo que algumas são interessantes e outras nem por isso.

Lembras-te quando ouvimos o disco do Duke Ellington na casa da minha mãe em Freiria, ter-me apercebido de um ressoar de órgão com uma nota (G#) em contínuo algo despropositado?

Se te recordas foi com o apoio do EnFase que me apercebi de tal e nunca antes.

Logo, para mim, os equipamentos são unicamente um meio / ferramenta para a música e o processo musical em curso, nada mais. Se não existissem eram " 'world' in heaven (without Tears) .

cheers
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Fernando Salvado
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MensagemAssunto: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyQua Nov 06 2019, 16:19

Caro Gonçalo,
Essas 4 Estações de Vivaldi pelo Nigel Kannedi foram, para mim e durante algum tempo, muito estranhas e difíceis de assimilar; só quando soube que o Nigel Kennedi é asmático, é que compreendi que para ele o Verão é um sufoco, que está bem testemunhado neste disco. Talvez por isso não é muito do meu agrado !!!
Um abraço.
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyQua Nov 06 2019, 16:30

Goansipife escreveu:
Para mim o objecto do meu prazer é e será sempre a música. ... Logo, para mim, os equipamentos são unicamente um meio / ferramenta para a música e o processo musical em curso, nada mais. Se não existissem eram " 'world' in heaven (without Tears) .

Nesse caso e consoante a trilogia do topico o teu prazer està espaldado por uma grande dose de razão. O teu objectivo é o resultado musical e nada de outro ... pareçe-me então que uma grande dose de razão prevaleçe !!!

cheers
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José Miguel
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyQua Nov 06 2019, 18:45

Mellowship escreveu:

(...)

Há muita coisa por explorar na evolução do comportamento humano que consegue explicar muitos dos nossos comportamentos presentes. Não raras vezes andamos à procura de explicações para as diferenças entre nós, e esquecemo-nos de questionar aquilo que temos em comum, aquilo que nos une. Sobre o que nos une cai um manto de cultura, que não é mais do que uma transmissão geracional de conhecimento, e que nos vai cavando diferenças e negando semelhanças. Dificilmente nos toleramos porque nos tendemos a ver, culturalmente, como o centro do universo - o antropocentrismo - ou como a mais vil invenção do homem para se dominar a ele mesmo - o teocentrismo. Mas no fundo somos muito semelhantes, e a probabilidade de demonstrar determinado comportamento na lógica da sua evolução será sempre maior que a probabilidade de ter outro qualquer comportamento ao acaso, e mesmo maior do que a probabilidade de seguir um comportamento de mera base cultural.
(...)

Boa tarde a todos!

A conversa vai muito boa e vou aproveitar a intervenção do "Mellowship" para voltar a escrever umas coisinhas. Obviamente não esquecerei as restantes participações, mais especificamente a resposta do Paulo ao que deixei escrito antes.

Eu cortei uma grande parte da intervenção que cito, mas li tudo com atenção. Com a maioria das coisas não há como não concordar e até vai ao encontro do que considero um bom caminho para se conhecer mais sobre este Animal que somos, contudo... no final está escrito o que deixei a negrito e com isso eu não concordo, ou pelo menos não concordo como está - no seguimento do que já disse antes fica claro.

Quando se refere Cultura, na frase e contexto eu creio que se deveria referir "culturas" e depois explicar que no plural, Culturas unem os que são cobertos por elas e afastam os que não são - a título de exemplo podemos ver a forma como diferentes culturas olham para a Música e para o que ela representa, assim como podemos ver que os bens materiais representam coisas diferentes mediante valores culturais diferentes... e assim adiante.

Ora, os que estão sob um mesmo manto Cultural tendem a pensar de forma semelhante, desde logo porque são Educados de forma semelhante, aprendem a olhar para as coisas de forma semelhante, a atribuir Significados e Referências semelhantes a palavras e coisas...


Posto isto, de forma muito breve, convém afirmar que eu acredito que o Homem é um ser Individual e irrepetível, assim como é um ser Social.

Ao ser um ser Individual e Irrepetível, obviamente não podemos esperar que dois sejam iguais e creio que neste ponto todos estaremos de acordo;

Ao ser um ser Social, o Homem tenderá a partilhar crenças, valores, gostos, ... dificilmente imagino dois cobertos pelo mesmo manto Cultural a discordarem que uma mesa é uma mesa e que uma cadeira não é uma mesa, da mesma forma que dificilmente dois na mesma situação não concordarão que um rádio portátil a pilhas tem pior prestação na apresentação da Música que um sistema pensado e cuidado para esse propósito.

Para responder mais directamente às objecções do Paulo: se reunir o que acabo de dizer e se fizer a síntese, verá que dificilmente não há como reunir pessoas em volta de uma crença, tecnologia, conjunto de equipamentos ou equipamento singular. Veja-se o que se passa aqui, repito que este espaço prova que há consensos, veja-se o que se passa num Fórum como o Lenco Heaven - claro que cada um dos participantes fará o seu caminho individual, mas há dúvidas que ali mora uma crença que aglutina/reúne?

Aqui, sobre este Fórum, poderia dar como exemplo a crença generalizada que o Pioneer A400 é um bom amplificador e pau para toda a obra, assim como remédio santo para quem quer começar; que o Rega P3 é uma bom gira-discos e quem o escolhe está no bom caminho.

Caro Paulo, eu percebi o que disse sobre Religião e por isso referi que o Homem tem naturalmente o seu lado Metafísico, seja ele desenvolvido pela crença em divindades no sentido tradicional ou pela crença em ciências ou outras coisas.

No Audio, como em qualquer outra coisa, as crenças são construídas de forma vertical e horizontal, há sempre âncoras e há sempre superfície. Na âncora pode estar o digital, o transístor, a válvula, o construtor "X", o desenho "Y", a sala, ... há quem coloque o foco nas colunas, no amplificador, na fonte, na corrente doméstica comparando-a ao sangue que corre nas nossas veias, ...

No meio de todas estas crenças, há reuniões, há a capacidade de cultivar o semelhante, desde logo porque há partilha de experiências - se ambos assistirmos a um qualquer milagre técnico, é bem possível que ambos sigamos um caminho semelhante de crença (repare que não digo igual, isso não existe, mas semelhante).

Recentrando...

Prazer, Vaidade ou Razão!?!

Eu não consigo separar as características, por isso coloquei o foco na questão da dose - concordando com o Paulo neste ponto.

Quando temos Paixão, ou até mesmo Amor, temos Vaidade no objecto da nossa Paixão ou Amor, queremos mostrar, partilhar, dar a conhecer. O problema nasce quando a Vaidade ocupa uma fatia de tal forma grande que mata o Amor, dando lugar à luxúria.

O Homem é um ser Racional e Emocional, Físico e Metafísico, a Razão ocupará sempre o seu lugar no nosso dia-a-dia, por mais estranha que a forma pareça aos nossos olhos e Cultura, uma vez mais o problema nasce quando a fatia dedicada à Razão passa a ser de tal forma pequena que dá lugar à Preguiça.


Consciente de tudo isto e muito mais, eu faço a minha gestão de proximidade/afastamento e as minhas partilhas, recebo a informação e filtro-a, experimento ou ignoro.

Não acredito que seja possível escolher uma das palavras e afirmar que o caminho é pautado por ela, acredito no equilíbrio dessas três e de outras para que no final se consiga o tal conforto e estabilidade - ou o "troca-troca" vai acontecer sem regra ou freio.



Sempre gostei muito deste tipo de tópicos e conversas, creio que são o lugar certo para explanar o pensamento e partilhar crenças e experiências. Da minha parte este e outros sempre serviram o maior dos princípios - a Aprendizagem. A possibilidade de reflexão ajuda a perspectivar o que andamos aqui a fazer e eu quero muito conseguir escutar Música o melhor que possa, mas como não sei muito, ando à pesca junto dos que comigo partilham objectivos semelhantes - com Prazer (ou já cá não estava ou tinha um sistema), com Vaidade (por isso partilho cada passo que damos, porque acredito neles como certos face ao nosso objectivo maior), com Razão (porque apesar de tudo ainda sou ponderado). Wink
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyQui Nov 07 2019, 09:40

José Miguel escreveu:
... Para responder mais directamente às objecções do Paulo: se reunir o que acabo de dizer e se fizer a síntese, verá que dificilmente não há como reunir pessoas em volta de uma crença, tecnologia, conjunto de equipamentos ou equipamento singular. Veja-se o que se passa aqui, repito que este espaço prova que há consensos, veja-se o que se passa num Fórum como o Lenco Heaven - claro que cada um dos participantes fará o seu caminho individual, mas há dúvidas que ali mora uma crença que aglutina/reúne?

José, se estivessemos num forum ligado às artes (ou à paixão da arte), seria natural que cada um dos participantes tivesse as suas preferências. Uma obra de arte é por natureza unica (mesmo a musica ao vivo) e a quantidade de dominios, estilos e obras permitiria a cada um de defender mais a arquitectura, doutros a literatura ou a musica e mesmo de debater se Monet era superior ou não ao Manet. Não conheço nenhum artista, ném mesmo Bach, Picasso ou Baudelaire que faça um consenso geral ... e ainda bem, pois não hà modelo padrão do que deve ser uma obra artistica. Ora quando tu falas do Lenco heaven no qual participei no inicio como modelo de consenso ... não posso estar mais em desacordo! Se o Lenco Heaven fosse um forum com o objectivo de preservar os Lencos e de se obstinar a mantê-los em vida, com as peças de origem, restauração perfeita e idêntica ao original (como os possuidores de Citroën DS Boca de sapo) dava-te jà a bicicleta ... mas ao contràrio é um circulo de amadores de Lenco (sendo isto que os une) que se obstinam a fazer tudo o possivel para que o gira deles seja diferente do do vizinho ... não hà dois iguais, ném sequer um Lenco de origem !!!

Evidentemente que téem direito de fazê-lo e aqui não està nenhuma critica da minha parte. Simplesmente, o audio não é sò um meio como é um fim ... o objectivo sendo de atingir um nivel de desempenho na reprodução musical superior. Ora, um milhar de gira discos de uma marca e modelo X modificados diferentemente acabam por soar todos da mesma maneira ou cada um é singular? São todos bons mas diferentes? A musica é verdadeiramente o objectivo ou a diferenciação domina? Qual é a "pulsão" que leva cada um a fazer o seu, o prazer, a vaidade, a razão ???...

José Miguel escreveu:
Aqui, sobre este Fórum, poderia dar como exemplo a crença generalizada que o Pioneer A400 é um bom amplificador e pau para toda a obra, assim como remédio santo para quem quer começar; que o Rega P3 é uma bom gira-discos e quem o escolhe está no bom caminho. ...

Cada forum ou mesmo grupo de amadores tém as suas "mascotes" ... esses aparelhos que (aparentemente) fazem consenso e que são propostos aos outros desde que a oportunidade se apresenta. Aqui nos circulos franceses era dantes o Nad 3020, depois o audiolab 8000 e hoje o Atoll IN80 ... portanto, quase todas as pessoas que os propõem não os possuém! Tornou-se mesmo numa elaborada "arte da esquiva" de explicar as razões pelas quais esses aparelhos são bons para os outros mas não para o prescritor. De novo, o consenso pareçe-me apenas aparente pois a realidade exprime outra coisa ... e da minha experiência vejo o desejo de singularidade ser mais forte do que o desejo na qualidade final! Qual é a "pulsão" que leva um audiofilo a propor X aos outros e escolher Y para si, o desejo de diferenciação ???...

José Miguel escreveu:
... Prazer, Vaidade ou Razão!?!

Eu não consigo separar as características, por isso coloquei o foco na questão da dose - concordando com o Paulo neste ponto. ...

Dei-me conta que cometi um "acto falho" no titulo pois a presença de "ou" antes da palavra Razão cria uma oposição. Era involuntario ou inconsciente mas é realmente um acto falho pois vejo a razão como uma oposição aos dois outros sentimentos. Deveria ter dito Prazer, Vaidade e Razão ... mas não é isso exactamente o que escrevi dando uma tonalidade "tendenciosa" ao titulo. Mille excuses Rolling Eyes

cheers
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptyQui Nov 07 2019, 17:29

TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
... Para responder mais directamente às objecções do Paulo: se reunir o que acabo de dizer e se fizer a síntese, verá que dificilmente não há como reunir pessoas em volta de uma crença, tecnologia, conjunto de equipamentos ou equipamento singular. Veja-se o que se passa aqui, repito que este espaço prova que há consensos, veja-se o que se passa num Fórum como o Lenco Heaven - claro que cada um dos participantes fará o seu caminho individual, mas há dúvidas que ali mora uma crença que aglutina/reúne?

José, se estivessemos num forum ligado às artes (ou à paixão da arte), seria natural que cada um dos participantes tivesse as suas preferências. Uma obra de arte é por natureza unica (mesmo a musica ao vivo) e a quantidade de dominios, estilos e obras permitiria a cada um de defender mais a arquitectura, doutros a literatura ou a musica e mesmo de debater se Monet era superior ou não ao Manet. Não conheço nenhum artista, ném mesmo Bach, Picasso ou Baudelaire que faça um consenso geral ... e ainda bem, pois não hà modelo padrão do que deve ser uma obra artistica. Ora quando tu falas do Lenco heaven no qual participei no inicio como modelo de consenso ... não posso estar mais em desacordo! Se o Lenco Heaven fosse um forum com o objectivo de preservar os Lencos e de se obstinar a mantê-los em vida, com as peças de origem, restauração perfeita e idêntica ao original (como os possuidores de Citroën DS Boca de sapo) dava-te jà a bicicleta ... mas ao contràrio é um circulo de amadores de Lenco (sendo isto que os une) que se obstinam a fazer tudo o possivel para que o gira deles seja diferente do do vizinho ... não hà dois iguais, ném sequer um Lenco de origem !!!

(...)

Caro Paulo, o tempo passa a correr e agora fiquei sem tempo para uma resposta completa... responderei a esta parte.

A distância nem sempre ajuda, mas ao que parece estamos a falar do mesmo, ainda que depois olhemos de forma diferente... Rolling Eyes

A saber, para mim o Lenco Heaven é um exemplo de reunião, sem dúvida, e não é por cada um fazer do Lenco o que quer que isso muda - repare, o "valor" que une aquela gente é o Lenco, é a crença que aquela máquina tem potencial de crescimento e desenvolvimento. Como já usou a Religião, veja como cada um se relaciona com deus!?!

Eu coloquei as seguintes premissas:
1. O Homem é um ser único e irrepetível;
2. O Homem é um ser social.

É na reunião dessas duas faces que nos encontramos e por isso referi que Cultura deveria ser entendida, no texto do "Mellowship", como Culturas. É a Cultura que nos permite pensar de forma semelhante e voltando ao Lenco Heaven, há como negar a crença âncora que se baseia na ideia do Lenco ser algo maior em potência?
Depois há as facções, há quem defenda os plintos tipo "esqueleto", pesados, montagens assim ou assado, duplo prato, este ou aquele braço, ... mas nenhuma destas facções, que são exemplos de micro sociedades, negam a crença maior e original.


Esta conversa pode parecer um desvio, mas eu insisto nela porque me parece ser o exemplo de como é possível reunir consensos em torno do Audio - ainda que exista o lado da individualidade.

Como disse, eu creio que a coisa passa mesmo pelo peso que cada característica terá em nós, porque todos temos o lado do Prazer, o Vaidade e o da razão. Wink
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptySex Nov 08 2019, 10:27

José Miguel escreveu:
... A saber, para mim o Lenco Heaven é um exemplo de reunião, sem dúvida, e não é por cada um fazer do Lenco o que quer que isso muda - repare, o "valor" que une aquela gente é o Lenco, é a crença que aquela máquina tem potencial de crescimento e desenvolvimento. ...

Tens razão nesse ponto de vista e estou de acordo contigo pois eu mesmo disse que o gosto pelos Lenco era a unica coisa que os unia ... mas nessa tua visão estou obrigado em estar de acordo, pois os aparelhos de audio em geral também nos unem, as conversas à volta desses aparelhos também, a vontade de ir mais longe também e etc e etc...

Ora logicamente, visto que o objectivo de um aparelho de audio é de "reproduzir" e não de "criar", deveria-mos ter sistemas com desempenhos objectivos e subjectivos muito proximos consoante o nivel do sistema ... deveria ser a escuta que nos reune e não o resto, e tal não é o caso longe de là mesmo! Ora é esse ponto que me intriga e que està na origem deste topico...

José Miguel escreveu:
... Como disse, eu creio que a coisa passa mesmo pelo peso que cada característica terá em nós, porque todos temos o lado do Prazer, o Vaidade e o da razão. Wink

Complétamente de acordo ... e pessoalmente tento viver cada uma a 100% cheers
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptySex Nov 08 2019, 16:14

TD124 escreveu:
José Miguel escreveu:
... A saber, para mim o Lenco Heaven é um exemplo de reunião, sem dúvida, e não é por cada um fazer do Lenco o que quer que isso muda - repare, o "valor" que une aquela gente é o Lenco, é a crença que aquela máquina tem potencial de crescimento e desenvolvimento.  ...

Tens razão nesse ponto de vista e estou de acordo contigo pois eu mesmo disse que o gosto pelos Lenco era a unica coisa que os unia ... mas nessa tua visão estou obrigado em estar de acordo, pois os aparelhos de audio em geral também nos unem, as conversas à volta desses aparelhos também, a vontade de ir mais longe também e etc e etc...

Ora logicamente, visto que o objectivo de um aparelho de audio é de "reproduzir" e não de "criar", deveria-mos ter sistemas com desempenhos objectivos e subjectivos muito proximos consoante o nivel do sistema ... deveria ser a escuta que nos reune e não o resto, e tal não é o caso longe de là mesmo! Ora é esse ponto que me intriga e que està na origem deste topico...

(...)

O Paulo na sua resposta toca as duas faces do Homem e, como não poderia deixar de ser, uma das faces não compreende muito bem - creio que ninguém chegará a compreender. Smile

"L'homme n'est ni ange ni bête, et le malheur veut que qui veut faire l'ange fait la bête." (Blaise Pascal)

Eu gosto muito dessa frase/pensamento de Pascal, de alguma forma ele torna evidente a nossa Natureza e coloca em perspectiva como dentro de cada um de nós há um turbilhão que não pára.

A segunda frase do Paulo fez-me pensar em muitas das outras conversas que já tivemos sobre este assunto ou próximos deste, porque eu compreendo a sua questão, ainda que tenda a não me inclinar para ela - do ponto de vista do Homem, entenda-se.

Tecnicamente falando o Paulo tem razão no que diz, mas desde quando é que as coisas são assim tão simples!?! O Homem arranja sempre forma de tornar a sua vida mais animada e com o Audio não é diferente, na tentativa de ser "anjo" (encontrar algo confortável para si!?!) torna-se besta (porque distorce o que deveria ser o foco, a Música, a criação do Outro).

Repare que numa sala podem estar dez pessoas a ouvir um sistema e as dez vão ouvir "dez sistemas" diferentes. Isto não se deve a um devaneio colectivo, mas às limitações próprias da nossa forma de conhecer. Depois, dentro dos dez que escutam o tal sistema, três vão estar muito próximos na opinião, ou até mesmo colados; outros quatro vão opinar de forma diferente, mas relativamente próximos entre si; um vai abster-se de opinar; dois vão estar do lado oposto da opinião...

Isto deve-se essencialmente à formação de cada um e é aqui que a sua questão técnica (Razão) acaba por se perder, deixa de se falar mesmo em técnica e passa-se a falar de Gosto (Prazer, Vaidade).

Quantas vezes vemos o Gosto moldar-se seguindo Modas?
Não nos devemos esquecer que "moda" em Matemática significa: o maior número de repetições...

Posto isto, o nosso grupo social mais próximo não irá criar uma Moda que nos toque?

As pessoas a quem atribuímos Conhecimento Válido, Carácter, Autoridade, ... não irão criar uma Moda que nos toque?

A necessidade de pertença social não irá criar uma Moda que nos toque?


Paulo, deixo estas perguntas aqui, mas nós já falamos disto aplicado a outras realidades que não o Audio, como o Vinho - lembra-se que chegamos a falar da Moda dos pequenos vinhateiros?

(continuando a colocar em linha a participação do "Mellowship") Para nós termos uma resposta a estas perguntas teríamos que contar com a presença do Id perante nós, mas o Paulo sabe muito bem que isso não acontecerá e será o Ego, bem apoiado no SuperEgo, que responderá - passe a imagem simples.


A Escuta deveria ser mesmo o local de reunião, a Música deveria ser o centro deste e de todos os fóruns, mas eles nascem para os equipamentos... melhor, o equilíbrio entre estas duas coisas deveria ser o ponto, porque não se pode ter Música sem equipamentos.

O Homem é Criador e nunca irá perder a oportunidade de criar... nem que seja em cima do trabalho dos outros... no Audio (afinando o sistema para o seu gosto, Moda, necessidade, limitações), seja com os carros (o tunning), seja com a roupa (customização), seja nos vinhos (enologia aplicada até ao ponto de não se reconhecer uma casta), ...

Este ponto eu também gostava de aprofundar, mas as participações tendem a ser poucas e tudo o que nos resta é especular. Wink


Espero não estar a desviar o tópico, no fundo é neste terreno pantanoso que se coloca a tal questão de "dose" no Prazer (como nasce e se desenvolve o Prazer? que papel tem a Cultura, Sociedade, Meio Ambiente no seu desenvolvimento?), Vaidade (que tipo de necessidades sociais temos? Personalidade?) ou Razão (Que Conhecimento? que trajecto de Aprendizagem? que "guias"?). study
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MensagemAssunto: Re: Prazer, Vaidade ou Razão...   Prazer, Vaidade ou Razão... EmptySáb Nov 09 2019, 17:14

José Miguel escreveu:
... Quantas vezes vemos o Gosto moldar-se seguindo Modas? ...

Num mundo moderno aonde estamos rodeados pela publicidade e aonde as agências de comunicação estão aconselhadas por psicologos do comportamento afim de se assegurar que o publico seja suficiente influenciado pelas imagens, frases e musica inseridas na publicidade ... é normal de ver frequentemente o Gosto moldar-se seguindo Modas, tal é mesmo o objectivo. Tenho pessoas à minha volta persuadidas que o ultimo iPhone, os novos Mini, Fiat500 ou VW carocha vão acentuar a sua singularidade e valorisar a existência deles ... tenho outros que serà o ultimo quadro do tal artista street art ou uns sapatos do Louboutin ... ainda para outros serà comprar sò produtos orgânicos e beber Vinho Natural exclusivamente! Sim, globalmente os gostos estão frequentemente moldados pelas Modas sociais e pelo desejo que os outros associem a "imagem subliminal" de um produto à personalidade do proprietario. Mas os gostos não se discutem ném em audio ném no resto ... mesmo se a influência nas derivas criticadas por todos é manifesta !!!...

José Miguel escreveu:
... Paulo, deixo estas perguntas aqui, mas nós já falamos disto aplicado a outras realidades que não o Audio, como o Vinho - lembra-se que chegamos a falar da Moda dos pequenos vinhateiros?

Sim José lembro-me muito bem, mas lembra-te também do que te disse pois continuo na mesma linha. Acho bem que a sociedade dê um palco visivel aos pequenos produtores (mesmo se é, ou se tornou uma Moda), que estes sejam de audio, de vinho, de azeite ou marceneiros. O que considero mau e mesmo grave é quando a ideia, que sòmente os pequenos produtores produzam produtos autênticos e de qualidade começa a se propagar. È uma forma de dictatura subliminal quando se começa a apregoar coisas que não téem fundamento real, que seja pela Moda ou Gosto, simplesmente porque pareçem ter bom senso. O bom e o mau existém por todo o lado e véem de todas as origens ... por si sò, isto justifica a importância do conhecimento afim de escolher livremente e o mais acertadamente possivel consoante as nossa exigências, e mesmo integrando o gosto o que me pareçe essencial!...

José Miguel escreveu:
... A Escuta deveria ser mesmo o local de reunião, a Música deveria ser o centro deste e de todos os fóruns, mas eles nascem para os equipamentos... melhor, o equilíbrio entre estas duas coisas deveria ser o ponto, porque não se pode ter Música sem equipamentos.

Complétamente de acordo !!!...

José Miguel escreveu:
... O Homem é Criador e nunca irá perder a oportunidade de criar... nem que seja em cima do trabalho dos outros... no Audio (afinando o sistema para o seu gosto, Moda, necessidade, limitações), seja com os carros (o tunning), seja com a roupa (customização), seja nos vinhos (enologia aplicada até ao ponto de não se reconhecer uma casta), ...

Diz a sabedoria popular que um homém na sua vida deve plantar uma arvore, ter um filho e escrever um livro. Evidentemente que este ultimo ponto é simbolico e quer dizer simplesmente que um ser humano deve deixar um rastro intelectual da sua passagem pela terra, algo que seja feito ou imaginado por si! Pareçe-me então normal que o homém crie e mesmo tente de ultrapassar os limites impostos, que seja no vinho, no audio ou na comida ... o grande chefe espanhol Ferran Adrià faz pratos aonde os ingredientes estão tão "desintegrados" que são irreconheciveis. Mas, no audio a coisa é diferente pois um sistema de audio é como uma fotocopiadora, ele deve ser o mais fiel possivel em relação ao original, ora o original no audio é o disco, CD, ficheiro ou emissão directa da radio. O caminho no audio é extremamente balisado e afastar-se das balisas pode ser visto como uma "criação" ... mas põe em causa o objectivo final. Dai que eu separe as disciplinas alta-fidelidade e audio !...

José Miguel escreveu:
... Espero não estar a desviar o tópico, no fundo é neste terreno pantanoso que se coloca a tal questão de "dose" no Prazer (como nasce e se desenvolve o Prazer? que papel tem a Cultura, Sociedade, Meio Ambiente no seu desenvolvimento?), Vaidade (que tipo de necessidades sociais temos? Personalidade?) ou Razão (Que Conhecimento? que trajecto de Aprendizagem? que "guias"?). study

Eu estou inscrito numa revista francesa semanal hà muitissimos anos que trata de arte e cultura em geral. Hà anos atràs havia um artigo que falava sobre os sistemas pessoais utilisados pelos criticos musicais da revista. Fiquei espantado e respeituoso pelo pragmatismo das escolhas e aonde o prazer não era subestimado. O critico de rock tinha um sistema (VPI, Naim, Manley, JBL) que priveligia o impacto, a exuberância. O critico de clàssica um sistema (Audia Flight, Sugden, ProAc) que respira a neutralidade, a limpidez. O critico de jazz (Thorens, Moon, YBA, Apertura) possui um sistema que priveligia a luminosidade, a abertura. O critico de musica electronica (Teac, Ayre, JMLab) possui um sistema que transpira a tensão e o controle ora que o critico de world music (Exposure, Graaf, Kef) escolheu um sistema que priveligia a voz, o sedoso...

È giro de ver que nestes casos os sistemas foram escolhidos com um grande pragmatismo em função do estilo de musica, como se escolhe uma ferramenta ... mas priveligiando uns quantos critérios que dão um toque pessoal e aumentam o prazer (gosto). È a mesma coisa que encontro no mundo professional aonde um engenheiro escolhe o seu material em função de elementos puramente pragmàticos como a fiabilidade, evolutividade, compatibilidade, flexibilidade mas aonde o unico prazer é de escolher uma ergonomia que lhe corresponda o que é normal pois trata-se de uma ferramenta de trabalho...

Estes exemplos dão a reflectir sobre as escolhas de um sistema, sobre as motivações, sobre o objectivo visado !...

cheers
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