A rodar XLVII

Ontém escutei muitos vinilos, não em inteiro mas varias faixas alternadamente para me assgurar que o novo reçém nascido estava ao nivel do esperado... tinha em emprestimo o primeiro Anti-Lenco para comparação afim de atestar a filiação. Esta manhã jà assegurado de todos os parâmetros técnicos quiz ir buscar mais longe a comparação indo buscar albums que me tocam mais do que os outros, comparando assim os efeitos subjectivos. Cada vez mais me dou conta que a escuta vinilo não é uma questão de sonoridade mas de sensações, é uma escuta anti-audiofila e mesmo um paradoxo suplementar no dominio do audio de qualidade... fico-me por aqui! Entre todos os albums que escutei houve um que justifica o que venho de dizer e mesmo o meu (grande) apreço por este formato, apesar das limitações objectivas evidentes. Encontrei-me de repente por momentos entre as lagrimas e o sorriso com uma sensação evidente de estar em vida, feliz de estar a escutar e a disfrutar do momento presente... sém duvidas, angustias ou criticas mas apenas uma idilica e intima relação entre eu e mim mesmo. Neste momento raro para mim, e que serà cada vez mais raro infelismente, este album sobressaiu e deu-me vontade de continuar a escutar e comprar vinilos, mesmo se é que de vez em quando e sém grande convição audiofila. Dou-me conta hoje, para mim, que são os albums como este, majestuosos, potentes, sepulcrais, elegantes, finamente esculpidos e sém aparente rugosidade aonde o vinil faz ainda funcionar a sua sedução subliminal, mas posso estar errado e amanhã me contradizer... entretanto escutém isto, com um bom gira-discos por favor, se não o tiverem o streaming funciona ainda melhor então não fiquém tristes ...

José Carreras, Luciano Pavarotti e Plácido Domingo são reconhecidos pela tripla de tenores na música erudita. No cenário português extra música clássica, derivado ao registo visceral, existem três vozes de terror: Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta), Fernando Ribeiro (Moonspell) e Rui Sidónio.

Embrenhado na vida imprevisível de Elizabeth Siddal, modelo, pintora e poetisa da sociedade inglesa da segunda metade do século XIX, aquando o estranho envolvimento amoroso com o pintor e poeta Dante Gabriel Rossetti, plasmado no romance de Hélia Correia, «Fenótipvs», da Bizarra Locomotiva, constitui a banda sonora da peça estreada em 2017 no CCB, passando pelo Teatro O Bando, em Palmela. O lado B do disco é composto por versões de «Paixão» (Heróis do Mar) e «O hábito faz o monstro» (Rádio Macau).

(Rastilho Records, 2016LP2021)

Na última década ganhei apreço pela veia criadora de Byrne. O seu trajecto a solo está repleto de preciosa criatividade. Aquando a governação de um milionário nos Estados Unidos, foi voz incómoda para Trump. Dessa discordância, resultou um álbum, cuja digressão, pela forma como a dúzia de músicos ocupava o palco, foi acolhida para conservação na memória de quem a presenciou. Em 2019, a actuação em Nova Iorque, foi registada em formato discográfico. David Byrne´s American Utopia on Broadway, transporta-nos para as sonoridades com apetite a liberdade e simultâneo regalo afectivo.

(Todomundo! / Nonesuch Records, 075597923001)

A gaveta 991 acolheu «So beautiful or so what», de Paul Simon (individualidade representativa do movimento folk no final dos anos 60, evoluindo pelas sonoridades da Música do Mundo). Editado em 2011, lamentavelmente, o seu  décimo segundo álbum de estúdio foi ignorado pela maioria das estações de rádio deste país com vista para a grande massa de água do Atlântico.

(Hear Music, 0888072328143)

Aos Black Sabbath são atribuídos os alicerces do que se passou a designar heavy metal. Oriundos de Birmingham, em «Paranoid», «War pigs» - tema reinterpretado pelos Faith No More, em 1989 - é uma canção de protesto pela acção assustadora dos Estados Unidos no Vietname. Curiosamente, no início da década de 70, este disco deu a conhecer a banda ao território norte-americano. Terry "Geezer" Butler percorre redonda, equilibrada e polidamente a escala do baixo, concedendo belíssimo acabamento aos arranjos das oito faixas do álbum.

(Warner Bros, RRI 3104)

Com os instrumentos envoltos em tratamento electrónico, concebendo brilho e beleza ambiental, «Carnage» tem assinatura de  Nick Cave & Warren Ellis. Além de salientar o tema título do álbum (editado em 2021), menciono «White elephant» e «Albuquerque», pautados por sonoridades próximas dos hinos entoados em igrejas evangélicas.

(Goliath Records, BS021CD)

Na véspera da consumação do divórcio, um casal encontra-se no átrio do hotel, passando longo período da noite conversando duramente. Este é o enredo de «La musica», peça de Marguerite Duras, à qual assisti pela mão da Antena 2, no Teatro Sem Fios, representada por Artistas Unidos.

No Auditório Fantasma existe um auto-rádio ligado ao sistema, privilegiando este ser com a emissão da Antena 2. No início da noite, reservou-me lugar no Auditório do Liceu Camões, em Lisboa, propondo a actuação do Sexteto Ricardo Pinto, com temas que circulam em torno de «Gomorra», álbum a editar brevemente. Bernardo Tinoco (saxofone tenor), Ricardo Toscano (saxofone alto), Nélson Cascais (contrabaixo), Óscar Graça (piano) e Luís Candeias (bateria) acompanharam o trompetista, que também interpretou duas peças do anterior disco, «A Sul».