A rodar XLVIII

Essa bela fotografia em diagonal ascendente que magnifica a "luz" artificial da lampada seguida pelo "céu" por detràs da janela velux seria altamente simbolica se não fosse a presenca desse album... um dos elementos fundadores do que hoje se chama o "Hype"! Venho de escutar um album igualmente branco mas sém banana... é algo que vém de sair e que me tocou muito(issimo)! O branco é a segunda cor do luto... ou a primeira consoante a cultura. Este album é a homenagem do grupo ao falecimento do baterista deles (Taylor Hawkins), um amigo, um irmão, um companheiro de viagem, um ser querido! Pelo que digo poderia-se imaginar a solenidade do Back in Black mas... este disco veste-se de branco e esta simples intenção, altamente simbolica, muda o paradigma, o titulo também! A obra vém de sair hà poucos dias e recebi em pré encomenda hà uma semana e admito estar seduzido, não pensei que eles fossém capazes de fazer algo assim... tão elegante e tocante. Deixo-vos descobrir, e aconselho, a faixa "Rest" que fecha o album com o seu canto de despedida murmurado e entrecortado pelos drones e riffs de distorção com o pedal gretsch... uma maravilha de rock(& Roll/Hard) cheia de respeito e honestidade, tornou-se raro... perdão, muitissimo raro! Escuto este album branco com colunas da mesma cor no trabalho tranquilamente durante a pausa do almoço... o espectro do Kurt não anda muito longe por momentos

Vinte e quatro horas apòs a "marcha fúnebre" (Rest) dos Foo Fighters escuto outra coisa, em aparência afastada mas as aparências iludem. A unica diferença entre a morte e a ressurreição é a temporalidade, uma ocorre apòs a outra! Falo disto porque este album, e mais exactamente a ultima faixa fala (sinuosamente) de ressureição e não é por acaso... entre o primeiro e este album os Strokes estiveram em coma profundo, diria mesmo em morte cerebral! O que venho de dizer é um cumulo da ironia quando se sabe que o grupo foi visto como a "salvação do rock" aquando da saida do Is This It. Na ultima faixa deste album com o qual me reconcilio lentamente apareçe o tema "Ode To the Metz" que fala da decepção à volta dos "eternos perdentes"... alusão ao clube de baseball de NY, mas alusão reciproca aos Strokes que jà não sabem ganhar, o paralelo é delicioso e implacavelmente executado criando um final de album com gosto de Champagne! Bravo aos artistas, os grandes sabém se levantar do chão sozinhos e mesmo gozar disso. Evidentemente, o Julian Casablancas despeja toda a sua classe nesta obra que dà (verdadeiramente) tusa, os Strokes guardam aquela maneira `so deles de fazer musica...

À medida que a Depressão Óscar se aproximou do Ilhéu Chão, reparei que se movia com determinação, avançando com firmeza. Chegada a este pequeníssimo território, vislumbrei à minha frente, que nem as sombras lhe conseguem resistir. Volvidos alguns dias, asseguro que esta tempestade é rija para isoladamente lhe fazer frente, pois a caminhada pelo terreno para certificação dos efeitos visíveis causados nesta ilhota, tornou-se difícil, fazendo-me perder o equilíbrio, passando à condição tem-te-não-caias.
- Diabos me levem ! - Disse o fantasma. - Vou deixar a observação complacente, pois esta tempestade não nota a minha presença, constrangendo-me.

Regressei a casa. Enquanto escutava a voz áspera de Óscar e, sabendo que não estava a cantar - era um som alto que, em simultâneo, vinha de todas as direcções, estremecendo cada uma das divisões da habitação - decidi lhe fazer frente com a forte voz de um piano... Com jubilosa pressa, lancei-me sobre a estante onde guardo os discos em formato LP; escolhi «Very tall», porque, quiçá, para um turbulento Óscar, outro  Oscar, o canadiense Peterson, o qual não se atemorizou, impusesse trégua à violenta agitação da "atmosfera Óscar", jorrada de chuva. Tanto quanto pude observar, Peterson, Milt Jackson (vibrafone), Ray Brown (contrabaixo) e Ed Thigpen (bateria), eram indiferentes às tentativas de amedrontamento gerado pelo temporal.

(Verve, VG-8429)

Jà o citei por aqui mas não faz mal de (re)lembrar. Outrora comparado ao Nick Drake pela brit-folk elegante e desencantada o Nick Talbot (AKA Gravenhurst) talvez não mereça essa comparação que de todas as maneiras nunca desejou e ainda menos buscou! Se porventura os seus dois primeiros albums (sumptuosos) fazém aparecer pontos comuns com o outro Nick, a essência artistica e o objectivo é bem diferente, a época também! Neste album, o terçeiro, vemos apareçer uma outra faceta do rapaz, mais electrica e "quase" electronica por vezes... nada de anormal pois estamos na editora Warp Records, a do Aphex Twin! Apareçe nesta obra a arte tormentada do Nick Talbot mas também a sua capacidade a criar uma beleza constante e fragil... talvez seja isto a verdadeira assinatura dos Gravenhurst. Uma obra aonde a electricidade encontra o cetim criando uma alternância de sentimentos complexos. Temos aqui um album duplamente frustrante pois sente-se que o artista està em transição e convida-nos a partilhar das suas duvidas e experimentações. O que poderia ser um exercicio de estilo ou um virtuoso album experimental torna-se num manifesto absoluto da sua arte pois a sua morte prematura deixa-nos orfãos da continuidade disto tudo. Um grande que desapareceu cedo demais como muitos outros artistas malditos...

È a uma demonstração de piano (e de trio) à qual o Brad Mehldau nos convida aqui! Uma coleção de blues e baladas aonde o pianista espalha toda a sua classe e audacia harmonica. Controlo perfeito do instrumento, cumplicidade com a seção ritmica, desvios inspirados e mesmo um arranjo magnifico do And I Love Her dos Beatles. Apesar de jà não ter nada a provar ao mundo do Jazz, este exercicio apareçe como uma vontade de ir caçar no terreno dos mestres de outrora... como a sua trilogia The Art Of The Trio e talvez seja aqui que a formula atinge os seus limites. Tudo é perfeito, tudo é elegante e inspirado e por vàrios momentos digo(me) a mim mesmo que o artista aqui é MAGISTRAL, e portanto falta(me) algo. O swing é perfeito mas sém sorriso, a virtuosidade cobre a generosidade obrigatoria neste estilo... a intelectualidade domina a espontaneidade! Durante a totalidade desta obra dou comigo a me dizer que não tenho razão e que o jazz ainda està vivo... mas desde que ela acaba concentro-me no pouquissimo que me falta e digo(me) que o jazz morreu com o Ayler! Não liguém às minhas sensações dispersadas neste texto pois sò as (muito) grandes obras criam estas contradições. Bravo e obrigado mister Mehldau!!!...

No Verão, raramente concedo ouvidos a um registo discográfico de jazz. Prefiro percorrer o escaparate onde discos de pop/rock, pacientemente aguardam entrar em cena. Hoje, seleccionei o LP «Business as usual», dos australianos Men At Work, na temporada 1981 da estação do ano imediatamente à Primavera e anterior ao Outono.

(Music On Vinyl, MOVLP1452)

Julho de 1981. O álbum  «4», sem abdicar da sonoridade hard rock, apresentou um som mais suave e melódico obtido pelos Foreigner, fruto da parceria com Robert John "Mutt" Lange (no ano anterior produziu «Back in black» dos AC/DC), que virá a designar-se rock FM. Thomas Dolby teve preciosa participação na textura aplicada aos arranjos nos sintetizadores, notável em «Waiting for a girl like you», estagiando no segundo lugar da tabela norte-americana de singles durante setenta dias, habitando no Top 100 ao longo de cinco meses. Com dez temas contidos em 42 minutos de duração, o disco permanece uma dezena de semanas na primeira posição da tabela de álbuns da Billboard.  

(Atlantic, ATL 50 796)

Oriundos de Los Angeles, os Toto souberam navegar no rock FM, com peugada melodiosa que nunca passa ao estado de putrefacção. Em 1986 - dez anos após a sua constituição - editaram «Fahrenheit». Na gestação deste sexto álbum, contaram com o contributo de Michael McDonald, em «I´ll be over you», Don Henley («Lea») e Miles Dewey Davis III, no instrumental «Don´t stop me now», encerrando o LP com o reconhecido canoro do trompetista.    

(Columbia, 19078801141)

Em turismo pelo rock FM, escutei Foreigner e Toto - bandas que posiciono no mesmo patamar, juntamente com Journey. Provindos de San Francisco, inicialmente, a sonoridade dos Journey enraizou-se no rock progressivo, mas ante a maleabilidade criativa dos seus membros, impressionaram na linguagem do rock FM, sendo convidados a fazerem as primeiras partes das digressões dos Rolling Stones nos anos 80. Apesar de não estar ao nível do LP «Esc4p3» (1981), «Raised on radio» é um álbum que tira bom partido da singular voz de Steve Perry, vocalista que muito aprecio nesta expressão musical.  

(CBS, 26902)

Olhar a Lua  é uma experiência auditiva melódica e madura. Afastando-se do que se espera ouvir na Antena 2, escapa à tirania dos tempos agitados.

Às vezes, na música, pela impressão de inacabada a peça laborada, parece que os criadores procuram um pormenor ou apontamento para a concluir. Tal sentimento é partilhado pelo quarteto  Lokomotiv (outrora trio). Celebrando vinte e cinco anos de actividade, Carlos Barretto (contrabaixo), Mário Delgado (guitarra eléctrica), José Salgueiro (bateria) e Ricardo Toscano (saxofone), apresentaram «25» - novo registo discográfico - no Auditório do Liceu Camões, presenciado pelos ouvintes da Antena 2.

Dia cinzento.
Em Israel e na Palestina, o Sol mantém-se oculto por ausência de amor, reflectido na privação de tolerância e no ódio, sobrepondo-se o objectivo de aniquilação por ambos os governantes, germinado por ideologias extremadas e por totalitarismo, gerando colapso em infraestruturas e na população inocente. Noa, benigna israeliana, sempre apelou à Paz, como testemunhei na sua passagem por Portugal em 2018 (https://www.audioanalogicodeportugal.net/t12503-noa-no-tivoli). Recuando a 1996, dei ouvidos ao álbum «Calling», composto por treze canções; saliento o fraseado de Yossi Fine aplicado no baixo, acompanhando a percussão de Zohar Fresco, em «By the light of the moon».
 

(Geffen Records, GED 24965)

Trompetista admirado por seus pares, Don Cherry partilhou edições discográficas com Coleman, Coltrane e Rollins. Contudo, por considerar que "o jazz tornou-se demasiado intelectual", sua sede de conhecer e experimentar a world music. conduziu-o a desbravar e experimentar esse terreno, patenteado na sua ímpar discografia. Enquanto concedo atenção às palavras desenhadas num livro sugerido pela minha Rainha, presto ouvidos a «El corazón».

(ECM, 1230)

Prezado ducar,

Trezentos e sessenta e cinco dias em actividade é obra

A obra ganha grandiosidade por ser desprendida de conceitos preestabelecidos e por classificações ancoradas à décadas por seres que, julgando-se superiores ao comum dos mortais por se denominarem audiófilos, estão agarrados, tais lapas, a marcas.

Embora entenda a consideração racional que justifica a decisão de ter abdicado de publicar nesta praça os links referentes às audições efectuadas com aparelhos inclusos no seu espólio, lastimo por tê-lo feito. Contudo, rejubilo com a celebração do ano primeiro do seu canal.

Bem-haja pela iniciativa e postura,