Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Nexus-6 (eu vi coisas...) Dom Dez 20 2015, 17:32
Talvez porque venho de atingir os cinquenta anos, e porque um meio século é jà um bonito bocado de vida, lembrei-me do fim do filme Blade Runner e do momento da morte do "replicante Nexus-6", quando este diz como uma ultima certeza ou duvida existencial :
... eu vi coisas que voçês não acreditariam,... naves de guerra ardendo ao largo de Orion, vi raios C cintilando junto ao portão de Tannhäuser,... todos esses momentos vão se perder, no tempo, como làgrimas na chuva...
Porque como todos nòs, também vi coisas que estão estampadas na memoria como uma fotografia viva e em movimento, e que saem do simples âmbito do turismo, para se tornarem a unica coisa que nos acompanharà no dia da grande viagem..., achei giro que possamos partilhar uns com os outros essas viagens e visões unicas que a vida nos deu e que vão continuar tatuadas na nossa mente e coração até ao fim...
Mário Franco Membro AAP
Mensagens : 2494 Data de inscrição : 27/03/2013 Idade : 66
Assunto: Re: Nexus-6 (eu vi coisas...) Seg Dez 21 2015, 11:19
TD124 escreveu:
Talvez porque venho de atingir os cinquenta anos, e porque um meio século é jà um bonito bocado de vida, lembrei-me do fim do filme Blade Runner e do momento da morte do "replicante Nexus-6", quando este diz como uma ultima certeza ou duvida existencial :
... eu vi coisas que voçês não acreditariam,... naves de guerra ardendo ao largo de Orion, vi raios C cintilando junto ao portão de Tannhäuser,... todos esses momentos vão se perder, no tempo, como làgrimas na chuva...
Porque como todos nòs, também vi coisas que estão estampadas na memoria como uma fotografia viva e em movimento, e que saem do simples âmbito do turismo, para se tornarem a unica coisa que nos acompanharà no dia da grande viagem..., achei giro que possamos partilhar uns com os outros essas viagens e visões unicas que a vida nos deu e que vão continuar tatuadas na nossa mente e coração até ao fim...
Um dos meus filmes de culto desde que o vi em estreia no cinema.
All those moments will be lost in time, like tears in rain. (Time to die) Foi a única frase do filme que me ficou e nunca mais esqueci.
Não pela frase mas sim pela mudança que opera em quem a diz.
O cyborg (que neste filme representa metaforicamente o ser humano em busca da imortalidade mas irrevogavelmente mortal) no momento de morrer recorda o Belo (como conceito à maneira platónica) visto pelos seus olhos em vida e sente-se invadido por um amor a essa mesma vida que o leva a poupar o seu inimigo mortal.
No momento da morte solta uma pomba branca que segurava na mão e esta voa em direcção ao céu simbolizando a sua centelha de vida que abandona o corpo.
Todo o filme é afinal uma parábola sobre o ser humano e a imortalidade.
Lamento ter fugido à ideia inicial
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Nexus-6 (eu vi coisas...) Seg Dez 21 2015, 12:43
Mário Franco escreveu:
... O cyborg (que neste filme representa metaforicamente o ser humano em busca da imortalidade mas irrevogavelmente mortal) no momento de morrer recorda o Belo (como conceito à maneira platónica) visto pelos seus olhos em vida e sente-se invadido por um amor a essa mesma vida que o leva a poupar o seu inimigo mortal.
No momento da morte solta uma pomba branca que segurava na mão e esta voa em direcção ao céu simbolizando a sua centelha de vida que abandona o corpo.
Todo o filme é afinal uma parábola sobre o ser humano e a imortalidade.
Lamento ter fugido à ideia inicial ...
Amigo Màrio, até esta sua intervenção nunca tinha visto o filme como uma paràbola sobre a imortalidade, mas sim como uma paràbola do dualismo de Descartes e então, uma relação entre o material e o incorpóreo !..., pois o cyborg tenta no ultimo instante provar que existiu como ser, então ele é de uma certa maneira humano e não uma maquina. Pelo apelo (referência budista…) à recordação (souvenir…) como forma intangivel, mas absoluta de existência ele tenta provar ao homém, que é seu irmão. Ele lembra-lhe pela metafora, que viu a guerra (naves em fogo…) e as auroras boreais (raios C cintilando…)… e que esse souvenir é a prova da sua existência,… por extrapolação directa esta atitude é uma evidência do ser, então da vida !...
E voçê não foge ao assunto, està mesmo complétamente dentro…
José Miguel Membro AAP
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Assunto: Re: Nexus-6 (eu vi coisas...) Seg Dez 21 2015, 20:16
Boa noite!
A minha jornada laboral começou e para poder enriquecer a mente cá vim para ler as novidades. Ao entrar neste tópico dou logo de caras com duas referências a um dualismo que fez escola e que, arrisco dizer, ainda ocupa um lugar de destaque na formação de todos nós...
Há nesse filme multiplas questões e a Moral é uma delas. A questão moral parece traduzir perfeitamente o dito popular: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. Como se fala de Filosofia, digo que o filme traduz bem o que Kant nos tentou ensinar: age de tal forma que a tua máxima seja passível de se tornar lei universal.
No filme o Homem não se porta propriamente bem e sim, faz aos outros o que não quer para si. Isto coloca em causa a forma como conhecemos e o "dualismo" alimentou e alimenta a forma como dividimos a sociedade em classes e, no limite, em profissões e estatutos... Manual vs intelectual... Uma bela conversa esta aqui!!!
Para alimentar o tópico quero deixar aqui uma referência a um livro pequeno em volume, mas gigante na forma como assalta o espírito: poesia de Sá de Miranda. Lá em casa vivem três exemplares e o poema Cantiga Sua é simplesmente fabuloso, muitos anos passaram até que pensadores chegassem a sistematizar o pensamento que o poema encerra.
Comigo me desavim, Sou posto em todo perigo; Não posso viver comigo Nem posso fugir de mim.
Com dor da gente fugia, Antes que esta assi crecesse: Agora já fugiria De mim, se de mim pudesse. Que meo espero ou que fim Do vão trabalho que sigo, Pois que trago a mim comigo Tamanho imigo de mim?
Sempre que leio este poema penso em Kant e na revolução que operou quando escreveu as suas Críticas... Mas acima de tudo lembro-me sempre de mim e da forma como vejo e imagino o mundo... Como gostava que ele fosse e como gosta de evoluir... Acredito que as coisas que conhecemos são fruto de nós, daquilo que transportamos connosco no acto de conhecer e, por isso, a realidade (seja lá o que isso for) essencial das coisas escapa-nos.
Aqui experimentamos isto mesmo, a forma como diferentes pessoas falam de um mesmo filme e dele retiram coisas diferentes...
Fica a referência, agora tenho que prestar atenção ao trabalho.
TD124 Membro AAP
Mensagens : 8270 Data de inscrição : 07/07/2010 Idade : 59 Localização : França
Assunto: Re: Nexus-6 (eu vi coisas...) Ter Dez 22 2015, 08:53
José Miguel escreveu:
... Acredito que as coisas que conhecemos são fruto de nós, daquilo que transportamos connosco no acto de conhecer e, por isso, a realidade (seja lá o que isso for) essencial das coisas escapa-nos.
Aqui experimentamos isto mesmo, a forma como diferentes pessoas falam de um mesmo filme e dele retiram coisas diferentes... ...
A arte não dà respostas, mas interroga como a filosofia, então é normal que a explicação seja tão variada quanto o observador...